sexta-feira, 29 de maio de 2015

Crítica: Corações de Ferro | Um Filme de David Ayer (2014)


Abril de 1945. Enquanto os aliados fazem sua incursão final pelo território alemão na última fase da Segunda Guerra Mundial, o sargento Don “Wardaddy” Colier (Brad Pitt), responsável por um pequeno grupo de soldados americanos e um debilitado tanque Sherman batizado pelo nome de Fury avançam sob o fogo inimigo quase sempre em desvantagem estratégica e numérica. Os dias quase sempre oscilam entre uma tensão perturbadora e uma violência desmedida. Obstinado por manter a sobrevivência do grupo sob os maciços ataques das tropas nazistas, ao mesmo tempo em que precisa treinar um despreparado novato, Wardaddy é enviado junto aos seus homens em uma difícil missão atrás das linhas inimigas e que provará toda sua importância dentro dessa interminável guerra sangrenta. “Corações de Ferro” (Fury, 2014) é um drama de guerra escrito e dirigido por David Ayer (responsável por filmes como “Marcados para Morrer”, “Sabotagem” e “Reis das Ruas”). Conhecido roteirista de Hollywood, Ayer tem demonstrado a cada trabalho uma crescente evolução como diretor. A prova disso vem na forma desse intenso drama de guerra de atmosfera angustiante e reconstituição de época competente. Ao imprimir um realismo brutal em sua história, Ayer entrega um longa-metragem de massacres sangrentos, violência bélica extrema e alguma profundidade narrativa relevante. O filme não se impede de modo algum em mostrar o efeito venenoso consequente da guerra que contamina esse pequeno grupo de homens de maneira crua, que como consequência, simplesmente transporta o espectador para as perigosas trincheiras. Na verdade, esse é um aspecto interessante dessa obra, evidentemente entre outros mais, que exibe o verdadeiro propósito desse longa-metragem e o difere de punhado de outros filmes ambientados nessa sempre relembrada guerra.


Corações de Ferro” não tem como objetivo lançar um olhar inédito sobre a guerra, embora o acompanhamento mais próximo de um pequeno grupo de soldados confinados as dependências de um tanque de guerra é uma exploração nova do ambiente do front de batalha para formato. E Ayer explora esse aspecto ao máximo no decorrer do filme, pois recheia o desenvolvimento com bons diálogos que familiariza o espectador não somente com algumas nuances dos soldados, como com a da mecânica do artefato também. Além do mais, o cineasta elabora uma sequência de batalha de tanques no estilo do videogame Batterfield de grande originalidade ao gênero. Mas essa produção não é apenas um desfile de artilharia bélica de poderio grandioso resultante de uma produção fluente ou um espetáculo pirotécnico magistral conferido por uma reconstituição de época formidável. “Corações de Ferro” apresenta personagens de contornos bem-sucedidos (que simplesmente não despertam simpatia em sua imediata apresentação, mas no decorrer do tempo em que se passam os acontecimentos), entregues por atuações convincentes sobre um drama metodicamente ajustado. A história tem um propósito prioritário em seu vasto conjunto qualidades: mostrar que independente de como ou quando a guerra irá acabar nada mais será como antes (esse aspecto é exibido numa tensa sequência nas dependências de uma residência alemã durante uma bem-intencionada refeição). As mudanças da natureza humana atingiram um ápice de estranheza aos próprios homens. O que de certo modo incendeia a relação do grupo, ora tomados por um sentimento de solidariedade mútuo com direito a altos e baixos, ora exibindo demonstrações de hostilidade desregrada que resultam em momentos dramáticos e tensos de grande genialidade. Se a primeira vista o desfecho clichê de motivações heroicas soe um pouco forçado ao espectador, também é preciso lançar um olhar mais profundo sobre o conjunto da obra de Ayer para compreender essa resolução adotada. Por fim, “Corações de Ferro” é uma surpresa para o gênero que merece ser descoberta.

Nota:  8/10

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