sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Crítica: Crime em Palmetto | Um Filme de Volker Schlöndorff (1996)


Baseado no livro "Just Another Sucker" escrito pelo inglês James Hadley Chase, e roteirizado por E. Max Frye, “Crime em Palmetto” (Palmetto, 1998) é um filme noir bem ambientado em pleno anos 90. Mostra aquela qualidade do gênero onde o espectador pode constatar que a mulher pode ser a glória ou a desgraça de um homem. E essa é a essência de um bom film noir, que mais do que uma vítima masculina apropriada, precisa de um femme fatale convincente. Enquanto Woody Harrelson se debate enlouquecido pelas circunstâncias da trama, que oscilam entre comédia e tragédia, Elisabeth Shue esbanja sensualidade e astúcia como requer a necessidade. Ainda por cima, tem Gina Gerson belíssima em seu papel para completar e enriquecer as várias reviravoltas desse thriller.

A história acompanha a trajetória de Harry Barber (Woody Harrelson), um ex-jornalista que foi preso por engano e posteriormente libertado após dois anos detido. De mal com a vida, a única coisa que o faz permanecer na cidade é Nina (Gina Gerson) com quem está vivendo junto. Desiludido em um bar, Rhea Malroux (Elisabeth Shue) cruza seu caminho com uma proposta tentadora de negócios. Ela é casada com um dos homens mais ricos da cidade, que mesmo que esteja terminalmente mal de saúde, ainda vai demorar sua partida desse mundo. Nesse momento que começa a jogada de mestre. Barber se encarregaria de cumprir a parte burocrática de sequestrar falsamente sua enteada Odete (Chloë Sevigny) que também está envolvida no golpe. Ele ficava com cinquenta mil dólares de um montante de quinhentos mil que seria dividido entre elas do pagamento do resgate. Barber reluta a princípio, mas topa o golpe. Porém após o sequestro tudo foge de controle, pois de um falso sequestro a situação se inverte para um verdadeiro assassinato, e que convenientemente todas as pistas apontam para ele como único autor do crime.


O personagem de Harrelson age na trama de forma bilateral, pois ao mesmo tempo em que está envolvido no crime de sequestro, passa ironicamente a ser responsável pelo freio da impressa ávida por noticias sobre o caso. Por mais cômoda que seja sua situação diante desse golpe, graças às possibilidades que essa inusitada função lhe agregaria, nada corre de acordo como o planejado, devido ao fato, de seu personagem nessa trama ser apenas uma ferramenta no joguete da verdadeira criminosa dessa história. Seduzido e emburrecido pela beleza e sensualidade das mulheres que dividem a tela com ele, em especial a atriz Chloë Sevigny, cujo papel concilia uma Lolita com a experiência de uma mulher feita, Harrelson apresenta uma interpretação inspirada de um personagem inevitavelmente previsível nas mãos de uma mulher, mas ainda assim fascinante por sua composição simplista. 

O show fica por conta do elenco feminino, que tem os melhores diálogos e é responsável pela manipulação do personagem de Harrelson, que invariavelmente não esconde seu espanto e indignação por sua condição desfavorável na trama, que climaticamente tem cerca de umas quatro reviravoltas emocionantes. Contudo, nenhuma distante do enredo ou inverossímil. A cena dele abrindo o porta-malas para um policial, sabendo da existência de um corpo no interior, varia entre um destino trágico a um desfecho cômico. Pode ser considerada uma cena improvável, mas ainda assim necessária em função da criação de um bom entretenimento moderno. Como as cenas sensuais exibem uma beleza visual estética apurada muito bem conduzida por uma edição consciente de Peter Przygodda do que se deve ou não mostrar sem causar frustração do espectador ansioso por uma cena mais quente.


O filme pode ser rotulado como confuso a primeira vista, mas basta lhe dar tempo para que ela se mostre fascinante. É quase impossível que o espectador não sofra com as angústias de Barber, que mais cedeu a tentação desse golpe pela atitude sedutora de Elisabeth Shue, do que propriamente pelo dinheiro. Sua integridade se desfez junto com o fim de sua abstinência alcoólica. Ele até começa firme diante do vício, mas basta vislumbrar a desgraça na qual se meteu para perder o rumo das coisas de vez. Seu personagem acaba ficando a mercê do desejo de uma femme fatale a espera do inevitável. Muito do fascínio da história desse longa pode ser atribuída a direção de Volker Schlöndorff, precisa na narrativa do gênero, e da trama de James Hadley Chase, que curiosamente jamais conhecera a cidade de Palmetto na verdade.

Obviamente “Crime em Palmetto” não destrona clássicos do gênero, mas entretém o espectador de maneira competente. E pela leveza da trama que associada à interpretação tragicômica de Woody Harrelson inclusive diverte muito. Com os requintes de uma produção caprichada, que usa com perfeição todos os macetes necessários para compor um bom thriller, esse longa-metragem, apesar de alguns mínimos derrapes está perfeito como está.

Nota:  8/10

2 comentários:

  1. Apesar da história ser cheia de detalhes, o filme vale pela interpretação de Harrelson e o elenco feminino.

    Abraço

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    1. Trata-se de um excelente programa de entretenimento para quem gosta do gênero.

      abraço

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