terça-feira, 30 de maio de 2017

Crítica: O Dono do Jogo | Um Filme de Edward Zwick (2014)


Em 1972, no auge da alienação da Guerra Fria, uma grande batalha foi travada entre os Estados Unidos e a União Soviética sem a necessidade de disparos ou ameaças nucleares. Naquele ano em Reykjavic, na Islândia, uma das maiores lendas do xadrez norte-americano, Bobby Fischer (Tobey Maguire), trava um tenso duelo contra o campeão mundial de xadrez, Boris Spassky (Liev Schreiber), outra lenda mundial do jogo nascida na extinta União Soviética. Bobby Fischer que acabou se tornando um símbolo americano contra o comunismo, uma celebridade e ídolo nacional, o enxadrista tinha em sua intimidade um adversário tão duro quanto qualquer outro jogador: ele mesmo. Toda sua fascinante história de vidas foi construída enquanto lidava com sérios problemas mentais que avançavam mediante seu sucesso e que o levaram ao isolamento social e ao exilio de suas conquistas. “O Dono do Jogo” (Pawn Sacrifice, 2014) é um drama estadunidense escrito por Steven Knight, Christopher Wikiinson e Stephen J. Rivele e tem a direção de Edward Zwick. Inspirado na vida do lendário enxadrista americano Bobby Fischer, o roteiro captura de modo competente os fatos ocorridos na época, como as prováveis liberdades poéticas acrescidas em sua trajetória, conseguem auxiliar o espectador a entender melhor as nuances em volta da lenda.

Mesmo que durante a sua carreira, Edward Zwick buscasse conduzir produções muito mais elaboradas e de contornos quase épicos, quando não sofisticados e de arrojo narrativo (filmes como “Tempo de Glória”, de 1989; “O Último Samurai”, de 2003 e “Jack Reacher: Sem Retorno”, de 2016; entre outros mais estão em sua filmografia), seu comprometimento com “O Dono do Jogo” se mostra bastante satisfatório considerando as dimensões contidas do projeto. O cineasta demonstrou grande capacidade em retratar com sua câmera a trajetória de um personagem complexo por natureza em um momento da história sócio-política bastante complicada. Embora o duelo dos jogadores seja em um ambiente pequeno e sereno, há uma consciência do alcance dos resultados brilhantemente demonstrada ao espectador pelo roteiro (os lances das partidas realizadas por Bobby Fischer geraram torcidas, capas de revista, entrevistas em noticiários que o levaram a ser uma celebridade nacional). Assim sendo, dos complexos campos de batalha do passado retratados pelo cineasta, aqui suas competências são aplicadas na desafiadora tarefa de imprimir tensão e suspense a um reduzido tabuleiro de xadrez. E através de um trabalho inteligente ele consegue um nível satisfatório de sucesso. Como Tobey Maguire e Liev Schreiber que sob sua direção conseguem um grande êxito ao dramatizar no jogo as expressões faciais, os olhares e a linguagem corporal que conferem intensidade aos momentos.

Porém o filme é seguramente de Tobey Maguire. Sua interpretação funciona em diferentes momentos que vão de sua vida particular exposta aos que o rodeiam (família, amigos e pessoas ligadas a sua ascensão no esporte), a que é acompanhada pela mídia constantemente e a que se agrava de acordo com o desenrolar da história; e que para infelicidade da nação, esconde uma solitária tragédia por trás de uma alegria nacional. Embora essa articulação de passagens seja complicada pelas diferentes emoções contidas em cada uma, e nem sempre é tirado o devido proveito delas, o filme funciona bem nas diferentes direções, mas em níveis de qualidade distintos. “O Dono do Jogo” é um bom drama de ser acompanhado e que deve se dar uma atenção valorosa a algumas informações adicionais anteriores aos créditos finais. Há ali algumas tristezas inacreditáveis reservadas para quem nunca havia ouvido falar de Bobby Fischer ou de sua reputação no mundo do xadrez.

Nota:  7,5/10


2 comentários:

  1. É mais um filme que está na minha lista para conferir.

    Abraço

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    1. Espero que goste. Respeito muito o seu gosto no gênero dramático.

      abraço

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