sábado, 22 de setembro de 2012

Crítica: Margin Call: O Dia Antes do Fim | Um Filme de J. C. Chandor (2011)


Qualquer semelhança com a vida real não é mera coincidência. Apesar desse longa não poder se vender como “Baseado em Fatos Reais”, um gênero em alta no cinemão de Hollywood, ele usa a crise financeira de 2008 - a recessão imobiliária – onde a há personificando dos envolvidos como o estopim para esse drama competente. A estreia na direção do roteirista J.C. Chandor – que escreveu e dirigiu essa produção intitulada "Margin Call - O Dia Antes do Fim(Margin Call, 2011) – foca seu trabalho mais na complexidade do elemento humano por trás da catástrofe, do que propriamente na causa ou nas consequências da tragédia financeira que desencadeou o caos econômico que se arrasta até a atualidade. Com uma trama que se passa em cerca de doze horas, um banco de investimentos – com uma forte menção a Lehman Brothers fictício – é descoberto um grave problema de liquidez que assolava o banco silenciosamente. A solução simplificada: venda tudo antes que todos descubram, porque o prejuízo irá além do que os olhos podem alcançar. O que gera uma discussão tensa através dos personagens – Penn Bladley, um simples funcionário operador da bolsa; Stanley Tucci o primeiro a ver os indícios do rombo; Zachary Quinto responsável pela confirmação da tragédia; Paul Bettany, supervisor de ambos; Kevin Spacey o chefe da trupe; Jeremy Irons, o presidente do banco entre outros que dividiram a tela durante os 107 minutos de duração dessa produção – constituem o organograma do caos, tomados por dilemas éticos e decisões capitalistas urgentes numa Nova York adormecida.

Obviamente a intenção de J.C. Chandor não foi tentar explicar o funcionamento esquemático do mercado financeiro por razões lógicas, contudo, a escolha de acompanhar a perspectiva dos envolvidos de uma catástrofe financeira como a ocorrida nesse longa, não é a das mais simples do mundo. Chandor até arrisca expor um explicativo didático da situação de forma simplista e rápida, feito por Zachary Quinto direcionado ironicamente a Jeremy Irons, que enfatiza que chegou a onde está não por sua inteligência. Mas só. O restante das variáveis o espectador tem que pegar nas entre linhas e nos diálogos correlacionados ao assunto. E assuntos que germinam diante da tragédia não faltam – a constante curiosidade pelo salário dos colegas, desabafos pessoais dos envolvidos, lavação de roupa suja – enquanto aguardam que os chefões providenciem uma solução, independente de quão feliz possa ser. Por que o maior objetivo de Chandor consiste mesmo, na tensão crescente dos envolvidos que aguardam, vagam solitários em salas vazias e imensos corredores, o anúncio de uma solução que reverta à situação. A reunião decisiva que determina o desfecho fatídico, que até se especula por Penn Bladley numa outra passagem – tonto pela inocência ou inexperiência – que mesmo que tudo pareça o apocalipse naquele momento, mas que com o tempo demonstraria ser apenas uma sensação. Paul Bettany é objetivo e seco ao afirmar em resposta ao duvidoso subordinado: “Não, nada será como antes”.

E com o tempo passando essa afirmação se confirma pela decisão tomada pelo alto escalão, e executada obedientemente ao clarear do dia pelos subordinados. Trata-se do capitalismo em vigor e uma infinidade de situações comuns no meio. Também uma demonstração de que mesmo com alternativas, a decisão menos correta é a mais conveniente. É deixado de lado princípios e ética, se é que existia, em prol dos lucros e ganhos. Margin Call – O Dia Antes do Fim, não é um retrato do capitalismo, mas um esboço bem feito das pessoas que giram a sua volta e influenciam de certa forma essa área. Poderia ter mais profundidade e deixar as obviedades de lado, como também Chandor poderia especular a possibilidade de que as pessoas não lembrassem mais desse evento com tanta clareza, abrindo mais brechas para esclarecimentos fictícios ou não. Também podia ter deixado de lado a ingenuidade, ao apontar os vilões da trama de maneira explícita sem necessidade. Pois ingenuidade, é um luxo que não cai bem aos adultos. 

Nota: 7/10


2 comentários:

  1. Considero que o diretor acerta ao mostrar o que pensa os cabeças das grandes corporações. Para eles vale apenas o lucro, não interessa se milhares sairão perdendo, muito menos existe o lado humano.

    Quem tem interesse pelo tema, deve assistir também os documentários "Trabalho Interno" e "Capitalismo - Uma História de Amor".

    Abraço

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