Billy (Christina Hendricks) passa por enorme dificuldade financeira como todos na cidade de Lost River. Mãe solteira de dois filhos em uma cidade sem oportunidades, ela é levada a trabalhar em uma casa de espetáculos macabros para quitar suas dívidas e salvar sua casa de uma eminente demolição. Ela deseja preservar sua casa de sua infância e manter sua família unida. A sua margem está seu filho mais velho, Bones (Iain De Caestecker), numa incessante corrida de gato e rato com um degenerado gangster chamado Bully (Matt Smith), por causa de canos de cobre roubados de prédios abandonados que essa tosca figura se diz dono. E por fim, Rats (Saoirse Ronan), uma vizinha que tem um rato de estimação e uma avó tão fantasmagórica quanto possível. Nesse cenário e em meio a esses personagens, alguns mistérios sobre uma misteriosa maldição que assola a região em função da mudança do leito de um rio que acabou por inundar as cidades vizinhas vêm a tomar a atenção de Bones. “Lago Perdido” (Lost River, 2014) é um drama neo-noir que busca combinar horror e mistério em um trabalho escrito e dirigido por Ryan Gosling. Extremamente criticado pelos conceituados formadores de opinião durante sua estreia, o filme foi mal recebido pelo público e vaiado no Festival de Cannes sem perdão durante a subida dos créditos finais. E em partes, a causa dessa odiosa recepção se deve, ainda que tenha contornos até interessantes aos olhos, o resultado desse longa-metragem foi incessantemente comparado a outros filmes consagrados num nivelamento muito mais reduzido do que tolerado por seus apreciadores.
Odeio comparações, mas em se tratando de “Lago Perdido” elas são inevitáveis. Associar esse longa-metragem a filmes de David Lynch, mais especificamente “Cidade dos Sonhos”, de 2001, ou a filmes de Nicolas Winding Refn como “Apenas Deus Perdoa”, de 2013, é muito fácil. Mas infelizmente o trabalho de Ryan Gosling carece de corpo. Sua história até possui um repertório intrigante de elementos interessantes e bem-intencionados, que oscilam entre a sugestão e a ação, mas unidos numa combinação indigesta mal escrita que não leva o espectador a lugar algum. Ryan Gosling se traiu ao conferir a sua estreia na direção os mesmos contornos adotados por Refn, que não possuem um apelo comercial bem-vindo, ainda mais quando extremados como foram nessa produção. Embora lance ao espectador um visual estonteante, repleto de passagens de grande beleza e lirismo, seja nas cores ou nas luzes brilhantemente escolhidas por uma direção de fotografia competente, esse recurso não sustenta a atenção do espectador perante uma infinidade de outras carências (obviamente Gosling apostou na boa recepção da estética de seus trabalhos com Nicolas Winding Refn e se deu mal). Atores de talento considerável, com destaque para Saoirse Ronan, atriz a qual o trabalho eu aprecio muito, mas que mal aproveitados pela história que não detêm uma substância condizente com leito do lago em questão, é outro aspecto que prejudica a experiência que Ryan Gosling busca proporcionar ao espectador. A aparência de cinema arte que se busca evocar nesse longa-metragem se mostra no fim, mais pretensão do que realização. Em resumo, “Lago Perdido” é uma papinha artística difícil de engolir.
Nota: 5/10
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