quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Crítica: Prometheus | Um Filme de Ridley Scott (2012)


Cerca de 33 anos depois da primeira aparição da criatura que virou uma referência na ficção científica através do filme “Alien – O Oitavo Passageiro” (1979), um marco que principiou a carreira de sucesso do cineasta Ridley Scott, outros três filmes surgiram com o decorrer do tempo, porém naturalmente realizados por diferentes diretores. Além disso, mais tarde houve o lançamento de mais dois longa-metragens (Aliens vs Predador, 1 e 2) onde os famosos Aliens dividiam os créditos com outro intrigante personagem vindo do espaço que por sua vez virou ícone da cultura pop que surgiu na década de 80 chamado “Predador” (1987). Mas que nunca impuseram respeito ao clássico de 1979 dirigido por Scott, que em sua trama acompanha a nave cargueira Nostromo que caiu numa cilada ao prestar resgate a um sinal de socorro. Por fim, uma criatura nunca antes vista se inseriu nas dependências da nave dizimando toda tripulação até o desfecho que culminou em um confronto mortal com a Tenente Ellen Ripley (Sigourney Weaver). 

"Prometheus" (Prometheus, 2012) é materialização de um sonho de fãs e admiradores do personagem. Era a chance de fazer esclarecimentos de pendencias que se arrastavam desde o primeiro filme, ao mesmo tempo em que se teria a oportunidade de ressuscitar a franquia de forma gloriosa através da criação de novos questionamentos depois de muitas escorregadas que o personagem sofrera devido à incompetência de Hollywood. Era. O filme “Alien 3” (1992) talvez tenha sido uma das maiores pisadas de bola que os produtores poderiam realizar, que inclusive hoje, o diretor David Fincher – responsável pela direção – renega veemente,  tamanha sua insatisfação quanto ao resultado final. Contudo, ainda que a produção tenha caprichado rigorosamente numa ambientação adequada, a tentativa de se tornar relevante dentro do universo Alien pode de certo modo frustrar os fãs. Sua ligação com o personagem, apesar de inegavelmente presente, se apresenta tão sutil que quase inexiste. E justamente por ter sido vendida como um filme da franquia, obviamente se espera que remeta de forma mais explicita a ela, não se limitando apenas ao DNA herdado. A história começa pela descoberta de algumas marcas gravadas no interior de uma caverna, apresentando indícios da passagem de uma civilização desconhecida na Ilha de Skye, localizada ao norte da Escócia, no ano de 2089. A cientista Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) e Charlie Holloway (Logan Marshall-Green), supõem que não se trata apenas de vestígios de uma civilização extinta desconhecida, mas possivelmente marcas de ancestrais extraterrestres da raça humana. Já no espaço, no ano de 2093, numa extraordinária missão de descoberta pelas origens da raça humana, o androide David (Michael Fassbender) desperta a tripulação da nave Prometheus pouco antes de chegar ao seu destino. Aos poucos Meredith Vickers (Charlize Theron), representante da empresa que financiou essa expedição, vai familiarizando os tripulantes da nave quanto ao objetivo da missão. Porém o que ninguém imaginava era que o mapa na caverna deixado pelos visitantes até o tão famigerado destino, não apenas os levaria a descoberta de respostas para a origem da vida, mas também ao encontro da morte.

Esse longa não é somente a retomada da franquia Alien, mas o retorno do cineasta responsável por faze-la figurar entre umas das mais impressionantes da história do cinema. Entretanto, mesmo depois de tantos anos distante dessa franquia, o visual não se distância expressivamente dos filmes anteriores. Com vários designers de confiança de Scott trabalhando a toda para criar uma estética visual inédita, o resultado foi um imenso catálogo de tudo que seria apresentado na película (roupas, objetos, estrutura da nave, veículos) para dar a acentuação perfeita ao roteiro de Jon Spaihts (A Hora da Escuridão) e Damon Lindelof (série Lost) na pré-produção. Tudo pronto e mãos a obra. Em meio a muita ansiedade pelo lançamento do filme, alguns vídeos virais iam sendo disponibilizados na rede, como aquele que o personagem de Guy Pearce aparece discursando sobre tecnologia ao citar T.E. Lawrence diante de uma multidão, ou quando o androide David (Fassbender) aparece em um comercial fictício apresentando suas habilidades. De fato, com o filme finalmente pronto o sentimento de ansiedade dos fãs foi substituído por frustração ao verem um filme diferente de suas expectativas. Alien? Onde? Contudo, o maior problema dessa produção não resida apenas na pouca presença de tela de um personagem, mas no roteiro que apesar de bem intencionado, torna-se pouco enfático no que ele se propõe. Está superficial e confuso demais na questão de explicar pontos relevantes da história do personagem, repleto de diálogos sem impacto e cenas clichês completamente desnecessárias deixando os grandes momentos a cargo das cenas de ação muitas vezes previsíveis que infelizmente deixam a desejar. Situações conveniadas como quando a nave Prometheus encontrou o destino exato da expedição sem sequer um esboço de planejamento. E se a produção contava com a mesma sorte para alcançar seus objetivos, não conseguiu ser mais feliz. 

No entanto o elenco encabeçado por Noomi Rapace supera as expectativas equilibrando a balança do descrédito. Uma atriz que remete a lembrança de uma Sigourney Weaver facialmente parecida – igualmente forte e presente na película. Até na primeira metade do filme tem os contornos necessários de uma cientista e arqueóloga, mas devido às circunstâncias extraordinárias passa a se assemelhar consequentemente ao mais intenso vínculo humano do personagem alienígena. Mas se Rapace está ótima em seu papel transbordando talento em sua interpretação, somente não supera a de Michael Fassbender em seu papel andrógeno ao qual se armou com uma postura por vezes dissimulada que lhe dá certo requinte numa transposição complicada. Certamente que vem dele as melhores falas que a pobre argumentação apresenta ao mesmo tempo em que protagoniza uma das cenas mais incompreensíveis do roteiro, como quando envenenou Logan Marshall-Green propositalmente. Seria como se eu tomasse gasolina. Certamente seria hospitalizado, com sorte teria uma dor barriga horrenda, mas se colocasse no tanque do meu carro eu poderia dirigir uns 12 quilômetros. Um exame laboratorial seria mais sensato para desvendar a real serventia do conteúdo do recipiente que ele coletou em uma das primeiras incursões ao interior da pirâmide dos humanoides. O restante do elenco oscila numa trama em que Charlize Theron deixa de ser o foco das atenções, e é reduzida a um papel burocrático. Guy Pearce está irreconhecível sob tanta maquiagem que não lhe faz justiça. O restante do elenco cumpre seu papel, que desde o início estava certo de acontecer, aonde vão morrendo aos poucos através de um clichê que Scott já soube aproveitar antes de forma mais convincente. Entre mutações genéticas absurdas que beiram o “trash”, e medidas desesperadas de um piloto camicase, essas situações estão na composição desse longa que tinha tudo para fugir justamente do rumo que tomou. 

Por fim, o apuro visual adotado pela produção – pura excelência tecnológica – foi aos poucos se perdendo pela falta de ajuste do roteiro, que tenta pretensiosamente surpreender o espectador com revelações bombásticas sobre a origem da vida, entre outras coisas, ao se armar com clichês de filmes de ação nada empolgantes – não há uma sequência sequer que justifique sua existência. Uma abordagem mais cerebral e menos comercial teria sido uma solução melhor aproveitada materialmente. Entretanto, o personagem “Alien” virou um produto comercialmente popular, e consequentemente “Prometheus” segue a mesma linha focada no entretenimento seguro. Mas com isso, perdeu-se muito do potencial que a premissa que foi difundida nos canais de informação – tratava-se sobre um filme sobre a origem dos Aliens – com soluções nada cativantes e por vezes confusas, que apenas se salvam pelo desfecho final – interessante, apesar de previsível – que é um prato cheio para quem terminou de ver a fita querendo bis.

Mesmo que “Prometheus” não seja tudo que se esperava, o fato de termos Ridley Scott no comando já é razão de comemoração por parte dos fãs da saga Alien. O cineasta praticamente definiu o gênero ficção científica por seus trabalhos – “Alien – O Oitavo Passageiro” e “Blade Runner”. Obviamente não atendeu a expectativa da maioria, porém mesmo repleto de equívocos tem as suas qualidades. Um número menor do que se permite, devo dizer. Mas nem tudo nessa experiência cinematográfica procedeu como se esperava, descartando a ousadia de fazer algo memorável em prol do entretenimento convencional. Como em certa passagem do filme, quando Elizabeth Shaw explica aos demais tripulantes da nave sobre o objetivo dessa expedição, que é a descoberta da origem da raça humana, muita gente torceu o nariz. Um dos intrépidos membros da tripulação caçoa, ao questionar a veracidade da afirmação. “Querem que a gente descarte milhares de anos de Darwinismo porque vocês encontraram algumas pinturas na parede de cavernas”. Bem que o diretor Ridley Scott tentou!

Nota: 6,5/10

2 comentários:

  1. Respostas
    1. É inegável que Scott teve uma carreira bem oscilante, repleta de inegáveis sucessos e retumbantes fracassos. Essa produção infelizmente faz parte da segunda categoria... infelizmente.

      abraço

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