Não é possível estar no auge o tempo todo. Ainda mais quando se trata de um artista cujo trabalho já atravessa décadas. É inevitável que todo grande cineasta tenha ao decorrer de sua carreira, no currículo, entre as obras icônicas que são incessantemente relembradas por fãs ou exploradores afortunados, não é nada incomum que tenha alguns filmes menores. Filmes de proposta agradável e resultado mediano, que não caem em desgraça ao mesmo tempo em que não alcançam o céu. Filmes de valor limitado para a maioria, mas de grande importância na lapidação de um grande realizador. “Celebridades” (Celebrity, 1998) é uma comédia dramática escrita e dirigida pelo cineasta nova iorquino Woody Allen que possui essas características. De cara e corpo independente (embora estampe nos créditos grandes nomes no elenco, o longa-metragem foi todo filmado em preto e branco), “Celebridades” materializa através do olhar atento e do humor ácido de seu realizador o universo dos bastidores de pessoas que buscam sair do anonimato e virar uma celebridade. Sonho este cheio de obstáculos às vezes quase insuperáveis. Em sua trama acompanhamos Lee (Kenneth Branagh), um típico repórter de celebridades que busca seu lugar ao sol entre elas. Cheio de contatos promissores que a seu ver são mais do que necessários para se alcançar seus objetivos e uma decorrente aspiração de ser um escritor e roteirista de cinema, ele ao poucos percebe a cruel ironia do destino quando passa a ser confrontado com algumas estranhas figuras que estão no mesmo barco que ele, enquanto sua ex-esposa, a qual recém se separou vai conquistando o mundo.
Distante de ser um dos melhores filmes de Woody Allen, se observado com atenção “Celebridades” tem o seu valor. Trata-se de um longa-metragem de trama simplista que transparece o estilo de seu realizador, onde a envolvente complexidade desse trabalho reside na figura dos personagens e não necessariamente na trama que se desenvolve ao redor deles. Além do mais, os personagens ligeiramente clichês (Brandon Darrow numa quebra de quarto de hotel que parece ter saído do longa-metragem “Medo e Delírio”) ganham preciosíssimos pontos pelas interpretações bem entregues pelos grandes nomes do elenco (Kenneth Branagh, Winona Ryder, Melanie Griffith, Judy Davis, Joe Mantegna, Charlize Theron, Leonardo Di Caprio, entre outros). O destaque fica por conta de Kenneth Branagh, que interpreta o alter-ego do diretor de modo explícito, inclusive em seus conhecidos trejeitos. Woody Allen materializa sem conferir nenhum aspecto audacioso ao desenvolvimento, mas de modo carismático e fluente em algumas nuances dos altos e baixos da fama e da fortuna que se lida no universo das celebridades. Com muito humor, em doses ácidas dependendo da passagem, essa produção apresenta um resultado positivo em relação a certas reflexões e circunstancialmente divertido. Por fim, “Celebridades” não é extraordinário igual a outros filmes de seu realizador. Mas tem o seu estilo, o que basta para agradar o espectador consciente e desavisado de sua autoria, e além do mais, ainda que se trate de um filme mais antigo, muito do que se passa na película tem muito com o nosso tempo presente. Vale assistir, seja pelas brilhantes intepretações ou pela belíssima direção de fotografia adotada para produção (desprovida de cores) num mundo cada vez mais pintado de forma colorida.
Nota: 7/10
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