terça-feira, 29 de julho de 2014

Crítica: A Hora do Espanto | Um Filme de Craig Gillespie (2011)


Baseado num clássico cult do terror de 1985 dirigido por Tom Holland, “A Hora do Espanto” (Fright Night, 2011) ganhou pelas mãos do diretor Craig Gillespie (responsável pela comédia dramática “A Garota Ideal” de 2007) um remake admirável que possui um punhado de qualidades que o fazem ser tão divertido quanto o filme original. Curiosamente Gillespie não renega o material original em sua totalidade, apenas fazendo algumas concessões agradáveis e bem equilibradas, como também não o copia longa de Holland ao pé-da-letra. Alguns personagens que no passado ficavam alheios a trama, agora ganham uma importância proporcional ao filme, enquanto outros vem nessa versão mais contemporânea com algumas sutis diferenças. Isso agrega algumas curiosas novidades que vem a torna-lo um produto de entretenimento em sua essência igual ao original, embora confira uma aparência diferente ao produto. Em sua história acompanhamos o jovem Charley Brewster (Anton Yelchin) que descobre que o seu mais recente vizinho, Jerry Dandrige (Colin Farrel) um cara a primeira vista aparentava ser um sujeito legal, era na verdade um sanguinário vampiro. A princípio tudo parecia loucura, mas após uma série de atitudes suspeitas e algumas mortes ocorridas nas redondezas do bairro, tudo indicava que o impossível era real. Para deter Jerry, Charley junta forças com um suposto vampiro e mágico de espetáculos de Las Vegas, Peter Vincent (David Tennant), para por fim na eternidade desse improvável ser.


Para quem procura um filme com boas doses de suspense, humor acentuado e acima de tudo divertido, “A Hora do Espanto” tem essa somatória em mãos. Um retorno descompromissado do fascinante universo vampiresco que ganha força, seja pela leveza carismática do produto em si ou pelos membros que compõem essa refilmagem. Colin Farrel materializa um vampiro cínico e sedutor como deve ser, aproveitando bons momentos que o argumento lhe proporciona, como Anton Yelchin atende a necessidade do personagem heroico despreparado que precisa salvar a namorada (Imogen Poots), como a todas as pessoas de quem gosta armado de determinação e punhado de clichês batidos que se mostram mais do que necessários para esse remake. Nostálgico para conhecedores do original, que serviu de referência para muitos outros filmes de terror posteriormente (o original tinha um diferencial onde misturava horror com passagens cômicas) e ao mesmo tempo, agradável para ser descoberto por novos espectadores. Em meio a uma infinidade de pobres remakes de terror que tem como base clássicos dos anos 70 e 80, “A Hora do Espanto” não envergonha sua inspiração de modo algum. Inclusive, diante de muitas outras refilmagens que fracassaram tanto nos cinemas quanto no vídeo, essa produção tem mais é do que se orgulhar se mostrando um caso excepcional de sucesso crônico. Não é impecável, mas para alguns é  tão bom que chega a ser defendido com unhas e dentes.   

Nota:   7/10
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segunda-feira, 28 de julho de 2014

Crítica: O Último Desafio | Um Filme de Kim Jee-Woon (2013)


Os cineastas sul-coreanos têm realizado filmes bem curiosos na terra do Tio Sam nos últimos anos. Veja o terror psicológico dirigido por Chan-wook Park chamado “Segredos de Sangue” (2013), que se mostra uma fantástica realização, mas que infelizmente acabou passou despercebida pelo grande público apesar de ter angariado boas críticas de renomados formadores de opinião. “O Último Desafio” (The Last Stand, 2013), um filme de ação de contornos de faroeste fantasioso dirigido por Kim Jee-Woon é também um caso curioso que deve ser conferido por obrigação. Seja pelo fato de ser a estreia de um sul-coreano de competência comprovada numa produção estadunidense (ele detêm o status de cineasta cult em sua terra por causa de um punhado de filmes geniais) ou pelo retorno de Arnold Schwarzenegger como protagonista de um blockbuster após o afastamento definitivo do meio político (sua participação em “Mercenários” é uma incógnita de tão ligeira que passou). Por isso, O Último Desafio” oferece naturalmente o que se esperaria do velho Schwarz. Agregando alguns diferenciais em torno dos bastidores dessa produção e pelo fato que o filme diverte com um nível de regularidade agradável, temos nessa produção um exercício de técnica e arrojo visual em um enredo forçado. Em sua trama acompanhamos o xerife Ray Owens (Arnold Schwarzenegger) em uma cidade do interior que faz fronteira com o México, unindo forças com outros estranhos moradores para deter um poderoso chefão do tráfico de drogas que ao fugir da prisão espera atravessar a cidade ileso em direção a liberdade no México. Não é preciso dizer que seus planos não correm de acordo como esperado, e esse pacato xerife que aparentemente não poderia oferecer ameaça a ninguém fará toda a diferença como um insuperável obstáculo.


O Último Desafio” tem algumas espertezas interessantes. Adotar um ambiente de velho oeste contemporâneo é uma boa sacada, fugindo do clima de modernidades que marcavam a carreira do astro. Depois a inserção de um elenco de apoio variado que conferem qualidade e irreverência à produção. Os cômicos Luis Guzmán e Johnny Knoxville assumem a difícil responsabilidade de materializar a comédia do longa, enquanto o talentoso Forest Whitaker disponibiliza sua figura como um agente especial que subestima a capacidade de realização do velho xerife. E é claro, o galã Rodrigo Santoro vem a completar o leque de personagens inusitados que brilham em sua duração. Carros fantásticos em perseguições incríveis, tiroteios e grandes explosões são elementos que integram o desenvolvimento desse filme e se tornam mais do que necessários para torna-lo um produto divertido. O diretor Kim Jee-Woon estava seguro do filme que queria entregar, e soube conciliar de modo interessante o que podia com que devia. Arnold Schwarzenegger não tem mais disposição física para sustentar a ação como em outros tempos, e cada personagem que cerca o protagonista (vilão ou mocinho) vem com a função de aliviar o fardo da responsabilidade sobre a expectativa que o espectador deposita em seu retorno ao cinemão. Uma infelicidade é a escolha do título; considerando que se trata do retorno do astro, a palavra “Último” não combina com as pretensões de dar segmento a sua carreira cinematográfica na liderança de uma grande produção Hollywoodiana. Mas em meio à pros e contras que cercam esse longa, O Último Desafio” é divertido, embora seja um passeio no parque comparado ao que o velho Schwarzenegger já encarou no passado.

Nota:  7/10

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Mad Max Fury Road | O primeiro pôster do filme estrelado por Tom Hardy e Charlize Theron


First Impressions: Se a primeira impressão é a que fica, digo desde agora que já estou impressionado. Vi outras imagens do filme que somente fizeram aumentar minha ansiedade pela chegada do ano novo. "Mad Max: Fury Road" é o quarto filme da franquia que co-escrita e dirigida por George Miller, dá a continuidade ao mundo pós-apocalíptico que marcou os filmes anteriores. Cartaz elegante, de cores saturadas e que nem precisa agregar muita informação ao estampar o emblemático título da produção. Suponho que para seus realizadores, poucas palavras bastam para anunciar um dos filmes mais esperados da década. Previsto para maio de 2015, somente nos resta aguardar pela cruzada do guerreiro das estradas novamente.    

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Crítica: O Pacto dos Lobos | Um Filme de Christophe Gans (2001)


Entre 1764 e 1767, durante o reinado de Luís XV, uma misteriosa criatura tem levado medo à população de uma distante província rural da França. Durante meses, essa criatura chamada a Besta de Gévaudan atacava mulheres e crianças na região de Auvergne e Dorgogne, e presumidamente imaginava-se ser um lobo feroz. Mas como ninguém jamais a havia visto a fera com clareza e menos ainda captura-la, as autoridades de Paris interessadas em pôr um fim a essa tenebrosa situação enviam um renomado naturalista do jardim do rei, Gregóire de Fronsac (Samuel Le Bihan) e seu fiel companheiro, Mani (Mark Dacascos) para cessar o frenesi que a notícia causava pela França. Mas em meio a intrigas políticas, conspirações e teorias sobrenaturais, a morte dessa misteriosa fera seria apenas um dos grandes obstáculos a ser ultrapassado por esses corajosos aventureiros a serviço do rei. “O Pacto dos Lobos” (Le Pacte des Loups, 2001) é um impressionante filme de aventura francês baseado na história real de uma fera que causou pânico na França durante a respectiva época na qual é retratada. Produzido por Samuel Hadida e escrito por Stéphane Cabel em conjunto com Christophe Gans, essa produção foi uma das grandes surpresas daquele ano. Naturalmente repleto de liberdades criativas, essa produção dirigida por Christophe Gans esbanja arrojo e criatividade, abandonando sem remorso o rótulo tedioso que o cinema francês carregava na época para os estrangeiros. Sucesso de bilheteria e elogiado pela crítica especializada, o trabalho de Gans impressiona pela mistura de gêneros harmoniosa, ritmada e emocionante, ainda que detenha certos exageros distantes dos fatos. 


O Pacto dos Lobos” te ganha na mistura. Lutas brilhantemente coreografadas, climatização épica fiel ao seu tempo, suspense policial bem dosado, jogos de espionagem partidos do Vaticano são elementos que compõem o desenvolvimento de “O Pacto dos Lobos”. Essa mescla de ideias poderia facilmente causar estranheza no espectador o fazendo rejeita-lo de imediato. Mas curiosamente ao contrário da lógica, o resultado surpreende de modo genial. Tecnicamente impecável, seja na direção de arte que reconstitui a época com fidelidade de modo visual ou na belíssima direção de fotografia que confere cor e belas imagens do interior da França, Gans acerta em quase tudo. Ainda que os efeitos visuais (pelo menos alguns que foram aplicados para criação da fera) pequem em qualidade, não afeta o resultado de modo gritante. Boas atuações conferem um adicional de qualidade à trama, seja pela figura dos irreverentes protagonistas que constantemente estão cercados de polemica, ou pela participação de estrelas como Vincent Cassel e Monica Bellucci que possuem personagens de grande importância no rumo da trama e que são revelados ao espectador no tempo certo. Apesar de deter várias qualidades que despertam carisma no espectador, “O Pacto dos Lobos” é, sobretudo um divertido filme de ação estilizada (onde seu realizador usa e abusa dos slow motions com habilidade em coreografias bem conduzidas), e que consequentemente faz dessa produção ser o que é realmente: um ótimo longa-metragem de fantasia e aventura completamente despretensioso e feito sob medida para empolgar. Os fatos são mera decoração em um projeto dotado de audácia.

Nota: 7/10

terça-feira, 22 de julho de 2014

Crítica: Os Suspeitos | Um Filme de Bryan Singer (1995)


Crimes perfeitos não deixam suspeitos. Sobretudo, nem sempre nos principais suspeitos é que se pode encontrar o verdadeiro culpado. E assim cinco conhecidos criminosos de reputação bem familiar da polícia (Kevin Spacey, Gabriel Byrne, Benicio Del Toro, Kevin Pollak e Stephen Baldwin) são pegos pelas autoridades. Libertados, mas em dívida com um homem desconhecido esses criminosos ficam envoltos numa trama criminosa sinuosa, que envolve um intrigante, misterioso e quase lendário cérebro criminal chamado Keyser Soze.  Suas vidas são viradas do avesso quando descobrem que eles se tornaram em algum momento de suas carreiras uma pedra no caminho de um poderoso criminoso. Quando esses homens relutantemente concordam em executar um assalto para Soze, o golpe que parecia tão bem planejado e rotineiro se mostra por fim um desastre, levando as autoridades a querer descobrir a identidade dessa poderosa figura criminal desconhecida através das pistas do único sobrevivente desse desastre. Com as pistas de um desses suspeitos, a polícia pode descobrir a chave para verdadeira identidade dessa enigmática figura do crime. Por que afinal de contas, quem é Keyser Soze? “Os Suspeitos” (The Usual Suspects, 1995) é um filme de suspense policial noir dirigido por Bryan Singer e escrito por Christopher McQuarrie (que lhe rendeu o Oscar de Melhor Roteiro Original). Sendo um dos melhores thrillers de suspense da década de 90, tanto na direção de Singer quanto no roteiro de McQuarrie, essa produção se mostra um filme feito na medida para ser memorável se equiparando a produções como: “O Silencio dos Inocentes” (1991), “Pulp Fiction – Tempo de Violencia” (1994) e “Se7en – Os Sete Crimes Capitais” (1995), outros grandes sucessos de sua época.


Sem ter a pretensão de ser memorável, mas sendo consequentemente, “Os Suspeitos” é uma estreia brilhante para um diretor que mais tarde foi provando seu valor diante do mercado. Com um elenco que se encaixa perfeitamente nos papéis aos quais foram incumbidos (Kevin Spacey, vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante se destaca com larga vantagem perante outros atores inclusive mais renomados daquela época), essa produção tem uma trama genialmente desenvolvida com inúmeros mistérios desenvolvidos com flashbacks bem aplicados e dona de um dos melhores finais de todos os tempos. Trata-se de um filme de baixo orçamento (cerca de 6 milhões de dólares) que ganhou o coração de muitos cinéfilos pelo mundo sem fazer força. Carregado de várias sutilezas que ganha um potencial sentido no final, esse longa-metragem é um filme que tem seu caráter nobre na harmonia do conjunto. O espectador não precisa necessariamente apreciar o gênero no qual habita para simpatizar com a obra, já que “Os Suspeitos” tem a capacidade de envolver o espectador na trama incitando-o desde o começo a se aventurar na tarefa de descobrir (antes da polícia) quem é o grande vilão por trás do enigma da identidade secreta de Keyser Soze. Atuações brilhantes extraídas de pouco material (Benicio Del Toro salva seu personagem do lugar comum ao qual ele habitava em teoria), como Gabriel Byrne consegue apresentar uma de suas melhores interpretações, seja pelo esmero do roteiro que confere certo valor a seu personagem ou por mérito próprio, o que somente vem a enriquecer o desenvolvimento. “Os Suspeitos” é um filme que te prende a atenção do começo ao fim, seja pela correlação das pistas dosadas por seu realizador rumo a um desfecho arrebatador ou pelas inúmeras outras qualidades que marcam presença nesse longa-metragem. Em resumo, e sem querer contrariar as regras, crimes perfeitos também deixam suspeitos.

Nota:  9/10

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Crítica: Ajustes de Contas | Um Filme de Peter Segal (2013)


Billy “The Kid” McDonnen (Robert De Niro) e Henry “Razor” Sharp (Sylvester Stallone) foram no passado boxeadores que levaram plateias ao delírio com espetáculos de determinação e bravura nos ringues que alcançou seu auge na década de 80, os levando a tornarem-se lendários rivais. Embora ambos tivessem tido uma brilhante carreira no boxe, eles se encontravam empatados sem saber afinal quem era o melhor lutador. Uma rivalidade que necessitava por uma resolução. O confronto final estava marcado como o mundo do boxe implorava, mas nunca foi travado porque Sharp repentinamente e sem explicações claras anunciou sua precoce aposentadoria. Enquanto Kid encontrou ao decorrer dos anos o seu sucesso profissional em outras áreas se utilizando da fama do passado, Sharp, falido leva a vida trabalhando em uma fábrica como operário. Persuadido pelo filho de seu ex-empresário, Dante Slate Jr. (Kevin Hart), o jovem arquiteta um retorno aos ringues para esses dois velhos boxeadores que após terem virado uma sensação em vídeos virais por causa de um fiasco em uma produtora de games esportivos, os dois acabam voltando a despertar a atenção da mídia de modo desconcertante. Tanto que isso possibilita que finalmente se realize após 30 anos uma luta que pode sanar as dívidas de Sharp e saciar o desejo de revanche de Kid. “Ajuste de Contas” (Grudge Match, 2014) é uma comédia esportiva dirigida por Peter Segal e escrita por Tim Kelleher e Rodney Rothman. Se utilizando com habilidade da nostalgia de ver dois grandes boxeadores do cinema (esse filme remete propositalmente a lembrança de Rocky Balboa para Sylvester Stallone e de Jake La Motte para Robert De Niro), onde que essa produção apresenta de acordo como esperado, um filme despretensioso e divertido sem grandes pretensões que não sejam divertir, aos fãs ou não do esporte.


Peter Segal entrega o filme que se espera dele ainda que tenha ligeiras ressalvas. Sabido, alterna inteligentemente momentos cômicos que aproveita bem o carisma de seus protagonistas com momentos dramáticos bem nivelados do elenco de apoio em subtramas funcionais. Assim, a trama principal se desenvolve segura de seu foco, repleta de referencias a "Rochy" e a "Touro Indomável", faz com que “Ajuste de Contas” não se prenda apenas a cartilha dos filmes de esportes. Menos focado no esporte propriamente dito (apesar do necessário treinamento do retorno ser o que faz os 113 minutos de duração passar confortavelmente voando), onde o espectador acompanha o desafio de superação em meio a irremediáveis obstáculos que naturalmente surgiria para atletas seniors, o espectador contempla uma história onde dois homens fazem as pazes com seus passados intensamente conectados com esse esporte. Embora siga a estética do gênero (treinamentos às vezes pouco ortodoxos, imagens televisivas, narrações de locutores boquiabertos, entre outros artifícios mais), sua genialidade mora longe dos ringues e dos clichês desse gênero. É na comédia que ele ganha o espectador, do entrosamento entre Robert De Niro e Sylvester Stallone e das brincadeiras que o roteiro indiretamente nostálgico permite que eles realizem. “Ajuste de Contas” não possui nenhuma conexão com os filmes onde seus protagonistas obtiveram fama, e apenas brinca com a ideia.

Com performances bacanas do elenco de apoio (Kim Basinger, Alan Arkin, LL Cool J, Jon Bernthal) e uma trilha sonora com canções geniais sempre bem escolhidas por Trevor Rabin para os projetos nos quais está envolvido, “Ajuste de Contas” tem ritmo e uma musicalidade fantástica condizente com a proposta. Desde “Cop Land” (1997) Robert De Niro e Sylvester Stallone não contracenam juntos, voltando à cena, onde interpretam lutadores de boxe, papéis esses que marcaram a filmografia de ambos os astros. Por fim, “Ajuste de Contas” não deve ser encarado como um duelo de gigantes, carregado de nobres propósitos e dramaticidade memorável, e sim mais para uma brincadeira no conforto de um macio gramado. Uma quase especialidade Sylvester Stallone.  

Nota:  7,5/10

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Crítica: Dupla Implacável | Um Filme de Pierre Morel (2010)


James Reece (Jonathan Rhys Meyers) é um ambicioso assessor pessoal do embaixador dos Estados Unidos na França, e que desempenha ocasionalmente algumas tarefas para CIA com a pretensão de virar um verdadeiro agente de campo da agência. Entre pequenos trabalhos sem grande relevância, ele mal podia esperar por primeira missão de importância que poderia lhe causar a tão desejada ascensão. Mas quando em sua primeira missão oficial é obrigado a trabalhar ao lado de Charlie Wax (John Travolta), um excêntrico agente da CIA que costuma adotar frequentemente métodos nada ortodoxos para atingir seus objetivos, ele encontra nesse serviço um trabalho quase impossível de ser realizado. Numa jornada pelos subúrbios de Paris, entre tiroteios e um banho de sangue desenfreado, ambos desafiam os mais diferentes criminosos para impedir um inusitado atentado terrorista para esse inexperiente agente. “Dupla Implacável” (From Paris With Love, 2010) é um longa-metragem de ação e espionagem realizado por Pierre Morel, frequente colaborador do produtor Luc Besson. Numa mistura batida de ação e humor, Morel entrega um filme previsível onde o enredo de pouco sentido, a ação frenética muitas vezes confusa e protagonizada por uma dupla definitivamente desequilibrada que ainda mesmo que divirta o espectador que aprecia o gênero, não facilita de modo algum a digestão do conjunto exagerado que compõe essa produção.


Erguer um filme de ação genuíno não é uma tarefa das mais fáceis. Naturalmente também não foi a pretensão de seus realizadores (Morel e Besson) de fazer isso, sendo que, num emaranhado de clichês já usados a exaustão por Besson, “Dupla Implacável” carece de algo mais seja no fraco roteiro escrito por Luc Besson e Adi Hasak ou na condução explosiva de Pierre Morel. Condução está que foi muito mais inspirada em “Busca Implacável” (2008). Tanto John Travolta quanto Jonathan Rhys Meyers cumprem seu papel dentro do projeto do tira bom e o tira mal, e se isentam automaticamente de qualquer responsabilidade quanto as impossibilidades da ação criada para espectadores modernistas. Se Travolta brilha nos diálogos cômicos carregados de excessos delirantes, e Meyers aparece fazendo caras-e-bocas no embate de experiências e personalidades distintas, a ação fica a cargo de recursos digitais comuns e edição excessivamente cortada para suprir as limitações físicas do grande nome do elenco (o uso de dublês para cenas de ação perigosas não é condenável, apenas não pode ficar gritantemente visíveis). “Dupla Implacável” é um filme de ação turística que segue com rigor o roteiro pré-estabelecido do gênero ao qual faz parte, e que consequentemente o espectador sabe o que vai ver antes mesmo de assistir. Com atuações no limite da canastrice, e uma história com material suficiente apenas para se manter até a chegada dos créditos finais, essa produção até diverte bem de modo descompromissado. Mas uma coisa é certa: Travolta já fez coisa muito melhor nesse gênero sem precisar ir a Europa.

Nota:  5,5/10

sábado, 5 de julho de 2014

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Crítica: Versos de um Crime | Um Filme John Krokidas (2013)


Entre 1943 e 1944, Lucien Carr (Dane DeHaan), um brilhante jovem universitário passa a ser o elo de uma intensa amizade que gerou por consequência a Geração Beat. Tanto Lucien Carr como Allen Ginsberg (Daniel Radcliffe), William Burroughs (Ben Foster) e Jack Kerouac (Jack Huston) são jovens que se uniram nos tempos da faculdade, cercados de artistas criativos e muita cultura com a pretensão de revolucionar. Totalmente desinteressados com o rumo que a Segunda Guerra tomava esse pequeno grupo de amigos compartilharam expectativas de uma nova visão literária diferente ao que era lecionado na universidade. Assim entre seus anseios particulares carregados de emoções e uma iniciativa de desconstrução do que era dado como certo pelos acadêmicos da época, surge o pouco conhecido acontecimento de um assassinato que marcou a vida do quarteto. Comprovadamente esse trágico fato foi o pontapé para que cada um deles, a sua maneira traçasse seu próprio destino, esse de conhecimento público. “Versos de um Crime” (Kill Your Darlings, 2013) é um drama-biográfico que captura com um nível de genialidade considerável o momento que reuniu três grandes escritores/poetas (Ginsberg, Burroughs e Kerouac) antes de fazerem história na literatura. Longa-metragem de estreia de John Krokidas, essa produção é escrita também por Krokidas, junto a Austin Bunn (antigo colega da faculdade), que desenvolveram um intenso conto dramático com um irradiante toque de suspense sobre o amadurecimento de um seleto grupo de artistas. Diferentemente do trabalho de Walter Salles em “Na Estrada” (filme de 2012 baseado no romance de Jack Kerouac, em que o autor escreveu a história poucos anos depois dos acontecimentos retratados por Kokridas), essa produção remete mais ao inspirador “Sociedades dos Poetas Mortos” (1989).

Claramente que Daniel Radcliffe busca se distanciar de suas origens cinematográficas, e dar um adeus a figura do jovem bruxo que o consagrou durante anos no cinema. Sempre buscando papéis que possibilitam um desempenho genioso, mais uma vez Radcliffe mostra com atitude que é capaz disso, sendo que após o excelente “A Mulher de Preto”, o jovem prova que é mais ator do que passageiro de uma grande produção. “Versos de um Crime” levou a duras penas quase uma década para ser materializado e custou uns míseros quatro milhões (uma verdadeira mixaria para os padrões estadunidenses). Estreou no festival de Sundance e conseguiu angariar críticas bem positivas. Mas seu sucesso não se deve apenas pela presença de Radcliffe; atores como Dane DeHaan, Ben Foster e Michael C. Hall tem nessa produção um estimado valor para o conjunto, e até atuações menos presentes na história (Jennifer Jason Leigh como sua mãe e David Cross como pai de Allen Ginsberg) auxiliam com a funcionalidade de familiarizar o espectador com algumas nuances da história de Ginsberg pré-ingresso na faculdade. Trata-se de um filme de grandes atuações, e o diretor John Krokidas se mostra respectivamente um bom condutor de atores. Com uma reconstituição de época bem realizada, seja no ambiente ou na atmosfera da época, Kokridas insere alguns floreios mais contemporâneos em seu trabalho materializados na trilha sonora. Ao implantar as batidas Beats de bandas como Libertines e TV on the Radio em certos momentos de impacto, seu realizador confere uma abordagem menos óbvia e convencional a história datada.

Versos de um Crime” é um filme que está longe da condição de ser impressionante, mas considerando que se trata de um trabalho de estreia de um inexperiente realizador o resultado se mostra ligeiramente interessante. Uma grata realização seja para fãs do ator Daniel Radcliffe ou para fãs do autor Jack Kerouac. Embora seu realizador sabote seu trabalho com alguns excessos (a cena explícita da relação sexual de Radcliffe soa autônoma não agregando em nada ao conjunto ainda que siga uma crescente tendência no cinema contemporâneo), Krokidas é um realizador a ser observado com atenção para o futuro.

Nota:  7/10

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Crítica: 007 Quantum of Solace | Um Filme de Marc Forster (2008)


James Bond (Daniel Craig) é enviado à Itália para capturar o Sr. White (Jesper Christensen), membro de uma poderosa organização criminosa chamada Quantum. Mas sua captura somente revela outros perigos desconhecidos do MI6, que durante um interrogatório conduzido por M (Judi Dench) surge à revelação de que há agentes duplos que sempre foram vistos por membros da agência de espionagem como sendo acima de qualquer suspeita. Com Sr. White foragido, as pistas levam Bond para o Haiti onde o agente 007 que une forças com uma misteriosa mulher, Camille Montes (Olga Kurylenko), acabam descobrindo que uma organização representada por Dominic Greene (Mathieu Amalric), um empresário mundialmente conhecido por adotar uma iniciativa ecologicamente correta para seus negócios, deseja sob a vista grossa de agentes da CIA, o controle de recursos naturais da Bolívia.  Através de um golpe de estado do General Medrano (Joaquim Cosío) que busca o poder da região, Bond corre contra o tempo para impedir e desmascarar os culpados pela morte de Vésper Lynd (Eva Green), amada do icônico agente especial James Bond. “007 Quantum of Solace” (Quantum of Solace, 2008) é o vigésimo segundo filme da cinessérie 007 protagonizada pelo espião James Bond, e neste, o segundo filme tendo o ator Daniel Craig no papel principal. Sendo uma sequência direta (e bem corrida) dos acontecimentos ocorridos no filme “Cassino Royale” (2006), sua trama segue o desenvolvimento formulado nesse longa-metragem, embora sem a mesma agilidade da grata reinvenção iniciada pelos produtores que viam nos últimos tempos seu icônico personagem caindo em descrédito diante do público e da crítica especializada.


Se por um lado Marc Forster apenas deu continuidade ao trabalho iniciado por Campbell, é certo dizer que o resultado não foi tão promissor quanto se esperava. Mesmo com uma carreira interessante que mostrou bons trabalhos, tendo filmes em seu currículo que inegavelmente chamam a atenção (“O Caçador de Pipas” adaptado do romance de Khaled Hosseini talvez seja o de maior destaque até então) Marc Forster não se acerta com roteiro menos elaborado concebido aparentemente nas pressas para esse episódio da franquia. Escrito por Paul Haggis, Neal Purvis e Robert Wade, “007 Quantum of Solace” demonstra uma incômoda falta de foco no rumo da trama que demora em se achar. Embora se ache a certa altura, também se perde em inúmeras sequências de ação explosivas que nem sempre vem a agradar tanto quanto bons diálogos fazem. Dentre suas maiores carências, se destaca a ausência de um vilão realmente amedrontador, de presença marcante como o que habitava a película de “Cassino Royale”, além das passagens emocionantes que nem sempre eram margeadas por correrias, tiroteios e explosões. Ainda que vários outros elementos (direção de arte bem acabada, locações bem escolhidas, sequências de ação empolgantes, lindos carros e uma Bond Girl maravilhosa) que compõem essa produção estão em conformidade e bem nivelada com a nova proposta narrativa realista para franquia (a cena de abertura desse filme talvez seja uma das melhores já realizadas pelo o agente 007) Forster não consegue entregar um filme tão envolvente quanto o anterior. Sobretudo, o Bond, James Bond protagonizado por Daniel Craig só arremata aplausos, que vieram mais tarde através de “SkyFall” (2012) selar o quanto ele conferiu credibilidade ao personagem.

Resumidamente “007 Quantum of Solace” é mais frenético, menos humorado, ainda visualmente belíssimo como deve ser, mas de carências visíveis. Há vários aspectos positivos preservados de “Cassino Royale”, algo mais do que positivo, mas que abre mão de algumas boas ideias (diálogos realmente interessantes saindo dos personagens), obrigando Forster fazer muito com pouco roteiro, preenchendo tudo com adrenalina ainda que bem feita.

Nota:  6/10