sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Crítica: Olhos Grandes | Um Filme de Tim Burton (2014)


Baseado em fatos reais, “Olhos Grandes” (Big Eyes, 2014) é um drama biográfico estadunidense no qual o espectador acompanha a conturbada trajetória de vida de Margaret Keane, uma talentosa pintora que cujo trabalho artístico foi fraudulentamente reivindicado na década de 50 e 60 por seu marido. Escrito por Scott Alexander e Larry Karaszewski, essa fantástica história de vida foi adaptada para o cinema pelo fenomenal cineasta Tim Burton. Distante da estética marcante que se encontra presente em seus trabalhos anteriores, Burton entrega um filme de aparência convencional, sem contornos fantasiosos, góticos e sombrios comuns em sua vasta filmografia. Escapando da armadilha que armou para si mesmo, Burton mostra com pouco esforço que tem talento de sobra para contar uma história com nível agradável de eficiência sem a necessidade de artifícios visuais ou floreios narrativos mais do que esperados quando se trata de seu trabalho. Em “Olhos Grandes”, além de entregar interpretações fascinantes, também serve como um sólido estudo sobre a repressão do período em que se passa, além de um, dos muitos enganos do mundo da arte. Em sua trama acompanhamos o relato da dona de casa Margareth Keane (Amy Adams), uma mulher que abandona o marido e leva a pequena filha (Delaney Raye) para morar em San Francisco. Sem aptidões profissionais e experiência para o mercado de trabalho, ela consegue um simples emprego de pintura que aproveitava seu talento que antes apenas o exercia como hobbie para garantir o seu sustento. Após algum tempo, ela conhece o carismático pintor Walter Keane (Christoph Waltz), com quem logo se casa. Quando ambos buscam vender seus quadros, para a surpresa deles os quadros pintados por Margareth, onde mostravam crianças com olhos grandes são as obras que se destacam. Mas Walter toma para si a autoria dos quadros e consequentemente o sucesso comercial das pinturas. No entanto, Margareth não podia permitir que essa mentira que se prolongou por muitos anos continuasse em sigilo.


Olhos Grandes” certamente não está entre os trabalhos mais fascinantes da autoria de Tim Burton, todavia, ainda assim tem o seu valor. E não somente por marcar uma mudança de estilo que se mostrava repetitiva aos olhos de muitos espectadores, mas pelo nível de excelência e competência que confere ao trabalho em si. Com uma abordagem menos decorativa e mais objetiva, o cineasta se volta com interesse à necessidade de contar acima de tudo a história de Margareth Keane com alma (cujo aval recebeu da própria artista que hoje possui exatamente 87 anos e se agradou em saber que o filme seria realizado pelo cineasta). Com uma reconstituição de época impecável, seja na direção de arte ou apenas nos figurinos que acomoda com precisão toda a atmosfera da década em que se passam os fatos (que aborda a vida suburbana idílica americana da classe média em contraste com os aspectos do poder do homem sobre a mulher daquela época), a dupla de protagonistas se mostram escolhas certeiras para seus papéis. Enquanto Christoph Waltz continua entregando um desempenho tão fascinante quanto arriscadamente repetido, embora distante de causar desagrado aos seus fãs, Amy Adams tem evoluído a cada papel justificando sua crescente presença nas mais variadas produções de destaque nos últimos anos. Entre obras dramáticas de peso e filmes comerciais que visam lucratividade, a atriz consegue nesse longa-metragem conferir com habilidade matéria aos anseios e sofrimentos da artista de modo fino e afiado. “Olhos Grandes” é um filme simples, consequentemente mediano se comparado aos trabalhos anteriores de seu realizador que não se voluntaria em contar apenas alguns eventos dos bastidores do mundo da arte, mas também de retratar dramaticamente de forma crítica uma política social marcada de abusos que se misturam aos fatos.

Nota:  7/10

6 comentários:

  1. adoro o tim burton. vou ver. depois leio em detalhes. beijos, pedrita

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  2. Também acho que, apesar de não ser espetacular, o filme deve ser valorizado por significar uma mudança de temperamento recente do diretor. Saem as megaproduções cheias de efeitos, entra uma biografia preocupada com assuntos bem terrenos, como a valorização do trabalho da mulher.

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    1. Verdade Gustavo. Aprecio a iniciativa de artistas que buscam escapar das armadilhas estéticas que armam para si próprios. Então quando um realizador ainda assim consegue entregar um bom filme e diferente do costumeiro, eu me sinto na obrigação de pelo menos elogiar.

      Roland Emmerich (figura carimbada sempre ligada a arrasa-quarteirões) quando realizou um filme de época em volta da figura histórica de shakespeare em "Anônimos" (filme de 2011) fiquei bem surpreso em vários aspectos.

      Aqui não é diferente.

      abraço

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  3. Christoph Waltz é foda!
    Este irá para a lista de filmes a ver.
    Ótima resenha.

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    1. Verdade Kleiton. Waltz foi uma das melhores surpresas que o cinema nos mostrou nos últimos anos. Obrigado pela visita.

      abraço

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