sexta-feira, 13 de julho de 2012

Crítica: Ensaio sobre a Cegueira | Um Filme de Fernando Meirelles (2008)


Sem explicações ou motivos aparentes, uma epidemia de cegueira de origem desconhecida abate a sociedade. Sem cura ou um tratamento conhecido que surta efeito, a doença começa a ultrapassar fronteiras e obrigar as lideranças a tomar medidas extremas para conter a epidemia e colapso da cidade. A cegueira branca, assim chamada pelas pessoas pelo fato dos infectados passarem a ver apenas uma superfície embranquecida com os olhos, a doença ganha proporções significativas e uma medida de isolamento dos doentes é tomada para conter a avassaladora epidemia. Porém a funcionalidade das instituições de controle epidêmico começa a falhar e as pessoas mantidas na quarentena são abandonadas a própria sorte, fazendo com que as regras que regem uma sociedade civilizada sejam deixadas para trás. “Ensaio sobre a Cegueira” (Blindness, 2008) é uma produção dramática colaborativa entre Brasil, Japão e Canadá escrita por Don McKellar, baseado no premiado romance de mesmo nome de José Saramago. Dirigida por Fernando Meirelles (responsável por “Cidade de Deus”, de 2002 e “Jardineiro Fiel”, de 2005), o filme é estrelado por Julianne Moore, Mark Ruffalo, Danny Glover, Gael Garcia Bernal e Alice Braga. Essa produção é uma adaptação honrada de sua fonte literária e mais um formidável trabalho do cineasta.


Ensaio sobre a Cegueira” tem tanto em seu enredo quanto na realização de Fernando Meirelles uma força avassaladora. Acompanhar os eventos sombrios retratados por esse longa-metragem é uma experiência tão fascinante quanto perturbadora. A forma como as circunstâncias extremas as quais os personagens são submetidos, primeiro devido à epidêmica cegueira que não se obtém cura e depois ao cárcere e isolamento imposto aos doentes, permitindo que em longo prazo suas verdadeiras faces sejam reveladas aos olhos do público, é uma experiência áspera, e muitas vezes desconfortável ao espectador. Fernando Meirelles constrói a atmosfera exata que o trabalho de José Saramago propicia em sua história de um prelúdio de uma anarquia. O filme, auxiliado por elenco que entrega desempenhos fantásticos, torna-se difícil apontar uma atuação de destaque. Se o trabalho de atores e atrizes como Julianne Moore e Alice Braga se destacam pelos contornos de sensibilidade que propagam emoção no espectador, desempenhos como o de Maury Chaykin e Gael Garcia Bernal são tão revoltantes quanto fantásticos. Cada personagem tem uma entrega formidável ao personagem que interpreta, e consegue enriquecer uma tocante história que é uma abertura de olhos para uma verdade que ninguém gostaria de ver.

Ensaio sobre a Cegueira” é uma chocante e realista retratação do que poderia acontecer caso os eventos fictícios dessa pandemia um dia viessem a acontecer de verdade. Reações de solidariedade e comunhão teriam como obstáculos atitudes e ações nada inspiradoras pelo caminho. Fernando Meirelles entrega um drama de cenário humano esmagador, profundo e igualmente sensível do que poderia ser o mais próximo do fim do mundo.

Nota:  8/10

7 comentários:

  1. Não vi esse filme, mas muitas pessoas me indicaram a vê-lo. Vou ver se um dia desses confiro.
    Visite também:
    mateus-leite.blogspot.com

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  2. Filme muito bom, que apesar de pesado é de uma beleza ímpar!
    Também tenho um blog que ax x fala de filme...cheguei aqui procurando imagens para o post que farei e ri demais com a sua descrição de quem é vc kkkk as 3 dicas que sua mãe deu foram impagáveis kkkkk

    www.pobreousada.blogspot.com

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  3. esse livro é contundente e esse filme incrível, sou fã do fernando meirelles. beijos, pedrita

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    1. Não conheço o livro pessoalmente, mas o filme... adoro!

      bjus

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  4. Acredito que em honra ao material de Saramago - autor do livro - o filme não poderia ter outra forma se não essa: cenas pesadas e cruas. Pena que a carreira do Meirelles sofreu as consequências no mercado internacional que curte explosões e tiroteio, mas ficam chocados em refletir sobre a violência.

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    1. Eu também fico triste que Meirelles não tenha decolado no cinema internacional como esperava. Sobretudo, isso não anula seu talento e o seu olhar apurado em contar uma boa história. Eu fico na expectativa de ver um novo trabalho desse fantástico cineasta do mesmo naipe de "O Jardineiro Fiel".

      bjus

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