domingo, 15 de junho de 2014

Crítica: O Homem Duplicado | Um Filme de Denis Villeneuve (2013)


Adam Bell (Jake Gyllenhaal) é um professor universitário extremamente frustrado com sua monótona rotina. Entre as repetitivas e entediantes aulas de história que leciona na universidade e uma vida social desinteressante, Adam se mostra um refém de sua própria vida. Quando ele descobre a existência de um sósia chamado Anthony Saint Claire (também interpretado por Jake Gyllenhaal) nas entrelinhas da exibição de um filme qualquer atuando como um mero figurante quase invisível aos olhos devido a sua pequena importância na desconhecida produção, Adam passa a ficar obcecado a conhecê-lo pessoalmente. Mas essa obsessão o leva a ser confrontado com uma situação diferente do que esperava, está imprevisível e indubitavelmente estranha, quando não fatal a eles e suas respectivas ligações amorosas. Se “O Homem Duplicado” (Enemy, 2013) fosse uma doença, logicamente rara, seria precoce diagnosticar um tratamento antes de fazer exames mais detalhados sobre seus sintomas. Há muitos aspectos ocultos em seus contornos. Diferente dos trabalhos anteriores do cineasta canadense Denis Villeneuve, em seu segundo trabalho com o ator Jake Gyllenhaal, “O Homem Duplicado” é um filme de uma lógica pouco clara, repleta de simbolismos e menos atraente ao grande público como seus trabalhos anteriores (o aclamado “Incêndios” de 2010 e o espetacular suspense policial “Os Suspeitos”, também de 2013). Adaptado do livro homônimo de Jose Saramago, Denis Villeneuve busca igual ao seu protagonista, uma identidade própria para os enigmas que os rondam.


O Homem Duplicado” tem uma narrativa pouco convencional, que beira quase a um surpreendente experimentalismo que abandona o convencionalismo de se contar uma história com começo, meio e fim claramente definidos. O filme de Denis Villeneuve ressoa sobre o trabalho de outro renomado cineasta, David Lynch; no longa-metragem “Mulholland Drivede 2001, David Lynch também nos leva descobrir a sua maneira, alguns mistérios que cercam sua protagonista que busca descobrir os segredos de sua verdadeira identidade. Denis Villeneuve adota o mesmo clima de mistério, aproveitando bem a atmosfera urbana de Toronto com interpretações bem fundamentadas pelo elenco principal. Se o destaque é Jake Gyllenhaal em seu papel duplo, conferindo contornos bem particulares a cada personagem, a presença de Mélanie Laurent, como namorada de Adam Bell, além da Sarah Gadon e a rápida passagem de Isabella Rossellini, todas essas mulheres entregam presenças marcantes na enigmática proposta cinematográfica de Villeneuve. Curiosamente o diretor se propõe a entregar um filme de poucas respostas e muitas perguntas que instigam a curiosidade do espectador. Um dos aspectos mais louváveis dessa produção. Com um desenvolvimento extremamente diferente dos filmes convencionais (onde a trama flui através de simbolismos de difícil interpretação colocados através pequenos detalhes, muitas vezes expostos no ambiente) o grande destaque fica por conta do curioso desfecho que finaliza esse longa-metragem e causa uma estranheza pelo tamanho do surrealismo que marca essa obra e que deixa as mais variadas interpretações possíveis para o conjunto. Particularmente aprecio filmes de estética diferenciada e de proposta mais enigmática, embora “O Homem Duplicado” força a me abster de um diagnóstico precoce, pelo menos antes que eu possa realizar uma revisão mais atenta sobre a verdadeira natureza da doença.

Nota: 7/10

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