domingo, 30 de março de 2014

Crítica: Uma Canção de Amor para Bobby Long | Um Filme de Shainee Gabel (2004)


Moradora da cidade de Panamá City, na Flórida, Purslane Homing Will (Scarlett Johansson) recebe certo dia uma inesperada notícia: sua mãe, Lorraine morreu. Avisada meio que tardiamente por seu imprestável namorado, Lee (Clayne Crawford), ela se dirige rapidamente até Nova Orleans para o funeral após muitos anos longe da cidade onde nasceu. Mas sua mãe já havia sido enterrada um dia antes, lhe restando apenas a tarefa de reivindicar sua herança materializada em uma precária casa que numa suposição equivocada ela achava estar abandonada. Habitada por dois amigos de sua falecida mãe, Bobby Long (John Travolta) um  ex-professor de literatura que inspirado a citar famosos textos literários em suas conversas, e Lawson Pines (Gabriel Match) um propenso escritor de sucesso com uma forte ligação com seu amigo, onde ambos passam os dias bebendo sem grandes ambições. E nessa rotina de degradação em que esses dois alcoolatras se encontram, Purslane vem para mudar radicalmente sem saber a vida dessas ultrajantes figuras boemias, além é claro, a sua própria vida. "Uma Canção de Amor para Bobby Long" (A Love Song for Bobby Long, 2004) é um drama estadunidense independente baseado no livro "Off Magazine Street" escrito por Ronald Everett Capps, o filme foi adaptado para o cinema e dirigido por Shainee Gabel. Permeando seu trabalho com uma pitada de humor inteligente que geram descontraídas risadas, algumas passagens que inspiram o espectador a lacrimejar, belas paisagens ensolaradas da Louisiana onde acompanhamos um pouco do curioso estilo de vida local, Shainee Gabel entrega uma emocionante história que retrata com sensibilidade a reconstrução de vidas onde seus personagens fazem as pazes com seu passado.

Se a enxuta premissa descrita acima a jovem órfã Purslane Homing ganha certo destaque na descrição da história de "Uma Canção de Amor para Bobby Long", naturalmente o homem despedaçado pelo álcool e pelas tragédias de seu passado que dá título a esse longa-metragem, como seu leal escudeiro são sem dúvida o grande atrativo, como também suas relações diplomáticas com os demais personagens que compõem o elenco. Citando constantemente as palavras de renomados escritores e personalidades históricas (Ben Franklin, Charles Dickens, entre outros), Bobby Long não se contem em viver vários personagens diferentes em argumento, que a cada mudança impactante se usa das palavras alheias para expressar suas ideias e emoções afundadas nesse estilo de vida descompromissado com a prosperidade. Lawson Pines somente abençoa o curso traçado por seu mestre, o seguindo cegamente, apesar de ter suas dúvidas próprias caladas pela vida boemia. E em meio a essas figuras imaturas, a jovem Purslane Homing se mostra a figura menos culta e mais madura da casa, gerando excelentes momentos por esse desequilíbrio. E nesse contraste de diferenças há aspectos comuns que os ligam profundamente, sobretudo carregado de emoções dramáticas muito bem apresentadas. Mesmo com uma produção problemática (dificuldades de orçamento e muitas cenas que nem vieram a ser filmadas), Shainee Gabel aproveita bem todas as qualidades do elenco principal, confere uma beleza visual rica ao ambiente e uma sonoridade primorosa onde a trilha sonora composta por hipnóticas canções de Jazz e Blues poderiam re-intitular esse longa como: "As Canções de Amor para Bobby Long".

Apesar de se armar de um punhado de clichês bem aplicados, (o desfecho é facilmente detectável e ao mesmo tempo perdoável pelo envolvente desenvolvimento), "Uma Canção de Amor para Bobby Long" possui inspiradas qualidades que lhe conferem uma saborosa simpatia. Pouco conhecido pelo público (foi lançado no Brasil diretamente em DVD) e mal reconhecido pela crítica especializada (o site referência Rottentomatoes lhe concedeu uma média ligeiramente baixa), esse longa tem um apelo carismático pela inteligente entrega do personagem título que seduz inexplicavelmente o espectador.  

Nota: 8/10

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