Vicky (Rebecca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson) são grandes amigas desde o tempo do colegial. Mesmo tendo personalidades e gostos diferentes em quase tudo, esse aspecto é mais expressivo em questões do amor. Enquanto uma se mostra confusa sobre o assunto, a outra tem essa questão bem definida em seu imaginário. Por motivos diferentes, as duas decidem viajar de férias para Espanha, onde passam a se hospedar na casa de familiares de Vicky, na cidade de Barcelona. Mas o roteiro turístico planejado das duas foge do previsível quando elas acabam conhecendo Juan Antonio Gonzalo (Javier Bardem) um sedutor pintor de obras de arte espanhol e sua desiquilibrada ex-mulher, Maria Elena (Penélope Cruz), que farão ambas as jovens reavaliar suas certezas sobre questões do coração. “Vicky Cristina Barcelona” (Vicky Cristina Barcelona, 2007) é uma clara homenagem à cidade espanhola de Barcelona. Mostrada de ângulos diferentes do convencional e amparada por uma abordagem de texto inteligente, bem característica do cineasta Woody Allen, o diretor aproveita com apuro o visual arquitetônico da região (algumas obras de Joan Miró e a arquitetura de responsabilidade de Antoní Gaudí também decoram a película e o texto do longa). Mas como era de se supor, Woody Allen não se prende apenas a Barcelona, apesar de belíssima também transita pela cidade de Oviedo. Com uma trama bem ao estilo do cineasta, e distante de sua cidade natal, Nova York, ele desenvolve uma história que fascina por sua teórica simplicidade sobre um complexo tema: “o amor”, e como faz uma proveitosa homenagem há uma terra artisticamente encantada e repleta de romance por natureza.
Apesar de uma abordagem caricata do povo espanhol (essa coisa da paixão enlouquecida que flui nas veias calientes do povo espanhol soar um pouco exagerada e previsível), é naturalmente uma visão estrangeira sobre o comportamento social. Por sua vez, Allen estrutura com habilidade seus personagens, que por competência entregam interpretações afinadíssimas que contribuem a favor do conjunto desprovido de originalidade (em filmes espanhóis não é tão comum essa abordagem de haver um Dom Juan em cada metro quadrado da Espanha). Uma das maiores riquezas dessa produção, além do visual enriquecido pela direção de fotografia e a trilha sonora bem escolhida, está acima de tudo nas fascinantes interpretações, mesmo não estando em paz com a realidade propriamente dita. “Vicky Cristina Barcelona” é um produto cinematográfico seguro de si: mexe com várias possibilidades que rondam os relacionamentos entre homem e mulher, bem ou malsucedidos, em destaque para os que aparentam harmonia. Nem tudo é flores onde o aroma é perfumado, como até a mais espinhenta das rosas, também tem o seu encanto. Trabalha com naturalidade as diferentes personalidades do elenco: Cristina com sua segurança de ideias prestes a cair ao mais suave dos ventos; Vicky cheia de racionalidade e segura de que o amor é uma doença da qual está vacinada, Juan que tem nas mãos amor e ódio, e que é farinha do mesmo saco, enquanto Maria Elena, vem para mostrar que o amor é louco mesmo, e não há nada para se envergonhar disso. Assim em mais um saboroso conto romanceado por Woody Allen, através de “Vicky Cristina Barcelona”, ele e grande elenco entregam um desenvolvimento ligeiramente artificial, apesar de brilhantemente orquestrado, sem se tornar cansativo ao explorar com ironia as certezas das escolhas em relação ao amor e a paixão. Um ótimo passatempo escapista para fugir para a Europa sob a condução de um americano.
Nota: 7,5/10
Dessa safra de homenagens a várias cidades, esse é o meu favorito. Tudo é apaixonante nessa história: a cidade, os personagens, os atores... perfeito! Já estou animara para a estreia de Blue Jasmine no fim de semana \o/
ResponderExcluirbeijo!
Eu li algumas críticas positivas a respeito de "Blue Jasmine". Provavelmente irei vê-lo quando for lançado em vídeo também.
Excluirabraço
Difícil decidir qual é o melhor trabalho de Allen nos últimos anos: Vicky Cristina Barcelona é apaixonante e Blue Jasmine é um dos filmes mais reflexivos da década! Os personagens de ambos os filmes foram criados pelo diretor e roteirista e vivenciados pelos intérpretes com tanta naturalidade e convicção que fica impossível decidir qual é melhor. Excelente análise.
ResponderExcluirAinda não assisti ao Blue Jasmine. Um pecado, principalmente agora que Cate empunhou um Oscar por seu papel nesse filme. Mas não quer dizer que não irei assistir (e principalmente resenha-lo no espaço de Em Perspectiva). Obrigado pela visita.
Excluirabraço