sábado, 29 de setembro de 2012

Crítica: Colateral | Um Filme de Michael Mann (2004)



Tom Cruise sempre tentou interpretar papéis diferentes da imagem de galã que construiu ardorosamente para sua própria carreira. Consequentemente, passou a ter dificuldades de associar a sua imagem de astro, a de um ator competente. Irônico! Entre personagens excêntricos como o que interpretou em Magnólia”  (apesar de muito bem composto como o guru de autoajuda) sua genialidade foi mais atribuída pela capacidade da direção de Paul Thomas Anderson. Criações bizarras como seu personagem em Trovão Tropical” (no papel de empresário da indústria do cinema tremendamente boca-suja e falastrão) são exemplos de suas fugas do estrelismo cronico. E a interpretação de seu primeiro vilão, talvez tenha sido a mais bem sucedida fuga do ator do convencionalismo que ele próprio limitou-se durante anos. "Colateral" (Collateral, 2004), é um suspense bem climatizado com excelentes atuações (tanto por parte dele, como também do ator que divide a tela com ele, Jamie Foxx) que ainda junta na mistura um diretor habilidoso, que adora tirar de astros verdadeiras atuações, e você terá uma surpresa ao ver esse thriller de suspense cheio de camadas que impressiona por conseguir fazer de um roteiro interessante uma experiência magnífica. Na história acompanha os percalços de Max (Jamie Foxx), um taxista cheios de planos para o futuro, mas com pouca atitude de coloca-los em prática, que pega um passageiro misterioso chamado Vincent (Tom Cruise), que sem o seu motorista saber, era um assassino profissional a serviço de um traficante de drogas. Vincent está na cidade para eliminar cinco testemunhas importantes em um grandioso caso judicial que pode condenar seu contratante. Sua tarefa consiste em matar as testemunhas sem deixar pistas e desaparecer de Los Angeles da mesma forma em que surgiu. Assim ele contrata o serviço do taxista para o resto da noite, por cerca de dez horas, aonde aos poucos vão se conhecendo entre uma execução e outra de maneira que muda os rumos de suas vidas.

Essa produção se constrói de forma eficiente graças ao entrosamento da dupla que divide a tela e a profundidade de seus personagens. Enquanto Vincent transparece ter uma personalidade antissocial, orgulhoso de seu trabalho e sua condição de predador, se se isentando de qualquer remorso possível, Max reflete tudo aquilo que o primeiro despreza na natureza humana. Max tem sonhos, planos e ambições que certamente (na visão de Vincent) nunca serão realizados, devido ao sua instintiva necessidade de minar seu auto encorajamento ou se prender a própria falta de ambição. Fazer planos é fácil, e esperar que eles aconteçam espontaneamente é mais fácil ainda, quando você não tem a ambição de vê-los realizados. O momento que Vincent esclarece seu ponto de vista a Max enquanto ele dirige sobre essa característica, lhe exemplificando através da experiência de um amigo, pode ser um dos pontos altos dos diálogos proporcionados pela dupla. Contudo há outros, mais enfáticos quanto esse, como quando Vincent mostra o destino de uma pessoa que não entende nada sobre Miles Davis, que é certamente um dos melhores momentos do filme, tamanha a frieza adotada pelo personagem de Vincent. 

O roteiro escrito por Scott Beattie, responsável também pelo roteiro de “Piratas do Caribe”, tem sua força nos diálogos afinados e na história, que apesar de ser linear é bem construída, com trágicas coincidências, com personagens personificados entre a realidade comum e a psicopatia e principalmente no foco da relação afetiva que se desenvolve entre os atores, do que em desfechos prodigiosos. A relação entre o assassino Vincent e o taxista Max transforma o processo da caçada humana em um thriller bem original. O visual adotado por Tom Cruise para esse longa-metragem é no mínimo curioso: cabelos grisalhos e terno cinza apertado. Caracterização criada pelo cineasta Michael Mann, que presumiu haver a necessidade que o astro se distancie da imagem convencional que o espectador comum está habituado a ver dele. "Colateral" não chega a ser o melhor filme de Michael Mann, também responsável por preciosidades como “O Informante e Ali”, mas sem dúvida esse longa tem muito a oferecer através do clima tenso que se apresenta através das excelentes atuações e pelo roteiro inteligente, que se transforma em um estudo mais profundo sobre as motivações de um psicopata ao mesmo tempo em que permite a uma vítima a busca da redenção.

Nota:  8/10

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Crítica: Lendas da Vida | Um Filme de Robert Redford (2000)



Sempre tive carisma pelo golfe, como o diretor Robert Redford provavelmente sempre teve gosto pelo o uso de metáforas na retratação da natureza humana. Através da aplicação da mistura de belas imagens com histórias que transbordam sensibilidade e aguçam nosso emocional, "Lendas da Vida"(The Legend of Begger Vance, 2000), é um exemplo bem feito da aplicação da fórmula com lirismo e eficiência. A história acompanha Rannulph Junuh (Matt Damon), que retorna da Primeira Guerra desiludido com a vida e atormentado com os horrores da guerra. Mesmo que no passado tivesse sido um grande golfista, um inquestionável campeão, volta sem motivações ou expectativas de viver depois da interrupção de sua carreira no esporte. Ignorando a tudo e a todos, inclusive sua maior paixão, chamada Adele (Charlize Theron), uma jovem também repleta de angústias. Com a crise econômica desencadeada pela guerra, Adele promove um torneio de golfe em busca de investidores para um campo de golfe com a intenção de reanimar a economia da local e escapar da falência. Porém é imprescindível que haja campeões para dar o devido destaque ao torneio, e assim ela tenta convencer Rannulph a participar. Relutante, o desmotivado golfista aceita a empreitada consciente de seu despreparo para conseguir uma vitória. Quando diante de uma vergonhosa e eminente derrota, surge o misterioso Beggar Vance (Will Smith), que o ajuda a se reencontrar em suas paixões. O filme é recheado de lindas paisagens verdejantes, cuja ambientação produzida é elaborada com perfeição e coerência à época em que se passa a trama – as roupas, os cenários e o respeito pelo jogo que não tem parado de fascinar novos adeptos até hoje. A direção de fotografia executou um belo trabalho na captação das imagens, valorizando as luzes naturais e os contrastes da natureza de forma belíssima mesmo com uma geografia pouco impressionante. Como a trilha sonora também é bem afinada e interessante, salientando as passagens das imagens perfeitamente.

No elenco, Matt Damon cumpre seu papel na busca pelo reencontro do equilíbrio – do jogo que metaforicamente se aplica através da narrativa adotada pela direção, à vida – com a ajuda de Will Smith, apresentando um personagem de natureza indefinida, mas sempre carismático e inspirador. Seus conselhos é a salvação do protagonista nos últimos segundos de qualquer aperto que tenha passado. Suas dicas de golfe também. Os diálogos são perfeitos e inteligentes. Enquanto Charlize, sempre linda – com uma pequena ressalva em Monster – faz o par romântico com Damon naturalmente, o que resulta em lágrimas aos mais emotivos. Por fim, Lendas da Vida irá agradar: aos simpatizantes do jogo, aos fãs dos astros que compõe esse longa e aos fascinados por histórias fantasiosas tocadas com o brilhantismo de uma narrativa de sucesso comprovado por Robert Redford. Apesar do desfecho previsível do campeonato e uma abordagem meramente superficial dos personagens – pois o foco permanece nas circunstâncias ao qual o elenco é exposto – esse filme é um bom exemplar de eficiência com capacidade de emocionar pela simplicidade com que é conduzido pelo cineasta.

Nota: 7/10


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Crítica: O Exótico Hotel Marigold | Um Filme de John Madden (2012)



O atrapalhado dono do Hotel Marigold interpretado por Dev Patel lembra que na Índia há um ditado: “No fim, tudo dá certo”. E complementa em seguida: “Então, se não está tudo certo, ainda não é o fim”. O que poderia ser muito bem uma desculpa esfarrapada por parte do atrapalhado dono do estabelecimento a seus clientes – que estão cercados de problemas nas dependências desse exótico hotel – na verdade também é no que se baseia toda a motivação desse personagem, que acredita profundamente nas possibilidades dessa frase.

Esse filme chamado "O Exótico Hotel Marigold" (The Best Exotic Marigold Hotel, 2012) é baseado na obra de Deborah Moggach – adaptada para o cinema através do roteiro de Ol Parker – e que chegou aos cinemas através da direção do inglês John Madden, também responsável pela realização de outro sucesso do cinema chamado “Shakespeare Apaixonado”. Reunindo um elenco britânico de primeira, Madden criou através de seu olhar um profundo ensaio sobre a vida, o amor e as reviravoltas que sombreiam os envolvidos com esse sentimento e mistério. A história pode até envolver personagens distintos, cuja vida teve cuidados diferentes com cada qual, mas que a partir de um momento especifico se encarregou de uni-las e motivá-las a seguir o mesmo caminho, mesmo que a única coisa em comum seja o fato de fazerem parte da terceira idade. Assim o destino leva um grupo de idosos em direção a um hotel na Índia cuja funcionalidade é voltada a senhores e senhoras. Nesse grupo, composto: por Evelyn Greenslade (Judy Dench) uma recém-viúva, que nunca se virou na vida sem ajuda; Muriel Donnelly (Maggie Smith), cheia de preconceitos, foi governanta toda a sua vida até que um dia sofreu o afastamento devido sua idade avançada, tem problemas de saúde ao qual o tratamento será feito na Índia; Graham Dashwood (Tom Wilkinson), juiz, solteiro e insatisfeito com o rumo das coisas, decide retornar a Índia para resolver antigas pendências que lhe atormentaram por toda a vida; Douglas e Jean Ainslie (Bill Nighy e Penelope Wilton), casados há 40 anos, estão tendo um casamento delicado, e para piorar, falidos a única alternativa de repouso barata se encontra no hotel oferecido na Índia; Madge (Celia Imrie), depois de uma série de divórcios e fracassos amorosos, parte para a Índia em busca de um novo amor; e por último Norman (Ronald Pickup), solteirão e descarado, procura reviver os bons tempos da juventude e da virilidade. Para completar o elenco, entra em cena o jovem Sonny Kapoor (Dev Patel) que além de seus problemas de manter o exótico hotel funcionando, também possui problemas amorosos de difícil resolução. 


John Madden aproveita ao máximo todo o exotismo que cerca a ambientação feita na Índia, explorando as cores e a cultura, sem apelar para lugares óbvios para turistas como o Taj Mahal. E usa o personagem de Evelyn Greenslade, que relata suas experiências através do blog em várias narrações em off, para dissecar suas impressões sobre o ambiente onde toda trama se passa.  Mesmo com um elenco de peso por parte dos experientes turistas ingleses, que estão ótimos e envolventes em seus personagens, ainda é nos dilemas e obstáculos vividos por Dev Patel onde mora as maiores emoções desse longa. Um jovem cheio de sonhos e uma capacidade duvidosa de realizá-los. Seu personagem impressiona através de sua perseverança diante das dificuldades impostas a ele, de erguer o Hotel Marigold ao sucesso, ao mesmo tempo em que, deseja atender as expectativas de sua amada. A busca de Patel em encontrar algo positivo nas infelicidades e fracassos é bárbaro apesar de trágico. Através de uma narrativa suave e cômica, o filme flerta constantemente com a comédia durante toda a duração dessa produção. Por fim, "O Exótico Hotel Marigold" é um drama leve e carismático, conduzido com senso de humor e inteligência. Não chega no final a ser promissor como “Shakespeare Apaixonado”, porém não decepciona o espectador curioso em ver uma cultura diferente em tela de maneira simples, apresentado por um elenco capaz de ser tão exótico quanto possível.

Nota: 7/10


sábado, 22 de setembro de 2012

Crítica: Margin Call: O Dia Antes do Fim | Um Filme de J. C. Chandor (2011)


Qualquer semelhança com a vida real não é mera coincidência. Apesar desse longa não poder se vender como “Baseado em Fatos Reais”, um gênero em alta no cinemão de Hollywood, ele usa a crise financeira de 2008 - a recessão imobiliária – onde a há personificando dos envolvidos como o estopim para esse drama competente. A estreia na direção do roteirista J.C. Chandor – que escreveu e dirigiu essa produção intitulada "Margin Call - O Dia Antes do Fim(Margin Call, 2011) – foca seu trabalho mais na complexidade do elemento humano por trás da catástrofe, do que propriamente na causa ou nas consequências da tragédia financeira que desencadeou o caos econômico que se arrasta até a atualidade. Com uma trama que se passa em cerca de doze horas, um banco de investimentos – com uma forte menção a Lehman Brothers fictício – é descoberto um grave problema de liquidez que assolava o banco silenciosamente. A solução simplificada: venda tudo antes que todos descubram, porque o prejuízo irá além do que os olhos podem alcançar. O que gera uma discussão tensa através dos personagens – Penn Bladley, um simples funcionário operador da bolsa; Stanley Tucci o primeiro a ver os indícios do rombo; Zachary Quinto responsável pela confirmação da tragédia; Paul Bettany, supervisor de ambos; Kevin Spacey o chefe da trupe; Jeremy Irons, o presidente do banco entre outros que dividiram a tela durante os 107 minutos de duração dessa produção – constituem o organograma do caos, tomados por dilemas éticos e decisões capitalistas urgentes numa Nova York adormecida.

Obviamente a intenção de J.C. Chandor não foi tentar explicar o funcionamento esquemático do mercado financeiro por razões lógicas, contudo, a escolha de acompanhar a perspectiva dos envolvidos de uma catástrofe financeira como a ocorrida nesse longa, não é a das mais simples do mundo. Chandor até arrisca expor um explicativo didático da situação de forma simplista e rápida, feito por Zachary Quinto direcionado ironicamente a Jeremy Irons, que enfatiza que chegou a onde está não por sua inteligência. Mas só. O restante das variáveis o espectador tem que pegar nas entre linhas e nos diálogos correlacionados ao assunto. E assuntos que germinam diante da tragédia não faltam – a constante curiosidade pelo salário dos colegas, desabafos pessoais dos envolvidos, lavação de roupa suja – enquanto aguardam que os chefões providenciem uma solução, independente de quão feliz possa ser. Por que o maior objetivo de Chandor consiste mesmo, na tensão crescente dos envolvidos que aguardam, vagam solitários em salas vazias e imensos corredores, o anúncio de uma solução que reverta à situação. A reunião decisiva que determina o desfecho fatídico, que até se especula por Penn Bladley numa outra passagem – tonto pela inocência ou inexperiência – que mesmo que tudo pareça o apocalipse naquele momento, mas que com o tempo demonstraria ser apenas uma sensação. Paul Bettany é objetivo e seco ao afirmar em resposta ao duvidoso subordinado: “Não, nada será como antes”.

E com o tempo passando essa afirmação se confirma pela decisão tomada pelo alto escalão, e executada obedientemente ao clarear do dia pelos subordinados. Trata-se do capitalismo em vigor e uma infinidade de situações comuns no meio. Também uma demonstração de que mesmo com alternativas, a decisão menos correta é a mais conveniente. É deixado de lado princípios e ética, se é que existia, em prol dos lucros e ganhos. Margin Call – O Dia Antes do Fim, não é um retrato do capitalismo, mas um esboço bem feito das pessoas que giram a sua volta e influenciam de certa forma essa área. Poderia ter mais profundidade e deixar as obviedades de lado, como também Chandor poderia especular a possibilidade de que as pessoas não lembrassem mais desse evento com tanta clareza, abrindo mais brechas para esclarecimentos fictícios ou não. Também podia ter deixado de lado a ingenuidade, ao apontar os vilões da trama de maneira explícita sem necessidade. Pois ingenuidade, é um luxo que não cai bem aos adultos. 

Nota: 7/10


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Crítica: Sangue Negro | Um Filme de Paul Thomas Anderson (2007)


Desde o lançamento de Boogie Nights – Prazer Sem Limitesonde o cineasta transpôs para telona a história de ascensão e queda de um astro pornô, Paul Thomas Anderson criou pérolas memoráveis para o cinema contemporâneo. Mas nenhuma delas foi tão brilhante no conjunto quanto essa produção intitulada Sangue Negro (There Will Be Blood, 2007), vencedor de dois Oscar – melhor ator e melhor fotografia – abordando magistralmente um momento crucial da história americana de forma tão implacável e crítica. Anderson não poupa o espectador da obra ácida que criou, compondo um épico que por sua vez ainda será lembrado como referência histórica de imensa relevância no futuro. A trama que acompanha a cruzada de Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis), homem de temperamento grosseiro e direto, buscando riqueza com a extração de petróleo no Meio-Oeste americano. Com dedicação e estratagemas de negócio consegue se tornar enfim um magnata do petróleo. As dificuldades superadas pelo protagonista para juntar fortuna como explorador de petróleo não é nada diante dos dilemas e rinchas que enfrenta com a sociedade, a religião em especial, a qual de certa forma ajudou a construir através dos resultados de sua ocupação.

Trata-se de um filme de beleza singular – uma ambientação fiel e visualmente rica – bem condicionado de forma técnica – trilha sonora competente de responsabilidade de Jonny Greewood – com atuações fantásticas de todo o elenco, em destaque a interpretação de Daniel Day-Lewis, que compõe de maneira brilhante um personagem calculista e esperto apesar da pouca habilidade em lidar com as pessoas que lhe contrariam, ou que tentam tirar proveito de sua pessoa. O que não o inibe de fazer o mesmo. Inclusive a adoção do filho de um amigo, morto acidentalmente em uma explosão, é resultado de uma ação de conveniência calculada por parte de seu personagem – a vida familiar paralela à extração de petróleo lhe conferem valores cativantes às negociações. A constante presença do garoto adotado, que margeia a atuação de Day-Lewis, retrata a importância dos valores familiares a grandes homens de negócio, ao mesmo tempo em que resplandece uma suposta submissão à igreja que não se confirma como esperado pelo líder religioso da localidade que se desenrola a maior parte da trama.
  
Seus confrontos com o pastor Eli Sunday (Paul Dano) pode ser um bom exemplo de um roteiro afinado, que proporciona através das atuações bem executadas do elenco, a garantia de momentos de grande impacto, hora no tenso silêncio do deserto, ou nas ferozes batalhas verbais do rude protagonista. Sunday equipa seu personagem com artimanhas de lideranças religiosas contraditórias. Em constante enaltecimento da fé, seu personagem teve uma lição merecida por vender esperança por conveniência. Dentre todos os elementos que compõe esse longa metragem – a rotina diária dos exploradores de petróleo, a relação da sociedade que margeia esses homens, as circunstâncias extremas as quais são expostos para obter sucesso nesse perigoso ramo de negócios – apesar de necessários para a trama, não possuem a magnitude e a profundidade que detém os conflitos do protagonista com a religião e a família. Que no caso a religião, talvez tenha apresentado o desfecho que justifique a razão do título sinistro. Tudo por trás de Sangue Negro é voltado, apesar da distância óbvia do tempo em que a ação se passa, adequada aos tempos atuais de uma forma magistral - frieza do capitalismo, a deterioração dos valores familiares e a duplicidade da religião. Contudo, se há alguém mais atualizado do que esse longa-metragem, certamente consiste no diretor Paul Thomas Anderson, que através dessa realização, garantiu o seu lugar entre os melhores diretores da atualidade. 

Nota: 9/10


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Crítica: O Código | Um Filme de Boaz Yakin (2012)


Essa produção está longe de ser um dos melhores filmes já estrelados pelo brucutu Jason Statham, mas em contra partida explora ao máximo sua capacidade de realizar feitos fantásticos quando necessário. O filme "O Código" (Safe, 2012), tenta dar contornos dramáticos ao protagonista, mas foi mesmo nas cenas de pancadaria protagonizada pelo astro o que segurou à atenção do espectador em meio a uma infinidade de personagens confusos.

Na trama, Jason Statham perambula pelas ruas desiludido por sua condição, quando uma chinesinha interpretada por Catherine Chan, dona de uma capacidade mental sobre humana e detentora de uma senha de um cofre que guarda uma quantia milionária é perseguida pela máfia chinesa e russa, cruza o caminho do atormentado moribundo. Jason encontra nela a chance de uma inusitada retomada na vida salvando-a do perigo e consequentemente fazendo as pazes com seu passado. Porém o que Jason não sabe é que além de todas as máfias, antigos conhecidos dele – policiais corruptos – também estão atrás dos segredos que a menina detém em sua memória.


Numa trama onde simplesmente ninguém presta, tendo todos os personagens com sério déficit de caráter – salvo a menina – é fácil identificar o herói dessa empreitada, mesmo que o roteiro tente pintá-lo diferente através de uma edição com idas e voltas no tempo, que inclusive até funciona bem na abertura. O protagonista é vitima das consequências de seus atos. Simplifica a ligação do passado do protagonista com a presente situação ao qual se encontra. Mas a direção de Boaz Yakin não sustenta a trama de forma interessante, apelando para o estrelismo do protagonista como única ferramenta de sustento da premissa. E como Jason Statham não é nenhum primor de ator talentoso, a solução mais conveniente foi mandar bala para todos os lados para ver quem se salva, já que pouca gente na tela tem valor. E a atriz mirim Catherine Chan, ainda é uma incógnita, até porque o roteiro não ajuda e a direção de Boaz Yakin não é a mesma coisa do que a de Steven Spielberg ou M. Night Shyamalan, que conseguiram obter atuações memoráveis de atores infantis.  

Numa infinidade de tiroteios, às vezes confusos visualmente, o astro distribui pancadas e tiros sem economia. Nenhuma surpresa até então. Mas mesmo com sua experiência na área, faltou aquela beleza estética sempre preponderante em seu trabalho – algumas sequências parecem um pouco bagunçadas e de difícil acompanhamento. Apesar dos diálogos estarem até bons, se comparados a outros de seus filmes menores.

Por fim, "O Código" vai agradar aos fãs do astro, mas também não vai entrar na lista dos 10 melhores filmes dele. Agora enquanto Jason não encontra um papel dramático nos moldes que ele declarou estar na procura, pode continuar fazendo o que sabe fazer de melhor sem problemas nenhum. Contanto que nunca se esqueça do gênero que o consagrou.

Nota: 6/10

Crítica: Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros | Um Filme de Timur Bekmambetov (2012)



Qualquer um que criou gosto pelo trabalho apresentado em “O Procurado”, onde o cineasta russo Timur Bekmambetov exibiu toda sua capacidade de realizar um filme arrojado visualmente e desprendido da realidade com competência, sem dúvida vai adorar esse longa-metragem chamado Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros (Abraham Lincoln: Vampire Hunter, 2012). Trata-se da adaptação para o cinema do best-seller de Seth Ghahame-Smith, autor de romances mash-up como: “Orgulho e Preconceito” e “Zumbis”.

A história acompanha o protagonista desde a infância, onde sua mãe foi envenenada por um vampiro, o que levou ela a morte, despertando em seu filho o desejo de vingança sobre os responsáveis. Porém o que Abraham Lincoln (Benjamin Walker) não sabia, era sobre as dificuldades de matar o que já estava tomado pela morte. Os responsáveis pela morte prematura de sua mãe eram vampiros. Após uma tentativa mal sucedida de fazer justiça com as próprias mãos, quase foi morto. Salvo por Henry Sturgess (Dominic Cooper), recebe o devido treinamento para matar os sanguinários vampiros, que sob as condições de seu experiente e misterioso mestre, parte em direção a Springfield disfarçado, para dizimar células vampirescas que se instalam por todas as cidades americanas. Durante o dia, Lincoln cumpre o papel de um eficiente funcionário de um comércio da cidade, mas na calada da noite efetua missões para a eliminação dessas criaturas pelas quais nutre tanto ódio. Ao mesmo tempo em que Lincoln procura cumprir com sua vingança urgentemente, tem com o decorrer do tempo se preocupado cada vez mais com o futuro de seu país, os direitos humanos e a idolatrada liberdade americana. Em paralelo com sua missão de acabar com a existência dos vampiros, Lincoln se incube da tarefa de salvar sua nação de um futuro sombrio.

Um dos mais famosos presidentes americanos da História, Abraham Lincoln é uma figura preponderante. Seguindo uma febre atual do cinema de unir personagens históricos em aventuras fantásticas, como exemplo Sherlock Holmes e o escritor Edgar Alan Poe; a parceria de Tim Burton com Timur Bekmambetov, transpôs para tela uma ideia surreal como pano de fundo, mas ao mesmo tempo com ricas menções a relatos históricos. Todos os elementos narrativos da trama revertem para a criação de um super-herói novo e original. Qualquer semelhança identificada com o personagem dos quadrinhos criado por Bob Kane chamado Batman, pode acreditar, não é mera coincidência. Mesmo sem um Tumbler como transporte, vários elementos na trama – a vingança como a sua motivação primária, seu duplo papel de cidadão de dia, e justiceiro à noite, um machado que parece um cinto de utilidades – fazem menção ao cavaleiro das trevas de forma proposital e escancarada. Trata-se do surgimento de um novo e imbatível defensor dos oprimidos, com requintes históricos e caprichos visuais marcantes.

O elenco encabeçado por Benjamin Walker, trás um protagonista pouco carismático, mas eficiente de forma surpreendente. Mesmo não sendo uma opção obvia ao papel, agrada principalmente ao espectador que está mais focado na trama do que propriamente nas atuações. A escolha de um protagonista desprovido de um traço de super-herói - sem músculos salientados – faz de seu personagem um homem real conectado com sua época. Qualquer ator com o tórax do Jason Statham seria uma extravagância difícil de associar ao presidente. Dominic Cooper tem demonstrado que seu nome, pode e está ligado a grandes realizações diferenciadas com o mesmo padrão de qualidade. Enquanto Rufus Sewell, pouco visto no cinema atuando em produções de destaque, desempenha um papel de vilão sinistro interessante.

Contudo, tudo em volta dessa produção arremete convenientemente para um festival de sequências de ação, lutas coreografadas e delírios visuais que provavelmente saíram da mente de Bekmambetov, que não surpreenderia ninguém se algum dia declarasse que apenas consegue ver o mundo em slow motion, de tanto que abusa desse recurso para que o público não perca um movimento sequer de suas cenas estilizadas. Agora com a popularização do 3D, o céu é o limite para vivência aplicada de seus enquadramentos vertiginosos. O manuseio do machado pelo protagonista é um espetáculo de malabarismo e destreza com a ferramenta, que nas mãos certas se torna uma arma mortal tanto quanto um revólver. Desperta a lembrança de filmes chineses onde havia confrontos com bastões e espadas. 

Basta ver a filmografia de Timur Bekmambetov para saber que Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros é somente mais uma produção bem bacana desse diretor, mas que poderia ter tido sim, contornos mais arrepiantes e sombrios aos vampiros do que foi aplicado. Todas as excentricidades do diretor estão lá, em cada frame, movimento de câmera e no desfecho que dá oportunidade para uma conveniente sequência. Mas a produção de Tim Burton, infelizmente não acrescentou nada além do esperado. O filme tem sem dúvida a cara do diretor. Pôde até ter trazido ao produtor momentos de nostalgia, dos tempos em que conduziu a busca por justiça do morcegão, no entanto a responsabilidade dessa produção ficou naturalmente a cargo do russo.

Nota: 7,5/10