quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Crítica: O Senhor das Armas | Um Filme de Andrew Niccol (2005)


Yuri Orlov (Nicolas Cage) nasceu na Ucrânia, porém antes da divisão da extinta União Soviética toda a sua família migrou para os Estados Unidos da América para recomeçar a vida. Nesse recomeço, abriram um restaurante, mudaram de religião e cederam ao declínio de um país com poucas oportunidades. Depois de presenciar com os próprios olhos um tiroteio entre gangues do leste europeu, que igual à família de Yuri também vieram para a América atraídos pelas oportunidades, Yuri percebeu que o negócio de comercializar armas e munição pode ser a sua salvação. Assim Yuri torna-se gradativamente um traficante de armas e convence o seu irmão, Vitaly (Jared Leto) a se juntar a esse perigoso e lucrativo esquema de fornecer armas e munição a quem precisasse. Prosperando meteoricamente, seus negócios de fachada passam a chamar a atenção do agente do DEA, Jack Valentine (Ethan Hawke), que faz do desmascaramento e prisão de Yuri uma meta pessoal prioritária. “O Senhor das Armas” (Lord of War, 2005) é uma produção estadunidense de comédia e drama produzida, escrita e dirigida por Andrew Niccol (cineasta responsável por filmes como: “Gattaca”, de 1997; “S1m0ne”, de 2002; “O Preço do Amanhã”, de 2011; entre outros mais). Sua ácida e dramática obra lança um olhar satírico sobre o peculiar universo do tráfico de armas que teve sua ascensão após o fim da guerra fria. Embora a história seja ficcional, a composição do personagem principal e algumas situações as quais ele é submetido, além de outros personagens tiveram sua inspiração em pessoas reais.


O Senhor das Armas” é uma viagem tão fascinante quanto divertida. Contada pelo ponto de vista de Yuri Orlov, essa produção narra a trajetória de ascensão de um mercador da morte que enriqueceu em função da instabilidade política mundial que gerava clientes em potencial para as suas atividades devido aos constantes conflitos armados ao redor do mundo. Yuri descreve suas experiências, em tom cômico e reflexivo que o levaram do anonimato ao sucesso. Interpretado por Nicolas Cage em um de seus melhores desempenhos da carreira, contrasta na tela toda a sua glória nos negócios com o fracasso pessoal que levou a estrutura de sua família a ser desintegrada. Uma ótima atuação de Cage, que divide a tela com Jared Leto, Ethan Hawke, Eamonn Walker (inspirado em Charles Taylor, presidente da Libéria até 2003) e Ava Walker, todos em atuações igualmente fascinantes. O roteiro e a direção de Andrew Niccol alterna passagens dramáticas competentes com momentos de humor elegante. Alguns diálogos de Cage são antológicos, como certas passagens em volta de Jared Leto são viscerais. O filme tem em resumo uma pegada comercial latente, proporcionada pela leveza que é dada aos eventos retratados e ou pela forma que são apresentados. Com uma trilha sonora composta por pérolas como “For What It’s Worth”, do Buffalo Springfield, que abre essa produção em sua introdução, Niccol lança uma apresentação didática das etapas que uma bala passa da fábrica até o tórax de um alvo.

O Senhor das Armas” é uma engenhosa retratação do sonho americano às avessas. É o desejo de vencer acima da lei e da ordem, se aproveitando das circunstâncias negativas do mundo e das limitações dos órgãos de fiscalização que trabalham para impedir que figuras como Orlov sobrevivam e se proliferem pelo mundo. Esse filme é uma habilidosa reunião de boas sacadas comerciais, diálogos memoráveis que são às vezes resultantes de divagações ou de simples e chocantes estatísticas. Sobretudo, também serve de alerta para certas políticas internacionais que são manipuladas através de sussurrados telefonemas.

Nota:  8/10

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Crítica: Matrix Reloaded | Um Filme dos Irmãos Wachowski (2003)


Algum tempo depois dos eventos ocorridos em “Matrix”, Neo (Keanu Reeves) demonstra que pode realmente ser o tão esperado Escolhido que pode salvar a raça humana de uma eminente extinção. Enquanto isso, a cidade Zion serve de reduto da resistência humana que espera receosa por um inevitável confronto com 250 mil sentinelas e se prepara para guerra.  Neo, Morpheus (Laurence Fishburne) e Trinity (Carrie Anie-Moss) buscam respostas no Oráculo que os aconselham a encontrar o Chaveiro (Randal Duk Kim), refém de um antigo programa chamado Merovíngio (Lambert Wilson) pode ser a salvação esperada. Porem, os constantes sonhos de Neo que retratam a morte de Trinity passam a deixa-lo preocupado e, como se não bastasse, o Agente Smith (Hugo Weaving) retorna da eliminação tão perigoso quanto antes. “Matrix: Reloaded” (The Matrix Reloaded, 2003) é uma produção de sci-fi e ação escrita e dirigida por Lilly e Lana Wachowski. Sequência do fenômeno de crítica e bilheteria intitulado “Matrix”, de 1999, essa produção é o segundo episódio de uma trilogia encerrada com “Matrix: Revolutions”, também de 2003 (o segundo e terceiro episódio foram filmados simultaneamente e lançados com um breve espaço de tempo). Erguido sobre a expectativa de trazer respostas aos fãs, “Matrix: Reloaded” é recheado de mais questionamentos de solução adiada, cenas de ação utópicas e uma descida mais íngreme ao universo de “Matrix”.


Matrix: Reloaded” é entre muitas coisas, a intensificação de muito do que foi visto em “Matrix”. Recheado de inúmeras referências religiosas de diferentes naturezas, cenas de ação frenéticas e muitos efeitos visuais impressionantes, essa produção ganha contornos de exagero em seu enredo para responder perguntas deixadas por seu primeiro episódio e se manter em alta entre os fãs. Porém Lilly e Lana Wachowski apresentam uma proposta mais voltada em desmistificar narrativamente algumas crenças dadas como certas pelo público, ao mesmo tempo em que leva os espectadores a se aprofundar na mitologia criada pelos próprios cineastas. Transitando entre a realidade pós-apocalíptica deixada pelo domínio das máquinas e a mundo virtual da Matrix, o espectador é surpreendido com revelações dadas pelo Oráculo (Gloria Foster); contemplado com o renascimento do Agente Smith (Hugo Weaving) e o surgimento consequente de um arqui-inimigo pelo mesmo; a apresentação de novos personagens de diferentes lados como Merovíngio (Lambert Wilson), o guardião do Oráculo, Seraph (Colin Chou), a capitã Niobe (Jada Pinkett Smith), entre outros mais que desempenham papéis imprescindíveis dentro do enredo. É uma pena que “Matrix: Reloaded” é muito lembrado como uma sequência ruim devido ao fato da superioridade de seu antecessor. Entretanto, seus méritos estão presentes na possível proporção que o tempo permite, sem soluções fáceis ou respostas desconectadas de sua proposta.

Matrix: Reloaded” é uma gratificante viagem na qual o espectador acompanha e divide a cruzada de autoconhecimento e fé proposta ao personagem de Keanu Reeves, ao mesmo tempo em que vê as expectativas em volta de Morpheus (Lawrence Fishburne) sendo rescrita em outras palavras. Na época de seu lançamento, aturdido pelo seu grandioso espetáculo marcial e pirotécnico, além dos efeitos visuais que possibilitaram sua realização, eu acabei tendo a impressão errada do seu resultado. Mas quando o reprisei novamente a pouco tempo atrás com as expectativas mais acertadas, pude perceber melhor o potencial de sua proposta.

Nota:  8/10

sexta-feira, 9 de novembro de 2018