segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Crítica: Advogado do Diabo | Um Filme de Taylor Hackford (1997)


Kevin Lomax (Keanu Reeves) é o melhor advogado da Flórida, onde surpreendentemente nunca perdeu uma causa sequer mesmo quando todas as chances estavam contra ele. Seu talento no tribunal era capaz de inocentar até o mais culpado dos réus. Casado com a linda Mary Ann Lomax (Charlize Theron), logo após vencer mais uma difícil causa onde o réu era inegavelmente culpado, Kevin é acompanhado por John Milton (Al Pacino) um enigmático representante de um grande escritório de advocacia de Nova York, que busca convida-lo para integrar a equipe do escritório como novo membro contratado. Com a proposta aceita, diferente do mundo ao qual o casal estava habituado, eles passam a conhecer o luxo, o glamour e as mordomias que o novo emprego de Kevin, e essa grande cidade passa a conceder. Mas em meio a toda essa ostentação, onde a verdade e a mentira se confundem, o certo e o errado perdem seu valor, algo de podre se arma nos bastidores do poder através da influência de seu contratante que os leva a um rumo sombrio, que aparentemente não possui volta. “Advogado do Diabo” (The Devil’s Advocate, 1997) é um thriller de suspense sobrenatural escrito por Jonathan Lemkin e Tony Gilroy (baseado na obra literária de Andrew Neiderman de mesmo nome) e dirigido por Taylor Hackford. Numa história que tem como ambição jogar um olhar inovador sobre os valores deturbados que são perpetuados numa sociedade contemporânea, como as consequências dessa ação, tanto o roteiro quanto a própria abordagem de seu realizador confere um olhar elegante e inteligente ao conto de Fausto de modo interessante. Embora ocasionalmente subestimado, Taylor Hackford entrega um filme repleto de qualidades visuais e narrativas que culminam em um produto que mescla bem apelo comercial e substância de forma agradável.


Advogado do Diabo” é um filme intenso, seja pela teoria na qual é erguido ou pelo conjunto de elementos que a compõe. A busca do sucesso e as armadilhas que esse objetivo impõe são claras, mas as consequências dessa ação nem sempre ficam evidentes aos obstinados pelo sucesso. Os dilemas morais comuns de um homem são atropelados pela benevolência do livre arbítrio, e com uma atmosfera muito bem criada pela direção de Taylor Hackford, que acomoda no enredo projetado várias referências literárias (o nome do personagem John Milton é uma homenagem ao autor de “Paraiso Perdido”, um poema épico que fala sobre a queda do homem diante da graça de Deus), e alguns maneirismos (o nome de Kevin Lomax funciona como uma referência ao termo “Low Mach”, uma forma utilizada por psicólogos para medir o maquiavelismo de um individuo, que mede de certo modo suas tendências para manipular e enganar os outros em função de ganho pessoal), são alguns aspectos inteligentemente incrustrados na essência desse longa-metragem que moldam todo o panorama que desenvolve a trama de contornos sobrenaturais. Os personagens ganham uma intensidade magistral pelas performances bem entregues do elenco principal (Keanu Reeves, que está incrivelmente presente de corpo e alma em sua atuação, Al Pacino, um pouco exagerado e dominante em cena, e Charlize Theron, mais do que necessária para justificar o rumo dos acontecimentos que levam a inesperado clímax), como pelas interpretações dos demais nomes que compõem o elenco de apoio, com destaque para a estreia Hollywoodiana da atriz dinamarquesa Connie Nielsen. 

No final das contas, “Advogado do Diabo” demonstra seu verdadeiro brilho por seu condicionamento técnico de grande ostentação (o filme possui todos os requintes de superprodução). Áreas como a direção de arte, a trilha sonora e direção de fotografia são exemplos de toda a excelência que está fundida a sua proposta. Mas ainda que não seja impecável aos olhos da maioria por todo o seu conjunto, se estenda por mais tempo do que o necessário para alguns (sua duração é de 144 minutos), sua mistura dramática que mescla batalhas judiciais no melhor estilo John Grisham, com elementos sombrios e diabólicos onde o Diabo pode ser tão convincente quanto se esperaria dele, sua reputação continua inabalável: o Diabo não presta independente de quem venha a interpretá-lo. Como também é certo que fazer a coisa certa não fácil.

Nota:  7/10

6 comentários:

  1. eu gosto muito desse filme. beijos, pedrita

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    1. Também gostei, embora não tenha agradado a grande da maioria dos espectadores. Particularmente o julgo um bom filme, ainda que não seja memorável na carreira de seus envolvidos.

      abraço

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  2. Fico até sem jeito em dizer que achei esse filme fraco. Foi um daqueles filmes Bs que vão saindo fácil da memória, fico sem jeito porque seu texto está excelente. Impecável. O sr demonstra uma qualidade de conhecimento muito natural ao escrever, citando referências que passaram longe de mim e de boa parte do público. Ainda pretendo escrever com essa qualidade um dia.

    Força e honra.

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    1. Ozy... é com muita alegria que leio seu comentário. E digo mais: é por comentários assim que eu, embora como todas as pessoas estão sempre muito atarefadas com a vida, não deixo de ocasionalmente materializar minhas impressões nesta página do que já assisti, além de reunir algumas outras curiosidades sobre outros aspectos do cinema e afins.
      É muito gratificante saber que aprecia meu trabalho. Fico imensamente grato pelo elogio, considerando que o filme em questão inclusive não lhe agradou tanto quanto a mim.
      Mais uma vez, obrigado Ozy!

      abraço

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  3. Gostei muito desse filme, realmente Al Pacino parece meio forçado, mas Keanu Reeves teve grande atuação e a Charlize Theron linda como sempre (ok, nem sempre, vide ''Monster: Desejo Assassino'' kkkk).
    Gostaria de ler uma critica de ''Coração Satânico''

    Abs!

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  4. É mesmo.... em "Monster" ela está irreconhecível.

    abraço

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