quinta-feira, 6 de junho de 2019

Cartaz Retrô: Blade Runner 2049 (Blade Runner 2049, 2017) de Denis Villeneuve

Cartaz Alternativo do filme estrelado por Ryan Gosling e Harrison Ford

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Crítica: A Dama Dourada | Um Filme Simon Curtis (2015)


Maria Altmann (Helen Mirren) é uma jovem mulher que fugiu de Viena por causa dos avanços dos nazistas sobre a Áustria durante a Segunda Guerra Mundial e se refugiou em Los Angeles. Sessenta anos depois da fuga, Maria começa uma jornada para recuperar os bens de sua família que foram roubados pelos nazistas, entre eles a obra-prima do pintor Gustav Klimt, chamada de “Retrato de Adele Bloch-Bauer”. Para isso ela conta com a ajuda do inexperiente advogado Randol Schoenberg (Ryan Reynolds), numa batalha judicial com o Governo da Áustria para que eles devolvam sua herança e tragam justiça ao que aconteceu com sua família durante a guerra. “A Dama Dourada” (Woman in Gold, 2015) é um drama biográfico escrito por Alexi Kaye Campbell e dirigido por Simon Curtis. O filme teve a sua estreia no Festival Internacional de Cinema de Berlim. Um hábil realizador de cinebiografias, Simon Curtis já havia realizado o fascinante “Sete Dias com Marilyn”, em 2011. Em “A Dama Dourada” o cineasta consegue elaborar um longa-metragem adequado a sua proposta, que exibe um tratamento visual requintado aos eventos e com uma performance fabulosa de Helen Mirren e Ryan Reynolds, mas de pouca emoção apesar da história dramática que é contada.

A Dama Dourada” apresenta uma narrativa que alterna a retratação dos eventos que Maria Altmann sofreu em sua juventude, durante a ocupação nazista, com a difícil cruzada que foi levar seu caso a justiça em diferentes instâncias dos tribunais norte-americano e Austríaco. Seu caso se arrastou por quase uma década até se obter um veredicto justo. Entretanto, é curioso ver que os eventos passados no período onde os nazistas ocupavam o território austríaco que desencadearam manifestações de preconceito em Viena são infinitamente mais dramáticos e por vezes mais representativos em emoção do que a jornada judicial a que Helen Mirren é submetida. A atriz Tatiana Maslany que interpreta Maria na juventude faz um ótimo trabalho não devendo em nada para a estrela Helen Mirren. E quando as narrativas se mesclam de modo cinematográfico, Simon Curtis realiza passagens de grande inspiração visual. Mas o problema de “A Dama Dourada” é justamente esse: seu passado é mais fascinante de ser acompanhado do que propriamente seu presente. Enquanto toda a angústia dos eventos que retratam a ocupação nazista se mostra perceptível aos sentidos, a rebuscada reconstituição do processo judicial denota pouca força. Entre a reconstituição dos fatos e algumas liberdades poéticas necessárias, o roteiro demonstra uma forte inclinação em querer repousar no convencional.

Longe de ser uma cinebiografia ruim, mas distante de ser algo memorável, “A Dama Dourada” é um filme muito bem feito, com um elenco de apoio funcional e bem produzido. Embora Simon Curtis entregue uma produção agradavelmente competente que equilibra bem seus defeitos e suas qualidades, há nesse subgênero exemplares mais redondos. Se em alguns momentos da história alguns aspectos são enaltecidos pelo comum verniz cinematográfico, também há momentos tediosos que não lhe caem bem.

Nota:  7/10


domingo, 2 de junho de 2019

sábado, 1 de junho de 2019

Crítica: Nocaute | Um Filme de Antoine Fuqua (2015)


Billy Hope (Jake Gyllenhaal) é um boxeador profissional que tem em sua esposa, Maureen (Rachel McAdams) seu braço direito e maior conselheira para os assuntos da família e dos negócios. Mas quando uma tragédia acontece na vida de Hope, sua vida profissional entra em decadência e as estruturas de sua família são abaladas. Derrotado nos ringues, falido e prestes a perder definitivamente a guarda e o amor de sua filha Leslie, Billy tenta se levantar novamente e superar a depressão que atinge sua vida. Para isso ele procura o treinador Tick Wills (Forest Whitaker), um homem temperamental e com uma personalidade difícil, mas é a ferramenta que pode ajudar Billy a consertar seus erros do passado e fazer as pazes com seu presente. “Nocaute” (Southpaw, 2015) é um drama esportivo estadunidense escrito por Kurt Sutter e dirigido por Antoine Fuqua. O filme teve sua estreia no Shangai International Film Festival e foi o último trabalho a ser assinado pelo compositor James Horner (1953-2015) antes de sua morte. Apesar do enredo clichê que “Nocaute” disponibiliza ao espectador, possivelmente já utilizado centenas de vezes em filmes semelhantes, a forma como a história se desenvolve na tela e é contada ao espectador o torna bem diferente e muito melhor do que em inúmeros outros filmes que o antecedem.

É curioso ver como o diretor Antoine Fuqua evoluiu muito como realizador nos últimos anos. Trabalhador incessante, sua carreira deslanchou após “Dia de Treinamento”, de 2001. Entretanto foi ao decorrer dos anos que sua filmografia foi muito mal preenchida com filmes pouco expressivos como “Rei Arthur”, de 2004 e “Atirador”, de 2007. Mas nota-se uma aparente evolução suficientemente positiva desde “O Protetor”, de 2014, onde retorna com um novo trabalho bastante competente em uma nova parceria com o astro Denzel Washington, que inclusive gerou uma promissora sequência em 2018. O astro ganhou um merecido Oscar de Melhor Ator em “Dia de Treinamento” por seu papel de policial corrupto. Sobretudo, é bastante perceptível a sua evolução em “Nocaute”, quando o diretor pega um enredo deveras clichê e apresenta um produto bem alinhado com sua proposta. O filme tem todas as passagens típicas de um filme que enaltece a esperada busca de redenção, mas são inegavelmente bem feitas. Brilhantemente protagonizado por Jake Gyllenhaal, o ator confere a força necessária para um personagem em declínio que necessita dar a volta por cima antes que seja tarde. Da mesma forma que Gyllenhaal entrega muito com pouco, Fuqua faz o mesmo ao entregar um ótimo filme com base em um enredo previsível, estereotipado e sem novidades. A sensação agradável que esse filme proporciona é unicamente possibilitada por sua excelência na execução. As cenas de luta são muito bem filmadas, o elenco de apoio é genial (onde Forest Whitaker naturalmente se destaca ainda que Rachel McAdams tenha seus momentos), e a ambientação do universo do boxe é bastante realista e convincente.

Nocaute” é um bom filme esportivo, com atuações sólidas e uma carga dramática bastante funcional. O filme funciona ao que se propõe e prende a atenção do espectador pelos desempenhos de atuação dos grandes nomes que habitam o elenco. Sobretudo, a de Jake Gyllenhaal. A difícil jornada pela qual Jake Gyllenhaal passa para encontrar sua inalcançável redenção, que mais batida que possa ser aos olhos dos fãs de filmes assim, ainda é vitoriosa pela consequente soma de pontos positivos.

Nota:  7,5/10

sexta-feira, 31 de maio de 2019

Crítica: Fahrenheit 451 | Um Filme de Ramin Bahrani (2018)


Em um futuro distópico onde os livros são proibidos, opiniões próprias são consideradas crimes e o pensamento crítico não são incentivados, o bombeiro é um profissional desfigurado na imagem de um incendiário e responsável por queimar livros e caçar pessoas que são contrárias às ideias do regime totalitário que regem as regras do sistema em vigor. Guy Montag (Michael B. Jordan) é um bombeiro e uma ferramenta bastante funcional ao sistema e aos propósitos de seu chefe, o Capitão Beauty (Michael Shannon), que o tem treinado a muitos anos para sucede-lo no cargo. Mas o seu contato com Clarisse McClellan (Sofia Boutella), uma espécie de estorvo para o governo o faz com que comece a questionar suas atitudes e todas as regras dominantes dessa sociedade. “Fahrenheit 451” (Fahrenheit 451, 2018) é uma produção estadunidense de drama escrita e dirigida por Ramin Bahrani. Inspirada no livro Fahrenheit 451 de Ray Bradbury, o filme é estrelado por Michael B. Jordan, Michael Shannon, Sofia Boutella, Lilly Singh, Laura Harrier, Andy McQueen e Martin Donovan. Produzido pela HBO Films, a sua estratégia de releitura das páginas de sua inspiração preserva de certo modo os seus conceitos revolucionários, adiciona novas ideias ao enredo e apresenta uma dupla de protagonistas fantástica. Mas o filme desperdiça os atrativos do romance de Ray Bradbury em uma produção equivocada (há também um filme de 1966, estrelado por Oskar Werner, Julie Christie e Cyrill Cusak), e não sequer se aproxima de fazer uma homenagem à altura da excelência de sua inspiração.

Embora a maioria das séries produzidas pela HBO consegue alcançar um nível de excelência bastante satisfatório, nem sempre, ou quase nunca suas produções de longa-metragens atingem o mesmo nível de qualidade. Esse é o caso de “Fahrenheit 451”. O filme falha em vários aspectos, ao não conseguir construir uma atmosfera cinematográfica adequada; ao não aproveitar as qualidades literárias de sua inspiração; e desperdiçar o talento e carisma de uma dupla de protagonistas que andam se envolvendo em outras produções muito boas. Seu futuro distópico tenta dialogar com as novas gerações adeptas de lives e likes ao fazer transmissões ao vivo de prisões e incentivar a ação inútil de curtir o resultado das missões. O livro lança uma mensagem crítica sobre um sistema totalitário e manipulador que o filme não passa com a devida fluência. O texto de Ray Bradbury em certos momentos até está presente, mas sem força devido à má construção do conjunto. Enquanto Michael B. Jordan é vitimado pela pouca profusão do roteiro de Ramin Bahrani, o ator Michael Shannon sobrevive melhor diante de várias escolhas narrativas equivocadas. Seu personagem que oscila entre a obediência cega e a consciência das falhas do sistema, se mostra sendo a melhor coisa de um filme repleto de falhas. Uma curiosidade: o número 451 é a temperatura (em graus Fahreinheit) para a queima do papel.

Fahrenheit 451” insiste em se distanciar de uma obra que não precisava modernizações radicais para ganhar valor. Suas mudanças são apenas artifícios de embelezar um produto (com a adição de efeitos visuais batidos) que não agregam nada as mensagens que a obra literária emplaca. Não se trata apenas da queima de livros, mas da destruição de um longínquo legado de história, cultura e filosofia construída pela humanidade. Embora o filme até toque nesse aspecto em seu enredo, a narrativa se mostra desconexa com o propósito e mais desaponta com sua história moderninha do que é capaz de causar algum fascínio.

Nota:  5/10

quarta-feira, 29 de maio de 2019

Crítica: Quando as Luzes se Apagam | Um Filme de David F. Sandberg (2016)


Sophia (Maria Bello) é uma mulher que tem segredos em seu passado que desencadearam um efeito negativo sobre seu filho, Martin (Gabriel Bateman), que passou a ver uma inexplicável mulher toda vez que as luzes se apagam. Sua irmã mais velha, Rebecca (Teresa Palmer) também em sua infância via essa fantasmagórica mulher e agora junto com seu irmão volta sofrer do mesmo problema. Decidida a descobrir a razão desse assustador fenômeno que parece estar ligado a sua mãe, Rebecca e seu irmão  iniciam uma perigosa investigação que fará da escuridão da noite uma jornada interminável e assustadora. “Quando as Luzes se Apagam” (Light Out, 2016) é uma produção estadunidense de suspense e terror escrita por Eric Heisserer e dirigida pelo sueco David F. Sandberg (responsável pela sequência "Annabelle 2: A Criação do Mal", de 2017 e o sensacional “Shazam!”, de 2019). Inspirado em um curta-metragem de cerca de 3 minutos de mesmo nome lançado em 2013, e também dirigido pelo próprio Sandberg, o seu trabalho viralizou na internet a alguns anos e despertou o interesse de James Wan que produziu apadrinhando um longa-metragem inspirado no curta. Repleto de clichês, boas atuações por parte de Teresa Palmer e Gabriel Bateman, uma atmosfera competente, o filme rende bons momentos de tensão e explora com uma boa dose de criatividade as infinitas possibilidades da escuridão. 

O medo do escuro é talvez um dos medos mais clássicos da humanidade e a adição concreta de um fantasma a esse medo não é uma das ideias mais originais do mundo. Mas “Quando as Luzes se Apagam” explora esse aspecto com alguma consciência do risco e adiciona obviamente uma trama de mistérios em volta disso que manifesta uma necessária investigação que até funciona muito bem. Embora filmes como os da franquia “O Chamado” ainda são imbatíveis nesse quesito. Os momentos tensos permeados pelas sombras que resultam eventualmente em sustos ganham um fôlego com o acender das luzes, e o elenco segura bem o material de pouco peso do roteiro que tinha como base uma inspiração minimalista. O filme não chega a ser a reinvenção da roda, mas mantem a atenção do espectador com um bom nível de funcionalidade. A história é necessariamente engordada para justificar sua duração e a realização segue uma cartilha de produções semelhantes do gênero que aborda dramas de família sobrenaturais. É fato que realizar algo original nesse âmbito é um desafio quase que intransponível diante de milhares de filmes de terror parecidos como esse. Por essa razão que “Quando as Luzes se Apagam” não se arrisca a fazer. Sua proposta é mais de apresentar algo bem feito em termos de aparência, com desenvolvimento enxuto, atmosfera bem construída que leva a um desfecho ligeiramente ousado que o liberta de qualquer frustração comum. 

Por isso “Quando as Luzes se Apagam” é um bom filme de terror despretensioso, realizado com um orçamento modesto e sem astros e estrelas no elenco. Pode-se afirmar que até entrega muito considerando o pouco que tinha a sua disposição. De certa forma, apenas entrega o que sugeria ter em mãos, sendo que nunca havia feito mesmo, promessas grandiosas ao seu público. E talvez seja por isso que ele se saia tão bem diante do público, pois não quer ser algo memorável. Eu diria que apenas um bom filme de entretenimento em seu gênero.  

Nota:  7/10

X-Men: Fênix Negra (2019)

terça-feira, 28 de maio de 2019

Resenha: Batman Ninja | Uma Animação de Junpei Mizusaki (2018)


No propósito de impedir que o Gorila Grodd ponha seus experimentos de viagem no tempo em funcionamento, tanto Batman como os seus aliados e os mais perigosos criminosos de Gotham são lançados acidentalmente em uma viagem no tempo para o passado. O destino ficou sendo estranhamente o período do Japão Feudal. Os vilões veem nesse acidente uma oportunidade de conquista de poder e assumem o papel de senhores feudais que governam um Japão dividido por estados.  Batman surge dois anos após a chegada dos seus inimigos e é caçado no Japão feito um criminoso. À medida que suas armas e a tecnologia de Batman se esgotam, o Cavaleiro das Trevas precisa confiar apenas em sua inteligência e na ajuda de seus aliados para restaurar a ordem vigente e corrigir a interferência de seus inimigos na história da nação. “Batman Ninja” (Batman Ninja, 2018) é uma animação japonesa escrita por Kazuki Nakashima, Leo Chu e Eric Garcia, e dirigida por Junpei Mizusaki. Baseada nos personagens da DC Comics e produzido pela Warner Bros., o filme tem a animação realizada por Takashi Okazaki, o mesmo artista responsável pela criação do mangá independente “Afro Samurai”, que virou uma animação em 2007 pelas mãos de Fuminori Kizaki e Jamie Simone e ainda teve uma sequência em 2009. Configurando o conhecido universo do Batman aos moldes dos famosos animes japoneses, Junpei Mizusaki entrega uma animação ágil, visualmente criativa e bastante movimentada, mas de enredo pobre e perceptivelmente infantil.

Batman Ninja” reúne, mistura e sacode todos os personagens conhecidos do arco de Batman (aliados e arqui-inimigos) em um único enredo. Nem o Alfred escapou. O resultado? Não podia ser pior. Todas as qualidades impressionantes adotadas no visual da animação são desperdiças em uma trama rocambolesca, repleta de reviravoltas que não impressionam e diálogos que vão de mal escritos a excessivamente infantis. As soluções que mesclam os atraentes aspectos que são comuns de animes japoneses (robôs gigantes, duelos estilizados e passagens de tom utópico a cada minuto), com o universo do personagem da DC em certos aspectos demonstra o quão era uma boa ideia essa realização. Algumas passagens são como verdadeiras pinturas que beiram a uma obra de arte. O duelo final mesmo é espantoso, tamanha a competência das imagens, ainda que tenha bebido da mesma fonte que Christopher Nolan saciou os fãs em “O Cavaleiro das Trevas” de modo escancarado. Só que o ritmo ágil transparece em vários momentos uma necessidade e não um artifício. Embora a animação tenha em seu enredo algumas boas ideias (principalmente em volta do personagem do Coringa), elas são mal articuladas na trama, demonstrando que o filme tem uma gordura de personagens e coisas familiares que às vezes parece impossível de ser queimada antes da subida dos créditos finais. “Batman Ninja” tem uma proposta interessante em seu material, mas mal desenvolvida no roteiro. Embora sua proposta de lançar o personagem dentro do universo particular dos ninjas no formato de animação não tenha obtido grande sucesso, também seria impossível adequar sua proposta em uma versão live-action sem causar estranheza aos fãs que tem acompanhado há anos sua trajetória na telona.

Por isso não se engane. Mesmo que você conheça todas as histórias ligadas ao personagem e ainda não conhecia está, entenda que “Batman Ninja” é um luxo e não uma necessidade. O filme ficou devendo uma história mais sólida e menos infantil. Para um público mais jovem pode até agradar, mas a quem não se contenta com soluções absurdas vai se aborrecer um pouco. Há uma regra que rege as leis naturais do universo onde tão importante quanta a quantidade do que você vê, é imprescindível a qualidade. Se por um lado seus olhos podem se agradar com que vê, pelo outro seus sentidos podem afetar seu julgamento quanto ao resultado.

Nota:  5/10

domingo, 26 de maio de 2019

Crítica: A Mula | Um Filme de Clint Eastwood (2018)


Earl Stone (Clint Eastwood) é um senhor de 80 anos que é um falido veterano da Guerra da Coréia. Em Peoria, Illinois, ele já foi um bem-sucedido floricultor nos tempos áureos, mas hoje vive numa completa ruina financeira e vivencia as consequências de suas falhas com a família. Separado e odiado por sua filha, sua neta é seu único vinculo familiar que ainda resistiu a seus egoísmos. Necessitado por dinheiro, Earl aceita um trabalho de motorista oferecido por um desconhecido que conheceu na festa de casamento de sua neta. O trabalho consiste transportar nos moldes de uma “Mula” cargas de cocaína por Illinos para um cartel de drogas mexicano.  Obtendo seguidos sucessos em seu trabalho e carisma dos membros do Cartel, Earl tende a ver a sua sorte acabar quando uma força tarefa do DEA comandada por Colin Bates (Bradley Cooper) se aproxima cada vez mais de impedir que o Cartel continue a transportar suas drogas pelo território americano. “A Mula” (The Mule, 2018) é um drama estadunidense escrito por Nick Schenk e dirigido por Clint Eastwood. Inspirado em um artigo do New York Times escrito por Sam Dolnick, o filme conta a história real de Leo Sharp, um veterano de guerra que aos quase 90 anos passou a ser um transportador de drogas para o Cartel de Sinaloa. Estrelado por Clint Eastwood, Bradley Cooper, Laurence Fishburne, Michael Peña, Dianne Wiest e Andy Garcia, o filme tem um elenco de respeito.

A Mula” é um longa-metragem que nos deixa em um complicado dilema moral. Se por um lado somos lentamente cativados pelo papel de Earl, que vai ganhando à empatia dos espectadores na velocidade em que conquista a confiança de seus contratantes, todos sabemos que seu desejo de dar um rumo a sua vida é errado da forma que está fazendo. Mas como separar o certo do errado diante de uma figura tão pitoresca como a de Earl? É difícil. Somos tocados pela pressão natural que a vida exerce sobre o personagem de Clint Eastwood. Pois a vida cobra de um modo implacável de Earl uma conta alta pela má gestão com que a atravessamos. Idoso, falido e com uma consciência carregada de pendências incômodas com a família, a possibilidade de ganhar um bom dinheiro fazendo algo relativamente simples parece boa. Até certa altura da trama prova-se ser, mas quando o cerco das autoridades começa a recair sobre sua participação as coisas mudam de figura. E é nesse ponto em que o espectador passa a verdadeiramente se solidarizar com o personagem de Eastwood. Se por um lado torcemos pelo sucesso da justiça em impedir que o Cartel saia impune, também queremos que Earl consiga fazer as pazes com seu passado. Clint Eastwood entrega um personagem simples e de poucas camadas, mas adorável de ser acompanhado pelos seus comentários irreverentes e por causa de um punhado de outras peculiaridades que transitam na tela. De resto, Bradley Cooper, Laurence Fishburne e Michael Peña (o lado certo da lei) entregam personagens funcionais que atendem a proposta do filme.

A Mula” é um filme pequeno comparado a outras ótimas obras já realizadas por Clint Eastwood. Sem estrelar um de seus próprios filmes desde “Gran Torino”, em 2008, o cineasta mostra que ainda está em forma, na frente ou atrás das câmeras, mesmo que não tenha o mesmo gás do passado. “A Mula” é um filme cativante, de certo modo conectado com os fatos ocorridos com Leo Sharp e inegavelmente encantador como um simpático senhor e suas lições de vida.

Nota:  7,5/10

sábado, 25 de maio de 2019

Comercial: Caverna do Dragão: De Volta ao Lar | Um Filme da Renault (2019)


Era Uma Vez em... Hollywood (2019)

Cartaz Oficial do 9° Filme de Quentin Tarantino. Estrelado por Brad Pitt, Leonardo DiCaprio, Margot Robbie e Al Pacino. Estreia: Agosto de 2019. 

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Crítica: Mademoiselle Vingança | Um Filme de Emmanuel Mouret (2018)


França, no ano de 1750. Madame de La Pommerayne (Cécile de France) é uma nobre aristocrata que depois de viúva passa a viver reclusa em sua casa distante dos círculos sociais de Paris e alheia aos assuntos do mundo. Concedendo hospedagem ao obstinado Marques de Arcis (Edouard Baer), o galanteador homem tenta astutamente por vários meses conquistar o coração de sua anfitriã. Embora ela tenha resistido a atender as constantes investidas do homem, sua determinação a conquistou e ela decide assumir um compromisso que a leva ao casamento. Mas anos de união se passaram e o tédio tomou o relacionamento algo sufocante e o Marques pede a separação. Mas mesmo depois da separação, ainda que Madame estivesse magoada e ressentida pelo abandono, eles mantem uma espécie de amizade e confidência. Mas em meio a essa doce e pacífica relação, Madame arquiteta em segredo um plano de vingança para que o Marques prove de seu próprio veneno. “Mademoiselle Vingança” (Mademoiselle de Joncquières, 2018) é um drama de época francês escrito e dirigido por Emmanuel Mouret. Inspirado no romance Jacques the Fatalist, de Denis Diderot, o filme aborda a temática clássica da vingança em um produto visualmente belo e requintado, porém de pouca força e pouco bom senso.


Mademoiselle Vingança” tem em sua aparência e argumento seu maior atrativo. Seu visual que é cuidadosamente bem feito e os diálogos dados em tom de poesia que são bastante característicos do período em que se passa a trama são de uma alegria para os olhos e de uma musicalidade para os ouvidos. Existe uma reconstituição de época bastante competente na tela dada por um conjunto técnico excepcional e uma trama de vingança de natureza bastante contemporânea em sua essência. Seu enredo se encaixaria perfeitamente em uma comédia romântica norte-americana se não fosse pela sua aparência vitoriana. Mas os diálogos grandiloquentes e o enredo que pouco se movimenta de modo interessante, dado por passagens incoerentes e excessos de floreios, tornam sua trama uma longa viagem de marasmo onde muito se planeja e pouco acontece. Mesmo que o elenco atenda as necessidades do projeto, com atuações bem entregues e o plano de vingança proceda de acordo como foi articulado nas sombras, os eventos não possuem força e o resultado não proporciona impacto. Ainda que seu desfecho agrade (as caras e bocas de Cécile de France são bastante engraçadas),  o seu final também não impressiona quem alimenta muitas expectativas em relação a esse momento. Todo o capricho empregado em sua aparência e forma se torna um pouco raso quando se espera algumas emoções inesperadas. A verdade é que falta um pouco de tempero a esse produto francês

Por isso, “Mademoiselle Vingança” pode ser considerado um bom drama de época que não passa de um satisfatório passatempo que possivelmente vai apenas agradar os fiéis apreciadores de filmes de época que tem sua trama desenvolvida sobre as terras do Velho Mundo. Embora esteja longe de ser um filme ruim por suas comuns deficiências, também está distante de ser algo memorável mesmo que ostente agradáveis qualidades.

Nota:  6,5/10

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Crítica: American Animals | Um Filme de Bart Layton (2018)


Em 2004, quatro jovens universitários frustrados com o estado de inércia de suas vidas decidem roubar uma rara coleção de livros da história americana que vale milhões de dólares. Baseado em fatos reais, Warren Lipka (Evan Peters), Spencer Reinhard (Barry Keoghan), Chas Allen (Blake Jenner) e Eric Borsuk (Jared Abrahamson) planejam e executam um audacioso roubo a biblioteca da Universidade da Transilvânia, localizada em Lexington, no Kentucky. Durante o planejamento, execução e fuga, eles são confrontados por inúmeros questionamentos morais e cívicos sobre o propósito dessa ação criminosa em suas vidas e as consequentes mudanças colaterais do crime no futuro deles. “American Animals” (American Animals, 2018) é uma produção estadunidense de drama e crime escrita e dirigida por Bart Layton (responsável pelo elogiado documentário “O Impostor”, de 2012). O filme estreou no Festival de Sundance em 19 de janeiro de 2018, onde obteve para a sua felicidade inúmeras críticas elogiosas por parte de formadores de opinião e do público. Sua média de pontuação em portais de peso como Rottentomatoes e o IMDB já dá uma boa ideia sobre o alcance que a proposta de “American Animals” é capaz de imprimir com um conjunto de ideias bastante inovadoras que Bart Layton coloca em prática em sua realização desde o primeiro minuto até o fim. O resultado? O filme consegue dar a grata sensação de satisfação por sua abordagem original de um gênero bastante comum.

American Animals” lança um olhar diferenciado aos típicos filmes de roubo que são comuns na Sétima Arte. Um subgênero bastante explorado ao longo dos anos no cinema e que geraram filmes icônicos na mesma proporção de obras descartáveis. Quando Bart Layton adota uma narrativa interessante que mescla de modo alternado documentário e ficção ao mesmo produto, é impossível não deixar de notar seu diferencial.  Assim o cineasta além de criar um filme que por si só demonstra bastante força pela excelência da retratação dos eventos ocorridos, ainda consegue adicionar uma espécie de aditivo novo ao gênero.  A introdução que enfatiza que não se trata de um filme baseado em fatos reais, mas que são fatos reais não é somente jogada de marketing. O filme acomoda alternadamente depoimentos de pessoas envolvidas e que testemunharam os eventos, além de trabalhar as diferentes perspectivas que elas têm sobre a mesma história. Com um elenco genial onde Evan Peters se destaca, mas seguido de perto por Barry Keoghan, ambos possuem as melhores passagens do filme. É curioso perceber que cada jovem envolvido no crime possuía um objetivo diferente para realiza-lo. O roteiro trabalha esse aspecto confrontando essas diferentes perspectivas que cada um tinha um do outro e principalmente sobre o tão famigerado golpe.

American Animals” proporciona uma agradável sensação de satisfação por sua abordagem bastante adulta para uma trama sumariamente protagonizada por um grupo de adolescentes. Com uma trilha sonora impecável, várias referências à cultura pop e alguns toques de realismo perturbadores (a cena do roubo da coleção de arte é retratada sem nenhum verniz cinematográfico do tipo que habita produções como “Onze Homens e Um Segredo), “American Animals” é genial. O que supostamente parecia mais um produto embalado na vibe de produções baseadas em fatos reais, se mostra um produto bem mais inovador. Isso por causa das razões narrativas que são adotadas e pela forma envolvente que o conjunto da obra se desenvolve na tela. É bem melhor do que eu podia esperar.

Nota:  8/10

sábado, 18 de maio de 2019

Crítica: Bem-Vindo à Marwen | Um Filme de Robert Zemeckis (2018)


Em 8 de abril de 2000, o aspirante a desenhista de quadrinhos Mark Hogancamp (Steve Carell) torna-se vítima de um violento ataque onde cinco homens o espancaram na rua e o deixaram para morrer. A motivação do crime? Mark revelou após alguns drinques que era eventualmente adepto de crossdresser. Após o ataque, Mark teve danos cerebrais que apagaram da memória quase tudo sobre sua vida anterior ao crime. Como medida de terapia para recuperar as memórias de seu passado, Mark constrói em sua casa uma pequena vila em miniatura ambientada na Segunda Guerra Mundial chamada Marwen para tratar as sequelas do ataque e se recuperar do trauma que o crime causou. Mas os demônios que usurparam sua paz voltam a atormentá-lo quando sua figura é solicitada como necessária no tribunal e seu testemunho imprescindível para levar justiça aos seus algozes agressores. “Bem-Vindo à Marwen” (Welcome to Marwen, 2018) é uma produção estadunidense dramática dirigida por Robert Zemeckis, que co-escreveu o roteiro com Caroline Thompson. Inspirado no elogiado documentário “Marwencol”, de 2010, realizado por Jeff Malmberg, que explora a vida e a obra do artista e fotógrafo Mark Hogancamp, o cineasta Robert Zemeckis entrega um filme recheado de efeitos visuais bacanas e com mais uma ótima performance de Steve Carell, que já tem enfileirado excelentes atuações as vezes em filmes nem sempre tão bons.

O cineasta Robert Zemeckis tem na sua carreira filmes de um brilhantismo único, tanto no quesito técnico ou narrativo que o ajudaram a construir uma reputação de sucesso que atravessa décadas. Porém também há filmes menores, ainda que funcionais e providos de grandes qualidades na sua essência, mas que ficam devendo ao espectador mais emoção. “Bem-Vindo à Marwen” é um desses filmes. Uma catástrofe de bilheteria (o filme custou 40 milhões de dólares e não faturou nem 3 milhões), ainda foi bastante criticado por críticos pelo resultado. Embora a atuação de Steve Carell tenha seu brilho, a narrativa que alterna a sua realidade com mundo imaginário de Marwen criado por efeitos visuais de primeira linha seja de um brilhantismo impecável, o conjunto da obra não tem força. O problema é que o aspecto que mais desencadeia elogios, que é o quesito técnico também prejudica os outros aspectos do filme. “Bem-Vindo à Marwen” não proporciona emoção ou pelo menos não na proporção necessária. As engenhosas inserções digitais ligadas ao mundo de Marwen quebram a conexão humana do espectador com a difícil condição da realidade de Mark Hogancamp. Em tese a ideia é muito boa, mas na prática ela não funciona com o devido efeito causando a sensação da necessidade de ajustes.

Sobretudo, “Bem-Vindo à Marwen” é um filme interessante de se acompanhado que apenas precisava de um trabalho mais atento no roteiro. O arco da trama envolvendo sua pretensão amorosa pela recém-chegada vizinha interpretada por Leslie Mann dá e tira a esperança de um recomeço que não cai bem para a obra. As passagens envolvendo a bruxinha belga também são em sua maioria mais desagradáveis do que funcionais, apenas salvando-se em uma passagem onde Robert Zemeckis nos presenteia com uma nostálgica homenagem a um de seus clássicos filmes. Mesmo não sendo um grande filme de Zemeckis, estando mais na altura de “A Travessia” do que de suas icônicas realizações, “Bem-Vindo à Marwen” é um filme interessante para ser descoberto na telinha.

Nota:  6,5/10

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Crítica: Green Book: O Guia | Um Filme de Peter Farrely (2018)


O ano é 1962 e o preconceito racial é visível em boa parte dos Estados Unidos. Quando Tony “Lip” Vallelonga (Viggo Mortensen), um segurança ítalo-americano bastante fanfarrão que fica desempregado após a boate na qual ele trabalhava fechar para reformas, Tony consegue um trabalho de motorista particular para o Dr. Don Shirley (Mahershala Ali), um famoso pianista de jazz negro que necessita fazer uma turnê pelo sul dos Estados Unidos. Seguindo as dicas do “Green Book”, um guia de sugestões direcionado a negros com várias opções de hospedagem e restaurantes indicados para afro-americanos, os dois atravessam o país de carro numa difícil jornada. Submetidos ao longo da turnê aos efeitos nocivos do racismo, ambos devem deixar de lado suas diferenças para conseguir sucesso nessa perigosa jornada. “Green Book: O Guia” (Green Book, 2018) é uma longa-metragem estadunidense do gênero comédia dramática escrita por Nick Vallelonga (filho de Tony Vallelonga), Brian Hayes Currie e Peter Farrely. Dirigido por Peter Farrely, essa produção é inspirada em fatos reais baseados em entrevistas dadas por Tony e Shirley, além das cartas enviadas a sua mãe por Tony. O filme teve sua estreia no Festival de Cinema de Toronto e recebeu o People´s Choice Awards, uma honraria dada a filmes populares no festival. Entre várias indicações e prêmios obtidos em diferentes festivais, o filme também recebeu o Oscar em 2019 nas categorias de Melhor Ator Coadjuvante (Mahershala Ali), Melhor Roteiro Original e Melhor Filme.

Green Book: O Guia” tem uma familiar combinação de sucesso. Esse choque de realidades, onde personagens de diferentes naturezas físicas, sociais e comportamentais são colocados frente a frente em meio a circunstâncias às vezes incomuns já foram exploradas em realizações como em “Melhor é Impossível”, de 1998 ou “Intocáveis”, de 2011. Igual a esses filmes, “Green Book: O Guia” também tem no desenvolvimento de uma inesperada amizade esse curioso choque que é igualmente delicioso de se acompanhado. O filme que tem uma reconstituição de época elegante, uma atuação de Mahershala Ali de grande presença e uma performance impagável de Viggo Mortensen, que fazem desse filme uma experiência cinematográfica super divertida sem deixar sua força crítica ser prejudicada. Embora os aplausos sejam voltados pela entrega competente de Mahershala Ali, é de Viggo Mortensen as melhores passagens do roteiro. Aquelas que fazem de uma obra dramática séria ganhar o tom leve e cômico que levam multidões aos cinemas. Além de abordar um tema relevante e delicado que se passa em momento complicado da história americana, o filme consegue ser acessível sem cair no abismo do banal. E esse sucesso possivelmente é atribuído pela química que flui nas atuações dos dois personagens principais.

Embora “Green Book: O Guia” não traga ao espectador nada de inédito, seu material de sucesso poderia a meu ver ser fabricado em escala industrial, pois tamanho é o meu agrado por filmes assim. O diretor e roteirista Peter Farrely apresenta um filme simples e bem realizado, objetivo em sua proposta e profundamente divertido que vale ser conferido não apenas por seu reconhecimento de público e crítica, mas porque deveria haver mais exemplares feito esse a disposição do público todos os anos.

Nota:  8,5/10

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Crítica: Free Solo | Um Documentário de Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi (2018)


Alex Honnold é um dos mais bem-sucedidos alpinistas do mundo. Depois de ter escalado os mais altos paredões de pedra do mundo, isso sem equipamentos de segurança, o jovem se prepara em todos os aspectos físicos e mentais para o que se pode chamar de o maior desafio que já enfrentou: escalar o El Capitáin sem cordas ou equipamentos de segurança. Embora o El Capitáin seja uma referência para escaladores profissionais, ele ainda nunca havia sido escalado antes dessa forma. Trata-se de um paredão de pedra de 975 metros de altura em Yosemite, que jamais havia sido escalado sem o uso de equipamentos de segurança. Se ele conseguir escalar o El Capitáin sem equipamentos, Alex será o primeiro alpinista a conseguir realizar o feito antes. “Free Solo” (Free Solo, 2018) é um documentário americano dirigido por Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi, que estreou no Festival de Cinema de Telluride e passou pelo Festival de Cinema de Toronto, onde venceu o People Choice Award, na categoria de Melhor Documentário. Também premiado com o Oscar 2019 de Melhor Documentário de Longa-Metragem, o trabalho dos documentaristas é surpreendente ao entregar um filme espantoso, repleto de imagens fabulosas e momentos dramáticos que cercam um atleta disposto a superar um desafio aos olhos de muitos como impossível. No final das contas o documentário mostra um ser humano dotado de muita coragem, humildade e obstinação.


Já em seus primeiros minutos, “Free Solo” dá espertamente a devida importância ao fato dos riscos da prática da escalada sem equipamentos de segurança. O percentual de praticantes é mínimo e os acidentes fatais não são incomuns no esporte. A narrativa proposta por Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi explora bem esse aspecto na forma de fatos e estatísticas e o conecta com naturalidade ao perfil desprendido e audacioso de Alex Honnold. É bem salientado que entre dois desfechos possíveis (a glória da conquista ou um fatídico acidente), somente um pode ser atingido. O documentário demonstra com uma montagem esperta a forte ligação do atleta com o seu esporte, ao esmiuçar sua história de vida, sua ascensão como atleta e o momento de mudanças positivas e obstáculos inesperados no qual Alex passa durante as filmagens que acompanham a execução do desafio de ser o primeiro alpinista a escalar o famoso El Capitáin numa escalada solo sem equipamentos. O filme é recheado de depoimentos relevantes de vários alpinistas que conhecem muito bem as dificuldades de executar essa escalada, ao passar as impressões pessoais de vários conhecidos de Alex, além da família, namorada e da equipe de filmagens que acompanha o período preparatório anterior ao famigerado dia da escalada, “Free Solo” ainda é brilhantemente preenchido com paisagens montanhosas americanas de grande beleza visual que ora é o melhor pano de fundo possível para o documentário e ora passa a ser o coadjuvante de uma história carregada de tensões e expectativas. “Free Solo” tem um visual impressionante aliado a um drama psicológico bem apresentado por uma realização engenhosa. Indicado para espectadores que gostam de histórias de vida legítimas e emoções fortes sem a inconveniente intervenção de efeitos visuais hollywoodianos.

Nota:  8/10

quinta-feira, 9 de maio de 2019

Cartaz Alternativo: Matrix (The Matrix, 1999) de Lili e Lana Wachowski

Cartaz de Arte de Vance Kelly

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Crítica: Maus Momentos no Hotel Royale | Um Filme de Drew Goddard (2018)


Em 1969, o padre católico Daniel Flynn (Jeff Bridges), a cantora Darlene Sweet (Cynthia Erivo), o vendedor Seymour Sullivan (Jon Hamm) e a hippie Emily Summerspring (Dakota Johnson) chegam ao Hotel Royale. O hotel se localiza exatamente na fronteira entre a Califórnia e Nevada, onde todos são recepcionados pelo o concierge, Miles Miller (Lewis Pullman), o único funcionário que mantem o funcionamento do estabelecimento em seu declínio. O que a princípio parecia apenas mais um dia de trabalho para Miles, acabou tornando-se uma jornada aterrorizante onde os segredos obscuros em volta de seus hóspedes e sobre ele mesmo começam a serem revelados adentro da noite e coisas ruins começam a acontecer. “Maus Momentos no Hotel Royale” (Bad Times no El Royale, 2018) é uma produção estadunidense de suspense neo-noir produzido, escrito e dirigido por Drew Goddard. Em seu segundo filme como diretor após “O Segredo da Cabana”, de 2012, seu mais novo lançamento teve sua estreia no Fantastic Fest 2018, e embora tenha decepcionado nas bilheterias do mundo ao não superar seu orçamento de 32 milhões de dólares, o filme obteve em contrapartida um número considerável de menções elogiosas por parte da crítica especializada em relação ao conjunto da obra.

Maus Momentos no Hotel Royale” tem em sua essência uma elaborada história de crime e suspense no melhor estilo de Brian De Palma com toques sanguinolentos no estilo Quentin Tarantino. Apresentando um quebra-cabeça que se encaixa lentamente no enredo simplista dado por uma breve sinopse; Drew Goddard surpreende ao mostrar um roteiro de diálogos interessantes e recheado de reviravoltas pontuais brilhantemente configuradas por uma montagem inteligente, sua direção que mistura gêneros conscientemente e apresenta um elenco de primeira é outro ponto forte dessa produção, fazendo desse longa-metragem uma experiência cinematográfica genial. Seu fracasso de bilheteria é algo que desencadeia tanta revolta quanto espanto. O filme é bom em vários aspectos e merecia receber por isso. O elenco que reúne atores e atrizes inspiradas interpretando personagens à primeira vista comuns, mas multifacetados com o decorrer da trama, proporcionam desempenhos fantásticos como os de Cynthia Erivo (praticamente cantando em A Cappella quase que toda a trilha sonora) e Lewis Pullman, dono de algumas passagens formidáveis do enredo capaz de causar tanta comoção quanto diversão. A presença do astro Chris Hemsworth é a mais incomum, porém conectada de modo orgânico com o caos que instala sobre os personagens iniciais.

Embora o filme tenha um terceiro ato um pouco mais longo do que habitualmente pode-se ver na maioria das produções estadunidenses, mas por consciência de seu realizador, também é imprescindível que se diga que o check-in também não foi um dos mais enxutos do cinema e provavelmente um dos mais longos que já se realizou até hoje. A longa duração do filme talvez seja aos olhos de muitos um defeito, porém também se mostra coerente com a proposta de reconfiguração de gêneros que seu realizador propõe com a descida ao inferno para os alegóricos hóspedes do Hotel Royale e seu funcionário. Por isso, “Maus Momentos no Hotel Royale” é um ótimo filme por várias razões, mas principalmente para quem gosta de se surpreender com mudanças radicais que assolam personagens dados como conhecidos.

Nota:  8/10
  

domingo, 5 de maio de 2019

Critica: O Hotel de Um Milhão de Dólares | Um Filme de Wim Wenders (2000)


O Hotel de Um Milhão de Dólares é um projeto de um luxuoso hotel que nunca chegou a ser realmente finalizado e acabou sendo abandonado por seus idealizadores.  Mas o auspicioso prédio na verdade ficou vazio, pois passou a ser ocupado por pessoas que vivem a margem do sistema social, onde pobres, drogados e pessoas desajustadas passaram a ser inquilinos do prédio. E quando o filho rebelde de um bilionário, também morador do prédio morre num misterioso acidente, o agente federal Skinner (Mel Gibson) entra em cena para investigar a circunstâncias do episódio onde todos os moradores do prédio são suspeitos e descobrir se a morte do jovem foi suicídio ou um assassinato. “O Hotel de Um Milhão de Dólares” (The Million Dollar Hotel, 2000) é uma produção dramática escrita por Bono Vox, Nicholas Klein e Wim Wenders, que também tem a direção do cineasta alemão Wim Wenders (responsável por filmes como “Tudo Vai Ficar Bem”, “Paris, Texas”, “As Asas do Desejo” entre muitos outros mais). Escolhido para abrir o Festival de Berlin de 2000, essa produção que dividiu o público e a critica especializada é estrelada por Mel Gibson, Jeremy Davis e Milla Jovovich. Entre algumas boas ideias e outras menos frutíferas, esse longa-metragem tem o seu maior brilho nos elementos que o materializaram do que no resultado.

O Hotel de Um Milhão de Dólares” tem na configuração de pessoas envolvidas uma atração muito maior do que no próprio filme. Para começar pela história escrita pelo vocalista da Banda U2. O famoso cantor Bono Vox escreveu o roteiro em parceria com Nicholas Klein e ainda realizou a bela trilha sonora do filme. Depois o filme tem a direção de Wim Wenders, responsável por excelentes filmes que precedem esse aqui, além da presença do astro Mel Gibson, um ator que na época estrelava suscetíveis filmes de ação. Embora “O Hotel de Um Milhão de Dólares” seja um filme até bem intencionado e tecnicamente muito competente (a direção de fotografia é belíssima), o desenvolvimento da história é inadequadamente lento, muito mais do que se poderia permitir. Ainda que o ritmo arrastado seja típico dos longa-metragens de Wim Wenders, o filme demora a mostrar ao que se propõe e acaba sendo cansativo aos espectadores que necessitam de uma direção mais clara quanto à história e uma narrativa necessariamente mais ágil. Mesmo que o nome de Mel Gibson seja a grande estrela da produção, seu personagem se mostra deslocado e perde terreno até para personagens secundários como o de Peter Stormare, um Beatlemaníaco que afirma ser o cérebro por trás do sucesso da banda.

O Hotel de Um Milhão de Dólares” é um filme interessante em alguns pontos, mas falho em vários aspectos. Sua história é um pouco confusa, seu estudo de personagens não causa empatia deixando o espectador com pouca coisa que se pode aproveitar. Suas melhores qualidades estão no visual de algumas passagens e em alguns desempenhos do elenco, mas ficou devendo tantas outras coisas que fica difícil elogiar o resultado por mais bonito que possa ser.

Nota:  5/10

sábado, 4 de maio de 2019

Crítica: Operação Fronteira | Um Filme de J.C. Chandor (2019)


Após anos tentando derrubar um perigoso chefe de um cartel de drogas da América do Sul, de modo oficial, o veterano Santiago ‘Pope’ Garcia (Oscar Issac) reúne uma esquadrão de cinco veteranos das forças especiais depois do surgimento de uma promissora possibilidade dada por uma informante. O plano é roubar alguns milhões de dólares que estão sendo guardados em uma fortaleza na floresta e eliminar o intocado traficante sem deixar rastros. Porém durante a fuga surgem inesperadas complicações que acabam prejudicando a fuga e pondo suas vidas em risco. “Operação Fronteira” (Triple Frontier, 2019) é uma produção estadunidense de ação escrita por Mark Boal e J.C. Chandor e também dirigida por J.C. Chandor, sendo seu quarto longa-metragem como diretor após “Margin Call: Um Dia Depois do Fim”, de 2011, “Até o Fim”, de 2013 e “O Ano Mais Violento”, de 2014. Lançado pela Netflix em 6 de março de 2019, o filme é estrelado por Oscar Issac, Ben Affleck, Charlie Hunnam, Garrett Hedlund e Pedro Pascal. Reunindo algumas boas ideias trazidas por um roteiro ardiloso, um elenco bem escolhido e um conjunto de cenas bastante movimentadas que nos fazem torcer pelo grupo dispensando julgamentos morais, talvez J.C. Chandor não esteja entregando um de seus melhores filmes, mas um bom filme sobre uma base teórica muito simples.


Operação Fronteira” não passa de um filme de roubo qualquer e muito parecido com milhares que já foram realizados. Seguindo uma fórmula cinematográfica comum, os planos da execução do roubo em primeira instância são impecáveis, didaticamente explicados ao espectador e realizados com o típico rigor técnico de produções estadunidenses respeitadas. Os movimentos de câmera, os procedimentos militarizados e os desempenhos são minuciosamente calculados para trazer ao espectador o máximo de realismo e sintonia com a proposta arquitetada. Mas por uma estratégica decisão do roteiro, lançado aos olhos atentos do espectador no momento certo da trama, o esperado e absoluto sucesso envereda previsivelmente para o fracasso e sorrisos desaparecem formando-se seguidamente semblantes preocupados. Dali para frente é só ladeira abaixo. Porém o elenco convence sem fazer força e a história que mexe com a profundidade dos interesses pessoais do grupo de mercenários é bem explorada sem favoritismos, dando um diferencial ao enredo. Algo que eleva o resultado de “Operação Fronteira”, além do fato de que J.C. Chandor elabora uma quantidade suficiente de cenas de ação para uma operação militar ligeiramente minimalista.  Além de fazer um trabalho de câmera eficiente e dotado de um ritmo adequado, há também uma adição de uma trilha sonora cool exibida na primeira parte.

“Operação Fronteira” é bem feito, indicado para apreciadores do gênero de filmes de assalto. O fato de o filme ainda tentar emplacar uma mensagem que serve como uma lição de moral sobre as consequências negativas, mesmo que não intencionais, das intervenções militares em outros países é um bônus para o espectador. Uma curiosidade: o título original do filme em inglês se refere a Tríplice Fronteira, conhecida por ligar as fronteiras do Brasil, Argentina e Paraguai. Numa ligeira passagem, o grupo passa por uma placa fazendo menção ao Brasil e atravessando a provável fronteira do Paraguai.

Nota:  7/10

sexta-feira, 3 de maio de 2019

Keanu Reeves tem armas, muitas armas

quinta-feira, 2 de maio de 2019

John Wick 3: Parabellum (2019)

(Estreia: 17 de maio de 2019)

Crítica: A Justiceira | Um Filme de Pierre Morel (2018)


Riley North (Jennifer Garner) é uma viúva que traça um implacável caminho de acerto de contas contra o cartel de drogas que foi responsável por matar seu marido e sua filha e da justiça que os manteve impunes diante de um panorama contrário a inocência. Depois de vários anos treinando para ser uma justiceira, Riley ingressa numa jornada de vingança sanguinolenta sem volta, onde a única solução que é capaz de somente ver é matar ou morrer. “A Justiceira” (Peppermint, 2018) é uma produção de ação escrita por Chade São Jõao e dirigida por Pierre Morel.  Tendo como protagonista a atriz Jennifer Garner e um elenco de apoio composto por John Ortiz, John Gallagher Jr., Juan Pablo Raba e Tyson Ritter, essa produção recebeu a indicação no evento Framboesa de Ouro na categoria Pior Atriz. Embora o desempenho de Jennifer Garner (atriz que já havia interpretado papéis de mulheres fortes e obstinadas no passado), a sua presença em “A Justiceira” talvez seja a coisa mais agradável que se possa ver. O diretor Pierre Morel que também já está habituado a dirigir filmes de ação nos moldes dessa produção, entrega um de seus filmes mais fracos de sua carreira. Assim sendo, entre boas sacadas que estão presentes nessa produção também há uma série muito maior de aspectos desagradáveis que fazem de “A Justiceira” um filme limitado que não passa de uma realização mediana sem força.

Entre erros e acertos de “A Justiceira”, um dos seus maiores problemas está no roteiro clichê de Chade São João. Sua trama é uma espécie de história de conhecimento público que não se esforça em propor reviravoltas para prender a atenção do espectador. Seu desenvolvimento é propositalmente previsível e passa a ser prejudicado ainda mais por alguns outros deslizes inconcebíveis. A transição de pacata dona de casa para assassina sem piedade não convence nem o mais desatento espectador. Há uma falta de elaboração do personagem de Jennifer Garner que é gritante aos sentidos. Se Garner até concede alguns momentos de interpretação adequados a proposta do filme e um desempenho que passa alguma credibilidade aos eventos mais agressivos (a atriz passou por treinamento militar e marcial intenso para viver a personagem) e Morel com toda a sua experiência no gênero após enfileirar ao longo dos anos produções como essa em sua filmografia, nunca deixa “A Justiceira” brilhar realmente na tela como deveria. Garner até se esforça, mas o roteiro pobre associado a uma direção que vê na figura de Riley North nada além do propósito de matar todo mundo sem o mesmo verniz cinematográfico que fez de Liam Neeson um dos mais promissores atores de filmes de ação dos últimos tempos, fica difícil ignorar as falhas presentes aqui.

Essa incursão badass de Jennifer Garner que é transposta em “A Justiceira” deixa a desejar em vários aspectos. Seu efeito de agrado é relativo a expectativa do espectador, que pode ou não se agradar com o pouco que acaba oferecendo ao público. O filme não chega a ser uma completa perda de tempo, mas também não se esforça em nada para ser um bom filme de ação como alguns lançados nos últimos tempos.

Nota:  5/10