Logo após o prólogo de "Os Descendentes" (The Descendants, 2011) essa produção indie estadunidense já havia conseguido me conquistar, quando o ator George Clooney em uma narração em off esclarece um engano corriqueiro à respeito de pessoas que moram em uma cidade litorânea: não é porque um cidadão resida em uma cidade litorânea paradisíaca, que passa o dia todo, o ano inteiro em cima de uma prancha de surf curtindo a vida como se não tivesse compromissos e responsabilidades a cumprir. Segundo o ator, as responsabilidades existem, e necessitam de tanta atenção quanto às belas paisagens que cercam as pessoas. E ele deixa crer, que isso vale para qualquer parte do mundo, faça frio ou calor. Esse esclarecimento sobre a ambientação deixa claro, que no Havaí todo mundo usa chinelo e camiseta, mesmo que esteja em uma reunião de negócios. A cultura local permite isso ao mesmo tempo em que cobra de seu cidadão responsabilidade. Portanto, não é a roupa que faz o homem, mas unicamente seu caráter. Seu comprometimento não é medido por sua aparência, mas por sua postura diante das adversidades. O roteiro de Alexander Payne, Jim Rash e Nat Faxon me ganhou fácil na introdução dessa moral, e meu gosto pela obra somente foi reforçado ao ouvir a belíssima trilha sonora, com canções havaianas que acentuaram toda a ação dramática dessa produção que foi vista como o azarão do Oscar 2012.
Na história desse longa acompanhamos o ator George Clooney interpretando Matt King, um advogado e também um dos descendentes que dá título à produção ambientada no exótico Havaí. Matt e seus primos são herdeiros de milhares de acres de terras havaianas, que estão prestes a serem vendidas em uma negociação imobiliária milionária. No entanto, as vésperas do fechamento do negócio, a esposa dele sofre um acidente náutico que a deixa destinada a uma indeterminada situação de coma que provavelmente jamais se reverterá. A partir daí, Matt passa a se reaproximar de suas filhas e a reavaliar sua história. A sensação de ter sido um pai horrível começa a tocá-lo asperamente. O que já se apresentava lentamente perturbadora, piora quando ele descobre que sua esposa mantinha um caso de adultério debaixo de seu nariz, refletindo aos poucos de como sua vida estava desmoronando sem ele perceber. A decisão inevitável da eutanásia era dolorosa agora, por não poder cobrar explicações e justificativas. O desejo de voltar no tempo e fazer tudo de forma diferente toma sua mente, na esperança de corrigir seus erros que motivaram sua esposa a querer deixá-lo. Assim diante das circunstâncias começa reavaliar o rumo de seu futuro e de seu passado.
A composição de certos elementos do longa começa a se juntar, onde Matt e suas duas filhas, Scottie (Amara Miller) e Alex (Shailene Woodley) passam a criar com dificuldade uma relação familiar novamente. Sob essas circunstâncias estranhas – Matt e suas filhas passam a investigar a identidade do parceiro adúltero – os personagens superam as dificuldades e as barreiras aprendendo a se relacionar, como nunca antes haviam feito, emocionando e nos fazendo refletir sobre várias questões relevantes sobre a vida e os tombos que ela nos pode causar. Dramas familiares bem comuns abordados de forma sensível e de uma profundidade impressionante. O foco do roteiro se alterna bem entre a situação da esposa que aguarda o desligamento dos aparelhos que ainda a mantém viva, ao andamento da investigação particular, até a dolorosa sequência da despedida definitiva da família.
Tudo sempre com passagens bem colocadas sobre a transação imobiliária que apresenta uma reviravolta resultante dos ensinamentos e reflexões obtidas recentemente por Clooney. O ator George Clooney leva sensibilidade a seu papel, demonstrando cada vez mais seu talento para personagens carregados de drama - o fazendo merecedor da indicação ao Oscar - quase deixando a direção de Alexander Payne imperceptível pelo andamento da trama, que toca em assuntos relacionados a dinheiro, responsabilidade, culpa de forma sutil, com um toque de humor eficiente que não compromete a dramaticidade da história. E se o trabalho de Clooney demostra vigor, o de Payne funciona redondo, é porque todo o elenco de apoio dá um show ao mesmo tempo. Por isso, calce os chinelos, sente-se no sofá e curta "Os Descendentes" bem relaxado. Seus problemas não irão desaparecer, mas se serve de consolo, você verá que todo mundo tem problemas e dificuldades, até mesmo morando em um paraíso tropical como o Havaí.
Nota: 7,5/10
Gosto do cinema de Alexander Payne, seus filmes contam histórias que aparentemente são simples, mas que no fundo representam verdades da sociedade, sempre amparadas por personagens bem próximos da realidade.
ResponderExcluirAcho que é o único filme que assisti dele. Mas fiquei com uma excelente impressão.
Excluirabraço
Adorei esse filme e me arrependi por ter demorando a vê-lo!
ResponderExcluirIdem Kleiton! É muito bom mesmo.
Excluirabraço