Sabe aquele filme que você pega na locadora somente por falta de opção? Com aquele peso perturbador de estar levando uma bomba para casa? Minha sugestão será: pegue o “Demônio” (Devil, 2010) o primeiro filme da produtora Night Chronicles. E se você embarcar nessa sinistra viagem, você pode até se surpreender com o desenrolar da trama. E isso não é comercial de loja de eletrodomésticos fazendo promoção de ponta de estoque. Provavelmente você já não dera atenção a ele, e não o culpo, justamente pelo descrédito em que tombara seu idealizador M. Night Shyamalan por seus mais recentes trabalhos. Chegam a ser constrangedores se comparados a filmes como o fascinante “O Sexto Sentido” (1999) e o envolvente “Sinais” (2002). Por isso, por mais que lhe aconselhem seguirem o caminho de Deus, o “Demônio” (o filme) pode ser uma boa alternativa de entretenimento escapista interessante. Assim, através de outros realizadores, tendo na direção o diretor John Erick Dowdle (Quarentena) e Brian Nelson (Menina má.com) no roteiro, eles passam a contar a história de cinco pessoas que inusitadamente ficam enclausuradas dentro de um elevador que de repente para de funcionar, e onde aos poucos os integrantes passam a ser assassinados violentamente um a um. A cada blackout, uma morte, que cria um mistério de quem pode ser o verdadeiro assassino dentre os confinados.
Com um elenco pouco conhecido, os destaques ficam com Chris Messina, Logan Marshall-Green, Jenny O´Hara, Bojana Novakovic, Bokeem Woodbine, Geoffrey Arend, Matt Craven e Jacob Vargas, o elenco cumpre a cartilha sem surpresas de interpretação. Apesar do grande mérito de “Demônio” estar na premissa e de como ela cresce ao decorrer do filme, com pouca oportunidade para estrelismo do elenco, a esperada revelação física do personagem título é o grande momento dessa produção. Ambientado em uma Filadélfia apresentada de cabeça para baixo, com uma possível sugestão da inversão do bem e do mal, logo no início já presumidamente se afirma a presença demoníaca de entidade no interior do elevador de um luxuoso prédio no qual toda a ação se desenrola. Com uma narrativa que alterna o foco das cenas no momento exato como todo bom suspense precisa, essa produção cujo título sugira um terror macabro com abundantes derramamentos de sangue, se mantém atenuada visualmente. A trama se concentra no suspense em volta de seus personagens, e do porque eles estão passando por essa situação. Existe uma tensão no lado de dentro, onde as pessoas querem sair, ao mesmo tempo uma tensa iniciativa dos funcionários e autoridades de abrir o elevador antes que seja tarde. Todos tem uma história explicativa que sugere do por que de estarem onde estão deixando crer que nada é fruto do acaso. Uma solução maniqueísta e funcional. E com esse recurso de unir as pontas soltas dos personagens ao mesmo tempo em que eles são eliminados do tabuleiro da vida, cria-se a maior qualidade do filme demonstrando várias reviravoltas até chegar ao clímax final, mais do que esperado em um filme de M. Night Shyamalan – mesmo que desta vez, indiretamente.
Certamente que o roteiro poderia e deveria ter sido mais profundo, com uns diálogos melhor elaborados, ao mesmo tempo mais abrangente quanto a certos temas paralelos sutilmente presentes na história, que renderiam um pouco de debate entre o elenco e um melhor aproveitamento do elemento humano. Deveriam ter aproveitado melhor os atores, sem exceção, onde não se encontra muito destaque pelas restrições lógicas da trama. Como inclusive a parte técnica, como a trilha sonora e os efeitos sonoros que não contribuem muito positivamente na tensão primordial do suspense. A irritante música do elevador teria sido uma ideia bem engenhosa se melhor utilizada. Contudo, o diretor conseguiu como primeiro trabalho da produtora, enfim desenvolver um resultado bem interessante com as possibilidades da premissa e os recursos disponíveis que até agradam sem ofender ninguém. Sua pretensão de fazer um filme diferente - que graças a Deus não tentou copiar o fenômeno cinematográfico “Atividade Paranormal” - vale um voto de confiança, e acima de tudo, ressuscita na memória o talento de M. Night Shyamalan em criar histórias de suspense ligeiramente diferentes do habitual.
Nota: 7/10
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
Nenhum comentário:
Postar um comentário