quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Crítica: Sucker Punch – Mundo Surreal | Um Filme de Zack Snyder (2011)



Bem-vindo ao mundo de um diretor visionário

Dezenas de diretores tem feito o mesmo do mesmo sem vergonha dos resultados. Contudo o diretor Zack Snyder é um dos poucos que podem se orgulhar de tentar impor um estilo, revolucionário dependendo da perspectiva, mesclando elementos distintos em um só longa-metragem, para apresentar algo diferente do habitual. Certamente que esse longa divide opiniões e causa reações extremadas, principalmente por seu foco cego em um determinado público. Porém é unânime afirmar que apesar de suas extravagâncias narrativas e seu roteiro deficiente, a capacidade do diretor de realizar espetáculos visuais continua e está acima do esperado para quem começou a carreira nos apresentando um simples remake de “Madrugada dos Mortos”.

O filme "Sucker Punch – Mundo Surreal" (Sucker Punch, 2011), é um desfile cuidadosamente articulado sobre, e através de referências culturais, fetiches e homenagens. Zack Snyder condiciona o público para uma viagem delirante, criada pela mente de uma garota órfã chamada Babydoll que, para escapar da realidade, cujo destino foi traçado pelo padrasto quando a internou em um hospício, após ser acusada injustamente do assassinato de sua mãe e irmã caçula, busca irremediavelmente seu refúgio em um mundo imaginário habitado pelas mais estranhas criaturas. Sua sobrevivência depende unicamente, do sucesso de seus confrontos épicos, que trava com zumbis nazistas da segunda guerra mundial, dragões flamejantes, Orcs, samurais gigantes oriundos do Japão feudal e robôs monocromáticos. Entretanto o maior adversário dessa jovem na realidade, pelas circunstâncias apresentadas, ainda é o tempo que se esgota rapidamente.

Com um elenco potencialmente feminista (Emily Browning, Abbie Cornish, Jena Malone, Jamie Chung e Vanessa Hudgens), provido de requintes fetichistas e bravura colossal, consolidam a grandeza do alinho visual que reverência a beleza empregada nesse longa. A beleza hormonal das protagonistas somente se equivale à destreza com que combatem as feras imaginárias, frutos da mente delirante de uma jovem, que através de sua obstinação distorcida, procura desesperadamente – aliada a suas amigas – executar a elaboração de um plano de fuga dessa prisão em que se encontram. Que além do exorcismo das bestas materializadas em sua mente, precisa enganar os ditadores de seu cárcere, que margeiam com segundas intenções sua sensualidade.

Todos estão certos que a protagonista Babydoll foi destinada a um manicômio, porém em uma mudança vertiginosa de narrativa, a mesma locação ganha contornos explícitos de uma casa de shows, onde usa as internas como “atrações”, entre uma viagem e outra ao mundo imaginário de Babydoll. As incursões nesse delirante mundo são um espetáculo: não pelo que podemos ver, mas pelo que ouvimos, pois a canções que compõem a trilha sonora demonstram ser um elemento extremamente necessário para dar o tom preciso do efeito intencionado pela direção.   

Snyder nos presenteia com belos momentos de apuro visual também, com seus ótimos efeitos de câmera lenta – sempre bem pontuados – efeitos especiais que são um deleite aos olhos atentos e uma abertura magistral, condicionada por uma trilha sonora hipnótica. Detalhe que não surpreende de maneira alguma, sendo que ele fez uma das melhores aberturas de filme que já vi, quando resumiu precisamente algumas décadas da história e da cultura americana na abertura de “Watchmen. Além de uma fotografia que enriquece todas as ambientações, que oscilam entre a escuridão sinistra da abertura até o último embate com os robôs no trem-bala, tendo ao longe um horizonte paradisíaco.  

Se esse filme tivesse suas origens em um game da moda, desses de estratégia, seria a versão definitiva de uma transposição perfeita de um jogo para as telonas, visto que seu desenvolvimento parece uma crescente evolução de fases, onde os ambientes, os adversários e os objetivos são atingidos para desencadear o início da próxima fase. Apesar de seu roteiro ser seu maior calcanhar de Aquiles, causador de protestos exaltados, os trailers disponibilizados pela produtora deixavam claro que a exibição desse longa não seria nenhum anúncio de uma revelação transcendental, deixando evidentes indícios que sua narrativa era mais um óbvio culto a estilo, do que propriamente sobre intelectualidade e coerência. Deixou margens enormes para escolhas equivocadas, mas ainda sim corajosas.
Por fim, "Sucker Punch – Mundo Surreal" pode passar a ser uma ode ao exibicionismo sexista em detrimento a sutileza puritana de adoção tão comum na indústria hollywoodiana.

Pode ferir os conceitos de admiradores de filme ação, colocando garotas com poder destruição que deixaria qualquer marmanjo no chinelo. Pode causar à sensação de um necessário desfecho arrebatador a altura do desenvolvimento. Pode ser taxado com os adjetivos mais simplistas possíveis, por não estar de acordo formula estrutural habitual do cinema convencional. Contudo, essa obra mesmo tendo seus defeitos e limitações ostenta um caráter que prega a revolução, do que interessa para o autor acima de tudo. Snyder não se censurou na hora de criar algo novo a partir do mesmo, através de declarações visuais exageradas, proclama que cada um pode criar o seu o mundo como quiser, independente do seu estilo.

Nota: 7,5/10
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4 comentários:

  1. Adorei o filme e seu texto tambem. Nunca me importei com o genero do heroi só que ele fizesse o seu trabalho :)

    ~GoodWood

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  2. Também gosto do Snyder e olha que eu nem sou fã de Watchmen e 300, mas adorei o que ele fez com o Superman, achei muito criativo e bonito, pois como você mesmo disse, ele é mestre em criar espetáculos visuais.

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