segunda-feira, 8 de abril de 2019

Crítica: Vidro | Um Filme de M. Night Shyamalan (2019)


Kevin Crumb (James McAvoy), o homem de várias personalidades diferentes passa a ser procurado pelas as autoridades após ter sequestrado e matado várias jovens. David Dunn (Bruce Willis), ciente de seus dons passa a ser um justiceiro também visado pelas autoridades por suas ações excessivas de justiça. Em um jogo de gato e rato entre o homem inquebrável e a Fera que aflora em Kevin, ambos foram colocados frente a frente de Elijah Price (Samuel L. Jackson), um homem de ossos frágeis e de grande inteligência que há 19 anos foi responsável por grandes tragédias. Eles estão sendo mantidos em uma instituição para criminosos insanos sob o cuidado da Doutora Ellie Staple (Sarah Paulson), uma psiquiatra especialista em delírios de grandeza que trata pacientes que acreditam ter superpoderes. Em meio a um processo de terapia conduzido pela doutora, esses três pacientes terão o vislumbre de novas descobertas, onde segredos serão revelados e grandes verdades ganharão o mundo. “Vidro” (Glass, 2019) é uma produção dramática de suspense escrita e dirigida por M. Night Shyamalan. Sendo o desfecho de uma trilogia iniciada em “O Corpo Fechado”, de 2000, tendo seu segundo episódio em “Fragmentado”, de 2017, “Vidro” é um esperado final que leva o espectador a uma conturbada conclusão.

Vidro” é uma obra que une diferentes trajetórias em uma única cruzada, levanta impensados questionamentos e apresenta uma conclusão de eficiência inesperada e controversa. Seu maior problema é que tanto os seus defeitos quanto suas qualidades são imensamente perceptíveis aos olhos do espectador. Enquanto as boas ideias impressas no roteiro de M. Night Shyamalan em relação aos questionamentos em volta da trajetória dos personagens, a escolha acertada do tom da obra e o aprofundamento dos temas que o roteiro emula são uma adição perspicaz e original, os defeitos da realização são incômodos. Se já não bastasse o fato de haver um conjunto de boas ideias presentes em “Vidro” mal arquitetadas, a apresentação delas se mostra limitada em vários momentos. Há uma ausência de ênfase e força no seu desenvolvimento de certas passagens. Embora o personagem de Samuel L. Jackson, onde Elijah Price tenha um suposto destaque sobre a obra, dado mais por suas ações do que por sua presença, o filme é inegavelmente de James McAvoy. É dele os melhores momentos, as melhores passagens de atuação e os melhores diálogos. A passividade encenada de Jackson diante dos acontecimentos só não é mais perturbadora e frustrante do que a de Bruce Willis, reduzido a uma vítima das circunstâncias e passageiro de um plano maior. Como a personagem de Sarah Paulson, o ponto de junção dos protagonistas se mostra limitado em alguns aspectos, pois sua tarefa de convencer seus pacientes de que não são heróis e vilões fracassa no lado oposto da tela. O resgate de personagens do passado que é agregado a trama, mas são mal aprofundados é um aspecto importante de ser mencionado.

Entre erros e acertos de M. Night Shyamalan, “Vidro” tem uma saborosa proposta para o gênero, mas uma frustrante realização. O embate de seu clímax realizado no estacionamento da instituição psiquiátrica é de uma falta de energia inexplicável, embora denote consciência e transpareça propósito nesse aspecto. Além do mais, a esperada reviravolta de seu desfecho é sem dúvida a mais fraca de sua filmografia autoral pelo modo passivo que é executada. Ainda que eu tenha comprado às audaciosas ideias para com o seu filme de “Origens”, não consigo me dar por satisfeito com o resultado. As poucas ideias volumosas de “Vidro” se acotovelam com as espaçosas falhas e deixam uma sensação de que poderia ter ficado excepcional, mas ficou apenas uma obra polêmica que não atendeu a expectativa de um público que esperava algo épico. Entretanto, ao contrario do hype de “Fragmentado”, tem tudo para virar uma obra cult como “Corpo Fechado”.

Nota:  6,5/10

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