Esse é um filme estranho. Sim, estranho, caso você não esteja familiarizado com o trabalho d o cineasta David Cronenberg. Talvez seja o longa mais estranho de sua autoria. Talvez... Enquanto inúmeros cineastas buscam ideias iluminadas sobre a essência oscilante dos novos tempos, Cronenberg dá um espetáculo quase predominantemente teatral apresentado na forma de "Cosmópolis" (Cosmopolis, 2012), um raio X da inevitável e volátil transformação do século XXI que passa desapercebida aos olhos e aos sentidos da massa. Porém, a missão tão pretensiosa tem como consequência, um resultado de difícil interpretação, que naturalmente desencadeia uma inevitável estranheza e desconforto. Baseado no livro de Don LeLillo, a profusão das ideias da obra literária, caracterizadas para película por Cronenberg de forma singular, somente tem efeito, justamente por serem transpostas de forma estranha. Um universo de informações, imagens, simbologias e personagens que margeiam o protagonista dessa trama erguida sobre o caos torna quase impossível a absorção total das ideias apresentadas em apenas uma exibição tamanha a quantia de material subliminar exposto. Na trama, conhecemos Erick Parker (Robert Pattinson) um bilionário de apenas 28 anos, que atravessa a cidade em meio a protestos anarquistas em busca de um corte de cabelo. Nessa viagem de destino e trajeto surreal, Erick passa por um processo de descobertas no interior de sua limousine que também lhe serve como quartel general, que irão lhe trazer revelações sobre a vida e a sociedade nunca imaginadas.
Com o protagonista dividindo sua atenção com uma infinidade de personagens diferentes, um a um, de sua recém esposa (Sarah Gadoh) a um reacionário ex-colaborador (Paul Giamantti), essa interação rendem diálogos fascinantes tanto em sua estrutura, como em sua profundidade. Apresentado através de uma narrativa quase teatral, delirante e repleta de divagações recheadas de críticas, observações e humor negro, e as vezes inclusive cínico, acentua todo o brilhantismo dessa obra cinematográfica. Também demonstra o quanto Cronenberg ainda tem se aperfeiçoado apesar da extensa carreira. Enquanto vários cineastas tentam fugir do convencional para dar uma roupagem inovadora a seus projetos, "Cosmópolis" luta para ser de certa forma normal, como em passagens quando Erick reivindica um papo casual com sua esposa, ou quando rola uma conversa nostálgica no barbeiro que acaba ganhando contornos sinistros de difícil contextualização. Tecnicamente bem realizado, sua estrutura visual é riquíssima. Num enredo onde o material e o imaterial se confundem, a lógica e a emoção se mesclam, o sensato e o imoral não tem barreiras, ironicamente a limousine de nosso protagonista acaba por ganhar contornos de coadjuvante nessa densa trama de forma extraordinária. "Cosmópolis" pode dividir opiniões, o que até pode ser justificável desde que o espectador tenha consciência, de que esse longa não é ruim, talvez seja somente estranho e com certeza diferente de tudo o que estamos habituados a ver.
Nota: 7,5/10
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