sexta-feira, 4 de maio de 2012

Crítica: O Homem Duplo | Um Filme de Richard Linklater (2006)


O filme "O Homem Duplo" (A Scanner Darkly, 2006), foi a segunda incursão do diretor Richard Linklater no universo perfeccionista da animação, e uma evolução em comparação ao seu trabalho feito em “Waking Life, 2001”. Tanto um quanto o outro, foram realizados a partir de um processo chamado “Rotoscopia Interpolada”, onde a ação filmada dos atores reais passa por um processo de animação. O filme é uma adaptação do romance de ficção científica “A Scanner Darkly”, de Philip K. Dick, onde retrata o efeito das drogas sobre a natureza humana e como ela sistematicamente é aplicada pelo governo como ferramenta de manipulação da massa. 

O ator Keanu Reeves interpreta um agente disfarçado, que se infiltra no submundo da sociedade, a fim de combater a disseminação das drogas nas ruas. Nessa empreitada, Reeves acaba conhecendo personagens comuns e extraordinários, cheios de nebulosidades sobre a cabeça, como os interpretados por Woody Harrelson e Robert Downey Jr., que estão fortemente inseridos no submundo das drogas. O problema que Reeves, sendo usuário de drogas intenso para autenticar seu disfarce, passa a ficar confuso e perdido quanto as suas responsabilidades, e por vezes, paranoico quando a droga torna a ter domínio sobre suas ações e decisões. O filme tem uma narrativa sofisticada, atribuída pelo efeito da animação, com tom de alerta prioritário sobre o poder das drogas e seus efeitos nocivos sobre o homem, retratando o alcance da tragédia que seu consumo pode causar. Porém, o mundo não é retratado somente em tom de tragédia o tempo todo, como por exemplo, na negociata de Harrelson na compra de uma bicicleta de 18 marchas, adquirida por uma pechincha de um garoto, que desmorona pela intervenção de seus colegas dependentes e chapados. Sua viagem é hilária e cômica as avessas como poucas já interpretadas nas telonas. 

Com uma produção cheia de problemas técnicos, atrasos de produção, demissões e reajustes de datação da estréia, Richard Linklater fez um adaptação literária de uma obra lisérgica bastante inovadora. Mesmo adaptado para a época atual, todas as paranoias futuristas da obra estão pulverizadas no enredo sutilmente, não renegando suas origens que desencadearia uma fúria dos fãs do autor. Mesmo sendo uma animação – mais sofisticada do que aplicada em "Waking Life" – sua ambientação é bem suburbana, dando um toque de realismo ao enredo pela familiaridade, e acima de tudo, os atores estão totalmente reconhecíveis, justificando as dificuldades de animação sobre o live action. Um trabalho árduo que envolve centenas de profissionais com um objetivo comum.


Por fim, com uma história de ficção científica conceituada, o diretor Richard Linklater, autor de filmes tão desiguais quanto "Jovens, Loucos e Rebeldes", "Antes do Amanhecer" e "Escola de Rock"; criou uma obra inovadora, de ritmo lento que cresce lentamente e cativa o espectador, no entanto, sem chances de agradar a um publico que não simpatiza ou carisma com a arte de animação, independentemente da seriedade do projeto. 


Nota: 7,5/10

2 comentários:

  1. Achei esse filme bastante interessante. Mas eu não curti muito.
    A identidade do Hank tava meio obvia, poucos personagens e só um com
    a mesma altura '-'

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    1. Particularmente gostei muito, mas um pouco é porque gosto muito dos filmes dirigidos por Richard Linklater. Sem mencionar que sua estética se mostra bem diferente dos filmes que costumo assistir.

      abraço

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