sexta-feira, 22 de maio de 2015

Crítica: Dois Dias, Uma Noite | Um Filme de Jean Pierre Dardenne e Luc Dardenne (2014)


Sandra (Marion Cotillard) esteve afastada por um tempo do trabalho decorrente de uma depressão, e quando retorna a empresa, descobre que em sua ausência seus colegas de trabalho foram persuadidos a fazer uma escolha: eles poderiam absorver todas as atividades de Sandra e receber um bônus salarial por isso, ou reintegra-la a equipe quando ela estivesse pronta para voltar as suas funções. A princípio o veredicto se mostrou contra ela, mas Sandra tem a chance de mudar isso. Ela tem exatamente um final de semana para visitar cada um de seus colegas de trabalho e convencê-los de abrir mão do bônus e permitir sua reintegração ao quadro de funcionários para manter o seu emprego. “Dois Dias, Uma Noite” (Deux Jours, Une Nuit, 2014) é um drama belga-francês escrito, produzido e dirigido pelos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, como também a personagem principal é protagonizada pela atriz revelação Marion Cotilard (a atriz concorreu ao prêmio de Melhor Atriz na Cerimônia do Oscar 2015). Essa produção tem uma proposta simples: retratar de um modo bem particular o panorama do mercado de trabalho da atualidade, onde a ganância tem suprimido crescentemente qualquer resquício de humanidade dentro de um ambiente empresarial comum. Os irmãos Dardenne entregam um longa-metragem que foi bem elogiado pelo site The Hollywood Reporter, como da crítica em geral. O trabalho de seus realizadores tem um curioso olhar contemporâneo sobre o egoísmo e a solidariedade com um toque de reflexão típico do cinema europeu.


Dois Dias, Uma Noite” não se censura em mostrar o calvário que a classe operária passa para sobreviver nos tempos atuais. A situação econômica se mostra difícil no mundo inteiro, e por isso o desenvolvimento do evento mostrado na Europa, mais especificamente na Bélgica, poderia facilmente ser transferido a qualquer lugar do mundo sem se mostrar artificial. Portanto, o enredo dessa produção necessariamente aborda uma questão global em constante crescimento: o individualismo e a ganância tem consumido qualquer traço de solidariedade dentro do ambiente empresarial. E isso é fato. Os irmãos Dardenne mostram com muito arrojo esse panorama, como também a atriz Marion Cotilard contribui de forma vital para isso através de sua talentosa atuação, embora seja margeada por inúmeros desempenhos fracos no decorrer de sua difícil trajetória pela tela. Extraindo de modo bem direto as mais variadas reações de seus colegas de trabalho durante a cruzada de Sandra para preservar seu emprego, os irmãos Dardenne articulam de modo inteligente as situações e obtêm um nível sucesso agradável em seu trabalho. E isso não se refere apenas a ideia em si, ou propriamente no texto adotado para materializar toda a ação, mas na forma como foi filmado e apresentado (de modo imparcial e sem apelações ao sentimentalismo). A culpa é de certo modo do sistema, implacável com a classe operária que não tem outra saída a não ser continuar sua luta pela sobrevivência. Mas a falta de sentimentalismo também sabota um pouco o conjunto da obra, que como consequência disso trás uma falta de objetividade na proposta oferecida, resultando numa comoção oscilante, como também de intensidade muito relativa dependendo do espectador. Sobretudo, a proposta de “Dois Dias, Uma Noite” é uma análise honesta da natureza humana em tempos difíceis, desenvolvida a partir de uma premissa curiosa e inédita se minha memória não me engana, sendo desenvolvida com certa astúcia e perfeitamente amparada por uma atuação formidável de Marion Cotillard.

Nota:  8/10

2 comentários:

  1. Ainda não tive chance de conferir, mas está na minha lista.

    Abraço

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