terça-feira, 2 de abril de 2019

Crítica: Blade Runner 2049 | Um Filme de Denis Villeneuve (2017)


Em 2049, os replicantes (seres humanos artificiais fabricados em laboratório) foram integrados a sociedade para realizar trabalhos de risco e inadequados para a raça humana. Mas o legado dos modelos mais antigos é visto como um empecilho para o progresso da bioengenharia, e K (Ryan Gosling), um replicante de modelo mais novo criado para obedecer ordens que trabalha como um Blade Runner para o Departamento de Polícia de Los Angeles, onde  caçae mata antigos modelos que ainda estão em circulação clandestinamente. Após eliminar um replicante escondido em uma fazenda de proteína, K descobre um segredo que está enterrado há muito tempo e que o leva buscar o paradeiro de um conhecido Blade Runner, Rick Deckard (Harrinson Ford), desaparecido há 30 anos e que pode ter as respostas para um milagre nunca antes imaginado pela ciência. “Blade Runner 2049” (Blade Runner 2049, 2017) é uma produção estadunidense escrita por Hampton Fancher e Michael Green, com base nos personagens de romance Do Androids Dream of Eletric Sheep?, de Phillip K. Dick. Dirigido por Denis Villeneuve, essa produção é uma sequência do longa-metragem original de Ridley Scott, de 1982. O filme concorreu em cinco categorias do Oscar 2018, embora foi premiado apenas na categoria de Melhor Fotografia e de Melhor Efeitos Visuais.

Há uma supervalorização do sucesso de “Blade Runner 2049” que é difícil explicar. Por quê? Considerando que o seu enredo nada mais é do que uma trama de mistério policial ambientada em futuro distópico e apresentada com uma estética apurada proporcionada por requintes técnicos de uma engenhosa produção, não há nada de impressionante no desenvolvimento do material. Talvez uma ou duas reviravoltas, mas de pouca força. O desejo do roteiro em criar e destruir expectativas no espectador através de passagens inspiradas não funciona em sua plenitude, e isso, muito pelo fato de que não apresenta uma solução a altura das expectativas. Embora o trabalho de Denis Villeneuve tenha uma atmosfera diferenciada, que se apresenta ao espectador como uma obra densa e cerebral ao tocar em temas profundos em tom de crítica (a deturbada relação humana com a tecnologia, o poder do corporativismo no modo de vida e o preconceito que leva ao ódio pelo diferente), esses aspectos presentes no contexto do filme também já tiveram abordagens melhores e sem tanta elaboração em outros filmes. O cineasta confere um ar metafórico para ideias simples de serem exploradas, um ritmo lento e contemplativo que acaba resultando em um produto mais inteligente do que realmente é. O filme carece de cenas mais ágeis e alguma ação, já que a sequencia de ação de seu clímax não impressiona.

Antes do lançamento do longa-metragem nos cinemas, houve o lançamento de três curtas-metragens realizados com a finalidade de explorar alguns eventos que ocorrem no período de 30 anos entre o primeiro “Blade Runner” e “Blade Runner 2049” (“Blade Runner Black Out 2022”, uma animação de Shinichirõ Watanabe; “2036: Nexus Dawn” e “2048: Nowhere to Run”, dois filmes em live-action dirigidos por Luke Scott). Independente dos interesses da produtora em volta desses curtas, apenas o terceiro serve com um bônus track realmente interessante para o conjunto da obra, já que o filme parece que não consegue aproveitar o elenco corretamente. A figura de Jared Leto é a mais intrigante, ao ter poucas aparições e um destino incompreensível dentro da trama. O que deixa a entender que “Blade Runner 2049” não é apenas uma sequência, mas apenas um episódio que leva a um plano maior.

Blade Runner 2049” é a soma de um dos mais talentosos cineastas que surgiram nos últimos anos, de um astro usufruindo dos louros de sua completa ascensão em Hollywood e a realização de uma das mais esperadas sequências da ficção cientifica dos últimos anos. Embora não ache que seja essa obra de genialidade toda como é vendida em alguns círculos, é inegável que se trata um filme bastante fascinante por seu visual, uma atuação legítima de Ryan Gosling e uma produção de estilo próprio e autônoma de sua inspiração. Porém, o caso de seu sucesso também pode ser uma coisa simples de se explicar: pois após anos onde os fãs se mantem famintos por uma sequência que nunca se concretizava, qualquer bolinho carne parece um banquete.

Nota:  7/10

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