sexta-feira, 9 de junho de 2017

Crítica: O Contador | Um Filme de Gavin O´Connor (2016)


Christian Wolf (Ben Aflleck) é aparentemente um pacato contador de cidade pequena, embora também possua uma história de vida bastante incomum que não compactua com as aparências. Desde cedo, ainda quando criança conheceu algumas barreiras da natureza ao passar por muitas dificuldades devido a sua luta contra o autismo. Uma luta que não só o fez superar grande parte dos obstáculos impostos pela vida, mas também intensificou suas qualidades. Porém sua vida esconde alguns segredos tão peculiares quanto a sua doença: Christian não é apenas um pacato contador, mas também é um sujeito habilidoso em lavar dinheiro de grandes mafiosos e criminosos ao redor do mundo com discrição. Sob a indicação de um antigo cliente, Christian inicia uma auditoria contábil em uma empresa de tecnologia de propriedade de Lamar Black (John Lithgow) após uma simples funcionária, Dana Cummings (Anna Kendrick) encontrar algumas inconsistências financeiras nos livros de registro da empresa. O que começou como um desafiador dia de trabalho, desencadeou para a surpresa de Wolf e Cummings uma série de riscos de vida e morte para eles, onde as outras habilidades desse estranho contador serão muito necessárias. “O Contador” (The Accountant, 2016) é um thriller estadunidense de ação e suspense escrito por Bill Dubuque e dirigido por Gavin O´Connor. Buscando conferir particularidades diferentes a figura do protagonista, essa produção busca contornar soluções batidas de composição de um herói decorrentes do gênero. O resultado disso: o espectador é brindado com um possível candidato para uma mais nova franquia de filmes de ação.

O Contador” é extremamente elaborado em sua forma. O roteiro original elaborado por Dubuque (responsável pelo roteiro de “O Juiz”, de 2014) consegue destacar de modo bem claro e convincente o aspecto de o personagem principal ser portador de um leve grau de autismo. E esse aspecto funciona muito bem para o produto que faz um trabalho diferenciado na apresentação entre as características de desordem de Wolf com as suas habilidades atribuídas pela educação feroz do pai. Affleck confere credibilidade ao personagem, seja pelos sutis detalhes que confere ao seu papel pelo talento que tem ou nos aspectos declarados de sua condição que são trabalhados pela trama. Além do mais, sua atuação ainda é brilhantemente auxiliada pela adição de uma série de flashbacks que o delineiam desde sua infância conturbada pela doença e ao que nos leva a conhecer mais profundamente as variadas mazelas da vida familiar a qual foi exposto. Embora o restante do elenco fique escancaradamente em segundo plano, com algum destaque para a inocente e doce Anna Kendrick, outros nomes como J.K. Simmons, Jon Bernthal, Jeffrey Tambor e John Lithgow apenas cumprem o seu papel em função do progresso do enredo. Há uma ligeira tentativa de aprofundamento de personagens demonstrada pela ação dos agentes que seguem ansiosos pela captura de Wolf, porém que é prejudicada pelos clichês do gênero (o rastro de morte deixado pelo herói está totalmente alheio à realidade comum e diretamente conectada as regras de sucesso de Hollywood) o que gera umas pequenas pontas soltas.

No final das contas, “O Contador” se mostra um thriller da ação bem realizado e acima da média. Armado de boas cenas de ação, algumas reviravoltas válidas e um desfecho "supostamente" surpresa, o cineasta americano Gavin O´Connor pode até não ter entregado um longa-metragem do mesmo calibre imbatível de “Guerreiro”, de 2011, mas consegue apresentar algumas passagens bastante genuínas com uma boa dose de entretenimento garantido. Uma curiosidade: numa cena de quarto de hotel em que Anna Kendrick e Ben Aflleck passam a noite, surge uma conversa corriqueira onde Anna revela a Aflleck que no passado para conseguir um dinheiro para comprar um vestido de formatura caro, foi a Las Vegas jogar blackjack afim de contar cartas para aumentar suas chances de ganhar as apostas. Um método tecnicamente legal, mas repudiado pelos administradores de cassino. Na vida real, Ben Aflleck é conhecido por ser um jogador de poker e blackjack tão esperto que foi proibido de entrar em vários cassinos. Mas não por ele ser um trapaceiro, mas por causa de seu hábito de contar cartas. A cara que ele fez no filme quando a atriz faz a revelação é tão hilária quanto sutil. 

Nota:  7,5/10

2 comentários:

  1. Considero um ótimo filme. Até mesmo a apatia habitual de Ben Affleck se mostra perfeita para o personagem.

    Ainda preciso assistir "Guerreiro".

    Abraço

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    1. "Guerreiro" é um ótimo filme, dentro de seu gênero (não lembro de ter assistido mais alguma coisa que ele tenha feito, pois não conferi sua filmografia). Sobretudo, "O Contador" se destacou também dentro do gênero da ação estilizada que normalmente é tudo muito parecido e não reserva grandes surpresas. Fiquei bem ao conferir o resultado. Esse diretor com certeza merece ser acompanhado de perto nos próximos anos.

      abraço

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