sexta-feira, 5 de abril de 2013

Crítica: Moonrise Kingdom | Um Filme de Wes Anderson (2012)


É fantástico como certos diretores conseguem naturalmente extrair de pequenas histórias, obras tão delicadas e providas de tanta simpatia; como são capazes de levar aos olhos dos espectadores toda magia do cinema sem comprometer a estética ou a substância; conseguem criar um estilo próprio sem promover atropelos que podem dilacerar seus trabalhos e descaracterizá-los narrativamente; e como, acima de tudo, conseguem imprimir uma marca em seus trabalhos com tamanha precisão diferenciando-se dos demais membros de sua categoria com tanta naturalidade. O cineasta norte-americano oriundo do Texas chamado Wes Anderson faz parte desse seleto grupo de realizadores de capacidade singular. Em "Moorise Kingdom" (Moorise Kingdom, 2012) Anderson transpõe para telona mais um belíssimo exemplar em sua já brilhante filmografia onde apresenta um doce amor adolescente em meio aos desencontros familiares e balanços da vida. Uma obra repleta de detalhes, construída minuciosamente, o cineasta talvez tenha através desse longa obtido seu melhor resultado dentre vários projetos bem realizados. De difícil encaixe em gêneros definidos, pois flerta com humor, romance carregado de dramaticidade, quando não se confunde com uma fábula fantástica, seu enredo condiz com sua estrutura, e Anderson constrói um universo particular, aventureiro e cheio de surpresas.

Sua história se passa em pleno anos 60, nos arredores de uma pequena ilha localizada na costa da Nova Inglaterra, em New Penzace. Em sua singela trama acompanhamos Sam (Jared Gilman) e Suzy (Kara Hayward) os quais sentem-se constantemente deslocados em meio as pessoas com quem convivem. Enquanto Suzy é vista como a ovelha negra da família, o jovem Sam, órfão e adotado por pais que não fazem questão de sua companhia, tem constantes atritos e desavenças com seus colegas do grupo "Escoteiro Caqui da América do Norte". Após se conhecerem de forma inesperada em uma peça teatral da igreja na qual Suzy estava atuando, eles passam a trocar correspondências regularmente sem ninguém saber. Certo dia, Sam coloca em operação um plano de fuga e resolvem deixar tudo para trás para fugirem juntos. O que não esperavam era que os pais de Suzy (Bill Murray e Frances McDormand), o capitão Sharp (Bruce Willis) e o escoteiro-chefe Ward (Edward Norton) elaborassem uma missão de resgate quase que militarizada para reencontrá-los.

Sua história requer, em vista pelo resultado, desse e de outros de seus trabalhos, um certo desapego com a realidade como conhecemos ou esperamos que seja. Anderson, um especialista na criação de um universo próprio desenvolve suas histórias oscilando entre o crível e o nonsense, mas sem perder a mão do negócio. A climatização tem toques de excentricidades autorais que até podem causar estranheza aos menos familiarizados com o seu trabalho, mas que mesmo assim não comprometem o resultado, e ao contrário, apenas enriquecem a experiência que são seus filmes. O diretor co-escreveu o roteiro com Roman Coppola (com quem também trabalhou em O Fantástico Sr. Raposo) criando uma história focada em premissa no primeiro romance da juventude - sensível, inocente e nostálgica como deve ser. Porém, aqueles personagens que compõem o grupo de salvamento, são um espetáculo a parte do grande show protagonizado pelo casal de apaixonados. Todo o elenco está ótimo sem exceção nenhuma. E muito disso, devido ao estilo narrativo de Wes Anderson que consegue extrair interpretações brilhantes do já conceituado elenco de astros e estrelas que perambulam por sua obra. Ainda mais apoiado por uma estrutura técnica estilosa e criativa, expressa por uma fotografia brilhante e uma trilha sonora nostálgica, "Moonrise Kingdom" talvez seja o ápice do talento de um artista feito Wes Anderson. Apesar de outras belas realizações, essa produção é a que mais completa seu estilo e materializa seu talento. Contudo, por outro lado, espero estar errado quanto a isso, e ainda ser surpreendido muitas outras vezes com outros trabalhos tão fabulosos quanto esse. 

Nota: 8,5/10

      

2 comentários:

  1. Esse foi o primeiro filme que assisti desse diretor e fiquei meio perdido já não sabia oque esperar. Mas foi até legal ver o muleque sendo atingido por raio '-'

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    1. Veja "O Grande Hotel Budapeste" (um recente lançamento do cineasta) e descubra um de seus melhores filmes. Assisti recentemente e adorei.

      abraço

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