terça-feira, 24 de novembro de 2015

Crítica: O Abrigo | Um Filme de Jeff Nichols (2011)


Curtis (Michael Shannon) é um pacato cidadão de uma pequena cidadezinha da zona rural de Ohio. Homem de família íntegro, um competente trabalhador da construção civil, ele é casado com Samantha (Jessica Chaistain), uma complacente esposa com a qual possui uma delicada filha com deficiência auditiva. Em meio a tudo isto, algo vem a atrapalhar o sossego dessa família, quando sem explicação Curtis passa a ter alucinações que o fazem crer que estão prestes a serem abatidos por uma tempestade de proporções épicas e de consequências apocalípticas. Pondo em xeque sua própria sanidade, sendo que sua própria mãe mesmo se encontra internada em uma clínica psiquiátrica com diagnóstico de esquizofrenia, Curtis se questiona quanto a sua condição: ele está louco ou está mesmo sendo o mensageiro de uma premonição assustadora? Assim, oscilando entre a razão e a insanidade ele coloca em prática um plano de restaurar um abrigo anti-nuclear localizado nos fundos de sua casa que coloca consequentemente todas as pessoas ao seu redor em polvorosa. “O Abrigo” (Take Shelter, 2011) é uma produção dramática de suspense escrita e dirigida por Jeff Nichols. Um dos melhores filmes estrelados por Michael Shannon (que em 2008 havia sido indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante pelo filme “Foi Apenas Um Sonho”), o ator retorna a fazer parceria com o cineasta Jeff Nichols (com quem o ator trabalhou em “Separados pelo Sangue) entregando para deleite dos espectadores um longa-metragem pouco conhecido, singular, fascinante por sua capacidade de ser intrigante do começo ao fim e que resultou em um suspense superlativo em vários quesitos.

Se distanciando com total segurança de soluções fáceis do cinema contemporâneo, a história em si, de “O Abrigo” reserva uma dose considerável de surpresas e competência em sua realização que o diferencia de um punhado de outras produções semelhantemente medíocres. Jeff Nichols demonstra total consciência do produto que quer realizar. Deixando de lado sustos elaborados e exageros gritantes que são solicitações de produtores equivocados, o roteiro de Jeff Nichols é bem mais centrado no poder da sugestão. Essa objetividade confere contornos fascinantes ao filme. O desenvolvimento da trama, inegavelmente enxuto, não deixa pistas fáceis para o desfecho, nos prendendo ao turbilhão de emoções vividas pelo protagonista. E essas emoções são brilhantemente materializadas pela interpretação de Michael Shannon, um ator que de posse de um bom roteiro e um papel de profundidade é capaz de surpreender como poucos atores em vigor no cinema hollywoodiano. Sobretudo, a presença da belíssima Jessica Chaistain colabora com perfeição para o conjunto de interpretações que ainda tem nomes como Kathy Baker, Tova Stewart e Shea Whigham. Apresentando efeitos visuais atinados e uma trilha sonora que proporciona intensidade nos momentos certos, há uma série de aspectos que impulsionam essa obra para nível de excelência espetacular. No final das contas, “O Abrigo” é um filme brilhantemente erguido por um conjunto de elementos bem escolhidos, que vão de sua teoria a sua materialização, mas sem duvida nenhuma sustentado pela inspirada interpretação de um ator muitas vezes subestimado nos corredores de Hollywood.

Nota:  8/10

2 comentários:

  1. Michael Shannon é um dos grandes atores que surgiram na última década. Aqui ele tem uma grande interpretação ao lado da sensível personagem de Jessica Chastain.

    O diretor Jeff Nichols é outro que vem ganhando destaque a cada trabalho. O citado "Separados Pelo Sangue" é um belo drama e ele ainda fez o ótimo "Amor Bandido" com Matthew McConaughey.

    Abraço

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    1. Gosto muito de Michael Shannon, embora ache que ele não saiba escolher bons filmes, ainda que isso ultimamente tenha mudado um pouco.

      Já Jeff Nichols se mostra um excelente diretor em tudo que conheço sobre seu trabalho. Eu não cheguei a conferir pessoalmente "Separados Pelo Sangue", o conhecendo apenas pelo nome, mas em contrapartida "Amor Bandido" é ótimo como poucos dramas do cinema indie que vi esse ano.

      abraço

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