quinta-feira, 26 de abril de 2012

Crítica: Por Um Fio | Um Filme de Joel Schumacher (2003)



Joel Schumacher, de certo modo arruinou de uma vez por todas a franquia do cavaleiro das trevas iniciada por Tim Burton no longínquo final dos anos 80. Burton tinha particularidades que batiam com as necessidades do personagem Batman (o tom sombrio que caracteriza o personagem e a filmografia de Burton foi trocada por um estilo exageradamente carnavalesco e cheio de personagens que pudessem render no futuro pós-exibição, bonequinhos para se vender em lojas de conveniência e afins). Se por um lado fez besteira por cumprir as ordens dos produtores, sucumbindo a pressão que um projeto daquela magnitude tinha, pelo outro fez um favor a humanidade abrindo os olhos de muita gente, ao frear um negócio que despencava em um abismo e nos fazendo ver, que personagens em quadrinhos também é coisa séria, visto pelo trabalho retomado por Christopher Nolan anos depois. O papel de Schumacher na direção de “Batman e Robin” (1997) não desqualifica seu profissionalismo, mas apenas demonstra que o buraco é mais em baixo, e porque não dizer, mais em cima (em um seleto grupo de comandantes que dão o veredicto do que entra e não entra no filme). E a prova de sua competência de fazer muito com pouco arame e menos pressão, está nessa fita de premissa simples e fascinante chamada "Por um Fio" (Phone Booth, 2003) drama estadunidense estrelado por Colin Farrel (em sua segunda parceria com Schumacher após o surpreendente "Tigerland", de 2000), que impressiona com sua atuação, ao mesmo tempo que o cineasta possibilita mostrar que é capaz de realizar um filme competente sob as condições adequadas. 

Colin Farrel interpreta Stu Sheppard, um agente artístico de lábia afiada, cheio de esquemas de malandragem para se chegar ao sucesso, como armar matérias em tabloides e manipular clientes a sua vontade. Stu é casado, porém encontra tempo para uma pulada de cerca eventual.  Em uma rua de Nova York, ele atende a uma ligação em uma cabine telefônica, de onde acabou de ligar para uma possível vítima de seus galanteios (Katie Holmes) e recebe uma intimação inusitada: “ se desligar o telefone, você morre”. A voz por trás do telefone aos poucos prova a seriedade do ultimato, fazendo de Farrel um refém na mira de um atirador no meio de um centro urbano. Com Farrel duelando pelo telefone com o interlocutor – uma voz durante o filme todo – tenta não ser morto por suas respostas, enquanto um capitão da polícia (Forest Whitaker) procura salvar Stu da situação em que se encontra, antes que a própria polícia acabe com sua vida. O filme foi rodado totalmente em locação, numa única rua onde se passa toda trama.  Filmado em um prazo inferior a duas semanas (um prazo irrisório para os padrões de Hollywood), e que também teve a contribuição de Kiefer Sutherland, astro da série "24 Horas", com quem Schumacher já havia trabalhado antes mesmo tendo tão somente o som de sua voz ao telefone como algoz atirador, a produção funciona com perfeição. Tem um clima tenso, bons diálogos, e um elenco extremamente competente em seus papéis. Com uma trama simples apoiada em um roteiro esperto e arrojado, uma interpretação convincente de Farrel e bem conduzida por Schumacher, "Por um Fio"  é um bom exemplo das possibilidades que um projeto munido de boas ideias, e uma hábil execução, pode render grandes surpresas do começo ao fim.


Nota: 8/10