quinta-feira, 25 de abril de 2019

Crítica: Com Amor, Van Gogh | Um Filme de Dorota Kobiela e Hugh Welchman (2017)


O ano é 1891. Um ano após a morte de Vincent Van Gogh, o jovem Armand Roulin, filho do carteiro Joseph Roulin, fica incumbido de levar uma carta de Van Gogh ao irmão, Theo Van Gogh antes de morrer. Essa carta nunca conseguia chegar ao destinatário e permaneceu esquecida até que Joseph tomou a iniciativa de entregar a carta por outros meios. Porém ao chegar a cidade, Armand descobre que Theo também havia morrido algum tempo depois de Vincent, onde o paradeiro da viúva se mantinha desconhecido. No entanto, há rumores que Doutor Gachet, o antigo médico de Vincent pode saber o seu paradeiro, embora Armand irá precisar esperar alguns dias antes de poder falar com ele. Nessa espera, Armand passa a conhecer as pessoas que conviveram com o artista alguns meses antes de sua morte, e traça um panorama de sua interessante figura e as hipóteses em volta de seu inexplicável suicídio. “Com Amor, Van Gogh” (Loving Vincent, 2017) é uma produção de animação biográfica britânica e polonesa escrita por Jacek Dehnel e pelo casal de diretores. Ganhando vários prêmios internacionais em diferentes festivais pelo mundo, incluindo uma merecida indicação ao Oscar de Melhor Animação na Cerimônia do Oscar 2018, esse filme entra para a história por uma série de peculiaridades impressas em sua forma e essência.

Com Amor, Van Gogh” é uma belíssima animação que se tornou o primeiro longa-metragem feito inteiramente com pinturas a óleo. Com a colaboração de mais 100 artistas que produziram 853 pinturas a óleo elaboradas com o estilo de pintura de Van Gogh (o filme tem exatamente 853 tomadas diferentes) e que geraram necessariamente cerca de 65 mil movie frames (quadros), o casal Dorota Kobiela e Hugh Welchman criam uma animação que conta com muita originalidade um pouco da história da vida do famoso artista Vincent Van Gogh. O filme gravado em live-action e recoberto com o trabalho de arte dos artistas faz dessa animação algo tão ousado quanto belo. Foram cerca de 6 anos para concretizar essa animação. Um desafio proporcionado pelos moldes de sua proposta e superado pelo comprometimento dos envolvidos. A animação além de ser belíssima, também agrega uma forte ligação do artista com outros elementos de sua vida. Isso não é expresso somente no visual adotado pela animação, mas em vários elementos apresentados no enredo. O forte vínculo do artista com o seu irmão e a importância de seu costumeiro hábito de escrever cartas são questões chaves da vida do artista que foi agregado ao enredo com a devida competência. Outro aspecto importante da trama é a forma como sua vida é descrita nessa animação, onde os fatos sobre a vida de Van Gogh, alguns de conhecimento comum e outros não, são amarrados a uma espécie de investigação policial particular conduzida pelo personagem de Armand Roulin. Esse aspecto, além de não lhe conferir um tedioso desenvolvimento documental e didático para o filme, esse artifício lhe confere uma atmosfera tão original e inesperada quanto a sua diferenciada aparência.

Vincent Van Gogh (1853-1890) foi um importante pintor holandês que se tornou um dos maiores representantes da pintura pós-impressionista. Embora essa animação toque em vários momentos importantes de sua vida (como na época em que cortou sua orelha e entregou em mãos de uma amante de um cabaré da cidade) como a retratação da metódica busca do artista para atingir a excelência, o enredo proporciona um destaque primoroso ao pequeno período em que residiu na região de Auvers. Um período dos mais curiosos dessa produção, pois detalham de forma pessoal a personalidade do artista bipolar que foi Van Gogh. Se os primeiros minutos de “Com Amor, Van Gogh” possam parecer um pouco desgastantes, onde o espectador precisa se acostumar com o visual nervoso da animação que enche os olhos a cada segundo, pouco tempo depois é possível estar acostumado com a estética e notar as enormes qualidades que estão impressas nessa animação.  Com Amor, Van Gogh” proporciona um ligeiro relato lírico que traça um perfil original do artista, além de ser uma delicada homenagem a um homem que estava obstinado em provar para mundo que ele era e podia fazer muito mais do que olhos das pessoas podiam ver.

Nota:  8/10

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