domingo, 24 de fevereiro de 2019

Crítica: Boi Neon | Um Filme de Gabriel Mascaro (2015)


Vivendo nos bastidores das Vaquejadas, Iremar (Juliano Cazarré) é um vaqueiro de curral que viaja de caminhão pelo Nordeste do Brasil e trabalha duro preparando o gado para os vaqueiros em eventos locais que estão dispersos pelo Estado. Levando a vida na estrada, o caminhão é sua casa e seus colegas de trabalho são sua família. A vida é dura e o trabalho não dá descanso. Mas Iremar também tem sonhos que fantasia na traseira do caminhão enquanto corta as áridas estradas do semiárido nordestino: largar essa vida e trabalhar na indústria da moda como estilista no Polo de Confecções do Agreste. “Boi Neon” (Boi Neon, 2015) é uma espécie de road movie brasileiro escrito e dirigido por Gabriel Mascaro. Estrelado pelo ator global Juliano Cazarré, Maeve Jinkings, Vinicius de Oliveira, Samya de Lavor, Alyne Santana e Josinaldo Alves, essa produção nacional teve sua estreia no Festival de Veneza, onde foi aplaudido e passou pelo Festival de Toronto e pelo Festival do Rio. No Festival de Marrakech, o diretor Gabriel Mascaro inclusive recebeu o prêmio de melhor diretor entregue pelas próprias mãos do diretor Francis Ford Coppola, um dos júris do festival. Com cara de filme que naturalmente agrada em festivais, infelizmente nunca vai alcançar a grande massa com a mesma força.

Primeiramente venerado pela crítica estrangeira que alçou o resultado de “Boi Neon” como um exemplar de obra de arte contemporânea do cinema nacional e depois grandemente elogiado em alguns círculos cinéfilos, essa repercussão que lhe foi atribuída por sua estética e narrativa dificilmente se estenderia justamente por suas qualidades. Seu roteiro simplista, enredo regional e a pouca pegada comercial que tem também é seu calcanhar de Aquiles. O filme parece que foi feito para arrasar nos festivais, e consequentemente sucumbir ao descaso em salas de cinema de shopping. Porém, em toda sua simplicidade também mora um aspecto louvável: sua legitimidade. Maravilhosamente protagonizado por um Juliano Cazarré impagável como poucos atores famosos são capazes, um enredo objetivo de sua proposta e repleto de qualidades técnicas que conferem beleza e funcionalidade ao filme, “Boi Neon” agrada por sua leveza que articula bem sonhos e realidades ao enredo com genialidade. O filme ficou famoso por duas cenas atípicas (uma envolvendo um animal reprodutor em uma cena cômica e outra de sexo explícito de Cazarré que foi filmada com toques de elegância e realismo), que menospreza o verdadeiro potencial da obra. Pois “Boi Neon” é muito mais do que umas poucas passagens curiosas envolvendo um ator famoso, uma obra realizada para agradar uma classe intelectualizada, e sim, um filme de sensibilidade apurada merecedor de mais atenção por suas qualidades intrínsecas e presentes de sua narrativa.

Nota:  7,5/10

Nenhum comentário:

Postar um comentário