sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Crítica: Distrito 9 | Um Filme de Neil Blomkamp (2009)


"Distrito 9" (District 9, 2009) é um longa-metragem de ficção científica que deve ser observado com cuidado. Mas por quê? Primeiro por causa de sua aparência diferenciada dos habituais produtos comercializados no gênero da ficção científica. Seu visual é bem diferente das famosas invasões alienígenas materializadas pelo cinema nos últimos anos. Essa produção não traz contornos decorativos de um futurismo arrojado, transposto para a película para seduzir o espectador pelos olhos. Sua estética visual mescla com habilidade a presença alienígena (através de efeitos visuais elaborados) com uma estrutura física contemporânea (distante dos Estados Unidos da América) na medida certa. Além disso, sua narrativa meio que documental, pode causar estranheza num espectador que espera uma produção de dinâmica mais ágil e explosiva. A trama desse longa é contada na velocidade dos acontecimentos, sem pressa ou lentidão, concentrada simplesmente nas nuances do sentido da obra.


Dirigida por Neil Blomkamp, responsável pelo curta Alive in Joburg, o cineasta cria através de "Distrito 9" um longa curioso, polêmico e que gera discussões com um tom crítico sutilmente oculto em seu enredo. Em sua trama acompanhamos as consequências de uma espécie de invasão alienígena. O ano é 1982, quando uma nave mãe alienígena chega à Terra, pairando imóvel sobre Joanesburgo na África do Sul. Após algumas constatações de avaria, a nave é invadida onde milhares de extraterrestres artrópodes (conhecidos como camarões) são resgatados e reunidos numa espécie de campo de refugiados chamado Distrito 9. Com o tempo cai em abandono e vira uma favela. Em 2010, o governo Sul-Africano contrata a Multinational United (MNU), uma empresa militar cuja tarefa é remanejar os aliens para o Distrito 10. Assim, Wikus van de Merwe (Sharlto Copley) um funcionário burocrata da MNU é designado para comandar e executar as ordens de despejo. Mas durante o processo é infectado por um fluido alienígena que lentamente o faz se transformar em um simbionte (meio humano e meio alien), que passa a ser perseguido pelos humanos, fazendo dos alienígena sua única esperança de sobrevivência.

Produzido por Peter Jackson (Senhor dos Anéis, King Kong), essa produção já lhe conferiria alguma credibilidade. Mas ela está além de um longa repleto de efeitos visuais bem acabados e extremamente funcionais. "Distrito 9" é como uma enorme nave espacial: se vista de perto pode se constatar algumas deficiências, de aspectos de pouca importância, mas ainda assim presentes. Mas quando visto mais amplamente, pode-se constatar que estamos diante de obra com uma forte crítica social focada no preconceito sobre certas minorias, além da intolerância sobre a incursão de culturas diferentes numa sociedade comum. Quando nosso protagonista sofre a mutação, pode-se ver uma clara aversão dos iguais sobre o acontecimento, quando não, ainda o veem como uma oportunidade política para se tirar proveito. Mérito do roteiro que aborda aspectos bem interessantes da natureza humana diante de circunstancias descontroladas, que longe de sua compreensão, tomam atitudes curiosamente desumanas.

"Distrito 9" é uma obra de ficção científica que não tenta prever o futuro da humanidade, como a maioria dos espectadores esperam ocasionalmente ver em obras do gênero. Essa produção está além disso: o futuro é agora. Apesar de sua estrutura ser totalmente fictícia, com criatividade o cineasta Neil Blomkamp apresenta uma retração moral da sociedade contemporânea através de uma trama nada convencional. O uso de alienígenas, considero ser uma amenização do impacto do preconceito no qual o cineasta mexe. Por fim, esse longa-metragem é um alerta contra a discriminação (racial, econômica e idealista) apresentado com um visual fascinante, apesar dos contornos discretos. Naturalmente é um longa-metragem diferente do habitual, e por isso deve ser visto com cuidado, e livre de preconceitos.

Nota: 7,5/10


6 comentários:

  1. Achei o filme interessante, ainda mais pq saiu do circuito USA.
    O final foi comovente.
    Abraços!

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    1. Só pelo fato de não ser ambientado nos EUA já é motivo de ser louvado. Mas além disso, ainda agrega outras qualidades narrativas que o fazem ser relevante, e isso merece ser aplausos.

      Bjus

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    1. Seria interessante você vê-lo antes que venha a assistir seu trabalho mais recente: Elysium. O diretor Neil Blomkamp é membro de uma nova geração de diretores talentosos que podemos acompanhar sua evolução quase em tempo real, diferente do que aconteceu com outros ícones do cinema, aos quais (pelo menos eu) tenho somente hoje condições de conferir suas filmografias com mais atenção.

      abraço

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  3. Não tenho nem oque comentar, o filme é excelente.

    Só que não faria diferença onde a nave parasse a yankeelandia ia colocar a mão em cima do mesmo jeito. No minimo ia acontecer o mesmo que aconteceu em Iron sky.

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    1. Também adorei esse filme. Mas fiquei um pouco decepcionado com o filme "Elysium" do mesmo realizador. Esperava bem mais....

      abraço

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