quinta-feira, 30 de maio de 2013

Crítica: Não por Acaso | Um Filme de Philippe Barcinski (2007)


Para quem apenas conhece o trabalho de Barcinski por seus inúmeros curtas premiados, como em “O Postal Branco” (1998) e “Janela Aberta” (2002), pode estranhar seu longa de estreia chamado “Não por Acaso” (2007). Seus curtas privilegiavam a estética, o formato com uma consequente perda de dramaturgia resultante de suas prioridades, que era o experimentalismo. Em seu longa-metragem, a fórmula se inverte, e todo contorno da forma é voltada em função da dramaticidade de seus personagens e suas emoções. O jogo de linguagem ainda está ali, mas expresso de forma sutil, dando espaço ao desenvolvimento de personagens, e em suma, sua história. Em sua trama, acompanhamos dois homens onde suas histórias de vida avançam de modo paralelo, quando se cruzam e desencadeiam consequências marcantes. A de Ênio (Leonardo Medeiros) um solitário controlador de tráfego, e Pedro (Rodrigo Santoro) um fabricante de mesas de sinuca e exímio jogador. Ambos têm em comum o amor por duas mulheres, interpretadas por Graziella Moretto e Branca Messina, além de uma inexplicável obsessão por controle. Após uma tragédia que muda o curso de suas vidas, inserem-se outras duas mulheres, Bia (Rita Batata) na vida de Ênio, e Lucia (Leticia Sabatella) na vida de Pedro. Ambos descobrem a dura constatação de que é difícil, quase impossível, controlar certos sentimentos, e muito mais ainda de prevê-los com alguma precisão.

Nesse universo do trânsito e da sinuca no qual os protagonistas fazem parte, reside uma metáfora sobre o pensamento controlador. A primeira vista, demonstram-se tão diferentes e distantes um do outro, mas é interessante o jogo de linguagem adotado por Barcinski para representar sua conexão camuflada. Apesar de se tratar de um longa-metragem, e de um diretor inexperiente nesse formato, Barcinski trás de sua experiência em curtas essa capacidade de somar virtudes, que foram mais expressivas ao espectador em um trabalho mais curto. Aqui menos visíveis, mas ainda assim presentes, Barcinski enriquece sua narrativa de modo sensível e levemente intelectual. Ele taxa seu trabalho com segurança, sabendo explorar o talento do elenco ao extrair interpretações inspiradoras. E a cidade de São Paulo, funciona quase como coadjuvante nesse ambiente, retratada com a frieza e a imparcialidade de uma grande metrópole com um toque de poesia. “Não por Acaso” alia um produto de foco comercial através de uma estrutura autoral, que resultou em uma obra bem realizada de estrutura técnica e narrativa. Se os protagonistas tentam prever o futuro, na medida em que ele acontece, mais do que preparar a certeira profecia, devem estar preparados para o efeito devastador da casualidade, que pode inutilizar todos os seus esforços em manter o controle sobre o acaso. Se o planejamento desses personagens, suscetíveis aos naturais balanços do destino não se adequarem as possibilidades as quais são expostos, o futuro não só será obviamente incerto, mas será marcado por suscetíveis fracassos. Recomendadíssimo para apreciadores de produções bem diferentes das que tem infestado o cinema nacional ultimamente.

Nota: 7,5/10

6 comentários:

  1. Vi esse filme no seu lançamento em vídeo. Não esperava muita coisa e o conclui como um dos melhores filmes que já vi.

    É legal a presença do tempo na vida das personagens. Como alguns segundos levaram a garota à morte. Como uns segundos no tráfego aproximam um pai de sua família. Até mesmo na sinuca, tudo são pequenas frações, pequenos cálculos.

    Pena que essa produção não teve o destaque merecido!

    Muito bom divulgá-lo!

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    1. Barcinski procurou estruturar bem seu roteiro antes de realizá-lo. Ficou ótimo da forma que ficou.

      abraço

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  2. É um bom filme, com um estilo diferente e que deixava uma boa impressão do diretor Barcinski.

    Ainda não tive chance de ver "Entre Vales", o outro trabalho do diretor.

    Abraço

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    1. Também não vi esse "Entre Vales". Mas antes de ver seu longa de estreia procurei ver seus curtas para conhecer um pouco sobre seu trabalho.

      abraço

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    2. Tb quero ver Entre Vales. Muita coisa para se ver, para se ler. E cadê tempo?

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    3. Boa pergunta. E se vira nos 30 (dias) rsrsrs

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