sexta-feira, 26 de abril de 2013

Crítica: Além das Montanhas | Um Filme de Cristian Mungiu (2012)


Vencedor da Palma de Ouro por “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias” em 2007, em Cannes, o cineasta romeno Cristian Mungiu fez os holofotes da crítica se voltarem ao poder do cinema romeno novamente, que tem em sua história cinematográfica grandes preciosidades. Em “Além das Montanhas” (Dupa Dealuri, 2012) o cineasta, que tem em sua filmografia apenas quatro longas sob sua direção, ele veio a habitar a premiação de Cannes novamente com seu estilo realista, embora mais leve do que em sua obra anterior. Em “Além das Montanhas” acompanhamos Voichita (Cosmina Stratan) que reside num convento em uma região isolada da Romênia. Certo dia, ela recebe a visita de Alina (Cristina Flutur) vinda da Alemanha. No passado haviam sido criadas juntas onde desenvolveram uma relação afetiva intensa. Agora Alina quer convencer a amiga a deixar o convento e ir com ela para a cidade grande. Porém, Voichita reluta com todas as forças em atender a esse convite e convence todos que Alina está possuída por um demônio. Medidas extremadas são adotadas pelas freiras e pelo padre para solucionar esse embate.


Com uma direção de fotografia brilhante acomodada em uma produção de estrutura técnica planejada, o filme encanta pelos contornos realistas das personagens e do ambiente em que se encontram. As protagonistas expressam emoções tocantes com sensibilidade em tons crus, que mexem com assuntos delicados como religiosidade e sexualidade em seu enredo de modo genial. E mesmo que a obra não procure se aprofundar na psicologia de suas personagens com a devida profundidade possível, apresenta um resultado dramático arrebatador. Em declarações a mídia, Cristian Mungiu relembra que havia pedido as suas protagonistas que evitassem atuar, e sim, apenas falassem seus diálogos e se deixassem levar pelas emoções para ressaltar a simplicidade de suas personagens. O diretor foi prontamente atendido pelas atrizes. Certamente que o resultado foi mais do que satisfatório. Entretanto, “Além das Montanhas” visto com um olhar estrangeiro, pode-se notar um tom de denúncia perpetrado na obra sobre certas dificuldades na região da Romênia, embora isso apenas expande o vasto leque de qualidades desse longa-metragem, cujo foco nunca foi necessariamente esse.

Nota: 7/10

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Crítica: Apocalypto | Um Filme de Mel Gibson (2006)


Durante o declínio do Império Maia, pouco antes da colonização européia iniciada pelos espanhóis na América Central, um pequeno grupo que vive na floresta tropical é dizimado, e onde muitos eram capturados pelos grandes governantes do Império Maia para servirem de escravos ou oferenda aos deuses. A construção de grandes templos e sacrifícios humanos era vista por suas lideranças como a chave da prosperidade desse povo. Jaguar Paw (Rudy Youngblood) filho do líder de um desses vilarejos invadidos, é um dos membros dessa civilização que tenta a todo custo defender sua família desses violentos ataques. "Apocalypto" (Apocalypto, 2006) foi o filme que o cineasta Mel Gibson optou realizar após o controverso "Paixão de Cristo" (2004), no qual acompanhamos as últimas horas de Jesus Cristo antes da crucificação. Da transposição cinematográfica rica em detalhes e fiel do símbolo religioso cristão apresentada ao mundo pelo cineasta, não era de se surpreender que Gibson fizesse o mesmo com a cultura histórica referencial dos Maias. Numa aventura eletrizante, amparada por uma estrutura técnica impecável, o famoso ator e cineasta nos transporta para esse universo de história, que bem observada, pode nos ensinar alguma coisa além de meramente entreter.

O uso de histórias do passado bem fundamentadas, com o propósito de traçar um paralelo com a realidade atual, tendo como finalidade causar reflexão no espectador, não é nenhuma novidade. Na verdade, de certo modo já virou regra em hollywood para justificar sua existência, ou as sequências sanguinolentas incrustadas na história. A diferença dessa obra é conjunto técnico impecável no qual é estruturado. O uso do idioma nativo usado na época, apesar de ser uma escolha arriscada, somente veio a enriquecer a produção. Além do mais, os figurinos, a maquiagem e as locações dão uma perfeita ambientação a trama e as motivações em volta da história. Naturalmente, os estudiosos - profundos conhecedores da cultura Maia - não deixaram de fazer seus protestos em relação as incoerências da obra e soluções poéticas da obra. No entanto, mais do que uma retratação documental de fatos ocorridos na civilização Maia, o trabalho de Mel Gibson apresentado em "Apocalypto" foi criado com a função de entretenimento, rico visualmente e envolvente para o público. Agora se você quer um programa documental fiel, é mais provável que encontre o que procura no History Channel

Nota: 7,5/10  


quarta-feira, 24 de abril de 2013

Crítica: Paixão Suicida | Um Filme de Goran Dukic (2006)


A Morte já foi abordada de várias formas diferentes pelo cinema. Recentemente descobri em minhas buscas cinematográficas uma que explora essa temática de forma natural, suave e irônica materializada em "Paixão Suicida" (Wristcutters: A Love Story, 2006), e dirigido por Goran Dukic, o qual também assina o roteiro. A obra é antiga, o assunto em destaque ainda mais, contudo o tema em questão sempre permanece em foco apesar do tempo, desde que seja abordado com um mínimo de originalidade necessária para cativar o espectador. Baseado no conto "Kneller's Happy Campers", de Etgar Keret, onde acompanhamos em sua trama Zia (Patrick Fugit) um jovem deprimido que após cometer suicídio passa a viver numa espécie de limbo entre o céu e o inferno. Nesse estranho lugar, com contornos de uma realidade mais sombria que o normal, acaba por conhecer o russo Eugene (Shea Whignham), um ex-músico e guitarrista que mora com a família toda suicida, com o qual faz uma grande amizade. Já habituado e conformado com sua condição ele descobre que sua ex-namorada Desirée (Leslie Bibb) se suicidou cerca de um mês depois de seu suicídio e vivendo nesse universo também. Assim Eugene e Zia saem em busca dela e encontram, pelo caminho, Mikal (Shannyn Sossamon) uma jovem que afirma estar nesse limbo por engano. Juntos, o trio de amigos saem em busca de Desirée e das pessoas encarregadas desse curioso lugar.


De sinopse que remete ao um universo emo em título e premissa, e um cartaz nacional que ferra com qualquer possibilidade de alavancar essa produção a um status respeitável entre grandes comédias, não é de se espantar que "Paixão Suicida" tenha passado por mim sem reconhecimento.  Sem grandes nomes ligados a produção e uma aparência desinteressante em sua roupagem, fico admirado que essa fita ainda chegou a mim sem que fosse vista em um canal aberto antes. Poderia ter sido ignorada sem cerimônias. Mas visto com cuidado, me agradei, e pode até agradar a uma boa parcela do público que aprecia produções de enredo nonsense. Com uma produção simples e bem realizada, um elenco funcional que apresenta atuações bem interessantes, a narrativa adotada pela direção de Goran Dukic suaviza algo atormentador como a temática da Morte com facilidade e de modo natural. Leva humor a um enredo que toma início a partir de um suicídio e caminha para um romance simpático. Toda obra inspira simpatia sem compromisso - pelo elenco que cumpre seu papel, o clima desapressado do enredo, a trilha sonora que combina, entre outras simpatias que podem agradar se não forem levadas muito a sério. Por fim, "Paixão Suicida" demonstra ser divertido e descompromissado. Sua existência não toca em assuntos delicados, não tenta provar nada, e muito menos, busca trazer respostas aos questionamentos da vida. Se existe vida após a morte, não será nessa produção que o especador encontrará a resposta. No máximo umas poucas horas de entretenimento escapista sem cerimônias, o que já é muito mais do que a maioria das produções do gênero consegue.   

Nota: 7/10 


    

Crítica: Ninja Assassino | Um Filme de James McTeigue (2009)


É estranho como em tese uma promissora produção consegue se distanciar tanto de alcançar o sucesso. Essa produção sofre desse mal. Ao tentar transpor uma produção onde o enredo gira em volta dos ninjas - que era segundo a história um agente secreto do Japão Feudal especializado na arte de guerra não ortodoxa e foram ao decorrer dos anos imensamente explorados por várias expressões artísticas que expandiram um mito em relação a esses lendários guerreiros - seus realizadores lamentavelmente perderam-se em sua pretensão. Se bem me lembro, em si tratando da sétima arte, qualquer filme de ninja dos anos 80, por mais tosco que fosse, era bem melhor do que esse exemplar com ares de nostalgia e uma sensação de inovação incrustada em sua estética. Antiquadas fitas (VHS mesmo) como "American Ninja(1985), ou "American Ninja 2 - The Confrotation(1987), estrelados pelo esquecido Michael Dudikoff, se mostraram enfim, muito mais interessantes do que essa produção chamada "Ninja Assassino" (Ninja Assassin, 2009) dirigida pelo pupilo preferido dos criadores da fantástica trilogia "Matrix". Apesar dos avanços técnicos da indústria cinematográfica e da infinita disponibilidade de recursos que esse subgênero hoje dispõe a seu favor, é inconcebível que o resultado apresentado ficasse tão abaixo das expectativas se comparado a sua inspiração.

Na história de “Ninja Assassino” acompanhamos Raizo (Rain) que foi tirado das ruas ainda quando criança e treinado pelo Clã Ozunu – uma sociedade secreta composta por ninjas assassinos – para ser um assassino mortal também.  Mas apesar de seus ensinamentos e sua aptidão para executá-los, Raizo se rebela sob o tormento da lembrança da execução de sua amiga pelo Clã. Afastado de suas raízes, e distante de sua terra, ele aguarda pelo momento certo da vingança. Paralelamente em Berlim, uma agente da Europol chamada Mika Coretti (Naomie Harris) rastreia dados financeiros ligados a assassinatos políticos executados por uma rede de assassinos do Clão Ozunu pondo sua vida em risco. Raizo a salva e assim o destino leva esses dois personagens a uma aliança, pois serão alvos de uma incessante caçada por esses letais guerreiros.

Diante de uma premissa simples e mal realizada, McTeigue apresenta inúmeras escolhas equivocadas na construção de seu longa. Desde a escolha do elenco, completamente apagado, a composição do clima que não envolve o espectador. Falhas inadmissíveis para uma produção que leva nos créditos o nome dos produtores responsáveis por um dos grandes filmes ícone da cultura POP materializada na trilogia protagonizada por Neo não pode pecar com sutis detalhes, pois em grande escala, acabam por ser ofuscantes. O arrojo visual e os maneirismos técnicos que marcaram sua filmografia estão lá como previsto, mas sem o efeito mágico de outrora. Mas Mcteigue não deixa tudo a perder, a exemplo disso, as cenas de luta estão bem coreografadas, porém exageradamente sanguinolentas e frenéticas, dando a sensação de apelo aos sádicos como solução para a pobreza do conjunto da obra. Sua câmera está um pouco perdida nas gravações dessas lutas, como quanto no rumo de sua história, que não se presta ao trabalho de criar uma misera reviravolta ou alguma profundidade em sua proposta. Em resumo, “Ninja Assassino” vale ver por curiosidade, já que a melhor coisa dessa produção na minha humilde opinião é o cartaz no topo desse post.

Nota: 4/10  

terça-feira, 23 de abril de 2013

Crítica: O Homem da Máfia | Um Filme de Andrew Dominik (2012)


"Os EUA não é uma nação... são apenas negócios". É certo que essa ácida declaração disparada pelo astro Brad Pitt, um dos nomes mais prestigiados do cinemão estadunidense da atualidade feita no longa-metragem "O Homem da Máfia" (Killing Them Softly, 2012), seja parte da essência dessa fita dirigida pelo cineasta australiano Andrew Dominik, que acerta mais uma vez ao trabalhar com Brad Pitt depois do filme "O Assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford" (2007). E se não for, já rende um dos momentos mais memoráveis dessa produção, na qual os diálogos e a conversa mole são o combustível que movimenta toda trama. Todo o longa está repleto de tensas discussões e conversas tão fascinantes quanto ao mesmo tempo banais e estranhas. Baseado no livro policial Cogan´s Trade, de George V. Higgins publicado em 1974, o resultado fascinante dessa produção é um típico filme policial, com personagens que oscilam entre a degradação e a marginalidade, numa América desumana, capitalista e sem heróis. Em sua trama acompanhamos Markie Trattman (Ray Liotta) um responsável a serviço da máfia por uma casa de jogatina noturna onde rola muito dinheiro todas as noites. Num momento de devaneio e de ambição, Markie não resiste à tentação e arma um assalto à própria casa levando um dinheirão dos frequentadores.  É claro que, cedo ou tarde, o nome do responsável viria à tona um dia.  E foi justamente o que aconteceu, porém sempre foi visto com muito carinho pela chefia, e assim, Markie leva um corretivo dos chefões pela audácia que teve e a vida continuou seguindo seu curso natural. Porém, uma dupla de marginais de terceira categoria decide roubar novamente a casa, certo de que Markie vai levar a culpa, culpado ou não. E num emaranhado de intrigas de difícil explicação, a máfia envia Jackie Cogan (Brad Pitt) para resolver esse problema de modo silencioso, rápido e que em tempos de crise é o que mais importa: com baixo custo para máfia.
A crise econômica americana atingiu a todos, sem exceção. Da mesma forma que o povo americano elege Barack Obama a presidência por sua insatisfação pelo governo corrupto e uma economia em crise deixada pelo Bush em 2008, o cineasta Andrew Dominik explora de forma centrada e inteligente a crise que assola o meio criminal também vitimado. Apresentando sua história lentamente – Brad Pitt, o nome de maior relevo dos créditos somente aparece no início da segunda metade desse longa – o cineasta envolve o espectador em sua trama sem pressa. Apresenta seus personagens e os desenvolve num ritmo lento, mas distante de ser cansativo. Sua ação: os diálogos, brilhantes e que trazem todo o entretenimento necessário para prender a atenção do espectador. Além do mais, há o arrojo visual perpetrado na obra, exemplificado em um assassinato em câmera lenta – superlenta – demonstrando o estilismo visual que enfatiza momentos e situações específicas, fugindo pontualmente de uma retratação comum e simplista; ou o efeito das drogas, pela perspectiva dos dependentes. Brad Pitt mostra porque é no fim o centro desse universo – cínico cruel e manipulador – transpõe o papel de um trabalhador do submundo fazendo a complexa máquina do crime funcionar sem problemas. O uso e James Gandolfini (consagrado como o mafioso Tony Soprano do seriado Família Soprano) nessa produção é uma presente afirmação de suas raízes mafiosas em sua contemporaneidade. Ray Liotta, figura certa no gênero, dá a profusão das ideias incrustadas no contexto dessa produção carregada de ódio pelo rumo das coisas como estão.


Se a história de “O Homem da Máfia” é bem apresentada, muito se deve a direção de fotografia bem escolhida e a trilha sonora sempre pontual, que age como complemento eficaz das imagens e situações da trama. A aparição de Jackie Cogan ao som de The Man Comes Around, de Johnny Cash, pode-se considerar a mais expressiva. Mas há várias outras faixas climáticas no conjunto além dessa que completam as cenas com maestria. Entretanto, o que não parece completo mesmo, é o filme em si. A sensação na subida dos créditos finais é de que acabamos de ver apenas um capítulo de um plano maior e mais vasto. Mas o que até poderia ser considerado ruim aos olhos de muitos espectadores, inclusive aos mais críticos, na verdade é ótimo. Já que, se esse não é o tão famigerado desfecho, porque existe a sugestão dessa possibilidade na narrativa adotada, isso somente aumenta as expectativas da retomada dessa parceria brilhante da dupla Pitt/ Dominik que até então, apenas nos trouxeram surpresas.

Nota: 8,5/10
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quinta-feira, 18 de abril de 2013

Crítica: Anônimo | Um Filme de Roland Emmerich (2011)


O nome do cineasta Roland Emmerich sempre esteve associado a grandes filmes, de orçamento e pretensão. Responsável por filmes como “Soldado Universal” (1992), Independence Day” (1996), “Godzilla” (1998), “O Dia Depois do Amanhã” (2004) e “2012” (2009), onde a ação e a ficção cientifica geravam todo material necessário para seu legado, ninguém iria esperar alguma mudança de foco tão expressiva de um cineasta de comportamento previsível como ele. Após anos de dedicação a uma temática repetitiva, onde a materialização de grandes catástrofes e batalhas épicas sempre foram o chamariz de seu trabalho, o envolvimento de sua imagem a um filme de época dramático é no minimo curioso. E em meio a essa curiosidade, é que "Anônimo" (Anonymous, 2011) tem a capacidade de surpreender o espectador familiarizado ou não com sua filmografia. Aos conhecidos, pela mudança radical do enredo e a forma como ele é apresentado, e aos menos familiarizados, pelo resultado surpreendente que é entregue ao final de pouco mais de duas horas de projeção. Com sua história centrada em revelar o verdadeiro autor das obras de Willian Shakespeare, o roteiro de John Orloff é baseado numa teoria oxfordiana conspiratória, onde vemos o celebrado dramaturgo autor de 37 peças teatrais, ser reduzido a um Ghost Writer a serviço de um nobre da corte inglesa. Pela razão de suas origens humildes, a teoria ressalta algumas impossibilidades quanto a Willian ser realmente o autor dos textos, já que e o dramaturgo jamais publicou nada além de um acervo literário restrito.


Com mais detalhes para elucidar o polêmico enredo, a trama se passa na Inglaterra, durante o governo da rainha Elizabeth I (Joely Richardson/Vanessa Redgrave) e em meio as intrigas de sua sucessão. Nesse cenário, William Shakespeare (Rafe Spall) surge do palco teatral e se revela um dos dramaturgos mais prestigiados de sua época pela autoria de obras reverenciadas até hoje como "Othello", "Hamlet" e "Romeu e Julieta". Porém, isso porque a arte era vista de certo modo pela monarquia imoral e subversiva onde as autoridades discriminavam a categoria. Em vista disso, o Conde de Oxford, Edward de Vere (Rhys Ifans) o verdadeiro autor dessas obras usa de um escritor fantasma para materializar seu trabalho. Usando a princípio outro dramaturgo chamado Ben Johnson, o papel de autor cai nas mãos de Shakespeare, um ator beberrão e inescrupuloso, que ameaça delatar Edward caso não atenda a seus desejos e ambições. Entre trágicas paixões e relacionamentos conturbados, independente de quem escreveu os textos, as palavras escritas nessas obras mudaram imensuravelmente o destino dos envolvidos e marcaram acima de tudo a história da humanidade.

Apesar do tema intrigante que chama a atenção, a trama não segue os fatos com precisão, onde Emmerich se usa da liberdade poética para deixar a trama mais orgânica e acentuada com o formato dramático da narrativa. Faz menções aos acontecimentos reais e aos personagens da época em questão, entretanto não respeita a ordem cronológica dos fatos, ou as nuances acerca dos personagens. E é nesse momento que Emmerich demonstra indícios de um desejo de se reciclar dentro do cinema. Logicamente há passagens de ação e confrontos armados na tela, que no passado eram tudo que ele precisava para tocar para frente um projeto, mas que aqui, apenas exitem devido ao pano de fundo histórico que se passa em um momento delicado do reinado de Elizabeth. Demonstrando conhecimento técnico e habilidade em conduzir os acontecimentos descritos, o cineasta surpreende com a segurança com que desenvolve a fita. Através de uma imensidão de flashbacks dentro de um flashback, em uma transição bem feita, apresenta um bom nível de dramaticidade amparada por um requintada ambientação - cenários, figurinos cuidadosamente elegantes e fiéis para a época. O elenco funciona, apesar dos nomes pouco conhecidos em sua maioria que o compõem, como a trilha sonora agrada também ao enaltecer as imagens e os discursos providos de paixão. "Anônimo" é um filme de época no mínimo interessante. Improvável em vários aspectos, e somente pelo fato de existir, já é merecedor de receber uma salva-de-palmas.


Nota: 7,5/10


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Crítica: Oblivion | Um Filme de Joseph Kosinski (2013)


Depois do remake de "Guerra dos Mundos" (2005) o nome do astro Tom Cruise já havia sido associado há vários outros gêneros cinematográficos no decorrer dos anos, mas nenhum deles era novamente ligado a ficção-cientifica. Através de "Oblivion" (Oblivion, 2013) o ator quebra seu jejum e retorna, com a ajuda de um diretor que tem sido visto como uma promessa para o futuro, para esse fascinante gênero. Joseph Kosinski, (Tron - O Legado, 2010) é responsável pela materialização da graphic novel que gerou o filme, trazendo a pouca, porém expressiva experiência que tem, para compor um futuro pós-apocalíptico resultante de uma invasão alienígena. Dessa experiência veio, o apuro visual e o cuidado com a estética que consagrou seu trabalho anterior. Na trama de "Oblivion" testemunhamos as consequências de uma invasão alienígena que devastou o planeta terra, deixando quase que o inabitável. A humanidade passou a viver em Titã (lua de saturno) como alternativa, construindo uma espécie de colonia, enquanto Jack (Tom Cruise) trabalha no planeta fazendo a manutenção das máquinas em funcionamento na Terra que captam recursos naturais do planeta e resistem a eminentes ataques dos alienígenas ainda presentes no planeta. Para isso, conta com a ajuda de sua parceira Victoria (Andrea Risenborough) também técnica em comunicações, que têm como repouso uma estação flutuante acima das nuvens. Sua rotina é mudada ao resgatar uma mulher (Olga Kurylenko) que desencadeia em Jack questionamentos sobre suas memórias e seu verdadeiro papel no planeta.


Se à primeira vista a premissa desse filme possa parecer ao espectador desprovida de originalidade, sua construção prova aos poucos o contrário, tornando-se bastante atraente no conjunto. Isso principalmente, pelo visual cuidadoso e imaginativamente detalhado da produção. Em contrapartida, o desenvolvimento da história oscila com uma série de reviravoltas inesperadas e em algumas vezes confusas. Culpa do roteiro. O foco desinteressante da trama contribui negativamente, como o mal-aproveitamento do elenco de apoio, que desperdiça atores como Morgan Freeman, que é de conhecimento público que com bons papéis pode fazer a diferença. Porém, ao mesmo tempo em que o roteiro no qual Joseph Kosinski divide os créditos com Karl Gajdusek e Michael Arndt comete certos pecados, a produção se salva ao permear toda obra com homenagens bem feitas a outros sucessos da sci-fi. Filmes como: "2001 - Uma Odisséia no Espaço", "Lunar", "Predador", "Star Wars", entre outros, são bem homenageados. Cruise, prova mais uma vez, que pode segurar um bom filme independente do gênero, apesar dessa produção não ser imprescindível as fãs do gênero, sempre ansiosos para serem apresentados a uma obra que se iguale a sucessos como "Alien", "Blade Runner" ou "Star Wars". Por fim, "Oblivion"  demonstra ser um bom programa, que apesar de alguns equívocos pouco comprometedores, demonstra todo potencial de seu realizador. Com um estilo de filme anos luz a frente, com uma visão desoladora de futuro, Joseph não deixa de enriquecê-lo com elementos familiares e nostálgicos sem parecer forçado. O filme carece de ritmo, mas é lindo de se ver.

Nota: 7,5/10

        


quarta-feira, 10 de abril de 2013

Crítica: Argo | Um Filme de Ben Affleck (2012)



Quem te viu, quem te vê, hein? Se há alguém com quem esse comentário fecha direitinho, essa pessoa se chama Ben Affleck. Para quem teve uma ascensão meteórica pela premiação de "Gênio Indomável" (1997) com o Melhor Roteiro, Affleck passou mal-bocados na última década atuando incessantemente em produções inócuas. Enquanto amigo e parceiro de longa data, Matt Damon não saia da frente dos holofotes, Affleck amargurava seguidos trabalhos desinteressantes, quando não, retumbantes fracassos. Entretanto, após duas experiências interessantes de direção realizadas por ele, uma em “Medo da Verdade” (2007) e  a outra, “Atração Perigosa” (2010), o longa-metragem "Argo" (Argo, 2012) representa sua consagração na função de diretor e um retorno ao primeiro time de Hollywood. Apesar de premiadíssimo em vários festivais, o Oscar esqueceu de indicá-lo por "Argo" na categoria de diretor, contudo, não deixou de premiar seu trabalho com o prêmio de Melhor Filme. 

Sua história se concentra no final dos anos setenta. Mais precisamente no ano de 1979, quando os aiatolás derrubaram o Xá da Pérsia e fundaram a república islâmica do Irã. É nesse momento conturbado que a embaixada Norte-Americana foi invadida pelos rebeldes muçulmanos e seus funcionários passaram a ser reféns. Porém, cerca de meia dúzia deles permaneceram escondidos na embaixada do Canadá, sob pena de morte caso fossem encontrados. Numa operação de resgate absurda criada pelo agente da CIA Tony Mendez, interpretado por Affleck, cria-se uma produção cinematográfica de ficção científica no estilo blockbuster chamada: "Argo". Com todos os detalhes pré-produção necessários para o plano tornar-se convincente, a CIA usa essa produção de cinema fictícia como pano de fundo para incrementar a difícil missão de resgatá-los antes que sejam descobertos e mortos pelos radicais.   


"Argo" é uma mistura bem dosada de suspense com toques de humor refinado, cuja história baseada em acontecimentos reais, fascina o espectador tanto pela narrativa adotada para contar os fatos ocorridos, como pela própria história de intriga e espionagem internacional. A forma como a trama é apresentada - as filmagens do filme intercalada com imagens reais dos acontecimentos da época recolhida de emissoras de televisão - mostram uma narrativa simples e eficiente. Uma reconstituição de época do período da revolução islâmica bem produzida, mesmo com uma montagem sem novidades, a fita funciona em sua climatização. Affleck desenvolve um suspense político contado de forma convencional, atido de certo modo a contar os fatos sem exageros desnecessários e comprometido em não distorcê-los. O elenco de apoio composto por nomes como Alan Arkin e John Goodman colaboram, apesar da pouca exposição, ao lado de Ben Affleck, para o resultado brilhante dessa produção. Brilhantismo esse que está engendrado principalmente no resgate dos americanos do Irã, traduzida na condução segura da trama, já que o desfecho perde um pouco do clímax, justamente por Affleck  ter se utilizado de seus maiores trunfos no processo. Não prejudica, apenas não enriquece mais o que já chegou ao espectador brasileiro com o estardalhaço de filme indicado ao Oscar de melhor filme, num páreo duro com mestres em ganhar prêmios nessa cerimônia. Altamente recomendável. 

Nota: 9/10

                                                                                                                  

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Cinema Coreografado por Niege Borges

Niege Borges, ilustradora e designer brasileira, responsável por infográficos e ilustrações ligadas ao cinema, criou ilustrações interessantíssimas da coreografia de cenas de dança em filmes e de séries de televisão. Há varias outras ilustrações maneiras em sua página  na internet, e no Society6 estão disponibilizadas para compra: 

 Chicago

 Friends - Seriado

 Pulp Fiction - Tempo de Violência

 Pequena Miss Sunshine

Seinfeld 

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Crítica: Moonrise Kingdom | Um Filme de Wes Anderson (2012)


É fantástico como certos diretores conseguem naturalmente extrair de pequenas histórias, obras tão delicadas e providas de tanta simpatia; como são capazes de levar aos olhos dos espectadores toda magia do cinema sem comprometer a estética ou a substância; conseguem criar um estilo próprio sem promover atropelos que podem dilacerar seus trabalhos e descaracterizá-los narrativamente; e como, acima de tudo, conseguem imprimir uma marca em seus trabalhos com tamanha precisão diferenciando-se dos demais membros de sua categoria com tanta naturalidade. O cineasta norte-americano oriundo do Texas chamado Wes Anderson faz parte desse seleto grupo de realizadores de capacidade singular. Em "Moorise Kingdom" (Moorise Kingdom, 2012) Anderson transpõe para telona mais um belíssimo exemplar em sua já brilhante filmografia onde apresenta um doce amor adolescente em meio aos desencontros familiares e balanços da vida. Uma obra repleta de detalhes, construída minuciosamente, o cineasta talvez tenha através desse longa obtido seu melhor resultado dentre vários projetos bem realizados. De difícil encaixe em gêneros definidos, pois flerta com humor, romance carregado de dramaticidade, quando não se confunde com uma fábula fantástica, seu enredo condiz com sua estrutura, e Anderson constrói um universo particular, aventureiro e cheio de surpresas.

Sua história se passa em pleno anos 60, nos arredores de uma pequena ilha localizada na costa da Nova Inglaterra, em New Penzace. Em sua singela trama acompanhamos Sam (Jared Gilman) e Suzy (Kara Hayward) os quais sentem-se constantemente deslocados em meio as pessoas com quem convivem. Enquanto Suzy é vista como a ovelha negra da família, o jovem Sam, órfão e adotado por pais que não fazem questão de sua companhia, tem constantes atritos e desavenças com seus colegas do grupo "Escoteiro Caqui da América do Norte". Após se conhecerem de forma inesperada em uma peça teatral da igreja na qual Suzy estava atuando, eles passam a trocar correspondências regularmente sem ninguém saber. Certo dia, Sam coloca em operação um plano de fuga e resolvem deixar tudo para trás para fugirem juntos. O que não esperavam era que os pais de Suzy (Bill Murray e Frances McDormand), o capitão Sharp (Bruce Willis) e o escoteiro-chefe Ward (Edward Norton) elaborassem uma missão de resgate quase que militarizada para reencontrá-los.

Sua história requer, em vista pelo resultado, desse e de outros de seus trabalhos, um certo desapego com a realidade como conhecemos ou esperamos que seja. Anderson, um especialista na criação de um universo próprio desenvolve suas histórias oscilando entre o crível e o nonsense, mas sem perder a mão do negócio. A climatização tem toques de excentricidades autorais que até podem causar estranheza aos menos familiarizados com o seu trabalho, mas que mesmo assim não comprometem o resultado, e ao contrário, apenas enriquecem a experiência que são seus filmes. O diretor co-escreveu o roteiro com Roman Coppola (com quem também trabalhou em O Fantástico Sr. Raposo) criando uma história focada em premissa no primeiro romance da juventude - sensível, inocente e nostálgica como deve ser. Porém, aqueles personagens que compõem o grupo de salvamento, são um espetáculo a parte do grande show protagonizado pelo casal de apaixonados. Todo o elenco está ótimo sem exceção nenhuma. E muito disso, devido ao estilo narrativo de Wes Anderson que consegue extrair interpretações brilhantes do já conceituado elenco de astros e estrelas que perambulam por sua obra. Ainda mais apoiado por uma estrutura técnica estilosa e criativa, expressa por uma fotografia brilhante e uma trilha sonora nostálgica, "Moonrise Kingdom" talvez seja o ápice do talento de um artista feito Wes Anderson. Apesar de outras belas realizações, essa produção é a que mais completa seu estilo e materializa seu talento. Contudo, por outro lado, espero estar errado quanto a isso, e ainda ser surpreendido muitas outras vezes com outros trabalhos tão fabulosos quanto esse. 

Nota: 8,5/10