terça-feira, 14 de agosto de 2012

Crítica: À Prova de Morte | Um Filme de Quentin Tarantino (2007)



Um Tarantino mais anos 80 do que em qualquer outro filme

Particularmente, esse é um dos filmes da autoria de Tarantino ao qual menos criei simpatia. Sempre gostei de seus filmes, desde “Cães de Aluguel”, por razões diversas que nem sei explicar direito. Seus filmes sempre tiveram elementos narrativos originais – entre outras coisas – que sempre me chamavam a atenção, inclusive quando dirigiu “Jackie Brown”, o único filme cujo roteiro não é de sua autoria até então. Contudo essa responsabilidade foi delegada – de criar um roteiro – ao Papa dos romances policiais, chamado Elmore Leonard. O que não é pouco. Quando Tarantino e Robert Rodriguez criaram a iniciativa “Grindhouse” – uma homenagem aos filmes de sessão dupla de baixo orçamento – onde o filme “Planeta Terror”, de autoria de Rodriguez, apesar de cumprir sua proposta, foi mal recebido e consequentemente. Assim “Death Proof”, que fazia a segunda parte da exibição, nem sequer era comtemplada pelo espectador que saia do cinema após a primeira exibição, o que resultou em fracasso nas bilheterias americanas. No Brasil o filme foi exibido separadamente, porém “Planeta Terror” também não foi bem recebido por aqui. E, portanto muito tempo depois, o filme À Prova de Morte (Death Proof, 2007), foi lançado diretamente em vídeo por aqui (somente em 2010) em receio a pouca receptividade do público quanto à ideia original.

A história do piloto maníaco que se auto intitula “Dublê Mike”, não passa de um exercício mais profundo das possibilidades de se fazer filmes com pouco dinheiro, ao mesmo tempo fazendo uma homenagem aos filmes Grindhouse pouco conhecidos por aqui. A coisa mais interessante desse longa – principalmente para os fãs do cineasta – ainda consiste em ver mais uma vez sua emblemática estilização da violência, os diálogos longos e marcantes e seu senso de humor negro afiado, sempre presentes em seus roteiros. Portanto, para quem se dispõe em assistir a um filme dele – preferência que nãos seja esse o primeiro – deve ter a consciência que seu estilo fala mais alto, independente do tema escolhido, e que seu vinculo com o cinema B somente ganha mais força nesse longa, produzido e realizado com recursos contemporâneos
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Dublê Mike (Kurt Russell), é um maníaco que tem em seu rosto uma enorme cicatriz, e dirige um carro que é à prova de morte – automóvel usado por dublês em cenas de capotagem e perseguição na indústria cinematográfica – mas somente do lado do motorista evidentemente. Esse alerta infeliz Mike fez a uma jovem que havia pegado carona com ele, um pouco antes de matá-la. Depois ele segue pela rua na caça de mais vitimas e bate de frente com outras quatro garotas que bebiam em um bar, em um acidente intencional que foi fatal para elas. Nesse momento o filme parece que acaba e se inicia outro. Assim são apresentadas outras quatro garotas à procura de diversão, apaixonadas por carros velozes e por filmes que idolatram essas máquinas. Quando essas garotas cruzam o caminho de Mike, ele encontra nelas uma nova oportunidade de saciar seu desejo de matar novamente, porém o que se apresenta para a surpresa do espectador é uma fascinante reviravolta nessa história que o maníaco jamais esperava. Para quem gostou dos exageros e excessos de Planeta Terror, encontrará uma violência mais sutil e menos escrachada. Os diálogos banais fazendo referência à cultura Pop, característicos de Tarantino – varias citações de filmes da mesma época em que a trama se desenrola –, não falta e é um show a parte. Toda aquela conversa mole bem cotidiana demonstra como o autor sabe criar interações reais de grande veracidade, que demonstra perfeitamente como se trata de pessoas comuns. E ainda que ocorram acontecimentos extraordinários com os envolvidos, esse detalhe é muito bem salientado. Tarantino apresenta todas as semelhanças comuns de produções as quais o inspiraram, com uma direção de fotografia coerente, perseguições de carros bem focadas nos atores reais, erros de continuidade impossíveis de passar despercebido. Tudo elaborado para uma ambientação realista de uma época especifica, porém concebida com os cuidados das grandes produções contemporâneas. E o suspense e a tensão que se firma durante a duração, bem conduzido aos extremos das possibilidades pela direção e o roteiro de Tarantino, nos leva a um desfecho cômico que ultrapassa as expectativas depositadas nesse longa, de fachada pobre, estilo antiquado, bem feito a moda antiga, e que serve como exercício experimental para homenagear suas maiores fontes de inspiração, além de uma manifestação feminista sutil que habita as entre linhas. 

Nota:  8/10

2 comentários:

  1. Eu gostei mais de Planet Terror, foi bem mais divertido. Também gostei do final desse filme, esperava algo diferente, principalmente depois da primeira cena da batida do carro. Também gostei do duelo do Dublê Mike e da Zoë Bell que é Dublê :)

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    1. É um ótimo filme no que se propõe a mostrar, mas ao mesmo tempo é um dos filmes mais fracos da filmografia de Tarantino. Planet Terror é muito superior no que se propõe a fazer: Reviver os filmes "GrindHouse" novamente. Pena que a maioria das pessoas não entendeu a ideia, e esses dois filmes apenas viraram obras de culto por partes de fãs do gênero ou de seus realizadores.

      abraço

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