Baseado no romance de Julia Leigh, o filme "O Caçador" (The Hunter, 2011) até pode ser confundido a primeira vista como apenas mais um filme estrelado pelo incessante trabalhador Willem Dafoe. Com uma filmografia com mais de setenta filmes, raramente ele não deixou passar um ano sem emplacar um lançamento. Entre trabalhos curiosos como “A Sombra do Vampiro” (2000) onde está irreconhecível sob camadas de maquiagem; comerciais como o Duende Verde em “Homem Aranha” (2002); ou filmes emblemáticos como o combatente traído do Vietnã em “Platoon” (1986). Trata-se de um dos atores mais talentosos de sua geração, muitas vezes mal aproveitado, e que felizmente não é o caso dessa produção. Em “O Caçador” ele interpreta um mercenário enviado a uma terra distante no cumprimento de ordens de uma empresa de biotecnologia militar, com a missão de encontrar o paradeiro do que seria o último Tigre da Tasmânia do mundo – o animal está oficialmente extinto desde a década de 30. Para completar a missão, ele precisa matar o animal, sumir com os vestígios mortais e trazer amostras de seu DNA com a finalidade de reproduzir a toxina paralisante que o animal detém em sua natureza selvagem.
Na trama que começa com sua chegada a um território inóspito, ocultando dos moradores locais suas verdadeiras pretensões, passa a residir numa casa de família na região. Dafoe passa a conviver com essa família traumatizada pelo desaparecimento do marido – o lar era composto por uma dona de casa, mãe de dois filhos – onde o protagonista é visto como um pesquisador forasteiro. A mãe tem fortes indícios de depressão causados pelo sumiço do marido e Dafoe passa a conviver com as dores que esse desaparecimento causara. Com uma narrativa que aborda esse drama familiar, o protagonista se vê transformado diante das circunstâncias. Quando chegou a essa terra era um homem obstinado por objetivos e resultados, frio e calculista. Porém o contato mais pessoal com a dor alheia causou um amolecimento de seu coração demonstrando o quanto esse homem durão pode ser sensível quando exposto as eventos que aflorem sensibilidade.
O filme tem uma produção simples, presa a um ambiente mínimo e visualmente rico, bem explorado por uma fotografia lindíssima, e acentuado por uma trilha sonora hipnótica. Com atuações convincentes e dramaticidade acima da média, foi bem conduzido pela direção Daniel Nettheim, que alterna entre muitos focos, o trauma familiar e o objetivo do protagonista de maneira bem medida. O que poderia ser somente um filme para pagar contas na mão de um ator menos capaz, através da interpretação de Willem Dafoe, esse filme “O Caçador” consegue ser relevante dentro de sua filmografia. Dafoe estudou técnicas de sobrevivência e treinou métodos de caça para compor seu personagem de forma convincente, além de ler a obra que inspirou o filme. O resto ficou por conta de seu talento natural de dar magnitude a personagens inicialmente interessantes.
Nota: 7,5/10
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