quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Crítica: The Spirit - O Filme | Um Filme de Frank Miller (2008)


Com visual noir e estilizado o desenhista Frank Miller assume definitivamente a cadeira de diretor e faz sua estreia na direção através "The Spirit - O Filme(The Spirit, 2008), homenageando assim seu mentor Will Eisner ao transpor para o cinema um de seus trabalhos mais marcante no ramo dos quadrinhos. Seguindo a estética visual adotada por Robert Rodrigues em “Sin City, que recriou com perfeição cada página de sua fonte para a película de uma forma nunca antes vista, Frank Miller se arma com as mesmas ferramentas e dá vida ao policial assassinado Denny Colt e que volta a vida misteriosamente fazendo o papel de vigilante em uma cidade tomada pelo crime.

O artista gráfico Will Eisner começou sua carreira de ilustrador em jornais e revistas pulp fiction. O personagem de “The Spirit” apareceu através de uma encomenda da Quality Comics para suprir uma necessidade por histórias em jornais dominicais, que foi desencadeada pelo boom dos quadrinhos, liderado pelo Superman e Batman. Eisner foi inovador na hora de desenvolver suas histórias para adultos e costumeiros leitores de jornal. Queriam que ele criasse um vigilante uniformizado para concorrer com os personagens da DC Comics. E em toda sua simplicidade, Eisner apenas lhe concedeu uma máscara que também atendia ao pedido da editora. O personagem Spirit, era o policial Denny, morto e trazido de volta à vida, que se escondia numa caverna sob seu túmulo, e combatia na noite os criminosos mais bizarros que se podia imaginar. Seu personagem era uma representação da luta do homem comum em um ambiente urbano, distanciado da fantasia dos super-heróis consagrados, e que apresentava perfeitas metáforas da vida real através da visão do autor onde misturava humor e violência. 

O filme “The Spirit” acompanha Denny Colt (Gabriel Match) um colaborador da policia de Central City, que trabalha em conjunto com o comissário Dolan (Dan Lauria) e sua filha, Ellen (Sarah Paulson), a qual mantinha constantes flertes entre muitas outras personagens femininas que transitam pela tela. Seu arquirrival é Octopus (Samuel L. Jackson) que também, como Denny Colt, se apresenta invulnerável, e em certo momento, responsável por essa peculiaridade. Octopus conta com a ajuda de sua assistente ambiciosa Silken Floss (Scarlett Johansson) deslumbrante e perigosa.  Sand Saref (Eva Mendes) é uma ex-paixão de Colt, que transformada em vilã após vários anos desaparecida, surge em cena para roubar um tesouro de posse de Octopus. No encalço do herói ainda há Lorelei (Jamie King) uma entidade sobrenatural que deseja o Spirit que tarda por morrer. No meio de todas essas mentes criminosas, Spirit luta contra o crime e por respostas para sua imortalidade. 

Frank Miller, certa vez declarou que jamais cogitou a possibilidade de abandonar a atividade de roteirista e desenhista de quadrinhos para assumir a função de diretor de cinema. Ainda bem. Por mais que a trama desse longa seja bem feita, a produção seja bem acabada, “The Spirit” não se aproxima do brilho de seu trabalho em “Sin City”, apesar das infinitas semelhanças. E talvez este seja seu calcanhar de Aquiles. Mesmo com um trabalho elegante e bem afinado, o personagem de destaque que dá título a essa produção, não desperta o mesmo carisma no espectador como aqueles que transitam no longa que dirigiu em parceria com Robert Rodrigues – principalmente nos menos familiarizados com as suas origens. Composto com vários elementos de outros trabalhos de Miller, como Batman, sua transposição para o cinema foi debilitada pelo excesso de comparações que não funcionaram bem como homenagem da forma que Miller projetava em teoria. O personagem sofre de uma síndrome de falta de originalidade que não se pode culpa-lo. Eisner criou um personagem a sombra de seus concorrentes a dezenas de anos atrás, e que mesmo obtendo reconhecimento, não alcançou a glória dos mesmos. Naturalmente Miller transpôs para película um produto necessariamente fiel, contudo corrompido e sem culpa. Aproveita assim para fazer homenagens a momentos da história real, como quando Denny Colt ainda um garoto, folheia uma revista em quadrinhos (Crime SuspenStories) tendo na capa um homem enforcado. Foi na época, o que o movimento conservador precisava para estabelecer censura, justificada por sugerir que gibis incitavam a delinquência juvenil. Apesar de Miller construir um universo visualmente distante da realidade, não perde a oportunidade de mesclar elementos factualmente relevantes no contexto.  

O elenco no qual desfila beldades como Eva Mendes e Scarlett Johansson, e astros como Samuel L. Jackson, não seguram a trama com devido interesse. São personagens fantásticos em um ambiente de difícil contextualização. Suas atuações são bacanas, mas muito andrógenas e comportadas. Como em todo o universo da graphic novel, seus personagens são exageradamente excêntricos e visualmente sinistros. O que é bom e necessário para essa produção. Mas Gabriel Match ainda não tem o carisma necessário sobre o grande público para estampar como cabeça uma produção que é baseada em quadrinhos, nos quais os fãs são extremamente críticos diante de alterações – apesar das semelhanças físicas perfeitas na composição do personagem – se posicionam ávidos em protestar diante de detalhes não cativantes.

Dificilmente “The Spirit - O Filme” constará na lista de fãs dos quadrinhos como uma adaptação emblemática no cinema. Miller tratou seu projeto com carinho ao trabalho de Will Eisner, e respeito ao formato dos quadrinhos. Ele conseguiu arquitetar seu longa com alterações necessárias para essa relação cinemão/HQs, e recheou com homenagens sutis ao formato dos quadrinhos, que em sua maioria passa desapercebida ao público convencional, mostrado que mesmo não apresentando algo espetacular como esperado por seus fãs, ainda sabe o que pode fazer, frente a um roteiro ou atrás de uma câmera. 

Nota: 6/10

2 comentários:

  1. Não conhecia o personagem quando assisti, mas eu gostei do visual do filme mesmo não sendo original :)

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    1. O visual do filme é um dos poucos atrativos que esse longa ostenta. O filme até é legal, mas não chega aos pés de sua inspiração.

      abraço

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