Jorge (Quim Gutiérrez) é filho de um zelador de prédio, que após seu pai sofrer um AVC se obriga a assumir a função profissional de seu pai ao mesmo tempo em que cuida dele. Pobre e com ambições profissionais bem maiores, Jorge sonha com uma ascensão social que justifique sua dedicação aos estudos e a sua formação universitária. O terno azul ao qual não tem condições de comprar simboliza indiretamente o ódio que tem de sua atual condição: desde a manifestação da doença do pai ele se sente incapacitado pelas circunstâncias. Com uma autoestima baixa, vive em conflito com a namorada de infância, quando não, chocado com o amigo de duvidosa preferencia sexual. Mas quando seu irmão presidiário e estéril pede para que ele engravide sua namorada (Marta Etura) dentro de uma prisão mista, Jorge consegue ver inesperadamente (o que começou sendo apenas sexo com um propósito específico, acaba por se tornar uma paixão) uma nova razão para continuar vivendo. “Azul Escuro Quase Preto” (Azul Ozcuro Casi Negro, 2006) é uma tragicomédia dirigida pelo cineasta espanhol Daniel Sánchez Arévalo que remete a lembrança aos trabalhos do cineasta Pedro Almodóvar. Com o destino de vários personagens que se interligam com os percalços do protagonista, Arévalo cria uma realização divertida, com interpretações tocantes e uma belíssima direção de fotografia (que muito bem se conecta ao “azul” do título) através de um romance incomum e envolvente carregado de energia.
Através de uma trama sem reviravoltas, mas provida de um carisma acentuado, essa produção ganha o espectador pelos personagens humanos que apresenta. Com um enredo que busca instaurar reflexão no espectador (o desejo de um jovem em mudar de vida diante de inúmeras dificuldades), Daniel Sánchez Arévalo desenvolve uma trama contemporânea provida de sensibilidade e de um implacável realismo. Tendo um competente elenco a sua disposição, onde surpreendentemente Quim Gutiérrez faz a sua estreia na telona através desse longa, ele se mostra uma promissora opção para o futuro em propostas dramáticas feito essa. Com uma boa ambientação (as cenas do presídio funcionam sem apelar para clichês batidos), o conjunto técnico está repleto de expressivos acertos, que vão da sutil trilha sonora, a direção de fotografia que enfatiza o tom sombrio e tenso que permeia a vida dos personagens da trama, ao mesmo tempo em que embeleza a película. “Azul Escuro Quase Preto” retrata de modo interessante a possível insatisfação que naturalmente possamos ter de nossas vidas, originárias de frustrações inesperadas, ou desencadeadas da inevitável rotina desgastante do cotidiano. Apesar de o desfecho ser inferior ao desenvolvimento da trama, essa produção traz uma mensagem de esperança emblemática em tons sóbrios sem exageros, e acima de tudo, através de uma proposta avessa a colorir a vida em tonalidades fantasiosas.
Nota: 7,5/10
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Também me lembrei de Almodóvar quando assisti. Acho que é exatamente pela palavra que você usou "tragicômico". É um belo filme com um final surpreendente.
ResponderExcluirParticularmente gostei mais do desenvolvimento, do que propriamente do que do final. Embora tanto um quanto o outro são experiências válidas considerando a harmonia do conjunto.
Excluirabraço Lidiana