quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Crítica: Relatos Selvagens | Um Filme de Damián Szifron (2014)


Através de seis pequenos contos da vida, todos provenientes do simplório cotidiano popular, nós somos confrontados com uma realidade tão imprevisível quanto crua, onde os personagens rumam por uma linha tênue entre a civilidade e a barbárie. Nessa reunião de contos acompanhamos os acontecimentos ocasionados durante um dia de fúria na vida de um homem, o retorno de tristes lembranças de uma garçonete, o destino brutal de uma briga de trânsito, a revolta de um homem pelo sistema burocrático e ineficaz dos serviços públicos, o asqueroso jogo de poder aos quais pessoas de influência se beneficiam e por fim, os estranhos caminhos de uma festa de casamento. Nesse conjunto de acontecimentos, o espectador pode notar que são nos pequenos detalhes da vida que sob as circunstâncias adequadas é que podem surgir atitudes irreconhecíveis nas pessoas. “Relatos Selvagens” (Relatos Salvajes, 2014) é uma inspirada comédia de humor negro que foi escrita e dirigida por Damián Szifron (responsável pelo filme “Tempo de Valentes”, de 2005), como também foi protagonizada por Rita Cortese, Ricardo Darín, Nancy Dupláa e Dario Grandinetti. Longa-metragem selecionado para a Palma de Ouro com o prêmio de maior prestígio do Festival de Cannes, o filme também foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro na cerimônia do Oscar 2015. O filme, ao relatar os acontecimentos através de uma inspirada retratação, o cineasta Damián Szifron entrega um dos melhores filmes de vingança ocasionados pela perda do controle emocional que poderia surgir do cinema latino-americano.

As seis histórias sobre a perda de controle, e suas consequências são o material e a essência de “Relatos Selvagens”. Embora o filme tenha grandes nomes no elenco (leia-se Ricardo Darín, como sempre competente ator do cinema argentino), os personagens e seus desempenhos são bem divididos na tela e em proporções tão justas quanto impressionantes. Todos brilham em suas performances de modo bastante particular, como a direção de Damián Szifron, ao estabelecer um tom cômico às ações dos personagens, mostra mais do que um acerto ao desenvolvimento desse longa-metragem, mas sim, uma necessidade. Com um roteiro afinado pela mão de Damián Szifron, uma montagem funcional e atuações mais do bem entregues por parte de todo elenco, que equilibram bem a dramaticidade necessária para suas histórias com o teor cômico adotado pelo realizador, “Relatos Selvagens” surge como uma das melhores surpresas do cinema argentino em anos, e em meio a um vasto repertório de outros excelentes filmes que vem saindo de lá. As histórias de vingança protagonizadas por personagens que estão à beira, ou já ultrapassaram os limites da razão e perdem o controle, surgem de acontecimentos e circunstâncias casuais ganham desfechos tão inesperados quanto brutais e se alinham perfeitamente com a proposta oferecida pela direção, que acentua tudo com ares de comédia escapista que suaviza os contornos de sadismo que se encontram em seu desenvolvimento. “Relatos Selvagens” é uma brilhante comédia dramática que merece ser descoberta.

Nota:  9/10

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