Se o espectador precisa de um bom motivo para conferir “Paraísos Artificiais” (2012), que seja pela belíssima direção de fotografia de Lula Carvalho. Se a proposta de Marcos Prado, em seu primeiro longa-metragem de ficção, falha expressivamente em dissecar os sentimentos dramáticos de jovens que buscam nas drogas sintéticas e nas raves prazer e emoção, o trabalho de Lula valoriza o resultado final dessa produção com sua visão do mundo, desenhadas em cores intensas e precisamente delineadas nas viagens psicodélicas dos personagens e nas locações que acomodam toda a trama. Ao acompanharmos Érica (Nathalia Dill) uma DJ em ascensão, Lara (Lívia de Bueno) amiga e companheira, onde ambas acabam conhecendo num festival de música eletrônica no litoral do Nordeste, o Nando (Luca Bianchi) um artista sem causa, o espectador pode testemunhar os encontros e desencontros de jovens numa atmosfera de felicidade artificial que diferente do que planejam, se distanciam cada vez mais da redenção e do encontro da felicidade de modo tradicional.
Com uma estrutura técnica brilhante, a produção peca inocentemente pela narrativa que abusa de excessivas idas e vindas no tempo que podem causar confusão nos espectadores desatentos. Mas mesmo que isso prejudique o andamento da obra, seu maior problema não é esse, já que a falta de profundidade natural dos personagens em uma trama que não convence prejudica mais. O foco dramático de Marcos Prado centrado na família de Nando soa novelesco para uma produção cinematográfica, e se funciona até certo ponto, foi devido ao talento do elenco. As coincidências soam forçadas e as tragédias são o fruto da conveniência de ajeitar tudo numa trama que começa em Pernambuco, vai à Holanda e culmina no Rio de Janeiro – e não necessariamente nessa ordem. As maiores qualidades desse longa residem no quesito da produção, ao qual Marcos Prado tem experiência de sobra, depois produzir filmes como “Ônibus 174”, “Tropa de Elite” e “Tropa de Elite 2”. Apesar de sua experiência em documentários, o filme “Paraísos Artificiais”, tem no cunho dramático seu maior desafio, que resultou em uma obra de claras limitações de sua parte. Apesar de que as longas cenas de sexo, carregadas de emoções encrustadas, tiveram uma condução profissional, que nas mãos erradas poderiam soar insonsas ou promiscuas. Mas de resto, o mérito fica a cargo do elenco, sobretudo do elenco principal feminino, com atuações inspiradíssimas.
“Paraísos Artificiais” é um retrato fiel de uma boa parcela da juventude contemporânea. Não chega a abordar com muita vastidão o invariável leque de personagens ocultos nesse ambiente de vibes e drogas, mas trata com responsabilidade o assunto, de uma geração que demonstra descontrole da necessidade do uso de artifícios irreais para obter da vida mais intensidade. Enquanto uns não sobreviverão, outros levam para o futuro sequelas de escolhas mal feitas e desnecessárias como experiência de vida. Porque como um dos próprios personagens mesmo alerta: “Doses exageradas de autoconhecimento podem causar vomito”. Metáfora brilhante que resume uma das nuances dessa obra.
Nota: 7/10
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