quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Crítica: Este é o Meu Garoto | Um Filme de Sean Anders (2012)


Produções estreladas pelo ator Adam Sandler geralmente desencadeiam duas reações distintas no espectador: amor ou ódio. Seus filmes tem um estilo bem conhecido entre fãs e detratores. Portanto, você adora o trabalho dele e se enche de alegria a cada lançamento, ou ele desperta aversão imediata em você antes mesmo de ver o resultado na tela. Em “Este é o Meu Garoto(That´s My Boy, 2012) não é diferente. Na premissa acompanhamos Donny (Adam Sandler) ainda adolescente envolvido em um romance com a professora. A professora engravida e é presa por pedofilia, enquanto o filho, Todd (Adam Samberg) cresce com o pai até os dezoito anos. Depois de anos sem se ver, Donny passando por problemas com a receita federal, faz uma aproximação com o filho às vésperas de seu casamento, que pode convenientemente salvá-lo de uma eminente prisão por sonegação de impostos. Mas reatar esses laços familiares pode não ser tão fácil quanto se espera. Todd é o oposto do pai, e Donny provoca várias situações inconvenientes que dificultam essa reaproximação, pondo a prova seus conceitos de família, e principalmente de paternidade.


Figura certa nas premiações do Framboesa de Ouro – os piores do ano - na edição 2013, esse longa foi prestigiado com o prêmio de pior ator para Adam Sandler e pior roteiro para David Caspe, enquanto na edição 2012 do Framboesa de Ouro, um de seus filmes monopolizou a premiação arrematando todos os prêmios da Cerimônia. Por aqui, “Este é o Meu Garoto” foi lançado diretamente em DVD e Blu-ray devido ao fracasso de bilheteria e crítica em solo estadunidense. O filme mexe com assuntos delicados como pedofilia, incesto sem um pingo de responsabilidade e sem o menor talento de realização. Ao espectador resta contemplar essa obra desconjuntada que se apoia no politicamente incorreto para cativar um público que sabe exatamente o que vai ver antes mesmo do término dos créditos iniciais. Sandler está tosco em sua interpretação, como a fita em si está inegavelmente debochada e cansativa, causando saudades de alguns trabalhos anteriores mais antigos como “Click” ou “Como se fosse a Primeira Vez”, materializados com mais charme e conservadorismo do que os trabalhos mais recentes do ator. Em resumo, “Este é o Meu Garoto” pode até agradar aos fãs, mas está muito longe de superar outros de seus trabalhos. O espectador até pode em certos momentos rir, ou dar uma gargalhada solitária, mas o resultado em comparação ao passado de Adam Sandler, que já foi uma promessa duradoura da comédia americana, tem se apresentado temível e por vezes vergonhosa.

Nota: 4/10

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Crítica: Zumbilândia | Um Filme de Ruben Fleischer (2009)



Depois de centenas de produções inspiradas em zumbis, entre necessárias como a de George Romero, e centenas de outras descartáveis e inegavelmente esquecíveis a esse subgênero do horror, os zumbis já haviam há muito tempo virado uma piada sem graça nos cinemas, apenas sobrevivendo do mercado de vídeo. Assim o estreante Ruben Fleischer em parceria com os roteiristas Rhett Reese e Paul Wernick criaram “Zumbilândia” (Zombieland, 2009), uma produção de terror e comédia bem divertida, e que com muita criatividade bebe da fonte de Romero de forma carismática e estilosa, mas imprime algumas qualidades bem particulares. Na trama acompanhamos Columbus (Jesse Eisenberg) um jovem nerd repleto de regras que segue religiosamente. Tallahassee (Woody Harrelson) um sobrevivente graças ao sua capacidade natural de matar zumbis desprovido de medo e remorso. Num mundo devastado por uma infestação de mortos-vivos, perigosos e famintos por carne humana, eles formam uma parceria inusitada. Certo dia, ambos cruzam o caminho das irmãs Wichita e Little Rock (Emma Stone e Abigail Breslin) também sobreviventes, e igualmente perigosas por sua habilidade de roubar e enganar aqueles que se apresentam como uma ameaça ao elo da antiga normalidade.

Se o trabalho Ruben Fleischer soa como um frescor ao gênero, muito se deve ao entrosamento do elenco. Harrelson está bárbaro em seu papel, mostrando o quanto é um ator incompreendido em hollywood, como o restante do elenco jovem dá um tom de clima de filme estudantil escrachado feito sob medida para tirar boas risadas, mesmo sob as mais duras tensões. Já nos créditos iniciais pode-se constatar o quanto Fleischer tem estilo visual, e sabe fazer de uma brincadeira um bom trabalho. As mórbidas caracterizações dos zumbis são bem feitas, apesar de se comportarem de forma nada original. O que não afeta o resultado final, já que o foco da narrativa está mesmo nos vivos. O contraste do mundo real com a ficção é um bom exemplo da habilidade e consciência da narrativa de Fleischer: Bill Murray tem uma participação especial interpretando ele mesmo, com direito a uma homenagem aos “Caça-Fantasmas” (filme cult e sucesso inatingível do ator) e tudo. Com uma produção de cerca de 23 milhões, faturou mais de 100 milhões em bilheteria, demonstrando que sua narrativa tem potencial de sobra para se sustentar, e porque não dizer, se prolongar em uma sequência no mesmo estilo. Em resumo,  “Zumbilândia é puro entretenimento, bem realizado e divertido, como as vezes engraçadíssimo jogando uma luz no futuro desse gênero que já estava virando piada sem graça.

Nota: 8/10

Crítica: Operação Valquíria | Um Filme de Bryan Singer (2008)


Segundo o Wikipedia: Operação Valquíria (Unternehmen Walküre) era um plano emergencial para a Reserva do Exército alemão restaurar a lei e a ordem em Berlin caso a cidade fosse bombardeada pelos Aliados. O plano foi aprovado pelo próprio Hitler, mas foi alterado por conspiradores da Resistência Alemã que almejavam tomar o controle das cidades alemães, desarmar a SS e prender a cúpula de poder nazista, após o assassinato de Füher em um atentado. A morte de Hitler era crucial para libertar os soldados alemães de seu juramento de lealdade ao Füher. Assim o filme "Operação Valquíria" (Valkyrie, 2008), baseado em fatos reais ocorridos em 1944, narra a história de um grupo de militares alemães insatisfeitos que planejam o assassinato de Hitler no auge da Segunda Guerra Mundial. Claus von Stauffenberg (Tom Cruise) um general inconformado por sua debilitada condição física após ser ferido em batalha, passa a ser um peça chave nessa conspiração que poderia ter tido um desfecho que encerraria definitivamente com os agravantes da guerra e suas trágicas consequências. Stauffenberg foi uma figura heróica retratada em vários livros e documentários, e que finalmente através do cineasta Bryan Singer, o homem por tras de sucessos como "Os Suspeitos" (1996) e "X-Men" (2000), ganhou uma versão cinematográfica internacionalizada, sobretudo interessante a respeito dos acontecimentos históricos que circundavam os bastidores do poder nazista.

"Operação Valquíria" é um suspense histórico bem caracterizado, com uma reconstituição de época competente e uma produção climática que priorizou as filmagens em locações onde se passaram os acontecimentos em questão. Singer arranca boas interpretações do elenco, tanto de premiados nomes como Bill Nighy e Tom Wilkinson, quanto do astro Tom Cruise, que deixou sua panca de galã de filmes de ação de lado para atuar de verdade. Não que o elemento ação esteja completamente ausente na narrativa de Singer, pois há sequências  que  o cineasta exercita seu talento no gênero. Contudo seu foco está no drama que gira em volta dos envolvidos nessa conspiração.  Apesar desse longa não estar surpreendente, e nem mesmo distante de ser apenas um mero thriller de entretenimento de fácil recepção, agrada o espectador devido ao hábil manejo de Singer com a câmera ao criar uma atmosfera genial dentro das possibilidades que o roteiro de Christopher McQuarrie permite. A direção soube conduzir e dosar a ação na medida, e a dramaticidade da história com seriedade, em uma narrativa cujo objetivo é emocionar o espectador. As virtudes de "Operação Valquíria", acima de tudo, reside no processo de composição do longa, já que o desfecho dessa história é de  conhecimento publico certeiro. 

Nota: 7,5/10 

   

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Crítica: X-Men – Primeira Classe | Um Filme de Matthew Vaughn (2011)


Algo necessário para esclarecer detalhes que foram atropelados nos filmes anteriores da franquia foram abordados detalhadamente nesse longa chamado “X-Men – Primeira Classe” (First Class, 2011), de forma inteligente e divertida. A ênfase dada aos pontos já explorados nos filmes anteriores, além da exploração de outros inéditos, faz desse filme uma produção importante dentro do universo da Marvel dentro das salas de cinema. A meta de traçar um perfil mais profundo dos personagens, caracterizando não somente suas habilidades extraordinárias, mas suas motivações que determinaram qual lado tomar na guerra mutante (do bem ou do mal) deixam acentuações pendentes por acabadas. Como as circunstâncias extremas sofridas pelos personagens moldaram suas definições de justiça e moralidade. A trama tem seu inicio na preocupação de apresentar a conduta de Charles Xavier ainda jovem e saudável (Professor Xavier, interpretado por James McAvoy) e o jovem Erik Lensherr (Magneto, interpretado por Michael Fassbender). O espectador é levado à remota infância de ambos os personagens, acompanhando de forma gradativa o processo de mudança e transformação que levaram eles a serem os “Mutantes” que são apresentados no filme X-Men (2000) dirigido por Brian Singer. Através da combinação de personagens carregados de questionamentos, porém armados através do roteiro e da narrativa adotada, com respostas e esclarecimentos fundamentais para os menos familiarizados com o universo dos personagens da Marvel, faz desse filme um elemento fundamental para prolongação dessa franquia.

O filme se passa algumas décadas antes do primeiro filme de Brian Singer, onde podemos acompanhar a dupla buscando por mutantes desconhecidos, e que aos poucos se apresentam ao espectador através de suas habilidades especiais nos fazendo inclusive em alguns casos reconhecê-los facilmente. O longa-metragem demonstra de maneira suave e eficiente o processo de descoberta e o treinamento dos mesmos, e suas emoções devido a essas peculiaridades. É divertidíssimo acompanhar as imaturidades de adolescentes com superpoderes. Mas é trágico ver que mesmo com esse lado cool do fator mutante, não sobressai o desejo da normalidade tão aspirado por qualquer jovem que se vê desajustado diante da sociedade.

Mas o roteiro, e nem a direção de Matthew Vaughn, perdem em momento algum o verdadeiro foco da trama, que por sua vez está na dupla, Charles e Erik, que criam de maneira comovente, uma espécie de vínculo de amizade verdadeira muito bem transposto para tela. Tanto Fassbender quanto McAvoy estão entregues as seus personagens. Apesar de que todo elenco que integra esse filme: Kevin Bacon, Jennifer Lawrence e Rose Byrne, além de uma aparição relâmpago de Hugh Jackman no papel de Wolverine; estão ótimos em suas interpretações. As cenas de ação dominam grande parte do filme X-Men - Primeira Classe, como também os efeitos visuais, tão necessários para uma transposição eficiente. Sequências como quando os Mutantes tomam a iniciativa de impedir uma guerra entre os EUA e a União Soviética, pode-se afirmar que são usados todos os poderes possíveis para se evitar que isso aconteça. Por fim “X-Men – Primeira Classe”, mais do que uma sequência legal, de um legado importante da Marvel também se trata de um filme igualmente necessário de existir, para sanar alguns equívocos passados dessa franquia e alcançar também um tipo especial de espectador, não tão conhecedor desse universo que está ultimamente no auge de sua popularidade.

Nota: 7/10

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Crítica: Dredd | Um Filme de Pete Travis (2012)


Poucos são os remakes que superam o filme original, e se “Dredd” (Dredd, 2012), realizado por Pete Travis supera o seu antecessor em vários aspectos, muito se deve ao fato de que o filme realizado 1995, e estrelado por Sylvester Stallone, nunca demonstrou ser um competidor de difícil superação. Baseado nos quadrinhos de John Wagner e Carlos Ezquerra, a abordagem adotada nessa produção se apresenta mais fiel as suas origens, apesar dos maniqueísmos da trama roteirizada por Alex Garland sobre a violência descontrolada e as medidas extremadas para conte-la. Na história acompanhamos o lendário Juiz Dredd (Karl Urban), que faz parte de uma tropa de elite futurista que é a combinação de policial, júri e se necessário carrasco. A adesão a esse método de justiça é devido ao fato do nível extremado de violência ter assolado a Mega City Um, uma cidade futurista erguida sobre as ruinas do velho mundo. Dredd é incumbido da tarefa de avaliar a novata Anderson (Olivia Thirlby), uma mutante capaz de ler os pensamentos das pessoas. Em sua primeira missão são chamados a um conjunto habitacional para atender a um chamado envolvendo traficantes de drogas, onde antes de saírem levando em custódia para interrogatório um importante membro do tráfico, Ma-ma (Lena Headey) chefe do território, os aprisionam no prédio e declara guerra contra a dupla de juízes, onde ambos lutam pela sobrevivência enquanto cumprem a lei.


O filme de Pete Travis se supera ao mostrar sua narrativa desprovida de sutilezas, com varias exibições de violência extremadas, como também demonstra audácia de seu realizador ao manter a trama restrita a um único ambiente. Praticamente os 95 minutos de duração do longa se passam no interior do conjunto habitacional dominado pelo narcotráfico. Mas Travis tem consciência de sua escolha narrativa, e não perde a mão na condução da trama, sabendo aproveitar ao máximo as oportunidades que essa premissa oferece, mesmo que sua premissa seja marcada por limitações óbvias. Muito do sucesso dessa produção se deve a boa caracterização dos personagens, dessa vez fiel as suas fontes, bem acentuadas com humor irônico e inquestionável apuro visual, como nas sequências do efeito de uma poderosa droga alucinógena que causa a sensação do tempo parar. O elenco funciona de forma orgânica abrilhantando o resultado. Apesar de todas as qualidades técnicas e superação dos riscos que circundavam “Dredd”, essa produção peca por apenas apresentar a violência como espetáculo, como inevitável e irremediável condição social, e perde a oportunidade de sugerir soluções alternativas para a politica adotada, que obviamente está repleta de falhas e que demonstra incapacidade de reverter o conturbado panorama social de Mega City Um.

Nota: 6,5/10


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Crítica: Hanna | Um Filme de Joe Wright (2011)


Em uma mudança radical de estilo, o diretor londrino responsável por dramas marcantes como "Orgulho e Preconceito" e "Desejo e Reparação", veio a lançar por meio de "Hanna"(Hanna, 2011), um thriller de suspense e ação essencialmente arrojado e distanciado do melodrama que o consagrou. Porém,  em sua aparência sumariamente estilosa, essa produção é alçada através de um enredo fantasioso e de trama confusa, que tem como consequência desencadear antipatia do espectador que se recusa a entender uma tragédia tão irregular quanto a descrita nesse longa. Na história acompanhamos Hanna (Saoirse Ronan), uma adolescente incomum de 14 anos, jovem inteligente, filha dedicada e uma habilidosa assassina. Criada apenas por seu pai (Eric Bana) um ex-agente da CIA, no isolamento de uma floresta Finlandesa, Hanna nunca viu outra pessoa que não fosse seu pai. Mesmo distante do mundo real foi treinada para ser uma assassina profissional e cumprir com uma única missão: matar Marissa Wiegler (Cate Blanchett), a responsável pelo assassinato de sua mãe. Nessa missão de vingança, Hanna descobre um mundo novo ao acompanhar uma família que tem como sua maior característica ser comum e normal.


Essa produção é uma obra de entretenimento que se faz necessária apenas pelo fato de existir, pois tecnicamente é bem realizada e diverte, já que qualquer pretensão de se fazer realmente importante não ocorre, perdendo a fluência da trama logo de início ao constatarmos o desenvolvimento da premissa estranha. Obviamente Joe Wright tenta trazer sua experiência narrativa  para a película, mas sem grande sucesso. Com um olhar mais atento sobre o elenco, se apresenta a seguinte constatação: Sobre o pai de Hanna, requer muita determinação por parte do personagem de Bana para a execução da tarefa de vingança, isto é certo, contudo familiarizar e treinar sua filha feito uma assassina profissional, soa sendo uma completa alienação. E se o papel de Bana não convence, em contrapartida o resultado final se beneficia do brilhantismo do elenco feminino que encabeça essa produção, tanto a jovem Saoirse Ronan quanto a experiente Cate Blanchett. Com uma trilha sonora extremamente variada, com a explosividade dos "The Chemical Brothers", aliada a passagens reflexivas em momentos cruciais, demonstra o quanto o trabalho de Wright é bem funcional. Se no fim "Hanna" não impressiona em sua totalidade, marcando o trabalho do diretor apenas como regular, a escolha de Saoirse Rona para protagonizar não poderia ter sido melhor.

Nota: 7,5/10


domingo, 10 de fevereiro de 2013

Crítica: Dia de Treinamento | Um Filme de Antoine Fuqua (2001)


Essa produção rendeu o primeiro Oscar de melhor ator a Denzel Washington, e uma indicação de melhor ator coadjuvante a Ethan Hawke. Entretanto, mesmo que esse exemplar filme policial tenha marcado presença em tão distinta premiação, isso não quer dizer que "Dia de Treinamento" (Training Day, 2001) esteja acima de qualquer suspeita. Por sua vez, suas melhores qualidades consistem justamente na interpretação premiada de Denzel Washington e no esforço de Ethan Hawke em cumprir com a promessa de se tornar um astro em Hollywood. De resto, temos uma produção bem realizada por Antoine Fuqua - talvez seu trabalho mais autoral - e mais nada. Na história acompanhamos de perto Alonzo Harris (Denzel Washington), que é um agente veterano da narcóticos e líder de um grupo de agentes que trabalham na cidade de Los Angeles lutando contra o tráfico de drogas. Seu grupo tem uma vaga em aberto que precisa ser preenchida a qualquer um que se habilite. Nesse caso, Jake (Ethan Hawke), um jovem e ambicioso policial de trânsito tem como objetivo maior fazer parte desse grupo liderado por Harris. Quando consegue a oportunidade de preencher a tão famigerada vaga, o novato precisa passar por um dia de treino sob o olhar e comportamento   nada ortodoxo de seu treinador, para a comprovação de suas habilidades para a ambicionada função. Contudo, Jake será apresentado ao mundo do crime de Los Angeles , repleto de esquemas corruptos, revelações sujas e um senso de justiça distorcido de seu mentor.


Apesar de estar longe de ser memorável, trata-se de um longa tecnicamente bem realizado, conduzido com firmeza, com atuações convincentes, e uma trama envolvente dentro do possível. É uma produção inegavelmente criada para o entretenimento. O roteiro aborda de forma competente o comportamento de autoridades que se utilizam de meios ilegais para cumprir a lei. Enquanto Jake exibe um personagem essencialmente puro, apesar de cercado da putridez do mundo do crime, Harris é a materialização crua de um homem corrupto que se utiliza da maquina da justiça a seu favor, cético de que seus atos são justificados. Como diria aquele velho ditado: "os fins justificam os meios". E o uso de visões de justiça diferenciadas, rendem cenas empolgantes dentro de um enredo socialmente delicado onde o submundo da justiça serve como pano de fundo. Passagens como a que Ethan Hawke está prestes a ser executado numa banheira por um bando de marginais latinos, resultado da traição de Alonzo, e o destino dá uma guinada no desfecho dessa sequência de forma inusitada, é um bom exemplo do quanto o roteiro pode ser engenhoso apesar de estar permeado de clichês do gênero. Entre códigos de justiça deturbados e derradeiras traições, ambos atores brindam o espectador com interpretações brilhantes e ligeiramente inspiradas. Por fim, "Dia de Treinamento" é um filme policial interessante e divertido. Particularmente a atuação de Denzel Washington é um espetáculo, de premiação mais do que merecida, e que é justo afirmar, que sua competência se faz presente até lendo a lista telefônica tamanha sua capacidade de erguer qualquer personagem a um patamar de excelência único.

Nota: 7/10

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Crítica: Ted | Um Filme de Seth MacFarlane (2012)


Quem diria que um ursinho de pelúcia aparentemente carinhoso, numa trama um pouco, para não dizer por demais inverossímil, seria o grande trunfo de um diretor conhecido apenas pela criação de curiosas séries de TV como “Guy Family” e American Dad”. O diretor Seth MacFarlane estreou nas telonas com essa comédia que foi a grande sensação de 2012. Bateu recordes de bilheteria para o ano mesmo tendo classificação R (restrição à menores de 17 anos, que somente podem conferir o filme acompanhados de pais ou responsáveis), deixando muitas outras produções com promessas de humor garantido no limbo. Assim com “Ted” (Ted, 2012), o diretor Seth MacFarlane e seu humor politicamente incorreto, que sempre marcou seus trabalhos televisivos, dá vida a um ursinho de pelúcia e alegria a uma plateia sobre uma história de crescimento extremamente chocante ao espectador desavisado, e divertida a qualquer um que esteja aberto as possibilidades que o cinema pode proporcionar.

O filme “Ted” conta a história de John Bennett (Mark Wahlberg) ainda quando criança, em meio à solidão desejou que seu urso de pelúcia chamado Ted (dublado pelo próprio diretor), pudesse falar com ele e ser seu melhor amigo. Com o desejo realizado os dois tornaram-se inseparáveis. E quando Lori (Milla Kunis) a namorada de John, que após quatro anos de namoro começa a ver nessa amizade um obstáculo para John amadurecer na vida, sua paixão pela namorada e sua amizade por Ted desencadeia uma trama de decisões difíceis a todos os envolvidos.

O urso Ted está distante de ser um tradicional ursinho carinhoso – usa um linguajar chulo em várias passagens, se mostra obsceno em outras, usa drogas e consome bebida alcoólica cercado de cultura POP – tanto Ted quanto John, são fãs de “Flash Gordon”. Mas Ted não foi sempre assim. No milagre de sua transformação ele era um ursinho fofinho e querido como uma criança solitária imagina, contudo Ted evoluiu evidentemente, ao seu modo, lhe concedendo contornos extravagantes da forma como conduz sua vida. E como John, inseparável amigo, segue de perto as loucuras de seu incomum amigo. Ted já foi uma celebridade, um fenômeno da mídia e o centro dos holofotes mundialmente, mas como a produção mesmo salienta, não há estrela que um dia não se apague e caia no esquecimento. Hoje precisa procurar emprego como qualquer um e pagar aluguel. Sem muita perspectiva de vida, apenas lhe resta viver – leia-se fazer loucuras. No meio dessa relação inabalável se encontra Lori, que vê nessa relação de amizade as dificuldades da evolução de seu amado. John se comporta como um adulto infantilizado, porém carismático. Em um papel distante da namorada chata, e sim receosa com o futuro de sua relação, ela tenta a todo custo abrir os olhos de John para o óbvio – cresça John, cresça! A cena final da “ressureição” é a última cartada de um rico repertório de boas sacadas do roteiro, e porque não dizer a melhor, pois certamente é mais inesperada de todas.

O roteiro de MacFarlane em parceria com Alec Sulkin e Wellesley Wild, tem certos clichês, que de certa forma fluem com naturalidade ao longo da duração do filme. Quase passam despercebidos, justamente porque o foco da trama está bem direcionado nos personagens, divertidos como devem ser. E se os personagens foram bem desenvolvidos, diga-se as situações as quais são envolvidos – a cena da briga no quarto de hotel entre Ted e John é de um esmero dramático no mínimo interessante, além de visualmente bem montado. Entretanto, a contratação de Ted como caixa de um supermercado desliza no surreal de maneira escabrosa e ao mesmo tempo hilária. Mas é preciso reforçar que se trata de uma comédia assumida, que mesmo ao lidar com sentimentos e emoções reais, foram erguidas através de uma premissa surreal e fantástica. O elenco carismático nos faz esquecer essa questão, permitindo que realidade e ficção se misturem até o espectador não se importar com as diferenças.

Ted” é a estreia bem-sucedida de Seth MacFarlane nas telonas. Uma comédia gostosa de ver sobre crescimento obrigatório, relacionamentos conflituosos e sobre a verdadeira amizade num enredo além do inimaginável para alguém com mais de dez anos de idade. Agora somente nos resta esperar por uma sequência a altura do original e torcer pela prorrogação do sucesso do diretor que não poderia ter estrado melhor.

Nota: 9/10