quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Retratos Dramáticos de Carros Icônicos do Cinema

Ao usar réplicas de brinquedo de famosos carros de super-herói e de icônicos personagens do cinema, o fotógrafo Cihan Ünalan de Istambul cria uma série intitulada “Carros que Amamos”.  Trata-se de um projeto pessoal que se inicia com os exemplos abaixo (três versões do Batmóvel, a viatura dos Caça-Fantasmas e o DeLorean usado na franquia De Volta para o Futuro), e promete se expandir mais ao decorrer do tempo. Com condições de iluminação apropriada, e muita experiência em fotografia, o artista transpõe cada veículo com detalhes que facilmente convence o espectador de seu trabalho, de que se trata de carros reais. Aberto a sugestões, essas fotografias são somente o princípio. Confiram abaixo: 








Crítica: O Plano Perfeito | Um Filme de Spike Lee (2006)


Dalton Russel (Clive Owen) é um misterioso assaltante de banco. Certo dia, ele e seus comparsas invadem um banco de Nova York fazendo funcionários e clientes de reféns, enquanto do lado de fora, o detetive Keith Frazier (Denzel Washington) atormentado por uma suspeita de corrupção levantada por um conturbado caso, fica responsável pelas negociações com os bandidos. Numa negociação complicada, o proprietário do banco (Christopher Plummer) passa a interferir nas negociações através da influência de Madeleine White (Jodie Foster), uma habilidosa solucionadora de problemas que fará de tudo para proteger os interesses de seu contratante, que esconde em um dos cofres particulares segredos que jamais poderiam vir à tona. Mas o que ela não imagina, é que esse não é apenas um simples roubo de banco como imaginado, e sim, um impressionante e inesperado acerto de contas com o passado. “O Plano Perfeito” (Inside Man, 2006) é um thriller policial estadunidense dirigido por Spike Lee. Escrito por Russel Gewirtz (As Duas Faces da Lei, 2008), essa produção apresenta uma trama minuciosamente elaborada, seja em seu planejamento ou em sua execução. Embora tenha a primeira vista uma aparência comercial semelhante a outros exemplares do gênero (um assalto a banco que dispensa tiroteios), essa produção demonstra aos poucos um desenvolvimento tenso e fascinante que o difere dos demais.

Com um roteiro inspirado que mexe alternadamente com assuntos delicados (pós 11 de setembro), uma trama repleta de reviravoltas interessantes e pontuais, Spike Lee confere a essa produção seu toque pessoal e entrega um longa que prende a atenção de modo genial. Primeiro pela composição interessante de personagens atribuída pelo elenco principal (cheio de talentos antenados com a proposta aqui oferecida), além de um elenco multicultural de apoio seguro de si. E depois, pela dinâmica reservada a todos eles para que possam mostrar porque estão envolvidos nesse projeto. Como de costume, Denzel Washington rouba a cena, mesmo que desta vez, tenha um antagonista cheio de regras e princípios a sua altura, materializado no personagem de Clive Owen, que rende ótimos diálogos e situações intrigantes. E as margens desses dois estão Jodie Foster e Christopher Plummer com atuações discretas e competentes, e que mesmo não estando envolvidos na ação do assalto, acabam revelando-se as maças podres do cesto. Com uma trilha sonora diferenciada e nuances ligadas a preconceito racial, esses aspectos enriquecem o argumento explicando indiretamente o envolvimento de Spike Lee nesse curioso projeto. “O Plano Perfeito” pode não ser impecável (a resolução do assalto é pouco provável em um ambiente real), mas se mostra muito melhor do que vários filmes do gênero.

Nota: 8/10

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Crítica: O Cavaleiro Solitário | Um Filme de Gore Verbinski (2013)


Comparações com "Piratas do Caribe" são inevitáveis. Pudera, pois um é cara do outro em vários aspectos. Mas aquilo que é visto como defeito, também pode ser encarado como qualidade, já que "O Cavaleiro Solitário" (The Lone Ranger, 2013) leva para o espectador várias virtudes de sua inspiração. O problema é que isso irrita (logicamente) o conhecedor dos icônicos personagens desse faroeste, como também desagrada uma considerável fatia do público que repudia a infantilização das produções ligadas, quando não produzidas exclusivamente pela Walt Disney Pictures. Embora essa produção tenha fracassado nas bilheterias (que segundo os realizadores o fracasso foi decorrente das negativas críticas da imprensa especializada), "O Cavaleiro Solitário" orçado em 300 milhões de dólares, está longe de ser uma aventura ruim. Como também, está distante de ser um bom faroeste a ser guardado na memória de fãs do gênero. Entretanto, como toda boa aventura nos moldes das mega produções da Disney, inegavelmente diverte o espectador como esperado. Sua trama se passa em 1869, e nos apresenta o advogado John Reid (Armie Hammer), formando uma parceria improvável com o índio Tonto (Johnny Depp). Tanto um quanto o outro buscam fazer justiça, cada um ao seu modo, em relação ao perverso criminoso chamado Butch Cavendish (William Fichtner). E nessa busca por justiça, eles cruzam o caminho de Sr. Cole (Tom Wilkinson), responsável da ferrovia que visiona o progresso e está disposto a tudo para realizar suas ambições.

Com um roteiro aventuresco escrito por Ted Elliot e Terry Rossio (responsáveis pela franquia "Piratas do Caribe") junto a Justin Haythe, o cineasta Gore Verbinski cria um produto exagerado com evidentes limitações narrativas, mas despretensiosamente divertido (o que não basta para se pagar diante de um orçamento milionário). Com uma produção monstruosa (que emprega gigantes equipes de maquiadores, figurinistas, técnicos, dublês e efeitos visuais) cada centavo deste investimento pode ser notado no decorrer dos 150 minutos de duração desse longa. As locações e a ambientação de western é claramente construída com o propósito de adequar toda a rica estrutura disponibilizada pela produtora, a uma trama bem condicionada ao ritmo empregado pela direção de Verbinski: muita ação coreografada, piadas gestuais e nenhuma originalidade. E se o elenco apenas cumpre seu papel, onde que Armie Hammer se esforça para justificar sua presença na interpretação do icônico personagem do western, a presença de Johnny Depp é de difícil explicação, apesar de sempre funcional. William Fichtner compõe um vilão implacável que oculta uma ligação estratégica que gera uma boa reviravolta. É evidente que o grande mérito de "O Cavaleiro Solitário" resida acima de tudo nas sequências de ação, alternadas por situações cômicas que divertem, e que enfatiza o tom de aventura projetado para essa produção. Embora toda a ação demonstre sincronia, há absurdos digitais em excesso que comprometem por vezes a naturalidade da ação. Detalhe esse, que somente não compromete o conjunto da obra em sua totalidade, devido a habilidade adquirida de Verbinsky através da franquia  "Piratas do Caribe", em orquestrar extensas e complexas sequências de ação explosivas temperadas com humor, e que aqui são ainda mais acentuadas, ao som da canção tema "William Tell Overture", de Rossini, que desponta em momentos emocionantes da ação.

Sobretudo, apesar de todas as limitações visíveis em "O Cavaleiro Solitário", essa produção se mostra um entretenimento de apelo visual gritante e ligeiramente divertido, mesmo com a adição econômica do gritante "aio silver". Com muita ostentação de recursos e pouco conteúdo, essa produção acaba sendo vítima de sua própria grandiosidade. Seu maior pecado, é não ter atendido as expectativas que seu lançamento gerou entre fãs do personagem e a imprensa especializada. Curiosamente a Disney tem a cada grande sucesso, lançado um decorrente fracasso (rolou algumas cabeças nos bastidores da produtora, após o fracasso do interessante "John Carter Entre Dois Mundos"). Mesmo equilibrando a balança, isso obviamente não basta aos executivos. Em si tratando do experiente cineasta Gore Verbinski, ele se saiu melhor na condução de "Rango", uma animação também ambientada no velho-oeste, e que gerou mais críticas positivas e nenhum prejuízo a seu realizador.

Nota:  7/10

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Crítica: Polissia | Um Filme de Maïwenn (2011)


Ganhador do prêmio do júri no Festival de Cannes de 2011, em 13 indicações ao César (o equivalente ao Oscar) o filme francês “Polissia” (Polisse, 2011) aborda um tema espinhoso que causa revolta somente de ouvir: violência contra menores (ainda um tema pouco abordado pela sétima arte com eficiência). Baseado em histórias reais mescladas em um único longa, o roteiro de Maïwenn (que também dirige e atua nessa produção) e Emmanuelle Bercot, tem nesse longa a sua trama erguida na rotina da BTM (Brigada de Proteção à Menores) na cidade de Paris. Crimes como pedofilia, tráfico de menores e prostituição de crianças, são a especialidade de investigação dessa força policial. Com policiais que buscam a solução dos crimes, a rotina de buscar evidências de abuso infantil, a prisão de menores infratores, a execução de interrogatórios em pais suspeitos de abuso e a coleta de depoimentos de pequenas crianças que muitas vezes desconhecem sua condição de vítimas de um crime, compõe o repertório de situações que essa produção objetiva. Além do mais, joga um certo foco sobre particularidades em volta dos membros dessa força policial, que retratados com realismo, transparecem naturalmente imperfeições.


Polissia” prega sem dúvida pelo realismo. Para começar pelo título, que escrito errado, remete ao fato dessa produção lidar com crianças em fase inicial de alfabetização, que consequentemente provoca alguns erros gramaticais grosseiros. Um aspecto interessante embutido na proposta oferecida de modo genial. Com uma narrativa convencional, a direção de Maïwenn (em seu terceiro longa) descarta qualquer invencionalismo. Pela impressionante ótica dos policiais, as chocantes histórias que inspiraram esse longa são contadas. Com a maior parte da trama se passa em ambientes claustrofóbicos, como nas pequenas salas da delegacia, Maïwenn constrói sua trama reduzindo o alcance do ambiente, mas ao mesmo tempo dando contornos de veracidade a sua trama (a câmera da diretora é frenética). Apesar de ser uma produção pequena, sem esmero visual que esbanja recursos, tem em sua aparência simples uma conexão forte com o espectador. Com um grande elenco, a repleta gama de personagens tem uma divisão de tela equilibrada e uma profundidade interessante, sendo todos os personagens bem aproveitados. O que sumariamente parecia um filme onde o destaque eram as crianças (o que na verdade não deixa de ser), a forma de se contar a história passa a ser os bastidores da delegacia e dos membros da força policial. E através desse grande elenco, o roteiro se aprofunda de modo interessante e necessário na rotina desses policiais, que lidam com alguns casos cruéis que não deixam às vezes muitas alternativas.

Polissia” perde um pouco de seu impacto pela repetição da rotina da polícia, mas ganha força pelo tom de alerta ao espectador quanto aos problemas indigestos da sociedade. Ver como os mesmos policiais que possuem sérios problemas de estrutura familiar em casa, precisam muitas vezes lidar em seu trabalho com crimes causados pela mesma escassez de estrutura de seus lares. Com um final provido de impacto, após um desenvolvimento formal de inquestionável funcionalidade, a diretora entrega um filme sincero e forte. Mesmo sendo uma obra necessária de ser conferida, possui ressalvas: devido a algumas cenas mais fortes que incomodam, também não é para todos os públicos.

Nota:  8,5/10

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Crítica: Azul Escuro Quase Preto | Um Filme de Daniel Sánchez Arévalo (2006)

Jorge (Quim Gutiérrez) é filho de um zelador de prédio, que após seu pai sofrer um AVC se obriga a assumir a função profissional de seu pai ao mesmo tempo em que cuida dele. Pobre e com ambições profissionais bem maiores, Jorge sonha com uma ascensão social que justifique sua dedicação aos estudos e a sua formação universitária. O terno azul ao qual não tem condições de comprar simboliza indiretamente o ódio que tem de sua atual condição: desde a manifestação da doença do pai ele se sente incapacitado pelas circunstâncias.  Com uma autoestima baixa, vive em conflito com a namorada de infância, quando não, chocado com o amigo de duvidosa preferencia sexual. Mas quando seu irmão presidiário e estéril pede para que ele engravide sua namorada (Marta Etura) dentro de uma prisão mista, Jorge consegue ver inesperadamente (o que começou sendo apenas sexo com um propósito específico, acaba por se tornar uma paixão) uma nova razão para continuar vivendo. “Azul Escuro Quase Preto” (Azul Ozcuro Casi Negro, 2006) é uma tragicomédia dirigida pelo cineasta espanhol Daniel Sánchez Arévalo que remete a lembrança aos trabalhos do cineasta Pedro Almodóvar. Com o destino de vários personagens que se interligam com os percalços do protagonista, Arévalo cria uma realização divertida, com interpretações tocantes e uma belíssima direção de fotografia (que muito bem se conecta ao “azul” do título) através de um romance incomum e envolvente carregado de energia.


Através de uma trama sem reviravoltas, mas provida de um carisma acentuado, essa produção ganha o espectador pelos personagens humanos que apresenta. Com um enredo que busca instaurar reflexão no espectador (o desejo de um jovem em mudar de vida diante de inúmeras dificuldades), Daniel Sánchez Arévalo desenvolve uma trama contemporânea provida de sensibilidade e de um implacável realismo. Tendo um competente elenco a sua disposição, onde surpreendentemente Quim Gutiérrez faz a sua estreia na telona através desse longa, ele se mostra uma promissora opção para o futuro em propostas dramáticas feito essa. Com uma boa ambientação (as cenas do presídio funcionam sem apelar para clichês batidos), o conjunto técnico está repleto de expressivos acertos, que vão da sutil trilha sonora, a direção de fotografia que enfatiza o tom sombrio e tenso que permeia a vida dos personagens da trama, ao mesmo tempo em que embeleza a película. “Azul Escuro Quase Preto” retrata de modo interessante a possível insatisfação que naturalmente possamos ter de nossas vidas, originárias de frustrações inesperadas, ou desencadeadas da inevitável rotina desgastante do cotidiano. Apesar de o desfecho ser inferior ao desenvolvimento da trama, essa produção traz uma mensagem de esperança emblemática em tons sóbrios sem exageros, e acima de tudo, através de uma proposta avessa a colorir a vida em tonalidades fantasiosas.
Nota:  7,5/10
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terça-feira, 22 de outubro de 2013

Crítica: Temporada de Caça | Um Filme de Mark Steven Johnson (2013)


Benjamin Ford (Robert De Niro) é um veterano de guerra que serviu obedientemente ao seu país em vários conflitos pelo mundo. Dentre eles, inclusive na sangrenta Guerra da Bósnia, conflito esse do qual guarda lembranças horríveis. Aposentado após muitos anos de serviço militar, hoje vive isolado nas montanhas dos Apalaches distante da família e da civilização, com o propósito de esquecer os tempos de combatente e seus traumas de guerra. Porém, seu violento passado volta a persegui-lo com a intenção de se vingar, quando Emil Kovac (John Travolta) um ex-militar bósnio que sobreviveu a guerra, durante dezoito anos trama um plano de vingança direcionada contra Benjamin. Disfarçado de turista, Emil se aproxima como amigo e revela-se uma ameaça fatal. Diante dessa revelação, ambos encontram no que começa como uma inocente caçada, rapidamente ganha contornos de provação e vingança, acaba por se mostrar uma revelação surpreendente. “Temporada de Caça” (Killing Season, 2013) poderia ser qualquer coisa na vida, mas escolheu ser a coisa errada. Começa como um típico thriller de vingança como tantos que se disponibilizam no mercado atualmente, entretanto seu realizador, Mark Steven Johnson (responsável pelo Demolidor – O Homem Sem Medo e também pelo Motoqueiro Fantasma) busca desenvolver uma realização a qual não estava preparado, desperdiçando um promissor elenco que além de não cumprir a sugestiva promessa dessa produção, entrega um produto de difícil categorização.


Antes de qualquer coisa, uma verdade deve ser dita: os problemas dessa produção se encontram muito antes de Mark Steven Johnson sequer por a mão numa câmera de filmagem, como foi nos filmes aos qual seu nome esteve ligado, e foram citados logo acima. O roteiro de Evan Daugherty não acerta na proposta oferecida, e mesmo tendo um elenco de talentosos veteranos de atuação, tanto John Travolta quanto Robert De Niro, ambos os atores não conseguem proporcionar coerência ao pobre argumento. Enquanto o primeiro compõe um bósnio que se beneficia da criatividade e imaginação do espectador para explicar sua ainda existência, ou a forma como uma pasta chegou suas mãos e levou-o até seu objetivo, demonstra uma acomodação incômoda do roteiro, que muito bem poderia ser mais aprofundada substituindo a entediante introdução militarizada. Ao mesmo tempo, o segundo apresenta um solitário confuso, que apesar de todas as hesitações de aceitar companhia, se mostra rapidamente satisfeito e hospitaleiro com a visita desconhecida. A condução limitada de Mark Steven Johnson é outro problema, já que seu método de filmagem se mostra mecânico e sem nenhum brilhantismo visual que poderia enriquecer de algum modo à trama insólita, selando negativamente o destino dessa produção.

Temporada de Caça” perde o espectador por prometer um duelo surpreendente entre Travolta versus De Niro que até certo ponto, se desenvolve previsivelmente como esperado, mas também não empolga suficientemente. Mas quando a clássica vingança vai se revelando algo diferenciado da suposta sugestão, daí para adiante é que essa produção desanda descontroladamente.


Nota: 3/10

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Crítica: Matrix | Um Filme de Larry e Andy Wachowski (1999)


Se houve um dia em que eu saí do cinema com sensação de ter acabado de ver um pedaço da história da sétima arte, foi certamente ao término da sessão de “Matrix” (The Matrix, 1999). Através de uma narrativa conceitual inédita para a época, que abordava temas clássicos de forma bastante original, os cineastas Larry e Andy Wachowski mesclaram perfeitamente vários gêneros diferentes em um único longa-metragem com originalidade. Elementos como Kung-fu, ficção cientifica, realidade virtual, filosofia, ação, efeitos visuais inovadores (hoje, completamente exauridos pelas inúmeras reproduções ocorridas em outras produções) além de um romance convincente antenado com a era digital, fizeram dessa produção um marco do cinema ligado a Cultura POP. Através de uma estética de HQs e filmes de ação made in Hong Kong, a direção como também o roteiro dos irmãos, transpõe um universo repleto de possibilidades que foram perfeitamente bem aproveitadas.  Em sua história acompanhamos um mundo gerado por computador, que mantem a humanidade sob as rédeas que beiram uma escravidão, o hacker Neo (Keanu Reeves), sente a presença de algo incomum na realidade como conhece. E nesse momento, ele é resgatado por Morpheus (Laurence Fishburne), que revela uma verdade que irá mudar o mundo como ele conhecia.


Através de um roteiro bem amarrado, elegantemente cerebral sem ser chato, repleto de referências à cultura pop e sutis homenagens ao cinema convencional, essa produção de ficção cientifica bem conduzida também presenteia o espectador com impressionantes sequências de ação nunca antes vistas num só filme (cenas do Neo desviando de balas, tiroteios em câmera lenta, um helicóptero se chocando contra um prédio numa explosão fantástica, duelos de tirar o fôlego, e muito mais). Mas além do mérito de ter sido um filme vanguarda, que gerou sequências bacanas por sinal (Matrix Reloaded em 2003 e Matrix Revolutions também de 2003), um DVD somente com extras sobre os bastidores dessa produção, além de um DVD que intitulado “Animatrix”, composto por nove curtas de animação que esmiuçavam o universo de “Matrix” também inspirou a criação de outros produtos multimídia baseados nas histórias criadas pelos irmãos Wachowski, como livros, quadrinhos, jogos, que invadiram o lar de uma geração inteira através da internet. Lançando um herói que desprovido de uniformes extravagantes como dos quadrinhos, mas antenado nos interesses do mesmo público que tanto idolatra o formato, os cineastas criaram um fenômeno comercial que será constantemente lembrado no futuro. Com um elenco de heróis inspirado, num confronto épico com um vilão sensacional imortalizado pela atuação de Hugo Weaving, a história criada transcende os limites das possibilidades, pelo fato de que, mesmo após anos depois de seu lançamento, ainda tem sido referência certa para a elaboração de outros filmes que indiretamente adotam algumas soluções visuais e sua estética como inspiração ou homenagem.  

Por fim, é difícil escrever algo a respeito de “Matrix, que ainda não tenha sido dito, escrito ou contado por alguém. Sempre julgo a importância de um filme, pelo número de títulos que visivelmente são inspirados em uma obra específica. Por isso, mesmo depois de anos, ainda fico surpreso quando vejo cenas com o efeito bullet time sendo aplicado em sequências de ação de filmes atuais. Porém é inegável, que nada supera o conjunto criado pelos irmãos Wachowski, mesmo depois de todos esses anos. Lamentavelmente, a genialidade dessa produção inclusive tem sido um grande obstáculo para os próprios realizadores, que mesmo após anos (ainda que tenham realizados filmes bacanas, mas que nunca conseguiram resultados positivos de crítica e público na mesma proporção) não criaram um substituto a que desbancasse sua superioridade.

Nota:  10/10

Trailer do Filme: Matrix

Trailer do DVD Animatrix

Crítica: Machete | Um Filme de Robert Rodriguez (2010)


Machete (Danny Trejo) era um renomado policial no México traído por seus colegas de trabalho. Cerca de três anos após o ocorrido, quando Machete residindo nos Estados Unidos e sobrevivendo de pequenos trabalhos de jardinagem e carpintaria, o sujeito recebe uma proposta lucrativa. Machete receberia US$ 150.000,00 para matar o Senador McLaughin (Robert De Niro) conhecido por ser impetuoso com os imigrantes ilegais que atravessam constantemente a fronteira do México. Mas o que ele não sabia, era que novamente seria traído.  Porém agora ele irá saciar seu desejo de vingança matando todos aqueles que conspiraram contra ele. “Machete” (Machete, 2010) foi dirigido por Robert Rodriguez, e era em seus primórdios apenas um trailer falso que antecedia o longa-metragem “Planeta Terror” (2007), também dirigido pelo cineasta. Após cativar milhares de espectadores o responsável foi convencido a criar um filme sobre o personagem na íntegra saciando o desejo de milhares de fãs. Tanto “Planeta Terror”, como “A Prova de Morte” (esse segundo, uma produção escrita e dirigida por Quentin Tarantino) compõe o “Projeto Grindhouse”, em que ambos os cineastas tendo como base filmes de baixo orçamento nos moldes de produções B da década de setenta criaram essas duas produções incomuns.

Machete” segue veemente a estética dos filmes de Grindhouse. Repleto de personagens no limite da canastrice, diálogos horrendos, violência e erotismo gratuito, essa produção tem contornos exagerados de filmes B que beiram ao trash. No entanto, Rodriguez consegue contextualizar em sua trama escrachada um enredo político que critica o modo que as autoridades americanas lidam com o problema da imigração ilegal de forma sutil e inteligente. Ao transformar o improvável ator Danny Trejo de coadjuvante de inúmeras produções hollywoodianas a protagonista de um filme cult, Rodriguez cria um personagem de aparência e essência excêntrica que funciona com perfeição dentro da proposta desse longa-metragem. Sua estrutura técnica (fotografia saturada, trilha sonora energizada como na canção “Ave Maria” ocorrida na igreja e sequências de ação absurdas quando não extremadas) funciona com a mesma funcionalidade que o elenco de apoio composto por grandes nomes da indústria (Robert de Niro, Jessica Alba, Lindsay Lohan, Steven Seagal e Michelle Rodriguez) que normalmente não trabalhariam em filmes desse gênero se não fosse para Robert Rodriguez.

Machete” é uma produção que apesar de ser um bom filme, também pode ser confundido como uma produção horrível. Dependendo da forma como o espectador o encara. Para um espectador habituado com o esmero de produções hollywoodianas essa produção é bizarra, porém para um espectador consciente da proposta aqui oferecida, esse longa é apenas um pouco mais exagerado do que geralmente produções desse gênero tinham a oferecer. Definitivamente não é para todos os gostos, o que não quer dizer que não tenha sabor.

Nota: 7/10

domingo, 20 de outubro de 2013

Alguns Cartazes Orgasmicos de Ninfomaníaca


Ninfomaníaca” é o polemico drama erótico de Lars von Trier (Anticristo), onde o espectador irá acompanhar a trajetória de uma viciada em sexo chamada Joe (Charlotte Gainsbourg), do inicio de sua vida sexual aos cinquenta anos. O longa metragem que foi filmado de modo continuo será dividido em duas partes que unidas gerarão até cinco horas de duração. Com cerca de duas horas e meia em cada exibição, deixo abaixo alguns cartazes bem sintonizados com a proposta, mostrando o lado mais íntimo dos personagens dessa produção em 13 cartazes individuais.







Ainda sem previsão de estreia no brasil, o filme deve ser lançado somente em 2014.

sábado, 19 de outubro de 2013

Cartazes Alternativos de Gravidade


Sob encomenda do site Shortlist vários artistas diferentes (Chris Thornley, Rachel Sinclair, Tom Muller, entre outros) ilustraram em cartazes alternativos de cinema a sua visões sobre a tensão materializada no longa-metragem “Gravidade” (Gravity, 2013), dirigido e co-escrito pelo cineasta Alfonso Cuarón. O sucesso desse filme de ficção cientifica de contornos dramáticos se revelou uma surpresa para críticos e espectadores do mundo, já que devido a sua narrativa de elenco mínimo (o filme é praticamente de Sandra Bullock, ainda que tenha o ator George Clooney sendo creditado como protagonista) e de premissa ligeiramente simplista. Além de ter uma estrutura de desenvolvimento bastante complicada, onde há um ambiente espacial todo gerado através de efeitos visuais, essa produção conseguiu um resultado fascinante e inusitado. Confira alguns cartazes alternativos que homenageiam essa produção: 





sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Crítica: Inimigos de Sangue | Um Filme de Eran Creevy (2013)


Por um longo tempo Jacob Sternwood (Mark Strong) foi um dos criminosos mais procurados do Reino Unido. Sua captura era uma questão de honra para o detetive Max Lewinsky (James McAvoy) que depois de uma operação frustrada onde inclusive foi baleado e sobreviveu devido à generosidade do criminoso, passou a ser motivo de chacota entre colegas. Mas depois desse evento, Jacob vive em exilio na distante Islândia aposentado da vida criminosa. Contudo, quando seu filho se envolve em problemas com a lei e vai parar numa cama de hospital sob a guarda da polícia, ele precisa voltar a Londres para resgatá-lo. E certo disso, Max vê nessa ação a oportunidade de captura-lo definitivamente. Porém, quando ambos passam a se confrontar com um inimigo em comum, precisam deixar suas indiferenças de lado juntando forças para combater uma ameaça maior que suas desavenças passadas. “Inimigos de Sangue” (Welcome To The Punch, 2013) é um thriller de ação e suspense de aparência arrojada e elegante, que prima pela estética acima da substância, e desperdiça um bom elenco e uma produção requintada.


Dirigido pelo diretor londrino Eran Creevy (oriundo do universo paralelo dos clipes musicais), ele cria uma trama que em teoria gera uma boa premissa, mas que não se desenvolve com fluência. Apesar de locações elaboradas que valoriza uma urbanização organizada, o apuro do uso de câmera em cenas de ação frenética e dois grandes atores encabeçando o elenco principal, Creevy não consegue converter toda a estrutura técnica que tem ao seu dispor, em uma climatização que se faça notar. A ação apesar de bem realizada não apresenta nada de novo, ao mesmo tempo em que os momentos de tensão apenas exigem do espectador atenção sem merecimento. Mark Strong, quase um especialista na interpretação de vilões e sempre de grande presença de tela, entrega dessa vez uma atuação somente agradável, já que James McAvoy, simplesmente falha na composição de um homem obstinado por fazer justiça a qualquer preço como sugeria a princípio. E muitas das falhas que correm por essa produção estão no debilitado roteiro que faz todo tipo de apelação para chamar atenção sobre os próximos acontecimentos (até mataram a mulher do mocinho).

Com apenas uma boa cena que gera algumas emoções diferenciadas que valem dar alguma credibilidade a essa produção (a cena onde todo mundo está reunido na sala de estar antes de um tiroteio que indica algumas eminentes fatalidades), “Inimigos de Sangue” não consegue criar uma conexão real entre os protagonistas como o título nacional sugere. Apesar de serem atores de reputação elogiosa, seus resultados ficaram abaixo do que se esperava, e muito disso, em função da ausência de um condutor de atores, sendo que Eran Creevy está mais para um orquestrador de imagens bonitas como se essa produção fosse um vídeo clipe de alguma banda famosa.

Nota:  5/10

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Crítica: Adeus, Minha Rainha | Um Filme de Benoît Jacquot (2012)


O destino é implacável. Pelo menos a história nos mostra isso em relação a certas personalidades como a de Maria Antonieta (que de fato foi degolada a certa altura da violenta Revolução Francesa) não conferindo mais surpresa ao espectador. Trata-se de uma figura histórica infinitamente mencionada nos livros de histórias. Inclusive, seus percalços já tiveram uma equivocada retratação em um longa-metragem de responsabilidade de Sofia Coppola (que uniu seu estilo sorumbático de filmar ao som de uma trilha sonora nada convencional para uma produção de época relativamente séria), que tornava seu destino cinematográfico um ultraje. Sabendo disso, talvez o diretor Benoît Jacquot decidiu ao invés de focar seu drama no destino da rainha, espertamente optou por usá-la apenas como parte da história, fazendo com que o espectador procure acompanhar sim, a trajetória de Agathe-Sidonie Laborde (uma das leitoras preferidas da alteza). “Adeus, Minha Rainha” (Les Adieux à la Reine, 2012) é a realização de um eficiente drama (no clima e nos detalhes que materializam o ambiente em que se passa a ação) que não se distancia dos fatos históricos e se revela um entretenimento responsável. Em sua trama acompanhamos em suma Maria Antonieta (Diane Kruger), abalada pelo amor que nutre pela duquesa Gabrille de Polignac (Virginie Ledoven), vive deprimida. Depressão essa que confidencia para uma de suas leitoras, Agathe-Sidonie Laborde (Léa Seydoux) e que coincidentemente também guarda em seu coração alguns segredos em relação à Rainha. Estamos no primeiro ano da Revolução Francesa no ano de 1789, onde a tensão nos arredores do Palácio de Versalhes cresce quando a fortaleza de Bastilha no âmago da realiza parisiense é invadida. Revelada uma lista com 286 nomes de pessoas que serão guilhotinadas, que dentre elas, o Rei Luis XVI e sua esposa, o desespero toma conta do palácio e as horas começam a passar para que se escreva a história.


Caso a história dos livros não gera material que desperte atenção sobre os eventos de um dos maiores momentos políticos da história da França, talvez algumas facetas dos bastidores da realeza que reinava naquele tão famigerado período gere interesse. Com ótimas interpretações do elenco principal (apesar da excessiva gama de personagens secundários pouco explorados que vão surgindo ao decorrer do desenvolvimento da trama), a astuta abordagem focada na tensão que toma os corredores do Palácio de Versalhes ao invés de âmbito nacional e uma reconstituição de época impecável em vários aspectos, Benoît Jacquot constrói um filme que não se prende aos contornos políticos dos fatos (apenas os utilizando como pano de fundo), e cria um envolvente suspense de época. Os confrontos e rebeliões que tomam as ruas de Paris são deixados de lado, descartando cenas de violência excessiva. A narrativa limita-se aos muros do castelo e investe nos conflitos internos das mulheres com descrição, permeando sua narrativa com várias suposições e teorias de incerta confirmação. Filmado com um estilo incomum para filmes do gênero, Benoît Jacquot busca enfatizar sentimentos e emoções das personagens através de invariáveis close-ups e de intencionais tremulações de câmera que se mostram um pouco excessivos e cansativos a certa altura. Por fim, “Adeus, Minha Rainha” não chega a ser minimalista, mas tem proporções reduzidas de espaço e pretensão. Apesar de conseguir gerar tensão de qualidade digna de aplausos, evidentemente busca apenas explorar algumas nuances de uma devota empregada a sua indomável patroa.

Nota: 7,5/10
  

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Crítica: O Jardineiro Fiel | Um Filme de Fernando Meirelles (2005)


O Jardineiro Fiel” (The Constant Gardener, 2005) é a estreia do cineasta Fernando Meirelles (responsável pelo icônico “Cidade de Deus”) em território estrangeiro. Estreia essa que não podia ser melhor. Tendo como base uma adaptação de um romance de John Le Carré (cujo trabalho já havia rendido outros bons filmes como “O Alfaiate do Panamá” e “O Espião que Sabia Demais”), Meirelles impressiona por manter seu toque autoral sobre o projeto além do poder sobre a obra (recusou a participação de Nicole Kidman no papel principal pela contratação de Rachel Weisz). O trabalho de John Le Carré tem como característico misturar intrigas políticas com tramas de espionagem sedimentadas com grandes doses de suspense. Em “O Jardineiro Fiel” temos a tira colo uma fascinante história de amor marcada de adversidades e contada com sensibilidade e de forma fascinante. Em sua história acompanhamos Justin Quayle (Ralph Fiennes) um renomado diplomata britânico que se apaixona por uma ensandecida ativista dos direitos humanos, chamada Tessa (Rachel Weisz) depois de uma atrapalhada palestra. Apaixonados acabam se casando e após alguns anos casados o casal passa a residir na região do Quênia, onde Justin se mantém ocupado com suas tarefas diplomáticas enquanto Tessa investiga sigilosamente grandes golpes envolvendo megacorporações farmacêuticas que lucram com a miséria da África. Mas quando Tessa é misteriosamente assassinada e as provas do crime levam Justin a duvidar da fidelidade de sua esposa, faz com que Justin ignore todos os avisos e passe a investigar por conta própria no que sua mulher estava envolvida, e consequentemente acaba colocando sua vida também em risco.

Com uma narrativa entrecortada, uma direção de fotografia saturada e uma linda história de amor carregada de lirismo, Meirelles em seu segundo trabalho de direção cinematográfica cria um longa-metragem que não deve em nada para diretores mais experientes. Com atuações espontâneas motivadas pela condução de Meirelles, cineasta oriundo do mundo da publicidade, o elenco entrega atuações inspiradas e de grande beleza. Com uma trama exibida em grande parte através de flashbacks funcionais que se alternam com a ação real, o foco que o cineasta canaliza sobre a determinação de Tessa para impedir que as indústrias farmacêuticas parem de se favorecer sobre a miséria da África, que usa os cidadãos pobres e necessitados como cobaias para a aplicação de seus remédios, trás para a película um tema de alerta urgente abordado com fluência e sensibilidade. Mas quando Meireles passa a acompanhar a busca de Justin pelo paradeiro de Tessa, e por esclarecimentos sobre seu desaparecimento, é quando essa produção ganha à proporção de um grande filme que o espectador guarda na memória. Com uma montagem bem orquestrada, cenas quase que documentais sobre a triste condição de vida do Quênia e de outras partes da África (mas sem apelação), Meirelles cria uma obra carregada de emoções que resultam num grande drama. “O Jardineiro Fiel” tem uma história antenada com um tema pouco usado com habilidade (as conspirações corporativas sobre os menos favorecidos com o aval de governos negligentes com seu povo), sendo que essa produção consegue associar com funcionalidade uma ficção bem conduzida sobre um romance legítimo e contemporâneo com um tema que facilmente renderia um bom documentário. Meirelles juntou as duas possibilidades em um grande filme.
Nota: 8,5/10

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Crítica: Tudo pelo Poder | Um Filme de George Clooney (2011)


Mike Morris (George Clooney) é um governador democrata e candidato a presidência pelas primárias, que passa no exato momento pelo Estado de Ohio, em uma disputa acirradíssima com outro candidato representado por Pullman as vésperas das eleições. Morris estampa uma conduta liberal, com discursos afinados e respostas na ponta língua para debates sobre temas polêmicos. Um propenso candidato que tem grandes chances de vencer, embora seus assessores, Paul (Philip Seymor Hoffman) e Stephen (Ryan Gosling) os marqueteiros de sua campanha julguem necessário fazer alguns tratos políticos pouco ortodoxos para conseguir apoio, mesmo contra sua vontade. Mas em meio à fachada bem construída do governador (inteligente, pai de família e cheio de boas intenções), nos bastidores ele comete o pecado capital da política norte-americana: ele envolve-se com a estagiária Molly (Evan Rachel Wood) num caso em que Stephen tenta resolver em segredo para que não venha a público. Porém, após uma proposta do coordenador da campanha do candidato adversário, Tom Duffy (Paul Giamatti) de mudar de lado, Stephen vê seu mundo desabar. Mas detentor de um grande segredo sobre Morris, Stephen irá contra tudo e contra todos para manter sua posição privilegiada na política, mesmo tendo que jogar sujo anulando qualquer resquício de ética existente no meio. “Tudo pelo Poder” (The Ides of March, 2011) é um enxuto drama política sobre os bastidores do poder conduzido por George Clooney em sua melhor direção da carreira.


Com uma história que prende a atenção pelos personagens, o roteiro escrito a três mãos (de responsabilidade de George Clooney, Grant Heslov e Beau Willimon), entrega ao espectador algumas nuances dos bastidores da política com muita dinâmica, deixando a cargo do argumento o maior brilho dessa produção. A cobertura dada ao cabo de guerra travado entre as assessorias de imprensa de cada candidato tem a certa altura o maior foco, como também a exibição didática das estratégias necessárias para se conseguir uma vitória (manipulação de mídia junto aos canais de comunicação, antecampanha que funciona como contra tempo aos adversários, o uso de alianças politicas desonestas e de conveniência materializada por um senador, entre outras mais), confere uma agilidade narrativa antenada com a proposta desse longa metragem, mesmo que não apresente grandes novidades. Mas a corrupção do vale tudo da política, alcança outros níveis, como na personagem da jornalista Ida (Marisa Tomei), voraz por um grande furo de reportagem não hesita em fazer todo tipo de chantagem para consegui-lo. Com atuações fantásticas, quase reais de tão convincentes, o elenco impressiona. George Clooney que apesar de interpretar um homem acima de qualquer suspeita (não sendo apenas seu empregador, mas um ídolo para Ryan Gosling) não está isento de cometer erros como qualquer eleitor. Ryan Gosling, casado com o trabalho, transpõe um homem cheio de idealismo que sofre uma transformação (inevitável dependendo do ponto de vista) distanciando-se do lado cômico do primeiro ato. Qualquer vestígio de ingenuidade vai se perdendo a medida que a trama vai ganhando novos contornos. O papel de Evan Rachel Wood, um clichê no mundo da política é um causador de tensão que desencadeia os melhores diálogos entre Gosling e Clooney. Como Phillip Seymor Hoffman, alternado entre momentos de tranquilidade a extrema intensidade, enquanto Paul Giamatti arquiteta inteligentemente sua estratégia de estabilizar seus oponentes, todos os atores entregam personagens incríveis. Como o próprio cartaz evoca, os personagens possuem um outro lado diferente do qual se apresentam.

George Clooney se mostra uma das personalidades mais vívidas do cinema da atualidade, frente ou atrás das câmeras. Se em filmes como “Confissões de uma Mente Perigosa” ou “Boa Noite e Boa Sorte” mostrava talento, em “Tudo pelo Poder” (além de uma brilhante atuação) ele se mostra maduro o suficiente para dirigir o projeto que bem entende. Sem ter a pretensão de ser moralista, ao mesmo tempo sendo hipócrita (a parte onde Stephen diz a Morris: “You can lie, you can cheat, you can start a war, you can bankrupt the country, but you can’t fuck the interns!”) subentendido que todo o resto é permitido independente do quanto ilícito é o crime, mostra toda a funcionalidade de um roteiro sem grandes novidades, mas apresentado com habilidade tudo o que uma corrida presidencial dá direito. E mesmo que o destino dos personagens no terceiro ato não gere uma ávida curiosidade, Clooney se mostra ainda mais um grande condutor, quando acerta na escolha do momento certo do desfecho que antecede a subida dos créditos finais. Um grande filme!

Nota:  8/10

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Crítica: Em Transe | Um Filme de Danny Boyle (2013)


Simon (James McAvoy) é leiloeiro em uma famosa casa de leilão de obras de arte em Londres. Soterrado em dívidas, Simon vê em Franck (Vincent Cassel) a oportunidade de saldar suas dívidas, contanto que ele o ajudasse a armar um plano para roubar uma valiosa pintura de Francisco Goya (chamado de “Bruxas no Ar”) avaliada em vinte cinco milhões de libras. Mas durante o roubo, algo dá errado, onde a pintura desaparece e o responsável (Simon) após levar uma pancada na cabeça, desenvolve uma amnésia sobre o ocorrido fazendo do paradeiro da obra de arte um mistério. Levado a uma sessão de hipnose conduzida pela hipnoterapeuta Dra. Elizabeth (Rosario Dawson), intencionando resgatar sua memória sobre os acontecimentos posteriores ao assalto, ela faz um acordo com a quadrilha para ajuda-los. Porém, na busca pelo resgate dessa lembrança em especial, obstáculos se sobrepõem ao objetivo, fazendo da dificuldade de resgatar a memória de onde está à pintura o menor de seus segredos ocultos em sua mente. “Em Transe” (Trance, 2013) é uma viagem narrativa que somente poderia ser conduzida por um hábil condutor. Com uma trama mais esperta do que inteligente, Danny Boyle cria um thriller de suspense ágil e repleto de reviravoltas que dão sutis pistas dos percalços de seus personagens aos seus destinos.


Com uma premissa interessante, o roteiro de Joe Ahearne (responsável pelo filme exibido pela TV britânica em 2001 que serviu de base para essa produção) e John Hodge (com quem Boyle trabalhou em Cova Rasa, Trainspotting, Por Uma Vida Menos Ordinária e A Praia), aliado com a montagem de Jon Harris, Boyle constrói uma trama que mistura flashbacks, fantasias resultantes da hipnose e uma realidade permeada de segredos orquestrados com apuro. Focado no trio amoroso de seus protagonistas, James McAvoy se mostra uma escolha acertada por sua postura enigmática, enquanto Vincent Cassel compõe um personagem corriqueiro em sua filmografia, carregado de violência e de poucas amarras de integridade. E entre esses dois experientes atores, está Rosario Dawson em uma legítima atuação, permitindo que ela atue verdadeiramente, mesmo tendo algumas cenas de nudez gratuita, que de certo modo se explicam ao longo da duração do filme, mas que poderiam ser relevadas sem comprometer o conjunto. Apesar de algumas inconsistências (o “efeito” da hipnose sobre Simon e alguns problemas legais de Elisabeth com seu antigo namorado), essa produção se mostra um bom programa de entretenimento.

Em Transe” não detêm o brilhantismo de outras obras relevantes de Boyle (127 Horas, Trainspotting, Quem Quer Ser Um Milionário), mas mostra uma estrutura técnica fluente em sua proposta meramente comercial. Trata-se de uma produção propriamente realizada na sala de edição (cheia de cortes onde a realidade e a fantasia se misturam de modo confuso ao espectador menos atento as nuances da trama), e que, sobretudo, ganha força pela envolvente trilha sonora de Richy Smith.


Nota:  7,5/10


Trilha Sonora de "Em Transe": 'Here It Comes' de Emeli Sandé e Rick Smith 

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Crítica: Passageiro 57 | Um Filme de Kevin Hooks (1992)


Em 1995, o genial filme “Bad Boys” (produção de ação estrelada por Will Smith e Martin Lawrence) prontamente em seus primeiros minutos dava a noção de que “Passageiro 57” (Passenger 57, 1992), thriller de ação estadunidense dirigido por Kevin Hooks, não havia vindo ao mundo somente de passagem. Quando em “Bad Boys”, a dupla de astros resolvem entrar em ação durante um inesperado assalto (e consequentemente hilário), Martin Lawrence dá um chute no bandido e dispara uma típica frase de efeito que homenageiava essa produção: “...gostou do golpe? Wesley Snipes, Passageiro 57... agora arranja um pano para eu limpar”. “Passageiro 57”, apesar de suas óbvias limitações, se mostrava um grande programa de entretenimento para época. Em sua trama acompanhamos John Cutter (Wesley Snipes), um renomado especialista em anti-terrorismo em atentados aéreos, que após a morte de sua esposa em um assalto ao qual ele se sente responsabilizado, se torna apenas um simples instrutor de segurança. Mas Delvecchio (Tom Sizemore) o convence de conseguir um cargo melhor em uma grande empresa aérea, contanto que ele vá a Los Angeles para uma entrevista de emprego. Porém, no mesmo voo está Charles Rane (Bruce Payne), um grande terrorista que está sob custódia da justiça, sendo levado para prisão. Quando os cumplices de Rane executam um plano de resgate em pleno voo, o passageiro da poltrona 57 (John Cutter) mostra-se um obstáculo insuperável para esses criminosos.


Com a pretensão de alçar Wesley Snipes ao topo como astro de filmes de ação (hoje posto concedido ao ator Jason Stathan), essa produção funciona bem: com ritmo, boas interpretações e muita ação, “Passageiro 57” se mostra uma realização divertida para o gênero e que sem dúvida nenhuma, está repleta de clichês batidos (coincidentemente a aeromoça que ajuda Rane durante a ação criminosa, interpretada pela atriz Alex Datcher, já se conhecmam antes do atentado e já rolava certo clima de romance entre eles) que funcionam sem ofender ninguém. Snipes, um hábil artista marcial que carrega seus golpes com estilismo e muita maha, se confronta com um vilão interessante materializado por Bruce Payne, que compõe um terrorista ariano distante da realidade que os Estados Unidos da América combate na prática. Apesar de um roteiro pouco conectado com a realidade que sombreia ataques do gênero, essa produção funciona bem devido à agilidade da ação orquestrada pela condução de Kevin Hooks. Trata-se de uma produção B com cara de cinemão que funciona tão bem como se fosse feita por Michael Bay (dependendo do momento da carreira, funciona até melhor). “Passageiro 57” é um bom filme de ação, divertido e com algumas boas sacadas. Pouco mencionado, merece ser conferido, nem que seja para ver de que chute Martin Lawrence se referia em "Bad Boys" (1995) sobre um certa passagem.

Nota:  7/10

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Crítica: O Menino do Pijama Listrado | Um Filme de Mark Herman (2008)


A Segunda Guerra Mundial gerou material que serviu de inspiração para muitos cineastas do mundo. Dentre os quais concederam os contornos mais diversificados possíveis a esse capítulo da história da humanidade, de realistas aos ficcionais, que resultaram em alguns casos em obras fascinantes. Com um repertório de enredos diferentes ligados ao mesmo contexto (o Holocausto), há várias histórias diferentes desse período: algumas marcadas por tragédias particulares, operações militares que foram bem ou malsucedidas e acima de tudo, sobre heróis e vilões. Uma guerra que se depender da sétima arte, a humanidade jamais deixará de ser lembrada. E devido a uma infinidade de obras que usam esse período como referência, praticamente criou-se uma espécie de subgênero cinematográfico sobre a temática. "O Menino do Pijama Listrado" (The Boy With the Stripped Pyjamas, 2008) é um bom exemplo de uma retratação original de uma das facetas particular dessa guerra. Baseado no romance de John Boyne, essa produção traz uma perspectiva da guerra, vista sob o olhar de uma inocente criança que testemunhou um dos episódios mais marcantes da humanidade: quando as tropas alemãs à certa altura da guerra passam a "desaparecer" com os judeus. Essa produção se desenvolve ao contar um drama as margens dos campos de concentração de Auschwitz contado sob o olhar de uma criança de apenas oito anos, que não sabe nada sobre preconceito e desigualdade, mas sofre de uma solidão angustiante que encontra remédio num pequenino judeu aprisionado em um dos campos de concentração nazistas. Em sua história, uma família alemã cujo patriarca, um Comandante da SS em ascensão no regime nazista (David Thewils) se muda de Berlin para Auschwitz para comandar as "atividades" do regime nazista nessa região. Residindo nas proximidades do campo, seu filho, Bruno (Asa Butterfield) ele acaba conhecendo um garoto do outro lado da cerca, Shmuel (Jack Scanlon) com quem desenvolve uma grande amizade. Conforme a amizade desses dois garotos se intensifica, vários mistérios das redondezas de sua casa começam a ser esclarecidos.

Com direção e roteiro de Mark Herman, "O Menino do Pijama Listrado" exibe ao espectador uma fábula provida de inocência e sensibilidade, que respeita rigorosamente as qualidades de sua fonte de inspiração literária. Com excelentes interpretações do inexperiente elenco mirim, com destaque para Asa Butterfield, que confere leveza a seu personagem, e de sua mãe, Elsa (interpretada por Vera Farmiga), numa interpretação dramática desprovida de exageros desnecessários. Além disso, uma abordagem que recria com habilidade a atmosfera de uma Alemanha em plena guerra, Herman surpreende pela suavidade com que constrói as imagens que se espalham pelo longa-metragem. Sem apelar para derramamentos de sangue ou shows pirotécnicos comuns em filmes do gênero, ele desenvolve sua trama de modo unicamente dramático (o que basta para prender a atenção do espectador). Ganha expressivos pontos com a direção de fotografia de Benoit Delhomme, que traz brilho e cores a uma trama de enredo tenso que proporciona imagens de um visual de grande beleza e lirismo. Evidentemente tira sua força por não causar choque, mas não debilita a ponto de atrapalhar o desenvolvimento da história focada propriamente na relação dos personagens (principalmente no processo onde as crianças passam a se conhecer melhor, que certamente geram as melhores cenas). "O Menino do Pijama Listrado" é sem dúvida nenhuma um excelente filme que elucida o trágico episódio do Holocausto de modo envolvente. Mostrado com delicadeza, competência e consciente de sua proposta, Hermann gera uma ótima obra que merece ser conhecida.

Nota:  7,5/10