quinta-feira, 18 de junho de 2015

Crítica: Até o Fim | Um Filme de J.C. Chandor (2013)


Alguns filmes são como remédios. Embora sejam eficientes para se alcançar a tão desejada e necessária cura do paciente, também não são para todos os doentes. Ainda que alguns filmes sejam marcados de alguma competência, também não são obras indicadas para todos os espectadores. “Até o Fim” (All Is Lost, 2013) é um drama escrito e dirigido pelo cineasta norte-americano J.C. Chandor, no comando do seu segundo longa-metragem (ele é o responsável pelo interessante “Margin Call – O Dia Antes do Fim). De certo modo, “Até o Fim” não se trata de um filme necessariamente ruim, mas também não justifica todo o esforço da crítica especializada em criar os mais variados adjetivos para imprimir sua relevância. Isso se pode conferir através das inúmeras indicações de prêmios que levou nos mais variados festivais de cinema norte-americanos. Em sua história acompanhamos o ator Robert Redford interpretando um experiente velejador que está prestes a enfrentar um grande desafio em alto mar. Estando a cerca de 1700 milhas do Estreito de Sumatra, um container a deriva se choca contra o seu veleiro causando danos ao casco e a alguns equipamentos de navegação. Medidas de urgência são tomadas, mas as condições do tempo mudam drasticamente e suas opções começam a se esgotar a partir do momento que percebe, que independente do que sua experiência lhe favorece, seu destino torna-se cada vez mais incerto. Entre fortes tempestades, o perigo eminente de tubarões e pouca comida, o grande objetivo desse velejador se torna a luta pela sobrevivência.

Até o Fim” possui alguns aspectos curiosos que o categorizam como um filme corajoso. Estruturado apenas com um ator em cena, o filme é praticamente desprovido de diálogos, com uma rara exceção. A trajetória de vida do velejador anterior à ação é um mistério como o seu próprio nome, jamais revelado, dificultando a criação de laços de empatia com o protagonista. A história é o que decorre em tela e mais nada. Embora Robert Redford seja um grande ator conhecido por seu talento e que consegue materializar bem as nuances de um personagem como o que interpreta nessa produção (a respiração, as expressões e as angustia das circunstâncias), perfeitamente capturado pela câmera de Chandor, é difícil se conectar emocionalmente com as dificuldades do protagonista. E isso não é ausência de talento por parte de Redford, mas uma escolha de narrativa que gera obstáculos ao ator. E por assim dizer, é na maneira como diretor decide contar a historia que isso pode desagradar a maioria dos espectadores. O filme é lento, de longa duração em comparação a profundidade do material (nunca 100 minutos foram tão extensos), demasiadamente silencioso e distante da ação aventuresca que alguns trailers sugeriam. Trata-se de um filme mais atraente para espectadores que apreciam histórias que buscam elucidar a luta pela sobrevivência ou o confronto do homem com a mãe natureza.

Até o Fim” é em resumo um filme diferente, distante do círculo Hollywoodiano e que infelizmente conta com a paciência do espectador para alcançar um veredicto positivo. Embora trace seu objetivo narrativo com base num sentimento comum (o desejo de sobrevivência do homem em meio às adversidades), falha em se conectar com o espectador num relacionamento de introspeção. Filmes como “O Náufrago” (outro filme em podemos acompanhar a trajetória de um náufrago), longa-metragem de 2001 dirigido por Robert Zemeckis e estrelado por Tom Hanks encontra muito mais sucesso nesse aspecto, além é claro de conferir muito mais bagagem ao material do que J.C. Chandor. O resultado aqui é um filme ligeiramente cansativo que vale pela experiência narrativa corajosa de seu realizador, mas que não agrada em sua plenitude.

Nota:  6,5/10


6 comentários:

  1. Gosto de filmes diferentes, mas este foi difícil assistir até o final. O filme parece uma espécie de manual de sobrevivência em alto mar, que daria mais resultado como um documentário da Nat Geo.

    Chandor foi muito mais feliz em "Margin Call".

    Abraço

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    1. Com certeza "Margin Call" é bem melhor, como vejo “Até o Fim” como um daqueles projetos arriscados necessários de existir. De vez em quando surge um que surpreende de forma positiva. Infelizmente não é o caso desse filme.

      abraço

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  2. Acho que pela sua crítica esse filme não me agradaria. Filmes em que diálogos são raros me deixam com tédio, e ainda mais se o filme for cansativo haha.
    Beijos,
    apenasumaleitura.blogspot.com.br

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    1. Assisto pela curiosidade que tenho por alguns filmes e resenho pela necessidade de descreve-los. Isso acaba sendo minha válvula de escape em relação a alguns filmes e que também serve como alerta a leitores que buscam alguma informação sobre algumas obras ou dica de bom programa.
      Espero que tenha contribuído de algum modo ao descrever minhas impressões sobre esse filme.
      Obrigado pela visita Mariana

      bjus

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  3. Estranhamente, não o achei cansativo enquanto assisti, gostei da ausência de frufrus e do silêncio naturalista, mas dias depois de vê-lo, o filme foi se apagando da memória...

    Acho que, assim como em todos os filmes de Chandor, faltou uma pegada mais potente, algo mais denso, que traga um pouco de emoção.

    Cumps.

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    1. Embora nunca me esquecerei de "Margin Call" (um filme que retrata um evento significativo da história através da ficção), em "Até o Fim" se mostrou um filme esquecível para mim. Uma pena!

      abraço

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