sexta-feira, 31 de maio de 2013

Crítica: O Profissional | Um Filme de Luc Besson (1994)


Uma das raras realizações do cineasta que marcaram e ainda se destaca no gênero

Um verdadeiro primor do cinema de ação, a muito esquecido, e que mesmo que pouco citado pode ser visto como referência no gênero. Uma mistura habilidosa de ação e inteligência que resultou em longa intrigante, erguido através de performances marcantes e uma estrutura sublime. A fita "O Profissional(Léon, 1994), acompanha a jornada de Léon (Jean Reno), um discreto assassino profissional que mora em um prédio, onde ao lado de seu apartamento, reside uma família, cujo pai age como traficante. No entanto um dia, alguns homens sob o comando do excêntrico Stansfield (Gary Oldman), invadem a casa dessa família executando um massacre, do qual a única sobrevivente é Mathilda (Natalie Portman) a filha de 12 anos, que encontrou refúgio no apartamento do vizinho. Após o massacre que dizimou sua família, a jovem cria uma improvável e curiosa amizade com o solitário assassino. "O Profissional" certamente é um dos mais bem dirigidos filmes de Luc Besson. Uma união bem sucedida do lirismo europeu com a estética exagerada do diretor na formulação das cenas e enquadramentos. Apesar de que outros filmes do cineasta extrapolam exageros, que nesse longa são mais respeitados e contidos, acrescentando seriedade a trama. 


Apesar da direção competente de Besson, a maior força do filme consiste no elenco convincente e sensível com a história. Os roteiros de Besson são em sua normalidade, pobres e muito pretensiosos diante do escritor que realmente ele se apresenta. São roteiros caracterizados por excentricidade e falta linearidade.  Mas através de atuações interessantes do elenco principal, o elenco resgata a história do ostracismo e cativa o espectador a se emocionar com a relação da dupla principal, onde Léon se mostra a principio assustador, mas com a influência Mathilda em sua vida se apresenta notavelmente humano. Porém, Stansfield rouba a cena com seus exageros e devaneios carregados de excentricidade. Um vilão assustador e por vezes sinistro, ao se drogar, causando medo inclusive em seus comparsas que margeiam sua interpretação. Em resumo, "O Profissional" é um filme digno de ser visitado quando possível, caso o leitor não tenha visto. E relembrado com carinho por quem já viu. Mesmo tendo problemas, ganha disparado de outros filmes da filmografia de Besson. Contudo, a sua relevância maior reside mesmo como um excelente filme de ação policial capaz de emocionar e surpreender o espectador apesar do tempo.

Nota: 8/10

Crítica: Rock`n`Rolla – A Grande Roubada | Um Filme de Guy Ritchie (2008)


"Rock`n`Rolla – A Grande Roubada" (Rock`n`Rolla, 2008) segue a fórmula de sucesso do diretor Guy Ritchie de misturar personagens legais em situações inusitadas, sobre os bastidores do submundo da máfia londrina com estilismo visual embalado por uma trilha sonora bacana. Além de ser o enredo preferido do cineasta, também é nesse gênero no qual que ele mais se destaca. Se essa produção leva no título nacional o termo “roubada”, basta vermos poucos minutos para saber que se trata sim, de uma grande sacada, cheia de estilismos visuais e uma trilha sonora das melhores de sua filmografia. Ritchie leva para essa produção todas as qualidades que o consagraram no cinema, ao mesmo tempo, consegue apresentar seu trabalho mais autoral/comercial desde seu primeiro longa-metragem (Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes), quando ainda era acusado e culpado de copiar o estilo de Quentin Tarantino, embora sua filmografia não se assemelhe à longo prazo com o mesmo. Em “Rock`n`Rolla – A Grande Roubada acompanhamos um bilionário russo, Uri Omovich (Karen Roden) disposto a investir no mercado imobiliário da cidade de Londres, solicita suporte a um velho gângster inglês chamado Lenny Cole (Tom Wilkinson) para ajudá-lo através de seus contatos. O que eles não imaginavam era que One Two (Gerard Butler) e sua gangue intitulada o Bando Selvagem estragariam seus negócios. Coloque na receita uma contadora ambiciosa (Thandie Newton) um roqueiro supostamente morto sendo caçado pelas ruas de Londres por um devoto funcionário da Máfia (Mark Strong), uma pintura roubada de valor inestimável para o temperamental dono, sexo, drogas e muito rock’ roll, e está feita a mistura perfeita de caos e desordem na vida desses personagens.

Se Ritchie não consegue abandonar sua referência do crime organizado como o pano de fundo para suas ágeis histórias, ele inova em abandonar o tão comum tráfico de drogas, assassinatos, jogatina ilegais, elementos ligados frequentemente a esse subgênero, para investir no corrupto e rentável mercado imobiliário londrino – um tema extremamente contemporâneo e distante de ser um clichê batido. Se sua trama demonstra-se demais complicada, devido ao excesso de personagens, ganha pontos pelas carismáticas interpretações e pelo ritmo das aparições desse imenso elenco. A produção tem arrojo visual, que concedeu ao seu autor o termo ritchismos, e musical, com canções bacanas como I`m a Man do Black Strobes, e uma clara inspiração nas mudanças econômicas atuais da economia britânica, como comportamental de sua sociedade. A decisão de inserir um personagem homossexual dentro do contexto da história de forma tão natural, pode ser a desmitificação de certos tabus para o gênero, e um despertador para certas mudanças da atualidade ainda pouco exploradas com bom humor e inteligência. Por fim, "Rock`n`Rolla – A Grande Roubada" é um filme divertido sem pretensões maiores do que entreter – sua violência é performática como um espetáculo de rock. Se o desfecho apressado e inesperado debilita o resultado final, o processo de construção da história – e suas reviravoltas – se apresenta satisfatório para um produto explicitamente de entretenimento. Não tem o brilho de “Snatch – Porcos e Diamantes”, mas dá um show em “Revolver” sem dúvida nenhuma.
   
Nota: 7/10

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Crítica: Não por Acaso | Um Filme de Philippe Barcinski (2007)


Para quem apenas conhece o trabalho de Barcinski por seus inúmeros curtas premiados, como em “O Postal Branco” (1998) e “Janela Aberta” (2002), pode estranhar seu longa de estreia chamado “Não por Acaso” (2007). Seus curtas privilegiavam a estética, o formato com uma consequente perda de dramaturgia resultante de suas prioridades, que era o experimentalismo. Em seu longa-metragem, a fórmula se inverte, e todo contorno da forma é voltada em função da dramaticidade de seus personagens e suas emoções. O jogo de linguagem ainda está ali, mas expresso de forma sutil, dando espaço ao desenvolvimento de personagens, e em suma, sua história. Em sua trama, acompanhamos dois homens onde suas histórias de vida avançam de modo paralelo, quando se cruzam e desencadeiam consequências marcantes. A de Ênio (Leonardo Medeiros) um solitário controlador de tráfego, e Pedro (Rodrigo Santoro) um fabricante de mesas de sinuca e exímio jogador. Ambos têm em comum o amor por duas mulheres, interpretadas por Graziella Moretto e Branca Messina, além de uma inexplicável obsessão por controle. Após uma tragédia que muda o curso de suas vidas, inserem-se outras duas mulheres, Bia (Rita Batata) na vida de Ênio, e Lucia (Leticia Sabatella) na vida de Pedro. Ambos descobrem a dura constatação de que é difícil, quase impossível, controlar certos sentimentos, e muito mais ainda de prevê-los com alguma precisão.

Nesse universo do trânsito e da sinuca no qual os protagonistas fazem parte, reside uma metáfora sobre o pensamento controlador. A primeira vista, demonstram-se tão diferentes e distantes um do outro, mas é interessante o jogo de linguagem adotado por Barcinski para representar sua conexão camuflada. Apesar de se tratar de um longa-metragem, e de um diretor inexperiente nesse formato, Barcinski trás de sua experiência em curtas essa capacidade de somar virtudes, que foram mais expressivas ao espectador em um trabalho mais curto. Aqui menos visíveis, mas ainda assim presentes, Barcinski enriquece sua narrativa de modo sensível e levemente intelectual. Ele taxa seu trabalho com segurança, sabendo explorar o talento do elenco ao extrair interpretações inspiradoras. E a cidade de São Paulo, funciona quase como coadjuvante nesse ambiente, retratada com a frieza e a imparcialidade de uma grande metrópole com um toque de poesia. “Não por Acaso” alia um produto de foco comercial através de uma estrutura autoral, que resultou em uma obra bem realizada de estrutura técnica e narrativa. Se os protagonistas tentam prever o futuro, na medida em que ele acontece, mais do que preparar a certeira profecia, devem estar preparados para o efeito devastador da casualidade, que pode inutilizar todos os seus esforços em manter o controle sobre o acaso. Se o planejamento desses personagens, suscetíveis aos naturais balanços do destino não se adequarem as possibilidades as quais são expostos, o futuro não só será obviamente incerto, mas será marcado por suscetíveis fracassos. Recomendadíssimo para apreciadores de produções bem diferentes das que tem infestado o cinema nacional ultimamente.

Nota: 7,5/10

domingo, 26 de maio de 2013

O que é Isso?



Juro que tentei entender. Minha conclusão: no momento ainda estão verdes, mas quando amadurecerem... serão "Os Incríveis".

sábado, 25 de maio de 2013

Crítica: Império dos Lobos | Um Filme de Chris Nahon (2005)



Sempre fui fã de diretores, filmes e o estilo europeu de se fazer cinema, e em especial o estilo francês de realizar produções bacanas de forma única. Portanto em uma época onde Hollywood não sabia mais o que inventar para fazer thrillers originais que resgatassem o gênero do descredito em que caiu (resultado de uma infinidade de longas esquecíveis) o diretor francês Chris Nahon, sediado na França, se dava muito bem em reciclar boas ideias do “tio Sam”  de forma mais envolvente. O filme "Império dos Lobos" (L´Empire des Loups, 2005) dirigido por Chris Nahon, o mesmo diretor do filme “O Beijo do Dragão”, desenvolve duas tramas simultaneamente nesse competente suspense. Um obstinado policial investiga um suposto caso de assassinatos em série, onde as vitimas eram três imigrantes turcas que trabalhavam clandestinamente em ateliês de costura em Paris, quando foram brutalmente mutiladas. Esse policial, perdido sem respostas, pede ajuda a um colega aposentado (Jean Reno), famoso no submundo do crime por seus métodos nada ortodoxos de lidar com criminosos tamanha violência que utiliza para obter as respostas que busca. Ao mesmo tempo Nahon desenvolve uma trama paralela em torno de uma mulher desequilibrada  atormentada por alucinações e uma inexplicável amnésia. A poucos minutos do fim desse longa, sua existência se justifica pelo surpreendente desfecho do roteiro bem conduzido. 

O roteiro é baseado na obra de Jean-Christophe Grangé, também autor de outros sucessos da filmografia de ação francesa, como: "Rios Vermelhos" e "Vidocq". O roteiro é bem composto por vários elementos, desde o expressivo fundo político e social, a inserção de uma envolvente trama policial que cresce surpreendente em volta do protagonista. Além das motivações pessoais de cada personagem e de como elas se cruzam na resolução dos crimes, sua trama prende a atenção do espectador pela tensão e o firme clima de suspense incrustado em sua narrativa – sombrio e com fortes cenas de violência e crueldade. Cada elemento cumpre seu papel num tempo adequado dentro da trama maior. Porém, o ponto alto desse filme é justamente o que seria o defeito de qualquer produção americana. Todos os macetes, clichês, sequências óbvias, personagens caricatos e excentricidades do gênero estão inegavelmente bem acabadas em função da qualidade dos recursos técnicos aplicados pela produção, que tem um funcionamento redondo deixando toda trama alinhada e em perfeita sintonia. "Império dos Lobos" é um bom exemplo de fita que os franceses tem se especializado cada vez mais em fazer – produções de baixo orçamento com ares de superprodução. Um programa interessante para apreciadores das outras transposições cinematográficas de Grangé.

Nota: 7,5/10


quinta-feira, 23 de maio de 2013

Crítica: Bastardos Inglórios | Um Filme de Quentin Tarantino (2009)


Após anos e centenas de filmes ambientados na Segunda Guerra Mundial, dos quais poucos dramas se salvam e menos ainda podem se vender como obra-prima, esse drama de guerra chamado "Bastardos Inglórios" (Inglourous Basterds, 2009), dirigido pelo cultuado cineasta Quentin Tarantino ultrapassa os limites das possibilidades criando o filme de guerra definitivo. Sim, definitivo. Ainda que apenas faça sentido no universo tarantinesco, pode-se afirmar que se trata do melhor roteiro ambientado na Segunda Guerra Mundial em anos, mesmo sendo apenas uma história totalmente imaginária. Enquanto a maioria dos dramas procura ter como base histórias reais para compor sua premissa com o intuito de transpor uma obra fiel e sensível aos acontecimentos que marcaram a história da humanidade,  o roteirista/cineasta chuta o balde com sua força criativa e surpreende a todos com uma ficção que somente poderia sair da cabeça de poucos. Depois de anos cozinhando o roteiro em fogo brando, onde inclusive Tarantino especulou torná-lo uma série de televisão após atingir proporções gigantescas para o formato de um longa, mas enfim virou uma realidade cinematográfica. Acabou sendo o roteiro não escrito mais esperado de sua autoria (durante anos houve rumores sobre a existência de um filme de guerra escrito por ele, que não se confirmava, e somente criava expectativa numa legião de fãs do diretor). Tarantino é um dos poucos diretores que se podem dar o luxo de utilizar qualquer referência cinematográfica, ou não, e não ser rotulado de copioso. Suas referências são homenagens, sutis ou descaradas, feitas com bom gosto, criatividade e capazes de mudar nosso jeito de ver o mundo. E essa produção é um bom exemplo disso.  

Portanto, essa história que endossa a afirmação de sua capacidade de ser original, conta através de duas tramas paralelas que se completam de forma fascinante, sua visão nada convencional da história do mundo. Em uma dessas tramas, há o tenente Aldo Raine (Brad Pitt), líder de um batalhão especial conhecido por ‘Os Bastardos’, composto por soldados judeus que operam na França ocupada por Hitler com a finalidade de matar nazistas - o lema trupe é não fazer reféns.  Em outra trama temos Shosanna (Mélanie Laurent) moça judia, cuja infância foi marcada por testemunhar o massacre de sua família pelo coronel Hans Landa (Christopher Waltz). Quando adulta passa assumir outra identidade, agora proprietária de um cinema em Paris obtido através de herança. As histórias correm em paralelo, até o momento onde as duas tramas se convergem, quando os membros do alto escalão do exército alemão estão reunidos em uma prémiere de um longa de propaganda nazista de um ícone da corporação da Gestapo chamado Frederick Zoller (Daniel Brül). Assim cada grupo começa de seu modo a trabalhar a forma de execução do atentado que pode acabar com a guerra. Enquanto Aldo conta com a ajuda de seu grupo, como o Sargento Hugo Stiglitz (Til Schwelger), eis integrante do exercito alemão, condenado a morte e resgatado pelos bastardos para compor o grupo; o Sargento Donny Donowitz (Eli Roth), judeu de Boston conhecido pelos nazistas como “O Urso Judeu”, que tem virado celebridade por espancar até a morte soldados alemães com um taco de beisebol; o Tenente Archibald Hicox (Michael Fassbender), soldado britânico com a missão de prestar suporte aos bastardos nessa missão suicida; entre outros soldados judeus que compõem o grupo de ‘Os Bastardos’; planejam se infiltrar no interior do cinema disfarçados com identidades falsas para boicotar a Première explodindo-a. Ao mesmo tempo, Shosanna, dona do cinema, se utiliza da vantagem estratégica de estar sediando um evento utópico para os alemães, onde planeja incendiar o cinema com todo alto escalão nazista dentro. Mas numa reviravolta imprevisível, nada dá certo como o esperado.

A fita além de ter aquela violência performática bem característica dos trabalhos de Tarantino, traz excelentes diálogos e as melhores frases já escritas pelo cineasta, onde seu humor negro nunca esteve tão bem afinado deixando tanto as cenas do Coronel Landa, quanto às de Aldo Raine extraordinárias. Sobretudo, todo elenco apresenta-se em sintonia com a proposta aqui oferecida como também a trilha sonora que foge do lugar comum do gênero, apresentando uma sonoridade original e saborosa. Mas o espetáculo fica mesmo por conta do elenco principal, onde o primeiro, o Coronel Hanz Landa estampa carisma seguido de crueldade e uma frieza assustadora. Enquanto o segundo, Aldo Raine dissipa cinismo e deboche a reveria num tom cômico envolvente. Basta vermos o último comentário de Brad Pitt, antes da subida dos créditos finais, para saber que inclusive o próprio cineasta reconhece indiretamente sua plena satisfação ao proclamar através do personagem interpretado por Brad Pitt em circunstâncias inesperadas, que “Bastardos Inglórios”, pode ser seu melhor trabalho: “Sabe... está pode ser muito bem minha obra-prima.” Se Tarantino apenas especula essa possibilidade, eu não tenho dúvida nenhuma quanto a isso.

Nota: 10/10

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Crítica: Super 8 | Um Filme de J.J. Abrams (2011)


"Super 8" (Super 8, 2011) é uma espécie de raro entretenimento. Homenagens bem feitas ao cinema de aventura dos anos 80 são raras, e principalmente, as que são providas de carisma e uma realização técnica competente. E nesta produção, podemos ver um nível surpreendente de competência, ao começar pelo cartaz, que homenageia o estilo dos cartazes de produções oitentistas - a soma de tudo referente ao filme em um conjunto de imagens que se misturam - de acordo com o enredo. Depois pelo trailer que agrada, lhe conferindo um marketing de mistério, mostrando pouco e deixando a imaginação a mil - a cena onde há um descarrilamento de um trem que levava no interior de um dos vagões uma sugestiva ameaça - foi de arrepiar, além de uma progressão simpática, com personagens divertidos e homenagens pontuais ao cinema. Em miúdos: pura diversão. Essa produção é nostalgia materializada numa aventura de ficção científica dirigida e roteirizada pelo genial J.J. Abrams, e produzida pelo experiente cineasta Steven Spielberg. E como esperado de sua premissa, com personagens bem ao estilo de seu produtor, esse filme faz uma homenagem aos icônicos filmes de Spielberg que marcaram sua filmografia, com marca narrativa de Abrams. Em sua trama acompanhamos um grupo de adolescentes no ano de 1979, numa cidade industrial de Ohio, que estão tentando filmar um filme de zumbis com uma câmera Super 8. Numa noite dessas, durante as filmagens, acabam se deparando com a colisão de um trem de carga com um caminhão. Sem que eles saibam, de seu interior saiu uma criatura desconhecida e perigosa. Mas não demora muito para perceberem que algo está errado, assim que muitas pessoas começam a desaparecer e a cidade é tomada por uma movimentação militar. 


Se à primeira vista o título pareceu confuso para definir o trabalho de Abrams, basta saber que Super 8 foi um formato cinematográfico muito popular entre os anos 50 aos 80 em função da Kodak. Tratava-se de uma película de 8 milímetros cheia de possibilidades que caiu em desuso e que justamente o jovem Joe (Joel Courtney, membro do elenco principal) usa nas filmagens do curta fictício de zumbis. Daí a razão do título. Abrams se usou de um elemento circunstancial para intitular seu trabalho e salientar sutilmente onde mora o foco principal da trama, que até começou acanhado e foi obtendo o devido destaque no decorrer do tempo. A ameaça alienígena oculta é somente um dos elementos chamativos que são dispersos pela produção. Por isso, além do conteúdo instigante da premissa, Abrams recheia seu trabalho com várias subtramas claramente inspiradas numa mistura dosada de passagens e conflitos pessoais de "Contatos Imediatos de Terceiro Grau”, “Jurassic Park”, “E.T. – O Extraterrestre” e “Os Goonies”, inegavelmente repletos de clichês funcionais e expressivamente cativantes. O que de certo modo fluem com naturalidade e de forma positiva. Tem uma excelente climatização, ora tensa, ora humorada, perfeitamente equilibrada na história. Exibe uma bela direção de fotografia de responsabilidade de Larry Fong (Watchmen, 2009), uma trilha sonora que funciona, apesar de não impressionar, e um elenco mirim fabuloso, com cada um com suas particularidades bem delineadas. Se a aparição do tão famigerado alienígena demora, sua revelação não demonstra ser o grande clímax como é esperado em teoria, e que por sinal se apresenta inclusive exagerado e de menor importância em comparação ao resto. Em sua totalidade, “Super 8” é envolvente e divertidíssimo. Sua estrutura técnica é bem realizada, valorizando a nostalgia e o valor que certas obras de Spielberg tiveram, não para o cineasta propriamente, mas para os saudosos espectadores.

Nota:  8,5/10

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Crítica: Missão: Impossível: Protocolo Fantasma | Um Filme de Brad Bird (2011)


A partir de um seriado de televisão dos anos 60, o astro Tom Cruise levou para a telona em 1996, como protagonista e produtor, o primeiro episódio de uma cinessérie bem sucedida que alcançou sua quarta produção até o momento, chamada: "Missão Impossível". Seu sucesso já atraiu diretores de diferentes estilos, onde cada um realizou um trabalho singular e marcante ao seu estilo. Diretores renomados como Brian De Palma, John Woo e J.J. Abrams já materializaram aventuras do famoso agente especial Ethan Hunt. A escalação – de certo modo arriscada – de Brad Bird, apenas um experiente diretor de inesquecíveis animações como: "Os Incríveis" (2004) e "Ratatouille" (2007), talvez tenha feito toda a diferença no resultado de um dos mais inventivos e alucinantes filmes dessa franquia. E com ou sem intenção, provou que diretores de animação (cada vez menos infantis) são capazes de fazer serviço de gente grande com a mesma competência que outros profissionais, aos quais somente conhecem o formato Live Action. Assim o longa-metragem "Missão: Impossível – Protocolo Fantasma" (Mission: Impossible – Ghost Protocol, 2011), estrelado por Tom Cruise, Paula Patton, Simon Pegg e Jeremy Renner, segue a fórmula de espionagem lisérgica instituída desde a primeira produção, que detém uma reputação a cumprir a cada lançamento. Ethan é resgatado de uma prisão em Budapeste, por agentes da Força de Missões Impossíveis (IMF, sigla em inglês), onde recebe a missão de encontrar e impedir que terroristas disparem uma bomba nuclear contra os Estados Unidos, mesmo sob as circunstâncias de estar sendo caçado por autoridades russas, como também sendo, um perigoso terrorista. Com a ajuda de sua equipe, Ethan busca provas de sua inocência e informações que o leve ao verdadeiro criminoso, antes que esse vilão desconhecido consiga êxito em seu ataque desencadeando uma guerra entre as nações.


Com uma trama cheia de camadas, densas e cristalinas ao entendimento do espectador, o roteiro tem todos os ingredientes de um bom filme de espionagem e contraespionagem necessários para emplacar um bom sucesso, dentro dos moldes da proposta oferecida pela franquia “Missão Impossível – nada é por acaso. O papel de Jeremy Renner, por exemplo, entra em cena de forma corriqueira e se torna uma revelação aos poucos, mostrando um melhor aproveitamento do elenco de apoio. Simon Pegg materializa a comicidade no universo da espionagem apresentada no terceiro filme, que como consequência, lhe concedeu uma nova oportunidade de expandir seu trabalho e surpreender o público novamente. E Paula Patton, não ficou reduzida a uma espécie de Bond Girl, tendo um papel expressivo dentro da trama, e justificando a existência de sua personagem de maneira única se comparado às belas anteriores, que convenientemente são inseridas no roteiro como atração visual para os marmanjos de plantão. Apesar de toda produção ter um ritmo alucinante, deixando o espectador vivenciando a emoção dos personagens com fidelidade (muito pela qualidade dos efeitos sonoros e visuais modernizados da produção) as cenas rodadas no exterior do prédio Burj Khalifa, em Dubai, nos Emirados Árabes (o mais alto do mundo) talvez seja a sequência mais emocionante da franquia e tenha os momentos mais engraçados do filme: com a fachada toda em vidro, Ethan está no andar 123, e precisa subir mais 7 andares pelo lado de fora, amparado apenas por um par de luvas eletrônicas, que se prendem ao vidro, mas que logo a engenhoca para de funcionar. Pura adrenalina. O clima vertiginoso salta aos olhos pelo tamanho do realismo das imagens, pela tensão causada pela situação, apenas amenizada pela abordagem humorada que é cadenciada na passagem. 

A única lamentação que essa produção causa, lamentavelmente é acarretada apenas pela aplicação cada vez mais gradativa de engenhocas excêntricas e absurdas em sua narrativa, típicas de um James Bond anterior ao "Cassino Royale" (2006) - enquanto a mesma descarta esse elemento quase por completo se voltando ao potencial humano da espionagem. Passa a ser uma evolução às avessas se comparado a um dos mais famosos espiões do mundo. Missão: Impossível – Protocolo Fantasma" talvez seja o melhor longa da franquia, que tem inventividade, uma trama ajeitada, um arrojo visual apurado, humor inteligente e ao mesmo tempo, uma dose saborosa de nostalgia por conta do resgate da temática de uma eminente guerra nuclear, típica de filmes oitentistas. Tudo belissimamente ritmado por um diretor doutrinado pelos conceitos da animação, cujo gênero forma verdadeiros mestres na criação de narrativas proveitosas, perfeccionismo requintado e acima de tudo, profissionais responsáveis que não desperdiçam tempo e dinheiro com material de encher linguiça sem propósito. Em resumo: Missão cumprida. 

Nota: 8/10


domingo, 19 de maio de 2013

Crítica: Sherlock Holmes – O Jogo das Sombras | Um Filme de Guy Ritchie (2011)


Elementar meu caro leitor: 

A superprodução "Sherlock Holmes – O Jogo das Sombras" (Sherlock Holmes – A Game of Shadows, 2011) reúne novamente Robert Downey Jr. e Jude Law numa sequência cinematográfica inspirada no personagem literário criado por Arthur Conan Doyle. Continuação essa mais deslumbrante quanto o primeiro, deixando evidências, que os obstáculos existentes na primeira produção haviam sido completamente superados. Porque sobretudo, quando a direção encomendada de um filme-evento é delegada a um diretor estiloso, cujo personagem detém um status de consagração e reputação a zelar, é adotada por medida de precaução, uma abordagem mais cautelosa e convencional para não chocar o público e a crítica logo de cara. Dependendo dos resultados obtidos dessa peleja, seus realizadores ganham certa liberdade criativa e um incentivo orçamentário para impulsionar ainda mais sua visão do negócio como gratidão pelo bom trabalho apresentado anteriormente. Algumas franquias de sucesso indiscutível tiveram sua verdadeira ascensão após o segundo filme como "Homem Aranha", "X-Men", "Batman" e "Exterminador do Futuro". Tudo que foi idealizado no filme "Sherlock Holmes", ganha mais intensidade e ousadia em sua sequência, tornando essa produção um sinônimo de garantia de entretenimento.

Como no primeiro filme, o afinado entrosamento dos protagonistas Sherlock Holmes (Robert Downey Jr.) e Dr. Watson (Jude Law) – que na vida real tornaram-se bons amigos - faz toda a diferença no andamento da trama. Apesar do ritmo rápido das cenas, antenado na ação; do clima de suspense policial e mistério encrustado na alma do filme; da importância do rumo em que se direciona a trama; é inegável, que seja na comédia onde mora sua maior virtude. As situações que cercam a dupla e as excentricidades de Holmes estão ainda mais hilariantes do que muito filme que se vende engraçado na teoria e não cumpre a promessa nem de longe. Muitas vezes nem é preciso dizer nada, e somente com as expressões distantes de Holmes diante dos ataques de fúria de Watson já nos cativa a um sorriso sem esforço. Mas é nos devaneios de intelecto do protagonista, muito bem interpretado por Robert Downey Jr., onde pode se dar gargalhadas conjuntas com o restante da plateia. Apesar das críticas negativas com ar de sabotagem que o primeiro filme rendeu, pela despretensiosa narrativa hollywoodiana da obra, sua proposta de entretenimento não deixou a desejar em momento algum da produção. Criado e realizado com foco de divertir, Guy Ritchie criou espertamente uma fabulosa franquia com um personagem inusitado. Se tivesse uma abordagem mais séria e convencional do personagem, seguramente teria agradado um seleto grupo de espectadores, que ressaltariam sua fidelidade e caracterização à obra de Arthur Conan Doyle, mas teria acabado por aí mesmo. Mas assim o produtor Joel Silver – responsável pelo sucesso de grandes blockbusters – somente fez o que alguém certamente já arquitetava no momento da divulgação para pegar carona em um sucesso. Vejam o que aconteceu com "Matrix", copiado e reinventado até exauri-lo por completo sem nenhuma responsabilidade.

A história desse longa-metragem segue a cruzada de Holmes em desvendar os planos malignos de seu maior antagonista, o então professor Moriarty (Jared Harris), um homem inteligente e misterioso. Watson volta novamente a ajudar Holmes em sua empreitada de desvendar assassinatos e conspirações que assombram a terra da coroa. Dessa vez, a dupla recebe ajuda do irmão mais velho de Holmes, Mycroft (Stephen Fry), e a cigana Sin (Noomi Rapace), nessa empreitada detetivesca de aventura. Nesse longa as suspeitas fundamentadas na primeira aventura foram confirmadas. Moriarty, um criminoso acima de qualquer suspeita, se mostra um rival a altura do brilhantismo de Holmes, que sem provas, não pode confirmar suas suspeitas de seu envolvimento num plano de conspiração contra o mundo. Por isso, apesar de todo arrojo visual e sofisticação narrativa, um dos melhores momentos do filme, fica a cargo de seu primeiro encontro formal, onde ambos travam um duelo verbal e de conhecimento que esbanja talento de interpretação. O elenco de apoio funciona bem, apesar da perda da personagem feminina de Irene Adler (Rachel McAdams), pela inserção do personagem de Noomi Rapace, que não se torna uma substituição à altura, mesmo pelo destaque que teve a sua disposição. No entanto o irmão de Holmes – talvez mais excêntrico e inteligente do que Sherlock – foi uma escolha excelente no conjunto. A ação continua explosiva, carregada de efeitos em câmera lenta e mais bem arquitetada. É unanime dizer que a cena do trem até esse momento, foi a melhor sequência da franquia pela revelação da capacidade de criar soluções improváveis e ágeis visualmente para salvar os personagens de uma enrascada.

O roteiro procura deixar tudo redondo, sem pontas soltas ou furos pecaminosos. O desfecho sempre acompanhado com pontuados flashbacks, para não deixar dúvidas na mente do espectador, torna a absorção das entrelinhas mais cômoda ao público e conveniente para a produção. E como todo filme de Guy Ritchie, deixa uma brecha – dessa vez gritante e ao mesmo tempo hilária – para uma sequência de um terceiro episódio. Por fim, "Sherlock Holmes – O Jogo das Sombras" é praticamente uma copia melhorada do primeiro longa, que particularmente julgava excelente, e que certamente irá gerar mais uma sequência no futuro, que não consigo imaginar melhor do que essa. E mesmo que desaprove essa febre de Hollywood em criar franquias cinematográficas de tudo que funciona uma vez, anseio vorazmente por mais um filme de Downey Jr. no papel desse detetive excêntrico que não para de me surpreender.

Nota: 8/10

Crítica: Jumper | Um Filme de Doug Liman (2008)


Quando o cineasta estadunidense Doug Liman apareceu com filmes legais como "Swingers – Curtindo a Vida" (1996) e "Vamos Nessa" (1999), tendo a sua plena disposição histórias fascinantes das camadas sociais da sociedade contemporânea, foi recepcionado pelo público e a critica com aplausos. Produções iguais a essa desmistificavam que para fazer grandes filmes, era necessário grandes orçamentos e inacessíveis estrelas no elenco. Melhor ainda foi quando tempos depois, comandava grandes produções como "A Identidade Bourne" (2002), que ainda hoje serve de referência a muitos cineastas quando o assunto é espionagem. Agora com esse longa intitulado "Jumper" (Jumper, 2008), cuja história acompanhamos David Rice (Hayden Christensen), um adolescente comum que descobre ter a habilidade de se teletransportar a coisa não funciona como esperado. As possibilidades desses poderes são infinitas, podendo tomar café da manhã em Paris, surfar no Hawai, almoçar em Londres e tomar um banho de sol sobre as pirâmides do Egito, tudo no mesmo dia. De posse desse poder, passa a entrar e sair do interior de cofres de banco com quantias de dinheiro que o deixam rico. Anos depois, o rapaz procura conquistar seu velho amor de infância Millie (Rachel Bilson).  No entanto entra em cena um caçador de Jumpers (Samuel L. Jackson) líder dos Paladinos, um grupo secreto que a milhares de anos caça Jumpers pelo mundo, e está decidido a exterminar David ou qualquer outro Jumper da face da terra.


Igual ao poder de Hayden Christensen, as possibilidades eram infinitas para esse filme, porém por mais legal que possa ter ficado de modo técnico,  não empolga e nem traz nada de novo que desperte algum fascínio: o par romântico não funciona; Jackson está um pouco deslocado e por vezes perdido no papel de Paladino; e o segundo Jumper que divide a tela com o protagonista, estrelado por Jamie Bell, tem mais apelo dramático do que o próprio protagonista. A trilha sonora não se destaca tanto quanto poderia, e os efeitos por mais interessantes que ficaram, não fazem desaparecer as deficiências da trama. E mesmo cheio de boas sacadas visuais, como pela bela direção de fotografia, frases de efeito como a que Jackson profere a Christensen para justificar sua caçada: “somente Deus pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo”, não sustenta um longa dessa magnitude. O roteiro brinca com suas origens insinuando ser um típico filme de super-heróis, mas foi baseado num livro homônimo de Steven Gould, publicado em 1992 sem ligações diretas com o gênero.  Sobretudo, se havia a pretensão de Doug Liman de criar uma nova franquia através de "Jumper", para substituir o sucesso do espião desmemoriado Bourne,  isso após a morna recepção da crítica em relação ao "Sr. e Sra. Smith" (2005), as chances dessa produção desapareceram como seus personagens principais: em pleno ar.

Nota: 5,5/10

sábado, 18 de maio de 2013

Crítica: Plano de Fuga | Um Filme de Adrian Grünberg (2012)


Se à primeira vista esse longa-metragem de entretenimento lhe causar a sensação de dejavú em relação a outro trabalho de Mel Gibson, mais especificamente a fita chamada “O Troco” (1999), acredite, essa sensação que você está tendo não é isolada. Um é a cara do outro – e duvido que seja mera coincidência – embora seus realizadores não apresentarem nada em comum. Enquanto o diretor Brian Helgeland travou uma batalha com o astro Mel Gibson por querer apresentar um filme bem diferente do que resultou – se dependesse do diretor o protagonista teria se ferrado no desfecho – o estreante diretor Adrian Grünberg seguiu a risca a fórmula de sucesso que consagrou “O Troco”. Mas o que poderia ser considerado um equívoco, no final das contas resultou em um divertido filme de ação que fecha com o estilo de Gibson. “Plano de Fuga” (Get a Gringo, 2012) segue a mesma linha de “O Troco” em todos os aspectos positivos, e ainda por cima, dá margem para criar mais emoção e risadas do que o primeiro.

Nessa produção, o ator Mel Gibson interpreta um criminoso capturado pela polícia mexicana com uma mala contendo 2 milhões de dólares. Numa fuga desesperada ele atravessa a fronteira dos Estados Unidos, preso vai parar em um presídio conhecido como El Pueblito, totalmente controlado por criminosos. O dinheiro da mala apreendido com ele foi roubado de mafiosos foi parar nas mãos de policiais mexicanos corruptos, enquanto Gibson atrás das grades em uma prisão que mais parece uma feira indiana. Apesar de ser um criminoso experiente, logo percebe que a cadeia onde se encontrava não era nada com que conhecia até então. No processo de adaptação na cadeia, vai se adaptando e cria uma ligação de amizade com um garoto cuja sua maior pretensão é matar o chefão do crime do presídio. Gibson está na mira de criminosos locais e de antigos inimigos que buscam seu dinheiro de volta, onde é obrigado a correr contra o tempo para escapar da prisão, ajudar o garoto em sua vingança e recuperar o seu dinheiro antes que seja tarde.

Basta ver o trailer desse filme para saber que se trata de puro entretenimento descompromissado. Com uma história clássica de vingança, Mel Gibson cumpre seu papel de durão cheio de princípios e ao mesmo tempo brilhante – o anti-herói perfeito para sua persona – que não se esforça em nada em ser agradável, mas conquista a todos por onde passa. Sua empreitada contra o cigarro – hilária dentro da franquia ‘Máquina Mortífera – continua vívida e duradoura; sua frieza diante do caos é inspiradora e hilária em certos momentos; e o garoto ao qual desenvolve certo afeto (Kevin Hernandez), rouba a cena do experiente e carismático ator. Contudo, todo o elenco de apoio tem seus momentos de brilhantismo. A ação do filme é bem à moda antiga e agrada, repleta de situações curiosas com tiroteios e explosões a reveria. “Plano de Fuga” está longe de ser memorável, mas impressiona pelo desenvolvimento da trama absurda. Embora remeta ao trabalho de Brian Helgeland, vemos traços de “Máquina Mortífera” também. Por fim, a fita diverte e descontrai como poucos filmes do gênero, embora pouco conhecida.

Nota: 7,5/10
_______________________________________________________________________

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Crítica: Assalto ao Banco Central | Um Filme de Marcos Paulo (2011)


Em 2005, a quantia de 164 milhões de reais foram roubados do Banco Central de Fortaleza em uma operação criminosa cinematográfica. Ninguém soube exatamente quem foram os verdadeiros responsáveis pelo maior roubo da história do país, mas o material era perfeito para o cinema explorar as possibilidades dessa fabulosa premissa, que suplicava por uma retratação cinematográfica do acontecido – um fato extraordinário repleto de lacunas de fácil preenchimento em teoria. O resultado disso veio através de Assalto ao Banco Central(2011), dirigido pelo experiente diretor de televisão Marcos Paulo que abordou o longa seguindo a fórmula de filmes americanos do gênero. Seu cartaz remete a lembrança de “Onze Homens e Um Segredo” (2001), de Steven Soderbergh, e sua narrativa ao “O Plano Perfeito” (2006) de Spike Lee, demonstrando que essa produção foi o grande filme do cinema nacional que não aconteceu – o desperdício de uma boa ideia numa realização pobre e de resultado desinteressante. Em sua trama acompanhamos a quadrilha liderada por Barão (Milhem Cortaz) que planejou, organizou e executou o roubo ao Banco Central de Fortaleza cavando um túnel das redondezas até o interior do banco. Sem usar uma arma ou disparar alarmes, a quadrilha consegue o mais bem sucedido roubo da história do país. Barão conta com a ajuda de sua mulher, Carla (Hermila Guedes), e de seu velho parceiro Mineiro (Eriberto Leão), entre outros cúmplices, onde temos os delegados Chico Amorim (Lima Duarte) e Telma Monteiro (Giulia Gam) no encalço da quadrilha ambicionando a captura.

Se alguém tiver a pretensão de usar esse filme como fonte de informações sobre o acontecido, esqueça. O livro de Renê Belmonte e Lúcio Manfredi romantizou demasiadamente os fatos e preencheram as lacunas da história com personagens, situações e circunstâncias maciçamente fictícias, o roteiro de Antonia Fontenelle apenas engordou o material com excessos, ao mesmo tempo em que o diretor Marcos Paulo, estreante no cinema, não imprimiu um estilo a produção – reciclou clichês e ideias batidas de produções americanas. Com uma narrativa que se divide em duas partes, entre o planejamento e execução do roubo na primeira, e depois focada na ação policial de busca e captura dos envolvidos, o filme não impressiona, tanto pela falta de originalidade, como pelas as atuações do elenco. Os interessantes viram em nada, e os funcionais não convencem nem de longe, muito pelos diálogos e situações cansativas do roteiro fraco. Com uma rala climatização, o filme é desprovido de tensão ou suspense, restando ao espectador apenas o papel de acompanhar os acontecimentos passivamente, para não dizer, pacientemente. “Assalto ao Banco Central” apesar de baseado em fatos reais, seu resultado não passa de uma possibilidade desperdiçada de uma grande realização, não somente em marketing como foi vendida ao público, mas como produto de entretenimento de qualidade como sua premissa aparentava ser.

Nota:  7/10

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Crítica: O Resgate | Um Filme de Simon West (2012)


A parceria de Cage/West já rendeu no passado coisa bem melhor do que essa produção. A fita “Con Air – A Rota da Fuga” (1997), onde o astro Nicolas Cage protagoniza o herói do dia numa produção de ação dirigida por Simon West, a qual foi e ainda pode ser considerado um desfile de excentricidades e exageros, é muito mais interessante do que o filme “O Resgate” (Stolen, 2012), um dia imaginou poder ser. Para começar, “Con Air” tinha tanto um vilão, como um herói carismático; a produção não poupou gastos para materializar os delírios visuais de um diretor experiente no universo dos vídeos musicais; a trilha sonora foi fabulosa como poucas no gênero; entre outros elementos que tiveram uma funcionalidade mais arredondada. Enquanto, “O Resgate” se perde em sua pretensão, onde se tiver sorte, apenas será lembrado como o filme poderia ter sido um bom filme de entretenimento se Simon West não tivesse esquecido como se faz um bom programa para ser exibido na Tela Quente.

Em sua trama acompanhamos Will Montgomery (Nicolas Cage) que passou oito anos na prisão após um golpe milionário mal sucedido. A grana nunca apareceu, pois Will a queimou na fuga, e quando é solto, tanto a polícia quanto um ex-parceiro do golpe passam a persegui-lo – a polícia acredita que ele voltará a roubar, e seu ex-parceiro quer cobrar a sua parte do roubo. No entanto, Will se encontra sinceramente arrependido e disposto a retomar sua vida com honestidade, começando a reatar seus laços familiares com sua filha, Alison (Sami Gale). Mas quando seu antigo parceiro de crimes, Vincent (Josh Lucas) sequestra sua filha querendo os 10 milhões do tão famigerado roubo que não deu certo, lhe concede apenas 12 horas para conseguir o dinheiro para salvar sua filha. Assim, como se o sequestro já não fosse problema suficiente, Will ainda tem agentes do FBI liderados por Harlend (Danny Hudson) em seu encalço piorando tudo, ao querer vê-lo atrás das grades novamente. 

Essa produção demonstra tantas fraquezas que é quase impossível enumerá-las. O roteiro é em sua totalidade um clichê desgastado e mal realizado. Como filme de ação não funciona, devido às sequências pouco climáticas e nada inovadoras. Como filme de assalto e roubo perde-se o efeito pela trama pouco inteligente – característica de filmes como “Uma Saída de Mestre” (2003) ou “O Plano Perfeito” (2006) – por não apresentar nenhuma reviravolta que se faça necessária ou uma condução que leve a um desfecho arrebatador. Nicolas Cage, apesar de seu carisma e capacidade de interpretar um anti-herói bacana, como no filme “O Senhor das Armas” (2005), sua interpretação aqui apenas dá sequência a onda de fracassos que tem amargurado nos últimos anos no cinema – muito por culpa do conjunto mal elaborado da produção, que não se destaca em nenhum quesito técnico ou narrativo. De certo modo, mais do que o filme “O Resgate” precisou de um resgate Hollywoodiano, o ator Nicolas Cage também precisa resgatar sua carreira, antes que seja tarde, já que tem feito alguns anos que não emplaca um sucesso de público que livre seu nome da lama.

Nota: 4,5/10


quarta-feira, 15 de maio de 2013

Crítica: Femme Fatale | Um Filme de Brian De Palma (2002)



Já faz algum tempo que queria escrever sobre algum filme da carreira de Brian De Palma, mas ao mesmo tempo, não queria fazer uma escolha óbvia demais. Primeiramente, pensei em postar sobre “Olhos de Serpente” (1998), mas a descartei prontamente devido ao pouco gosto que tenho sobre essa produção. Enquanto “A Dália Negra” (2006), eu tenho apreço, mas me faltou inspiração. Por fim, o thriller “Femme Fatale” (Femme Fatale, 2002) une o útil ao agradável – uma produção de estética que alia as características de filmagem técnica de seu competente realizador, em uma premissa ligeiramente intrigante provida de um requintado clima e doses expressivas de excitação. Em sua trama acompanhamos Laura Ash (Rebecca Romjin-Stamos) uma linda mulher especialista em manipular os homens que a cercam. Após um assalto de jóias bem sucedido, que deixou seus comparsas abandonados à própria sorte, ela convenientemente abandona a vida do crime e os inimigos. Torna-se esposa de um embaixador norte-americano na França, com o intuito de se esconder e esquecer-se de seu passado que deixou muitas pessoas insatisfeitas. Mas quando anos mais tarde, um enxerido fotógrafo/paparazzi, Nicolas Bardo (Antonio Banderas), um voyeur que fascinado por sua beleza, começa a expor suas fotos aos quatro ventos, não sabe ele, o quanto fatal essa mulher pode ser para conseguir dar continuidade a sua impunidade.


Com uma história repleta de mistérios, jogos de sedução e uma reviravolta vertiginosa, o cineasta norte-americano Brian De Palma transpõe o roteiro de Josh Friedman (baseado no romance de James Elroy) com habilidade, embora mais técnica do que artística. Tecnicamente maravilhosa, com cuidadosos enquadramentos, trilha sonora oportuna, uma direção de fotografia que aproveita bem os contornos das locações, Femme Fatale” é resumidamente belo de se ver – diga-se a cena onde Rebecca Romjin-Stamos dança numa exibição desprovida de coreografia pronta e dotada de espontaneidade. Entretanto, sua maior qualidade também é seu calcanhar de Aquiles, já que o produto perde ao decorrer do desenvolvimento magnitude por apresentar pouca substância, personagens deslocados, e uma visão decepcionante como alternativa ao que sugere como desfecho. Em seu elenco principal, de um lado temos o galã latino Antonio Banderas, num papel que ele pessoalmente não aprecia, e do outro, a ex-Xmen Rebecca Romjin-Stamos mostrando tudo que não era possível ver debaixo da personagem azulada Mística. Ambos são o equilíbrio de beleza e talento sob a condução de um cineasta que é só talento, ainda que nessa produção, seja mais técnico. Está longe de ser umas de suas melhores obras, como as mais antigas (O Pagamento Final, Scarface, entre outras), mas ao mesmo tempo demonstra ter essa consciência, sem a pretensão de superá-las.

Nota: 7/10

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Cinema de Óculos Escuros

Entre os anos 60 até 2012, o cinema apresentou ao mundo diferentes personagens interpretados por diferentes atores e atrizes. Cada personagem tinha em sua composição, algumas vezes extraordinária, elementos que enriqueciam sua construção além de talento, como figurino, aparência e capacitação. Dentre esses elementos, o figurino, a indústria cinematográfica exibiu nos rostos de vários astros e estrelas de cinema através da história os mais variados óculos de sol, que foram reunidos num sequenciamento de vídeo de pouco mais de dois minutos e meio (ao som de “Shades” de Dean Martin) os mais variados modelos, onde são exibidos 65 óculos de filmes ícones do cinema. Quer ver a lista completa de filmes? Acesse o trabalho editado por Travis Greenwood e Brett Roberts.
Confira abaixo o vídeo:

Crítica: Os Outros | Um Filme de Alejandro Amenábar (2001)


Não há elemento narrativo igual ao silêncio. Quando o assunto é criar um bom suspense, a aplicação medidamente dosada desse elemento pode fazer toda diferença entre o sucesso e o fracasso de um longa-metragem. Sabendo disso, o chileno-espanhol Alejandro Amenábar criou uma história bem amarrada sob uma densa climatização que resultou em um ótimo suspense que dispensa derramamentos de sangue ou modernos efeitos especiais. Tudo é muito sutil e tem um efeito diferenciado sob o espectador. “Os Outros” (The Others, 2001) é um suspense psicológico de época que descarta oportunamente recursos artificiais, valorizando sussurros, portas que batem sem razão e um ambiente de aspectos sombrios bem peculiares. E esses recursos é que fazem dessa produção uma obra assustadora sem ser apelativa. Em sua história que se passa na Segunda Guerra Mundial, acompanhamos Grace (Nicole Kidman), que decide se mudar com seus dois filhos para uma mansão afastada na ilha de Jersey e aguarda o retorno do marido da guerra. Sozinha em uma mansão, apenas acompanhada de seus filhos, Nicholas (James Bentley) e Anne (Alakina Mann), que tem uma rara doença que os impedem de receber luz do solar, a casa simplesmente permanece sempre em completa escuridão para zelar pela segurança das crianças. Assim, sozinhos na casa apenas com a companhia das estranhas pessoas que fazem parte do quadro de funcionários, que seguem as regras estranhas impostas por Grace, coisas sobrenaturais começam acontecer sem explicação e nos revelam um desfecho tão inusitado quanto desesperador para essa solitária esposa e mãe zelosa.


Os Outros” é um exemplar honrado de uma narrativa elegante. Amenábar consegue um resultado mais do que satisfatório nessa produção, ao conferir um estilo contido em sua condução para expor os misteriosos acontecimentos que tem assolado o lar dessa família. Primeiro pelo desenvolvimento medidamente gradual que com sua trama se apresenta, também roteirizada por ele, e depois pela climatização que desencadeia no espectador a sensações mais tensas possíveis, como um bom suspense deve ser. Isso sem mencionar, do desfecho, com um final-surpresa acentuando toda a ação que decorre em tela e se completa perfeitamente com o conjunto da proposta de cinema de Amenábar. Criando personagens misteriosos, como os próprios filhos de Grace, e arrancando de Nicole Kidman uma atuação brilhante sem a necessidade da exibição de exageros, como em seus filmes anteriores. Amenábar foi responsável por filmes interessantes, como “Morte ao Vivo” (1996) e “Preso na Escuridão” (1997) (esse segundo inclusive virou posteriormente um remake sob o título “Vanilla Sky", estrelado por Tom Cruise e dirigido por Cameron Crowe) todos os trabalhos dele tem como elemento narrativo preponderante uma dose medida de suspense e um estudo da psicologia da natureza humana incrustada no enredo. “Os Outros” somente não adquiriu um status melhorado no gênero, devido ao sucesso de um tal diretor indiano (?) que fez o maior estardalhaço nas salas de cinema um pouco antes daquela época ao colocar uma criança vendo pessoas mortas. De resto, essa produção é maravilhosa como poucos suspenses dessa época.

Nota: 7,5/10    

sábado, 11 de maio de 2013

Crítica: Hitchcock | Um Filme de Sacha Gervasi (2012)



O sucesso requer constantemente sucessos. Alfred Hitchcock (Anthony Hopkins) o conhecido “mestre do suspense” passa por uma crise criativa que tem minado a glória já conquistada com sua filmografia. Como reação, o cineasta procura incessantemente uma história original a que possa materializar em um filme e se reafirmar como um dos mais brilhantes diretores de seu tempo. A crítica tem declarado que ele já não se mostra mais o cineasta que era, e deveria se aposentar antes que sua carreira despencasse definitivamente. Decidido a mostrar ao mundo que sua capacidade de realização ainda pode render trabalhos inusitados, adapta para o cinema o livro de terror “Psicose”, uma obra pouco conhecida e de qualidade que divide opiniões pela temática sinistra e nada modista da indústria cinematográfica. Sem apoio moral, de sua inseparável esposa Alma (Helen Mirren) comprometida com um projeto pessoal dela, e do financiamento de estúdios, Hitchcock acaba por bancar tudo de seu próprio bolso, arriscando-se a ficar na miséria, caso sua produção fracassasse na première.


Realizado pelo diretor/roteirista Sacha Gervasi, “Hitchcock” (Hitchcock, 2012) tem como inspiração o livro “Alfred Hitchcock and the Making of Psycho”, no qual acompanhamos superficialmente uma espécie de making-of ficcional dos bastidores das filmagens e do lançamento de “Psicose” (1960), isso em teoria. Já que o curso da narrativa segue prioritariamente alguns conflitos da relação pessoal do cineasta Alfred Hitchcock, quase que monopolizando os 98 minutos de duração dessa produção, onde consequentemente, o espectador é pouco presenteado com informações inéditas e imagens sobre os bastidores do filme de maior sucesso da carreira do cineasta, e perde a oportunidade de apresentar um relato biográfico mais profundo em relação à personalidade de Hitchcock e seu processo criativo. É dificil acreditar que um artista tão surpreendente como Hitchcock, não tenha segredos instigantes a serem revelados por trás de seus trabalhos - já que outros cineastas de menor prestígio demonstraram ter. Embora seja um filme bem realizado, que agrada por seu convencionalismo e estrutura formal, se perde ou avança num rumo que não atende as expectativas de fãs e espectadores. Seu resultado simpático se deve a funcionalidade do elenco principal, que dão contornos satisfatórios a reconstituição dos acontecimentos – com Hopkins principalmente, apesar das semelhanças físicas oscilantes em relação a figura do cineasta Alfred Hitchcock.- e o elenco de apoio e com coadjuvantes esbanjando talento. 


Tendo astros como Scarlett Johansson, Danny Hudson, Jessica Biel, Tony Collette e os oscarizados Anthony Hopkins e Helen Mirren no elenco, tem nesses atores sua maior força - dialogos casuais proferidos com habilidade. Por isso, "Hitchcock" é uma obra que entretêm com competência, se revelando um excelente programa que alia diversão e informação, mas não se afirma como relevante ao tentar desmiuçar uma das mentes mais brilhantes da história do cinema. A narrativa adotada por Gervasi ateu-se a criar um filme tradicional a espera de uma transposição inovadora sobre a representatividade da figura de Hitchcock  no imaginário de fãs. Muitos pontos abordados são a mais pura verdade à seu respeito, contudo a maior parte trás evidências que seja apenas a aplicação da liberdade artística de seu realizador. 

Nota: 7,5/10  
_____________________________________________________________________________