sábado, 13 de setembro de 2014

Crítica: Amnésia | Um Filme de Christopher Nolan (2000)


Amnésia” (Memento, 2000) é um suspense noir que é acima de tudo uma experiência cinematográfica gratificante. Filmes fragmentados não é nenhuma novidade para os espectadores contemporâneos, sendo que há centenas de exemplares que adotaram esse recurso pelas mais diferentes razões. Mas poucos dão tanto sentido a esse recurso quanto essa produção independente (produzida na época ao custo de 5 milhões de dólares), pela forma com que se encaixa no contexto. “Amnésia” é narrativamente fragmentado, e esse artifício adotado por seu realizador, o cineasta Christopher Nolan busca simplesmente transferir para o espectador a experiência sensorial pela qual o protagonista desse longa-metragem passa devido às consequências de uma amnésia resultante de uma tentativa de assassinato que sofreu. A típica estrutura de começo, meio e fim se alteram significativamente em benefício da trama, armada de uma boa ideia e gente comprometida com sua proposta. Esse artifício de começar seu desenvolvimento do fim rumo ao evento que culminou nessa ação não é um mero recurso de estilização da trama utilizado como recurso decorativo sofisticado, mas a essência suprema da história criada por seu realizador. Na trama acompanhamos Leonard Shelby (Guy Pearce), um homem em busca de vingança, cujo objetivo é vingar o estupro e assassinato hediondo de sua esposa. Mas um grave empecilho surge dificultando a realização dessa vingança. Shelby foi ferido durante o mesmo crime, adquirindo um tipo de amnésia peculiar que o impede de formar novas memórias. Embora se recorde de toda a sua vida antes do incidente, por qualquer descuido desencadeado por sua condição médica ele pode esquecer-se de seu objetivo. E por isso ele passa a marcar seu corpo com mensagens de relevância futura (que como para o espectador acabam virando verdadeiros enigmas) que podem fazer toda diferença em sua jornada de vingança.


O conceito cru de “Amnésia” tem o seu valor, embora esse valor venha da inquestionável habilidade de seu realizador de estrutura-lo de modo envolvente. O filme é muito bom, mas não somente pela ideia em si, e sim pela composição de elementos que compõem sua duração. Apresentando atuações inspiradas por parte de todo elenco principal, onde Guy Pearce entrega talvez uma de suas melhores representações de sua carreira, além dos demais nomes que integram o grande elenco dessa produção (Carrie-Anne Moss, Joe Pantoliano e Mark Boone Junior), todos se destacam ao seu modo com certos ressaltos de brilhantismo diante da ousadia da proposta (Amnésia sempre pode ser citado como um dos melhores filmes de Christopher Nolan, ainda que não faça frente a gigantes mais recentes e elaborados em orçamento e composição de elenco). Mas ainda que os recursos utilizados por seu realizador não tenham presença num cenário cinematográfico hollywoodiano, essa produção se faz através de boas ideias e muito comprometimento presente. A cada personagem que surge na tela durante o desenvolvimento da ação desse longa-metragem surgem dúvidas e conexões bem amarradas pelo roteiro. Como o personagem Jenkins, de Stephen Tobolowsky que não é apenas uma aparente figura passageira na película, mostrado sua importância num plano maior para responder certas questões que eventualmente poderiam surgir ao espectador. Ainda que o roteiro de Christopher Nolan tenha tomado como solução algumas liberdades artísticas para acentuar sua trama de modo orgânico, não traduzindo a realidade clínica de um paciente real em sua plenitude, a forma como ele a desenvolve torna essa peculiar enfermidade crível e em harmonia com o drama de Leonard Shelby. O suspense criado por Nolan em redor de seu protagonista prende a atenção do espectador com facilidade, ainda que não se mostre bonito visualmente, o filme tem uma atmosfera intrigante. Um elemento que foi vital para firmar “Amnésia” no sucesso em sua época, e mesmo após muito tempo ainda ser lembrado como um grande filme a ser descoberto ou revisitado.

Nota: 8/10


2 comentários:

  1. eu adoro esse filme. beijos, pedrita

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Um filme muito a frente de seu tempo considerando a época em que foi lançado. Um ótimo filme.

      Bjus

      Excluir