O cineasta californiano Harmony Korine já não se satisfaz em criar polemica apenas com que escreve. Escritor de filmes como “Kids” de 1995 e “Ken Park” de 2002, ambos dirigidos por Larry Clark, Harmony Korine também tem em seu currículo a direção de alguns filmes de qualidade oscilante que dividem opiniões e que buscam firma-lo com um grande diretor de um cenário autoral inovador. Para sua infelicidade, curiosamente sua figura é quase sempre mais lembrada pelo que ele escreveu do que propriamente pelo que dirigiu em sua carreira. Portanto, sabendo disso talvez seja interessante alertar o espectador de que não espere muito de “Spring Breakers – Garotas Perigosas” (Spring Breakers, 2012) longa-metragem escrito e dirigido por Harmony Korine. O cineasta tenta unir o útil ao agradável (sua habilidade de escrever histórias marcadas de polemica com seu desejo de dirigi-las). Habituado a enfeitar seus longas para assim preenche-los, Korine é um artista que recorre a criação de imagens bem editadas que dão a profusão de sua obra (a estética acima da substância). Em “Spring Breakers”, Korine apresenta lindas e esculturais garotas em vestimentas sumárias, festas psicodélicas regadas a drogas e álcool e um rapper/gângster bem diferente dos personagens mafiosos mostrados pelos clássicos filmes de gângster do passado (como os realizados por Brian De Palma) para criar um filme contemporâneo que explora o fascínio que a vida criminosa exerce sobre algumas pessoas com algo a mais a dizer. Em sua trama acompanhamos quatro colegiais (Vanessa Hughes, Selena Gomez, Ashey Benson e Rachel Korine) que roubam um restaurante para financiar suas férias de verão. Se o plano inicial dá surpreendentemente certo, outros problemas vêm a impedir o total sucesso das férias. Nessa hora entra em cena Alien (James Franco) de sorriso dourado em com uma proposta inesperada que pode ser a salvação das garotas ou uma descida mais rápida ao inferno.
Mais acessível do que os filmes anteriores de Korine, “Spring Breakers – Garotas Perigosas” dissecado com cuidado esconde qualidades. Em sua inspiração comum, onde há uma representação interessante da glamorização do poder oriundo da criminalidade que fascina algumas pessoas, principalmente aquelas com uma séria crise de identidade própria num mundo de artificialidades necessárias. Sua estética viva, em cores e na musicalidade que desforra a narrativa também é outro ponto positivo desse longa-metragem. Situações corriqueiras de um belo pôr-do-sol ganham contornos de grande beleza pela câmera de Korine, como as festas oníricas acompanhadas com flashes em câmera lenta que ditam o ritmo da devassidão que sucedem o crepúsculo. O representativo elenco feminino (aonde Vanessa Hughes e Selena Gomez vão dando adeus à imagem das princesinhas da Disney que elas representavam a longos anos), além das poucas conhecidas Ashey Benson e Rachel Korine (a segunda esposa do diretor) se mostram de grande acerto a essa produção. Como também há uma interessante interpretação do ator James Franco em sua materialização de um mafioso excêntrico em aparência, amedrontador em sua postura. Bom de lábia, seu mundo abrilhantado seduz e convence como na referencial situação aonde meninas de interior vão a cidade grande tentar a sorte e atraem magneticamente os mal-intencionados. Repleto de situações clichês que ganham uma sobrevida pela forma que foram filmadas, “Spring Breakers – Garotas Perigosas” não é mais do que parecia ser. Mas também não é a mesma coisa que todo mundo achou (para quem viu os cartazes de divulgação com garotas seminuas e trailers carregado de alucinados excessos de uma juventude descompromissada) sendo que mostra, ainda que sutilmente algo mais.
Nota: 6,5/10
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