sábado, 26 de agosto de 2017

Crítica: Um Dia Difícil | Um Filme de Kim Seong-hun (2014)


Quando o corrupto detetive Ko Gun-Soo (Lee Sun-kyun) se envolve em um acidente de carro a caminho do departamento polícia após uma rápida saída do velório de sua mãe, o atropelamento de um desconhecido vira sua vida de pernas para ar. Decidido a tentar encobrir o acidente se livrando do corpo da vítima, uma situação inesperada surge quando ele descobre que havia uma testemunha no local e que começa a chantageá-lo sobre o acontecido. “Um Dia Difícil” (A Hard Day, 2014) é uma produção sul-coreana de ação policial e suspense escrita e dirigida por Kim Seong-hun. Lançado no Festival de Cannes de 2014, onde foi recebido com impressões elogiosas, seu lançamento comercial modesto no ocidente não atendeu as expectativas que foram depositadas no produto. Embora o filme tenha obtido da crítica especializada boas impressões e vários prêmios em festivais, seu sucesso fora do mercado sul-coreano não foi instantaneamente favorável. Depois de uma onda de repercussão que o filme obteve entre espectadores que o conheciam e enalteciam suas qualidades, o verdadeiro reconhecimento do público veio posteriormente, quando dividiu a atenção do público ocidental equiparando bilheterias com blockbusters americanos de peso.


Carregado de humor negro, bastante suspense e alguma ação, “Um Dia Difícil” entra para um seleto grupo de filmes sul-coreanos imperdíveis, ainda que não memoráveis como de outros icônicos cineastas sul-coreanos. Com uma pegada mais leve e menos sanguinária do que a maioria das produções vindas de lá, o diretor e roteirista Kim Seong-hun entrega um filme ajustado ao propósito de prender a atenção do espectador. A violência ainda que presente, também é menos gráfica e mais conectada com o enredo. Se primeiramente o roteiro bem elaborado gera situações inteligentes na qual o protagonista se afunda cada vez mais, a condução de Seong-hun articula bem todo o estresse que o personagem de Lee Sun-kyun é submetido. A atmosfera tensa do personagem é bem impressa na película e funciona para o espectador. Quebrada apenas com toques de humor negro, a atmosfera tensa das circunstâncias é embalada por inteligentes reviravoltas e ótimas atuações do elenco principal. Tanto o desempenho sombrio de Cho Jin-woog, antagonista de Ko Gun-Soo, quanto atuação de Lee Sun-kyun são impressionantes.

Um Dia Difícil” não se passa necessariamente em um dia, mas sua duração de 111 minutos são um relâmpago na tela. Resultado de uma empreitada bem realizada, que mesmo que não seja ambiciosa funciona redondamente para quem gosta de filmes policiais diferentes do que o circuito estadunidense tem a oferecer. Sem heróis declarados, efeitos visuais revolucionários, protagonistas de nomes conhecidos e proporções épicas, “Um Dia Difícil” têm bastante potencial e um alcance que ultrapassa as fronteiras do Oriente e do Ocidente.

Nota:  8/10

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Crítica: Cães de Guerra | Um Filme de Todd Phillips (2016)


Miami, 2005. Quando dois amigos de infância, David Packouz (Milles Teller) e Efraim Diveroli (Johah Hill), agora com um pouco mais de 20 anos de idade descobrem a possibilidade de negociarem armas com o governo dos Estados Unidos, os dois descobrem uma oportunidade de lucrar muito com as guerras as quais seu país está envolvido. Durante a Guerra do Iraque, esses jovens passam a participar de pequenas licitações de contratos militares e começam a intermediar a venda de equipamento bélico para o governo. O negócio se mostrou muito lucrativo. Mas quando a dupla passa a ter problemas quando consegue um milionário contrato de US$ 300 milhões para armar o exército afegão, o chamado Contrato Afegão, seus métodos pouco transparentes de alcançar o sucesso são revelados, o que encerrou o meteórico e lucrativo negócio desses jovens. “Cães de Guerra” (War Dogs, 2016) é uma comédia dramática escrita por Stephen Chin e Todd Phillips. Dirigida também por Todd Phillips (responsável pela trilogia de “Se Beber, Não Case!”), essa produção é baseada em uma história real inspirada em um artigo de Guy Lawson publicado para a revista Rolling Stones. Com muito sarcasmo e boas passagens, o filme entrega uma boa dose de entretenimento através da trajetória desses dois jovens.


A história de “Cães de Guerra” é contada através da perspectiva de David Packouz, quando ainda exercia a função de massoterapeuta em Miami e se reconecta a uma antiga amizade de infância, o excêntrico Efraim Diverolli, que a pouco tempo havia se tornado um negociante de armas. David detalha seu ingresso na área do comércio de armas, sua meteórica ascensão e sua repentina queda. Sua história não chega a ser fascinante como a de Yuri Orlov, interpretado por Nicolas Cage em “Senhor das Armas” (2005), mas se mostra suficientemente interessante para prender a atenção do espectador. O filme ainda tem em seu elenco nomes como Kevin Pollak, Ana de Armas e Bradley Cooper em papéis secundários, mas é nos desvios de caráter de Jonah Hill e nos desdobramentos de Milles Teller que o filme se faz atraente. Com ótimas interpretações por parte do elenco principal, passagens de humor bastante funcionais e com alguns toques de dramaticidade razoável, “Cães de Guerra” até se mostra um filme mais sério do que se poderia imaginar considerando os nomes que compõem o elenco e está na direção. Todd Phillips equilibra bem o drama e a comédia que envolve seu produto, que dividido no que parece ser capítulos, a montagem se usa de ideias comuns do cinema como introdução (a cena inicial volta ser utilizada a certa altura da trama, mas com a compreensão do espectador).

Cães de Guerra” é inegavelmente interessante. Uma história de sucesso instável que ao contrário de seus protagonistas, que acabou nos levando a algum lugar. Sem críticas oportunistas, mas com algumas reflexões válidas, o filme declara em seu desfecho algumas conclusões inesperadas onde, por exemplo, o Congresso Americano chegou a chamar o Contrato do Afeganistão um caso de estudo para tudo o que há de errado nos processos de licitação do governo. Era inconcebível que dois jovens conseguiram vender armas para o Pentágono. Se mesmo que Todd Phillips possa ter criado um percentual significativo do material visto em “Cães de Guerra” com sua imaginação cinematográfica, o fato é que os dois tiveram mais sucesso na vida do que um dia David Packouz sonhou ter. Por isso, não é de se espantar que o governo americano ficasse surpreso.

Nota:  7/10

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Crítica: Bekas: Para o Alto e Avante | Um Filme de Karzan Kader (2012)


No inicio da década de 90, o Iraque, mais precisamente o território curdo se mostra uma terra difícil para se sobreviver. Nesse ambiente inóspito, os irmãos Zana e Dana, dois órfãos que vivem nas ruas da cidade e as margens da sociedade vislumbram na imagem do Superman a sua derradeira salvação. Decididos a viajar para a América para encontrar o super-herói para pedir ajuda sem a devida noção das dificuldades, os dois se desdobram numa odisséia pelo território iraquiano e suas fronteiras para viajar para os Estados Unidos. Enquanto o mais velho tenta traçar ao seu modo um plano sensato para esse feito, onde julga necessário ter transporte, passaporte e dinheiro para a viagem, o mais novo fantasia com o dia que o Superman virá ao Iraque para deter e punir Saddam Hussein e finalmente fazer a necessária justiça que seu povo necessita. “Bekas: Para o Alto e Avante” (Bekas, 2012) é um drama iraquiano escrito e dirigido por Karzan Kader (responsável pelo filme “A Última Hora”, de 2010). Aqui em seu segundo longa-metragem, Kader entrega um filme simples, inocente e de grande alcance. A sua inocente história possui uma alma universal, motivações válidas e contornos de fantasia deslumbrantes. Inspirado em um curta-metragem seu de mesmo nome e que recebeu vários prêmios, Karzan Kader se motiva a estendê-lo para algo mais extenso.

Bekas: Para o Alto e Avante” tem a forma e a essência de uma fábula. Uma fábula criada pela imaginação de duas crianças que ficaram órfãs e veem na figura do Superman a única solução para punir o homem que levou seus pais. Tanto que o filme se passa historicamente no período no qual Saddam Hussein mais perseguiu os curdos. A dupla de jovens protagonistas que nos conduzem numa espécie de road movie iraquiano, nos leva a vários cantos do Iraque. O espectador vai tendo aos poucos a noção do ambiente hostil que prevalece na região, mas sob um olhar que lança uma visão mais poética sob as condições da pobreza e miséria que assolam uma parcela grande da sociedade. Entre correrias e gritos, a agitação dos garotos nos apresenta suas dificuldades para sobreviver, suas motivações para a missão e suas perspectivas de futuro. Porém o enredo que é carregado de lições e mensagens válidas que enriquecem a trama de diferentes formas (o poder da família diante de adversidades talvez seja uma das lições mais relevantes impressas no enredo) as ideias são um pouco prejudicadas pelo ritmo agitado que expressam certo descontrole de câmera e montagem. Como os diálogos proferidos pelo elenco mirim, principalmente os de Zana, que são dados ao espectador em constantes berros vão sendo depois de algum tempo um desnecessário incômodo de fácil solução e que não atrapalhariam a autenticidade do produto.

Sobretudo, “Bekas: Para o Alto e Avante” é uma história de superação divertida de ser acompanhada e que é capaz de despertar alguma admiração sobre a figura dessas duas crianças que resistem bravamente em um ambiente que lhe pouco os favorecem, mesmo sendo crianças. Sensível, sensato e inspirador, a jornada dos dois garotos não encanta pela expectativa da chegada ao destino que eles a almejam, mas dos valores humanos que eles agregam pelo caminho. O que para todos os efeitos, é muito mais importante.

Nota:  7/10 
   

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Crítica: Jogo do Dinheiro | Um Filme de Jodie Foster (2016)


Lee Gates (George Clooney) é um descontraído apresentador de um programa de televisão que dá dicas de investimentos da bolsa de valores para seus espectadores. Mas quando durante uma transmissão do programa ao vivo, o estúdio é invadido por um intruso armado chamado Kyle (Jack O’Connell), que faz Gates e toda a sua equipe de refém, nada do que consta no roteiro daquele dia será seguido. Kyle recentemente perdeu todas as suas economias devido a uma dica dada por Gates e quer tomar satisfação dos responsáveis de sua ruina.  Aproveitando as circunstâncias do imprevisto, a diretora do programa, Patty Fenn (Julia Roberts) vai transmitindo tudo o que acontece em tempo real nesse cenário onde a audiência do programa cresce de acordo com a tensão dos acontecimentos. “Jogo do Dinheiro” (Money Monster, 2016) é um thriller de suspense estadunidense escrito por Alan Di Fiore, Jim Kouf e Jamie Lindem, e dirigido por Jodie Foster. Famosa por seus trabalhos como atriz em filmes como “Taxi Driver” (1976), “Silencio dos Inocentes” (1991), “Deus da Carnificina” (2011), entre muitos outros mais; ela também já dirigiu alguns episódios piloto para seriados e uns poucos longa-metragens de pouca expressividade. Curiosamente seu mais recente trabalho como diretora surpreende por aproveitar bem suas poucas qualidades.

De premissa sensacionalista e desenvolvimento bem ajustado ao propósito de prender a atenção do espectador do começo ao fim, “Jogo do Dinheiro” articula bem suas pretensões críticas com boas performances do elenco principal. George Clooney, Julia Roberts e Jack O’Connell se mostram ótimas escolhas de elenco que se adequam bem ao enredo que busca emplacar reviravoltas expressivas num contexto de ideias contemporâneo. Simplificando ao máximo os aspectos técnicos de um investimento na bolsa de valores, o roteiro lança uma crítica interessante sobre a posição de impotência em que investidores comuns estão diante da complexidade do confuso universo do mercado financeiro. Esses investidores estão às vezes sendo reféns de ações administrativas irresponsáveis e muitas vezes gananciosas sem ter direitos realmente válidos além do poder de venda antecipado antes de um inevitável prejuízo. O mercado se mostra cruel de formas diferentes. Isso é um ponto positivo para o filme. A forma como a importância do investidor está no necessário depósito, porém numa possível queda, seu direito a explicações são irrelevantes é genial. Mas o roteiro se eleva a outro patamar quando ainda mescla uma crítica aos critérios utilizados por emissoras na cobertura de eventos extraordinários. E principalmente a manipulação da cobertura, em sua forma ou substância. A forma como o extraordinário é imprescindível no momento, mas cai numa transição de banalização é curioso.

Jogo do Dinheiro” articula bem os complexos desdobramentos da trama, que transmitidos em tempo real, tanto Fenn quanto Gates precisam encontrar uma maneira de se manterem vivos enquanto algumas verdades escondidas não são descobertas. Desde o surgimento de Kyle na tela a certa altura do primeiro ato, o tom de urgência e tensão é implantado com um nível de eficiência moderado, mas sempre presente nas entrelinhas. Trata-se de um bom filme, acessível e pretensioso de uma forma agradável pelas interpretações do elenco principal. Talvez um dos melhores filmes já realizados por Jodie Foster. Mas é claro, atrás das câmeras.

Nota:  7/10

domingo, 20 de agosto de 2017

Jerry Lewis (1926-2017)

Morre aos 91 anos, um dos maiores comediantes da história. Uma lenda!

sábado, 19 de agosto de 2017

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Crítica: Deus Branco | Um Filme de Kornél Mundruczó (2014)


Lili (Zsófia Psotta) é uma jovem estudante que é obrigada a passar algum tempo morando com seu pai, Dániel (Sándor Zsótér) em um apartamento. Para sua companhia, Lili leva seu devoto cão de estimação chamado Hagen. Porém, a presença do cão torna-se uma intransigência para a permanência da filha, assim Dániel abandona a própria sorte o animal numa movimentada rua. No entanto o cão se mostra determinado a reencontrar a menina após uma série de abusos e atrai para si um grande número de cães de rua que iniciam uma revolução contra a opressiva raça humana. “Deus Branco” (White God; Fehér isten, 2014) é um produção dramática húngara escrita por Kornél Mundruczó, Viktória Petrányi e Kata Wéber. Dirigido por Kornél Mundruczó, o filme foi levemente inspirado no romance Desonra, do sul-africano J.M. Coetzee. O filme ganhou um lugar de destaque após estrear no Festival de Cannes 2014, sendo selecionado para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2015, mas não obteve êxito e acabou não sendo indicado. Premiado em Cannes com o Palme Dog (uma espécie de Oscar que é concedido a filmes, pelo desempenho de interpretação de cães verdadeiros ou digitalizados), essa produção reinventa os conhecidos filmes de cachorro e apresenta um material recheado de cenas de ação com toques de substância inesperada nas entrelinhas.

Deus Branco” é entre várias coisas, uma impressionante metáfora sobre racismo e xenofobia contada de uma forma bastante original. Essa premissa familiar na qual uma minoria sofre com o preconceito de uma raça dominadora é levada a tela de uma forma diferente. Sendo que curiosamente o conceito de “raça” é levado ao pé da letra pela narrativa, o diretor Kornél Mundruczó trabalha bem a ideia. Isso porque nesse caso, o conceito de raça dessa produção é focado em um cão, mestiço, refém do domínio humano e sem poder sobre sua condição. Dividido em três atos, o filme começa leve e é elevado a um nível dramático deslumbrante. Por fim, o seu terceiro ato é mais brutal e apavorante. Se o filme começa com os contornos de uma aventura ao estilo de “Lassie”, o filme termina nos moldes de “Os Pássaros”, de Alfred Hitchcock. Sem a interferência de recursos digitais, os animais que transitam por todo filme são todos animais reais coordenados por adestradores. A cena mais impressionante, que inclusive se apresenta duas vezes no filme, é a cena de abertura onde a cidade está com suas ruas desertas devido a repercussão que o enredo objetiva atingir, apenas Lili montada sobre uma bicicleta é confrontada com uma gigantesca matilha de cães descontrolados. É poesia, requinte visual e muita substância no mesmo filme.

Distante de se encaixar no estilo de filmes de Sessão da Tarde, “Deus Branco” surpreende pelas qualidades de sua proposta que é desafiadora de ser realizada. Além de criar uma construção de personagens válida para o elenco humano do filme, também confere passagens marcantes para os animais que transitam pela tela. A revolta dos animais talvez não seja dotada de realismo, mas funciona para dar a mensagem ao espectador. Embora haja uma incógnita, presente em seu título, que não consegui entender ou associa-la a algo claro. Provavelmente só faça sentido na Hungria.

Nota:  7,5/10

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Crítica: Prenda-me se For Capaz | Um Filme de Steven Spielberg (2002)


Frank Abagnale Jr. (Leonardo DiCaprio) é um jovem de classe média que mesmo com pouca idade acabou tornando-se um mestre de disfarces. Isso porque com apenas 18 anos, Frank já havia enganado muita gente ao se passar convicentemente por médico, advogado e piloto de avião sem nunca ter estudado para exercer tais funções. De família humilde que passava por dificuldades financeiras, e com pais com problemas na relação, Frank aproveitou suas habilidades naturais de se disfarçar e iludir as pessoas e passou a interpretar o papel da vida que desejasse e como quisesse ao ponto de aplicar golpes milionários sem nunca levantar suspeitas sobre sua figura. Responsável por uma série de fraudes bancárias realizadas em alguns poucos anos, a sua identidade foi durante algum tempo um mistério para as autoridades. Seu sucesso só foi barrado, quando o empenhado agente do FBI, Carl Hanratty (Tom Hanks), com muita obstinação e através do uso de todos os meios possíveis passa a caçá-lo pelo mundo para levá-lo a justiça. “Prenda-me se For Capaz” (Catch Me If You Can, 2002) é um comédia dramática estadunidense escrita por Jeff Nathanson e dirigida por Steven Spielberg. Baseada na vida de Frank Abagnale Jr., que antes mesmo dos 19 anos de idade já havia se passado por diferentes pessoas, seu principal crime foi à falsificação de cheques que de tão bom que era, acabou sendo contratado pelo FBI para ajudar na captura de outros falsários em atividade. Curiosamente uma significativa parcela dos métodos adotados pelos bancos hoje para legitimar cheques e evitar fraudes foram criações dele.

Aclamado pela crítica especializada e adorado pelo público em geral, “Prenda-me se For Capaz” é um filme que agrada com facilidade. Erguido com base numa história fascinante de uma figura desconhecida, Spielberg entrega um filme bem ajustado. Brilhantemente protagonizado por Leonardo DiCaprio e Tom Hanks, essa produção equilibra com precisão humor e dramaticidade como poucas obras de retratação biográfica conseguem. A visão de Steven Spielberg para a trajetória de Frank com o foco no entretenimento é bem vinda e muito bem sucedida, ainda mais pelo fato de que, o roteiro aproveita bem os vários aspectos dramáticos em volta do personagem, como as motivações do jovem criminoso (sua forte ligação com o pai, interpretado por Christopher Walken, e seu forte desejo de mostrar que ele é capaz de vencer na vida, como reaproximar os pais separados). O desempenho de DiCaprio somente não é maior do que suas façanhas em tela. A jornada de Carl Hanratty é outro ponto forte da trama, elevado pelo desempenho de Tom Hanks e novamente favorecido pelo roteiro ciente de sua proposta. O filme ainda tem uma participação especial da atriz Jennifer Garner, na época conhecida pelo seriado “Alias: Codinome Perigo”, desempenhando o papel de uma inocente garota de programa que se deixou enganar pela convincente atuação de DiCaprio.

Prenda-me se For Capaz” é o resultado de um filme de entretenimento de alto nível. Construído com a elaboração típica dos filmes de Spielberg, onde a produção é enriquecida com detalhes de cenografia e direção de arte que retratam a época em que os fatos se passaram com precisão, o filme lança o público numa onda de lamento e admiração pela figura de Frank Abagnale Jr.. Por isso, os incidentes que acompanham os percalços de Frank, desafiando a lógica e fazendo o espectador duvidar da veracidade da inspiração, como também os momentos memoráveis entregues pelos dois atores principais durante quase duas horas e meia de duração, são parte de um bônus de um trabalho bem realizado de um conjunto de escolhas bem feitas. As dificuldades de acreditar na fantástica trajetória de vida de Frank Abagnale Jr. são dissolvidas com competência do conjunto da realização.

Nota:  8/10

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Crítica: Mais Forte que Bombas | Um Filme de Joachim Trier (2015)


Quando a realização de uma exposição de arte que homenageia a célebre fotógrafa de guerra, Isabelle Joubert Reed (Isabelle Huppert), que em um trágico acidente de carro perdeu a vida, o planejamento para a realização do evento deixa os familiares, o marido, Gene (Gabriel Byrne), e seus dois filhos, Jonah (Jesse Eisenberg) e o mais novo, Conrad (Devin Druid) reviver de um modo diferente o difícil luto. À medida que a família junta e separa o material necessário para a realização da famigerada exposição, alguns segredos, muitas recordações e vários questionamentos em volta de Isabelle, como esposa, mãe e profissional, abre feridas mal cicatrizadas. As conclusões extraídas de sua morte nunca foram realmente unânimes, e por isso se mostram mais dolorosas do que nunca para todos. “Mais Forte que Bombas” (Louder Than Bombs, 2015) é um drama familiar escrito e dirigido pelo dinamarquês Joachim Trier (responsável pelo conhecido “Oslo, 31 de Agosto”, de 2011). Tenso, frio e deslocado do clima romanceado que habitualmente é adotado aos dramas estadunidenses, Joachim Trier cria um drama familiar interessante de ser acompanhado.


Mas “Mais Forte que Bombas” é um pouco estranho. Porque é estranho acompanhar os desdobramentos dos acontecimentos em volta de Gene, que tenta recomeçar a vida após alguns anos viúvo; o do caçula, Conrad, que com claros problemas de relacionamento com o pai e no colégio se mostra bastante retraído; e Jonah, que acaba de ser pai e demonstra ter dificuldades de assumir as novas responsabilidades que a vida recentemente nos impõe com o passar do tempo. O tom frio com que o cineasta pinta sua ficção familiar é estranho, entretanto ainda assim se mostra válido pela competência com que mescla o passado e o presente através de uma narrativa não linear para contar a história. Enquanto o presente nos faz apresentações e levanta questionamentos profundos, o passado nos trás revelações para podermos gerar nossas próprias conclusões sobre os fatos. Brilhantemente interpretado pelo elenco principal, tudo indica que os nomes que compõem o elenco captaram com consciência a intenção do diretor ao compor desempenhos contidos que representam bem os temas que o enredo explora. Os dramas em volta do sofrimento, da depressão, do distanciamento e das dificuldades de se relacionar são assuntos no qual a história mexe de forma concisa.

É curioso ver que Isabelle, uma fotógrafa que habitualmente vivia em perigosos campos de guerra capturando com sua câmera as imagens mais impactantes possíveis para retrata-la ao mundo de modo legítimo, em seu lar, ela demonstrava pouca familiaridade. É tão triste quanto estranho. Por fim, quando Joachim Trier consegue alçar as qualidades de sua obra à altura de suas estranhezas ou de seu foco incomum, ele faz de “Mais Forte que Bombas” um drama interessante de ser acompanhado.

Nota:  7/10

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Crítica: O Presente | Um Filme de Joel Edgerton (2015)


Simon (Jason Bateman) e Robyn (Rebecca Hall) sãoo um casal comum como qualquer outro, que elaboram planos e os veem se realizando dentro de seu tempo. Mas um encontro casual com um antigo conhecido da escola dos tempos do ensino médio de Simon desencadeia algo inesperado. O encontro que rendeu alguns minutos de conversa e a promessa de voltarem a se falar novamente no futuro, torna-se preocupante quando esse antigo conhecido chamado Gordon Mosely (Joel Edgerton) aparece na porta do casal com convites e presentes tentando restabelecer o vínculo do passado. “O Presente” (The Gift, 2015) é um drama de suspense escrito e dirigido por Joel Edgerton (mais conhecido por suas atuações em filmes como “Guerreiro”, de 2011; “Êxodo: Deuses e Reis”, de 2015; e “Destino Especial”, de 2016). Responsável pela atuação de coadjuvante de seu longa-metragem, o australiano Joel Edgerton surpreende em sua estreia atrás das câmeras e entrega um thriller psicológico bem fundamentado ao que se propõe fazer, mesmo apresentando uma trama simples em sua forma e estética. Embora o diretor demonstre talento como diretor, ao demonstrar total domínio dos necessários ingredientes que o gênero necessita ter para se fazer um bom filme, o mérito de seu trabalho também se encontra no roteiro que a princípio se apresenta corriqueiro, mas aos poucos mostra ao que veio.

O Presente” concentra-se em dissecar questões mal resolvidas do passado dos personagens de Jason Bateman e de Joel Edgerton. Uma dissecação metódica e precisa pelo o nível de qualidade desse longa-metragem. Mas isso o espectador não será familiarizado, assim de imediato ou até mesmo nos primeiros minutos, mas após acompanhar um punhado de educadas formalidades sociais e trocas de relações amáveis entre os personagens ao longo de sua duração. Um jogo de aparência bem criado se instala na construção da atmosfera desejada para prender a atenção do espectador e funciona com um nível excelência formidável. Enquanto a direção de Edgerton demonstra talento e destreza, seu roteiro é outro atrativo que chama a atenção. Quando alguns segredos presumidamente enterrados, marcados de constrangimentos vão surgindo aos poucos através de umas poucas reviravoltas bem pontuais e revelações dosadas pela narrativa, o espectador acaba tendo a devida noção do que se trata essa produção e o alcance das ideias que Edgerton tenta imprimir em seu trabalho. Com um pé consciente e forte no realismo, o filme descarta desfechos violentos e foge do lugar comum de produções do gênero. A atuação dramática de Bateman se destaca enquanto Edgerton demonstra sabedoria em querer dividir a tela, mas não querer para si o papel principal.

Envolvente, angustiante e ligeiramente sombrio, “O Presente” se desenvolve para a surpresa do público de forma lenta na tela, mas nunca arrastada. O trabalho de Edgerton consegue imprimir ao seu modo o seu próprio ritmo. Bem elaborado e intenso, as revelações encrustadas na obra são capazes de causar reflexões, surpresa e uma grande expectativa pelos futuros trabalhos de Edgerton como diretor e roteirista.

Nota:  7,5/10

domingo, 13 de agosto de 2017

sábado, 12 de agosto de 2017

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Crítica: Guardiões da Galáxia Vol. 2 | Um Filme de James Gunn (2017)


Depois de salvar Xandar da ira de Ronan em “Guardiões da Galáxia” (2014), o grupo formado pelo terráqueo abduzido quando criança, Peter Quill (Chris Pratt), a renegada filha de Thanos, Gamora (Zoe Saldana), o vingativo sobrevivente, Drax (Dave Bautista), o guaxinim modificado geneticamente, Rocket (com voz de Bradley Cooper) e o bebê Groot (com voz de Vin Diesel), também conhecidos como Guardiões da Galáxia, precisam ajudar Peter a descobrir a desconhecida verdade de suas origens quando um misterioso personagem celestial chamado Ego (Kurt Russel) entra em cena como uma salvação e incógnita na vida desses heróis. Porém, novas ameaças surgem para destruir a forte aliança desse grupo, ao mesmo tempo em que velhos inimigos se tornam aliados para impedir que uma força devastadora consiga dominar a galáxia. “Guardiões da Galáxia Vol. 2” (Guardians of the Galaxy Vol. 2, 2017) é uma produção estadunidense de ação e fantasia da Marvel Studios escrita e dirigida por James Gunn. Este é décimo quinto filme do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU). Na mesma linha de qualidade de seu antecessor, James Gunn entrega um filme espirituoso, divertido e repleto de momentos emocionantes. Para a surpresa de uma boa parcela de fãs, até mesmo superior ao seu antecessor.

Guardiões da Galáxia Vol. 2” é um filme de super-heróis extremamente divertido como deve ser. As cenas de abertura já dão prova disso, como a da enorme competência desse eclético grupo de heróis que no passado recente era desconhecido do grande público e que em 2014 surpreendeu muita gente nas poltronas do cinema. Personagens bem construídos a sua proposta, elenco carismático, efeitos visuais competentes e uma trilha sonora que era um show a parte, o primeiro filme barbarizou os fãs do gênero por sua qualidade. Em meio a incessantes risadas, o espectador era brindado com um espetáculo visual de primeira linha acomodado em uma história bem estruturada. Em sua sequência não é muito diferente, como também se mostra inclusive muito melhor por uma série de fatores representativos. Sendo que o enredo trabalha questões mal resolvidas do primeiro filme (o roteiro cria uma inesperada figura paterna para Peter com uma dupla função na trama); cria novas e criativas ameaças ao grupo (os embates entre os Guardiões e os Soberanos é sempre marcado de muitas emoções e risadas); confere justiça a certos personagens (o injustiçado Yondu, interpretado por Michael Rooker recebe um trato merecedor de herói também); ao mesmo tempo em que absolve outros personagens de seus pecados (a relação entre as irmãs Nebulosa e Gamora é mais aprofundada e gratificante do que no primeiro filme) e mostra que algumas consequências são resultantes das circunstâncias.

Com um elenco afinado, onde personagens como de Chris Pratt, Zoe Saldana, Dave Bautista e Michael Rooker se mostram a vontade dentro do enredo fantasioso da franquia, é curioso ver as melhorias dadas aos personagens em CGI. O bebê Groot é um bom exemplo disso. De uma expressividade peculiar dada pelos avanços dos efeitos visuais, sua minúscula presença na tela é dona de uma série de passagens bacanas ao longo do filme. O humor como marca registrada de produções do gênero, não é desperdiçada em momento algum. Rocket até ganha momentos onde alavanca algumas situações emotivas válidas e inesperadas. As piadas escrachadas e os comentários irônicos dos personagens principais são marcados de muita inteligência e astúcia dentro do enredo. As cenas de ação são brilhantemente conduzidas e os momentos dramáticos são muito bem articulados dentro do enredo e funcionam de forma bastante orgânica ao que se propõe fazer.

Sabe aqueles filmes que te surpreendem desde os primeiros minutos? Que você sabe que é legal sem causar dúvida. Que você sabe que pode agradar a toda família? Sabe aqueles filmes que você sente um desejo de revisitar ocasionalmente, seja pelas cenas marcantes, pelas sequências de ação bem feitas ou pela trilha sonora legal? Sabe aqueles filmes que você mal pode esperar para sua sequência ser lançada? Sabe? Eu acho que “Guardiões da Galáxia Vol. 2” é um desses filmes legais, que passam rápido diante dos olhos, mas grudam por muito tempo na memória do espectador. Uma sugestão: não deixe de ver todas as cenas extras que são distribuídas ao longo dos créditos finais, pois detem algumas piadas extras e informações interessantes sobre o futuro do Universo Cinematográfico da Marvel.

Nota:  9/10

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Crítica: O Convite | Um Filme de Karyn Susama (2015)


Convidado para um jantar na sua antiga casa, o casal, Will (Logan Marshall-Green) e Kira (Emayatzy Corinealdi) entre outros antigos amigos, o pequeno grupo atende ao convite da ex-esposa de Will, Éden (Tammy Blanchard), que após dois anos vivendo no México sob a condução de um desconhecido culto religioso, ela retorna com seu novo e misterioso companheiro, David (Michiel Huisman). A realização do jantar tem como intenção, o de reunir os velhos amigos e apresentar novas pessoas ao grupo. Porém dois anos antes uma insuportável tragédia separou Will de Éden, e embora parecesse que tudo havia sido superado pelo tempo, essa descompromissada reunião noturna abre feridas do passado e ganha contornos sombrios em meio a toda hospitalidade do casal de anfitriões. Mesmo que todos os convidados ignorem que algo estranho se passa na casa, Will suspeita que seus anfitriões tenham um plano assustador por trás de toda a bondade aparente para com os seus convidados. “O Convite” (The Invitation, 2015) é drama de suspense e horror escrito por Phil Hay e Matt Manfredi, a qual a produção tem a direção da nova-iorquina Karyn Susama. Tenso, sombrio e realista, a diretora entrega um filme formidável como poucos se comparado com as inúmeras obras que são lançadas ultimamente nesse gênero.

Quando Will atropela com o carro um cervo que atravessa a estrada a caminho do jantar, e num ato de misericórdia sacrifica o animal com uma ferramenta do automóvel, essa pesada cena já dá a entender o que vem pela frente em “O Convite”. Todo material é sombreado por uma sensação de aflição e estranhamento impressa em sua narrativa. O tom sombrio impera por todo o material gerando uma atmosfera de tensão quase paupável. Mesmo sem ter grandes nomes no elenco principal, o desempenho de Logan Marshall-Green, que em muito lembra em sua aparência e performance a figura do ator Tom Hardy, o pouco conhecido ator materializa e divide com o espectador todas as angustias presentes na casa. Pelo olhar de seu personagem, o ar delicado da normalidade é sempre alterado por suas desconfianças, pela situação delicada de seus traumas que beiram a paranoia ou pela sua inquietude diante das estranhas circunstâncias em que se encontra. Embora o filme tenha uma competente entrega de papeis feita por todo o elenco, o grande destaque se encontra mesmo no desempenho e pressentimentos do personagem de Logan Marshall-Green. O roteiro eficiente, com os dois pés firmados no realismo, serve uma proposta de mistério recheada de lógica intensificada pelas atuações convincentes e funcionais do elenco.

Responsável por filmes como “Boa de Briga” (2000), “Aeon Flux” (2005) e “Garota Infernal” (2009), a diretora demonstra um salto de amadurecimento admirável em “O Convite”. Obviamente proporcionado pelo material que detêm em suas linhas, para a felicidade do espectador, todas as características de um bom suspense psicológico que passa longe de clichês batidos e soluções fáceis. As tensões na tela acendem gradativamente, onde conforme o espectador acompanha atento aos desdobramentos do enredo, quando a atmosfera claustrofóbica cresce vertiginosamente até alcançar uma explosão mais do que esperada a todos que embarcaram nas desconfianças do protagonista. Além do produto competente que se mostra por um variado conjunto de acertos, de certo modo também se trata de uma crítica ao poder e influência nociva que alguns cultos religiosos têm sobre seus discípulos.

Nota:  8/10


quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Os Top 10 Filmes de Faroeste de Todos os Tempos

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Crítica: Nos Limites da Lei | Um Filme de Baran Bo Odar (2017)


Em Las Vegas, dois policiais corruptos, Vincent Downs (Jamie Foxx) e Sean Cass (Tip “T.I. Harris) roubam de alguns criminosos uma carga milionária de drogas que sem saber, pertencia a uma perigosa família de mafiosos. Algum tempo depois que foram descobertos pela autoria do roubo, o chefe do cassino Rubino (Dermot Mulroney) que estava negociando as drogas, então sequestra o filho de Downs para trocar pelas drogas e devolver ao legitimo dono, Rob Novak (Scott McNairy) um perigoso traficante. Porém no encalço de Downs, ainda está a oficial dos assuntos internos, a agente Bryant (Michelle Monaghan) que segue Downs até o cassino e interfere na troca com a intenção de prender todos os envolvidos nessa gigantesca transação de drogas. “Nos Limites da Lei” (Sleepless, 2017) é um thriller policial dirigido por Baran Bo Odar (responsável pelo filme “Invasores: Nenhum Sistema Está a Salvo”, de 2014). Sem uma história forte, um herói cativante e um roteiro bem trabalhado, a estreia da direção de Baran Bo Odar em território americano se mostra nada bem aos apreciadores de bom filme do gênero.

Nos Limites da Lei” peca muito e não convence. Embora Jamie Foxx e Michelle Monaghan sejam atores de talento e reputação reconhecida por trabalhos realizados no passado, suas performances nessa derradeira produção são bastante perturbadoras pelos inúmeros erros decorrentes de um roteiro confuso, clichê e insensato. Enquanto Monaghan em seu papel batido ignora sem explicações o manual de procedimentos de um agente de seu nível, provavelmente ciente das consequências de como uma ação impensada pode repercutir de forma negativa no futuro, Foxx se esforça para dar credibilidade ao seu personagem repleto de falhas. A tarefa de um policial corrupto e ganancioso se tornar herói, apenas pelo fato de que seu filho foi atingido como consequência de suas ações criminais, o desejo de redimir o personagem com o espectador não é uma tarefa fácil. Embora Foxx até se saia bem diante da pobreza de ideias do roteiro, dado por sua presença de tela cativante, ainda assim o ferimento adquirido através de uma facada entre as costelas do ator não doeram tanto nele ao longo do filme quanto aos sentidos do espectador que é capaz de notar que melhorava de acordo com o andamento da trama. Entre poucas ideias boas e alguns absurdos, o diretor consegue imprimir um ritmo instigante a produção, que alterna a construção de boas cenas e uma narrativa arrojada aos desdobramentos da ação que toma a tela.

Nos Limites da Lei” tem os seus momentos cativantes, onde ganha alguns pontos por sua ação bem orquestrada e algumas cenas razoáveis, mas no geral lhe falta uma série de atrativos realmente válidos para esse filme se tornar uma boa indicação de programa de entretenimento. Curiosamente o desfecho ainda sutilmente sugere a intenção de fazer um gancho para uma possível sequência.

Nota:  6/10


segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Crítica: Velozes e Furiosos 8 | Um Filme de F. Gary Gray (2017)


Depois que Bryan e Mia se aposentaram, Dominic Toretto (Vin Diesel) e Letty (Michelle Rodriguez) juntos novamente, os dois estão em Havana curtindo uma tranquila lua de mel ao estilo Toretto. Mas toda essa tranquilidade se acaba quando, uma perigosa terrorista cibernética chamada Cipher (Charlize Theron) entra em cena e arma um plano para chantagear Dominic. Obrigado a trair sua equipe e roubar uma perigosa arma que é a primeira peça de um complexo e letal quebra-cabeça, velhos amigos e antigos inimigos do passado trabalharão juntos para provar a inocência de Dominic e impedir que Cipher tenha sucesso em seu plano. “Velozes e Furiosos 8” (The Fate of the Fast 8, 2017) é uma produção de ação e aventura estadunidense escrita por Chris Morgan e dirigida por F. Gary Gray. Sendo o oitavo filme da franquia Velozes e Furiosos (o primeiro filme a ser filmado após a morte de Paul Walker em 2013), esse mais recente episódio entrega todos os elementos que alçaram essa franquia ao sucesso. Na verdade, sua maior pretensão ainda é além de cativar novos fãs, também tem como prioridade prender a atenção dos mesmos espectadores que tem acompanhado as movimentadas aventuras motorizadas.

Velozes e Furiosos 8” continua a investir solenemente nas mesmas ideias que o consagraram ao sucesso durante todos os anos. Rápido, explosivo e performático, essa produção segue a franquiada fórmula do sucesso que ela própria criou em 2001, pois continua a reutilizar velhas parcerias de Dominic, como Tej Parker (Ludacris), Roman (Tyrese Gibson) e Letty (Michelle Rodriguez); reaproveita parcerias transitórias como de Hobbs (Dwayne Johnson) e Frank Petty (Kurt Russel); inverte o posicionamento de personagens como o de Deckard Shaw (Jason Statham) e seu irmão e cria uma nova ameaça na figura da femme fatale, Cipher (Charlize Theron). Entre velhos e novos personagens, nada se perde em termos de elenco, pois tudo continua seguindo uma espécie de rotatividade aonde uns se vão e outros retornam para preencher papéis e funções dentro da trama. Cada vez mais grandioso em proporções físicas, ambicioso na geração de cenas, explosivo nas sequências de ação, determinado a fazer humor sempre quando possível, o filme segue uma crescente adição de efeitos visuais digitalizados para conseguir materializar audaciosas cenas de ação idealizadas em seu enredo. Exagerado ao extremo, qualquer traço de finesse é quase imperceptível diante de uma infinidade de explosões, tiroteios e perseguições automotivas de grande arrojo visual, e que muitas vezes, desafiam as leis da física.

A competência da história é razoável, dinâmica, conectada com ideais atuais e bem focadas na continuidade (há uma previsão de mais 2 filmes para serem produzidos nos próximos anos antes do encerramento definitivo). Entre diálogos infames e frases de efeito, o texto preserva aquela atmosfera ágil e bem bolada que todo fã espera dessa produção, onde uma imagem vale mais do que mil palavras. A presença de F. Gary Gray na direção é um acerto inquestionável, pois sua experiência e criatividade atrás das câmeras proporcionam ao filme cenas visualmente brilhantes e bem orquestradas. Um déficit desagradável desse episódio se encontra em sua trilha sonora, que ao contrário do passado, não consegue mais emplacar alguns hits grudentos pelas mãos de Brian Tyler. Assim sendo, “Velozes e Furiosos 8” é como quase todos os filmes da franquia: uma garantida dose de ação interrupta, diversão descomprometida com a substância e um inegável desfile de naves terrestres denominadas como “carros”.  Tudo de bom!

Nota:  7/10


domingo, 6 de agosto de 2017

Crítica: O Desinformante | Um Filme de Steven Soderbergh (2009)


Decatur, Estados Unidos, em 1992. Baseado em fatos reais, acompanhar a trajetória de vida de Mark Whitacre (Matt Damon), um ambicioso executivo da agroindústria é tão estranha quanto poderia ser à ficção. Em meio a uma rede desgovernada de mentiras criadas pelo próprio Mark, ele acaba se tornando um informante de grande valor para o FBI em um suposto caso de chantagem sobre a criação de um cartel sobre um produto relacionado à empresa na qual trabalha. No fim das investigações, os responsáveis foram presos, mas não sem antes algumas verdades improváveis virem a público. “O Desinformante” (The Informant!, 2009) é uma comédia dramática escrita por Scott Z. Burns e dirigida Steven Soderbergh. Baseado no livro do jornalista Kurt Eichenwald, publicado em 2000, o livro traça o perfil do protagonista dessa produção onde descreve em detalhes as inúmeras mentiras orquestradas sucessivamente por Mark Whitacre, as fraudes e o inesperado transtorno bipolar ao qual ele sofria e que o levaram a cumprir uma pena de 9 anos de prisão, recebendo a liberdade apenas em 2006. Embora não se trate de um filme necessariamente engraçado em sua essência, a atmosfera cômica que reina nessa produção aliada a uma história pedregosa consegue proporcionar alguns momentos de diversão ao espectador.

O Desinformante” está na mesma linha de filmes como: “Os Homens que Encaravam Cabras”, “Eu, Deus e Bin Laden” e “Sem Dor, Sem Ganho”. Ainda que todos esses filmes tenham sido vendidos ao público como comédias, de excepcionais premissas devo dizer, todas elas também são baseadas em fatos reais para a surpresa do espectador. Todas essas produções tiveram a sua premissa inspirada em fatos reais, levando o espectador a conhecer histórias malucas que resultaram em filmes estranhos. “O Desinformante” não é diferente. A premissa atraente, um protagonista incomum em uma história caótica de ser imaginada é a grande sacada dessa comédia. Seu enredo que prega o humor como atrativo é bem explorado, pela atmosfera cômica que lhe é dada e pelas atuações ajustadas do elenco. Matt Damon está muito bem no papel desajustado de protagonista, que produz uma quantidade enorme de mentiras patéticas que o faz se livrar e gerar mais problemas do que soluções. A figura de Mark Whitacre caiu como uma luva para Damon, que em muito lembra outros papeis que desempenhou sob o comando de Steven Soderbergh. A preocupante bola de neve que suas soluções rendem, só não é mais engraçada do que as reações dos agentes do FBI que ingenuamente não desconfiam de suas tramoias que são costuradas ao longo da trama.

O Desinformante” não é uma comédia de dar gargalhadas, mas consegue ainda assim divertir e ser um interessante passatempo. O problema é que seu alcance é curto pelo humor que embora bem feito em algumas passagens, não funciona na maior parte do tempo ou pela história, que cheia de rocamboles, também transpareça uma luta para se estender por mais tempo do que a premissa é capaz de oferecer material. É um filme razoável, um pouco abaixo da qualidade de outras obras de Steven Soderbergh e muito acima de outros filmes de Matt Damon.

Nota:  6,5/10

sábado, 5 de agosto de 2017

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Em Breve: Atômica (Atomic Blonde, 2017)


Lorraine Broughton (Charlize Theron) é uma agente disfarçada do MI6 que é enviada para Berlim durante a Guerra Fria para investigar o assassinato de um oficial e recuperar uma lista perdida de agentes duplos. Ao seu lado está David Percival (James McAvoy), chefe das atividades de espionagem na localidade. Para obter exito em sua missão essa assassina brutal usará todas as suas habilidades para superar os variados obstáculos que outros agentes irão impor para o sucesso de seu trabalho. Filme eletrizante e cartaz genial! Direção: David Leitch. Elenco: Charlize Theron, James McAvoy, Sofia Boutella, John Goodman e Toby Jones. 

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Crítica: O Último Verão | Um Filme de Ryan Schwartz (2016)


As vésperas do início da faculdade, oito jovens que passaram juntos um bom tempo do ensino médio, se reúnem a beira de uma praia californiana para curtir o último dia de verão. Entre brincadeiras descompromissadas, cervejas, reflexões profundas e muito bate-papo, o dia seguinte é esperado com muitas incertezas por esse pequeno grupo de jovens que estão prestes a virar uma página muito importante de suas vidas. “O Último Verão” (Summer of 8, 2016) é um drama juvenil estadunidense escrito e dirigido por Ryan Schwartz. Sua estreia na direção de um longa-metragem, o filme é estrelado por Carter Jenkins, Michael Grant, Matt Shively, Nick Marini, Shelley Henning, Bailey Noble, Rachel DiPillo e Natalie Hall. Ingênuo, nostálgico e vazio de autenticidade, o trabalho de estreia de Schwartz desperdiça um elenco de algum potencial devido a seu roteiro desconectado com a realidade contemporânea da juventude. Embora o cinema indie tenha certas iniciativas cinematográficas que devem de algum modo ser estudadas com mais cuidado antes de receber uma definição, esse certamente não é caso dessa produção que não diz ao veio e para onde queria ir.

É curioso ver que “O Último Verão” se utiliza de oito jovens para retratar um único personagem. Todos são muito parecidos, pois são bonitos, relativamente educados e não apresentam problemas reais em suas trajetórias de vida, o que não os permite de forma alguma representar a juventude de hoje. Embora as atuações sejam válidas e se mostrem de várias formas atraentes ao que o roteiro de Schwartz se propõe a discutir, o enredo se mostra uma perda de tempo. As divagações isoladas de um, e as discussões conjuntas de todos conferem ao espectador um mero passa tempo de pouca sabedoria e de resultado pouco usual. De certo modo, toda a história é marcada de alguma artificialidade e muito romanceada para dar espaço a certos dilemas insolúveis que não representam os questionamentos de uma juventude realista. Somente o fato dos oito jovens estarem as vésperas do primeiro dia da faculdade já é de causar estranheza. Quanto mais ainda, quando quase todos estão com as mesmas dúvidas assombrando suas mentes. Em contrapartida, o estranho é que os diálogos fluem com naturalidade pela tela, isso pelas qualidades do elenco ou pela atmosfera suave da produção. É inegável que o filme é bem capturado pela câmera, que na montagem articula todas as ações de forma a não se perder nada. A direção de fotografia, que confere contornos belíssimos ao litoral em que se passa todo o enredo é outro acerto dessa produção.

Porém, “O Último Verão” se mostra uma ligeira farsa, pois complica os momentos corriqueiros da vida e não impõe uma tensão autentica a seus personagens. Mesmo com toda a química que rola entre o grupo, conferindo credibilidade a essa amizade de longa data que representam ter, o roteiro usa esse famigerado dia de sol e areia equivocadamente. Isso porque, ao invés de apresentar o início de uma importante jornada de descobertas, sem deixar o espectador entediado com as revelações, o roteiro tenta sem sucesso valorizá-las ao máximo. Uma ingenuidade achar que uma trama tão projetada e agridoce quanto essa poderia agradar uma parcela significativa de público.

Nota:  5/10

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Crítica: Sicario: Terra de Ninguém | Um Filme de Denis Villeneuve (2015)


Em Chandler, no Arizona, um território fronteiriço entre os Estados Unidos e o México, os agentes do FBI, Kate Macer (Emily Blunt) e Reggie Wayne (Daniel Kaluuya) lideram uma invasão da SWAT em uma casa comandada pelo cartel de drogas mexicano. Dentro da casa, a equipe descobre dezenas de cadáveres e uma traiçoeira armadilha que mata dois policiais em serviço. Após o ataque, o chefe de Kate, Dave Jennings (Victor Garber) a recomenda para uma força-tarefa que vai trabalhar em conjunto com a CIA, sob o comando do oficial, Matt Graver (Josh Brolin) para capturar um poderoso traficante mexicano do Cartel de Sonora, Manuel Díaz. A CIA é auxiliada pelo enigmático Alejandro Gillick (Benicio Del Toro), e Kate se vê oprimida pela confusa e perigosa luta contra os cartéis de drogas, a fazendo se questionar quanto a tudo que dava como certo. “Sicario: Terra de Ninguém” (Sicario, 2015) é um drama policial estadunidense escrito por Taylor Sheridan e dirigido por Denis Villeneuve. Lançado no Festival de Cannes, em 2015, essa produção é estrelada por Emily Blunt, Josh Brolin e Benicio Del Toro. Lançando um olhar audacioso carregado de tensão e mistério que é montado sobre um inteligente quebra-cabeça, Dennis Villeneuve entrega um dos melhores filmes de 2015. 

Sicario: Terra de Ninguém” é o que supostamente filmes como: “Selvagens”, de Oliver Stone e “O Conselheiro do Crime”, de Ridley Scott; almejavam ser para o grande público e não conseguiram nem sequer uma possível aproximação. “Sicario: Terra de Ninguém” é um retrato impactante sobre os bastidores do narcotráfico mexicano como poucos filmes ficcionais conseguiram. Pois o roteiro de Taylor Sheridan vai além, e aborda de forma inteligente, vários outros aspectos que margeiam esse cenário intimidador. Sua narrativa que usa com sabedoria os grandes nomes do elenco é um bom exemplo de suas competências. Sua estrutura é muito mais genial do que se poderia imaginar. A inexperiente Kate, interpretada pela talentosa Emily Blunt, é a presença do espectador em cena. Confusa, perdida e constantemente assombrada pelos perigos da missão, as suas reações são presumidamente muito semelhantes a dos espectadores. O efeito de emersão proporcionado pela produção é impecável. Enquanto isso, Matt Graver, interpretado por Josh Brolin é a sabedoria da experiência e do conhecimento exclusivo que instrui na medida do possível a trajetória de Kate, e consequentemente a do espectador. As informações que ele lança na tela são novidades, tanto para Kate quanto para o espectador. Mas a grande sacada repousa no personagem de Alejandro, interpretado por Benicio Del Toro. Ele é o personagem que detêm as surpresas, as revelações e os momentos mais claustrofóbicos do enredo. Mesmo com poucos diálogos, sua presença de tela é incrível e vital para o sucesso dessa produção.

O cineasta Denis Villeneuve se destacou com seu “Incêndios”, em 2011, e surpreendeu o mundo com seu “Os Suspeitos”, em 2013. Embora “O Homem Duplicado”, também de 2013, inspirado em um romance de José Saramago tenha dividido opiniões por sua estética e foco experimental e pouco acessível ao grande público, a sua obra que se propõe a buscar uma abordagem realista de alguns aspectos nefastos que estão presentes no combate ao tráfico de drogas entre os Estados Unidos e o México é irretocável. De atmosfera bem elaborada, direção de fotografia inspirada, trilha sonora profunda e dono de inúmeras imagens de grande impacto aos olhos e aos sentidos, “Sicario: Terra de Ninguém” esbanja qualidades técnicas em sua história inquietante. Uma história brilhantemente protagonizada que sob uma condução formidável, deixa uma grande expectativa pelo futuros projetos cinematográficos Denis Villeneuve.

Nota:  9/10


terça-feira, 1 de agosto de 2017

Crítica: Uma Caminhada na Floresta | Um Filme de Ken Kwapis (2015)


Quando o famoso escritor de guias turísticos, Bill Bryson (Robert Redford) decide adiar a aposentadoria e encarar o desafio de caminhar na Trilha dos Apalaches, uma trilha selvagem de cerca de mais de 2.200 milhas de campo e selva que vai da Geórgia ao Maine e passa por 14 estados americanos para se reconectar com sua terra natal, ele nunca imaginou que o desafio que teria que enfrentar ao ceder à pressão de escrever sobre sua terra seria tão difícil. Depois de duas décadas na Inglaterra, em plena terceira idade, Bill decide fazer a trilha ao lado de um antigo amigo de escola, e não a primeira escolha, o incorrigível Stephen Katz (Nick Nolte), onde irão enfrentar vários obstáculos diferentes da natureza, conhecer muitas pessoas e acima de tudo, a eles mesmos também. “Uma Caminhada na Floresta” (A Walk in the Woods, 2015) é uma comédia dramática escrita por Rick Curb e Bill Holderman com base na obra literária de Bill Bryson. Dirigida por Ken Kwapis, essa produção passou por uma difícil jornada até sua realização. O livro de memórias A Walk in the Woods, de 1998, havia sido escolhido para reunir novamente Robert Redford e Paul Newman outra vez, mas devido a alguns problemas comuns de realização e a crescente diminuição da saúde de Newman antes de sua morte em 2008, o filme havia sido engavetado até que recentemente, a adição de Nick Nolte ao projeto com a aprovação de Redford, o filme veio a ganhar vida.

Uma Caminhada na Floresta” é um divertido passeio de entretenimento. Encantador, engraçado e visualmente bonito, a lente do diretor Ken Kwapis tira sem exageros, o melhor proveito possível de todas as qualidades previsíveis dessa comédia. Para começar, do entrosamento impecável de Robert Redford e Nick Nolte na tela. O filme é simplesmente deles em vários aspectos, pois as suas personalidades completamente diferentes se mostram no fim a mais clara confirmação de que os opostos se atraem pelo menos para divertir a plateia. Os dois veteranos gritam, esperneiam, dialogam e fazem o espectador rir na mesma proporção sem fazer força. Ainda que Redford tenha as melhores passagens, Nick Nolte não deixa a desejar. Depois disso, pelas belezas naturais presentes na geografia do lugar onde ocorrem as filmagens e que acomoda as peripécias da dupla de atores. O filme é simplesmente lindo. Auxiliado por uma direção de fotografia competente, o filme esbanja beleza  a cada frame que estampa as ricas paisagens naturais. Embora o roteiro não seja de ideias inovadoras, e nem quer ser, o humor de “Uma Caminhada na Floresta” funciona o suficiente para poder chamar  esse filme de uma boa comédia, ao mesmo tempo em que o presumido drama venha para preencher as lacunas do humor. Armado de algumas lições de vida agradáveis sobre amizade, sobre perspectivas de futuro e realizações do passado, o filme emplaca algumas ideias bastante interessantes se utilizando de uma boa dose de humor descompromissado e ligeiramente inteligente.

Nota:  7/10