domingo, 28 de maio de 2017

Crítica: Capitão Fantástico | Um Filme de Matt Ross (2016)


Ben Cash (Viggo Mortesen) tem seis filhos com quem vive há muito tempo longe da civilização em meio a uma rígida rotina de tarefas alternativas. Entre atividades físicas periódicas; o costumeiro hábito de ler clássicas obras literárias dos mais variados assuntos; o exercício e aprimoramento constante de técnicas de defesa pessoal e sobrevivência; a busca da fluência de outros idiomas entre muitas outras atividades que ainda que sejam estranhas, são focadas no melhoramento pessoal dessa família; todos os seus filhos se mostram seguros de sua condição humana e autossuficientes. Mas certo dia um triste acontecimento golpeia essa família os fazendo deixar o isolamento da floresta e se reintegrar a sociedade, o que consequentemente traz de volta a vida velhos conflitos de ideais e a necessidade de sobrepor algumas barreiras esquecidas. “Capitão Fantástico” (Capitain Fantastic, 2016) é uma comédia dramática estadunidense escrita e dirigida por Matt Ross (figura costumeira de pouco destaque no elenco de séries e de muitos filmes americanos). Filme que foi sensação no Festival de Sundance 2016 e de muitos outros festivais de cinema, esse conto fantástico criado por Matt Ross demonstra ter energia e conceitos de sobra para fazer no mínimo o espectador refletir sobre seu estilo de vida.

Estampando corpo e alma de cinema indie (no melhor estilo “Pequena Miss Sunshine”), “Capitão Fantástico” é uma das melhores surpresas do circuito de cinema estadunidense de 2016. Querido pela crítica especializada e adorado pelo público que aprecia histórias comuns e sinceras, seu enredo ganha uma grande força ao questionar de modo agradável alguns aspectos da vida humana e a importância do aperfeiçoamento verbal, mental, físico e emocional. Segundo Matt Ross, uma das motivações para inicialização desse longa-metragem veio através de uma urgente necessidade de instaurar uma discussão pública sobre as escolhas difíceis que devem ser feitas no que diz respeito à criação de crianças na sociedade contemporânea. Mas ele desperta uma discussão que ainda vai além quando desencadeia no espectador um questionamento quanto ao seu próprio meio de vida. O filme está repleto de críticas sobre a desfiguração da família, a educação, a saúde e sobre normas e influências sociais. Se Viggo Mortensen é o nome que mais brilha nos créditos por sua reputação e seu desempenho profundo na tarefa de guiar seus filhos com sabedoria a um objetivo maior do que apenas existir, o elenco que compõem seus dependentes é soberbo. Desde o filho mais velho, Bo (George Mackay) que abre o filme de modo curioso até a quase caçula, Zaja (Shree Crooks) que dá uma aula de cidadania que poucos seriam capazes de fazer, todos têm o seu momento chave que engrandece o conjunto da obra que evoca a crítica deseja através do entretenimento acessível.

Embora os acentuados questionamentos que foram mencionados anteriormente tenham sido apresentados através da bem-vinda leveza da comédia, “Capitão Fantástico” é um produto que consegue ser simultaneamente sério e responsável. Sobretudo, também humilde e disposto a fazer necessárias concessões. Toda a politica de experimentalismo social conduzida pelo personagem de Viggo Mortensen desde o primeiro instante e que rege seu plano utópico de família perfeita demonstra quando menos se espera ter falhas inesperadas que ocasionam as melhores passagens dramáticas. Se em duas partes do filme risadas e sorrisos irão medir forças pelo direito da face do espectador, “Capitão Fantástico” terá algumas emoções mais fortes e legítimas antes da subida dos créditos finais. Um dos poucos filmes lançados ano passado que geram uma ótima indicação de programa de entretenimento acessível com alguma substância mais duradoura.

Nota:  8,5/10

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