sexta-feira, 29 de junho de 2012

Crítica: Um Homem Misterioso | Um Filme de Anton Corbijn (2010)


O astro George Clooney é inegavelmente um dos maiores galãs do cinema da atualidade. Dentro e fora das telas suas conquistas são conhecidas. Charmoso e talentoso marcou pontos em filmes de ação ou presença em profundos dramas com a mesma maestria. Sabe aplicar a qualidade do humor sem ser forçado. Apesar do deslize cometido em um dos filmes da franquia Batman – o ator demonstra um enorme desconforto na interpretação – praticamente todo filme ao qual seu nome é vinculado se sai bem. Contudo, em "Um Homem Misterioso" (The American, 2010), Clooney faz tudo, menos interpretar seu papel como o público espera ansioso. O filme rola e não acontece nada que sacie a expectativa do espectador faminto por tiroteios e adrenalina. Ele interpreta um personagem bem distante dos moldes de Hollywood ao qual alcançou seu prestigio. A exemplo disso, o ator comprou os direitos do livro “A Very Private Gentleman” (algo como Um Senhor Muito Reservado, numa tradução livre), escrito por Martin Booth, e produziu o filme por conta própria, bem nos moldes do cinema europeu.

Com a história onde George Clooney interpreta o papel de Jack, um artesão que fabrica armas sob medida para assassinatos encomendados. Com esse exótico ofício, precisa ter em seu currículo descrição e desapego com o ambiente, onde jamais deve criar vínculos pessoais. Após uma nova solicitação de seu trabalho, Jack se isola na região de Abruzzo, na Itália, em uma pequena cidade que seu personagem não passa despercebido em hipótese alguma. E contra regras as quais ele é escravo voluntário, passa a criar uma espécie de relacionamento amigável com o padre da cidade e uma cumplicidade com uma prostituta chamada Clara (Violante Placido), que ele escolhe para passar as noites com certa frequência. Mas o que era evidente ao espectador, que algo não iria dar certo se ele burlasse as regras, para Jack era um fio de esperança por uma vida diferente, que ironicamente dividindo a cama com Clara, havia a possibilidade de ser alcançado.

O filme pode ser encarado por fãs de Clooney como chato, excessivamente lento e arrastado. Mas a proposta oferecida é justamente essa, adotando uma narrativa que aproveite as belezas e os contornos da paisagem europeia numa trama que cresce sem saltos e mantém a atenção do espectador sem entregar o final de forma precipitada. Apesar da atuação monossilábica de Clooney, os melhores momentos do filme são inclusive aqueles onde não é dito nada, e sim nas tensas ocasiões, onde o público tenta predizer o passo seguinte do protagonista. O clima hipnótico perpetua por todo o longa, seja no enquadramento, seja nos diálogos acentuados pelo requinte da obra.  A afeição do astro pelo personagem é evidente, por seu prazer em interpretar papéis erguidos em camadas. A direção ficou a cargo de Anton Corbijn, cineasta holandês responsável por dirigir Control (biografia de Ian Curtis, vocalista do Joy Division). Muito do ritmo lento e bem caracterizado ao cinema europeu que "O Homem Misterioso" estampa, pode ser atribuído à natureza de seu realizador que vê no clima da trama a maior importância de seu trabalho. 

Nota: 7/10


sexta-feira, 22 de junho de 2012

Crítica: Hellboy | Um Filme de Guilhermo Del Toro (2004)


Essa adaptação cinematográfica dos quadrinhos de Mike Mignola chamada "Hellboy" (Hellboy, 2004) em uma produção hollywoodiana é uma surpresa por preservar com fidelidade o material original com charme e elegância, ao mesmo tempo em que transpõe todos os elementos necessários para compor um filme surpreendente de visual criativo e harmonia narrativa . Porém não há como um espectador desavisado, não ficar com um pé atrás diante de um longa, cujo protagonista incomum (Hellboy era um personagem pouco conhecido a não ser por fãs de quadrinhos) ganhar crédito com facilidade. A estranheza que causa a ideia de um demônio detetive que serra os próprios chifres para impedir que se cumpra seu destino é bastante ousado e de transposição complexa para a telona. Ousadia essa levada as telas aos dentes por Guilhermo Del Toro (Blade 2), que durante anos travou uma guerra para materializar sua visão fantástica da história que resultou em um sucesso de cinema ( que inclusive gerou uma sequência mais tarde chamada "Hellboy O Exército Dourado"). A história é focada em um demônio bebê que foi encontrado por soldados americanos durante a Segunda Guerra, e é criado por uma agência governamental secreta que combate ameaças sobrenaturais sem o conhecimento do público, mas sob constantes especulações da imprensa. 


"Hellboy" é puro entretenimento. O Hellboy (Ron Perlman) é um personagem de quadrinhos, mas poderia ser bem vendido como astro de filme de ação por sua desenvoltura em tela, ao estilo de um John Mclane à vontade na função de exterminador de aberrações e de personalidade cínica e sarcástica.  E contando com a ajuda do anfíbio Aben Sapien (Doug Jones), uma criatura grotesca e educada de transposição perfeita para os cinemas; Liz Sherman (Selma Blair), uma piro cinética ao qual Hellboy nutre uma paixão; o agente John Myers (Rupert Evans), a visão da normalidade diante do universo fantasioso de Mignola; e o professor e padrasto de Hellboy (John Hurt), o comandante dessa equipe especial; integram o Bureau de Pesquisas e Defesa Paranormal. Com vilões que se alternam entre duas dimensões, comandados pelo mágico Rasputin, a trama se desenvolve sobre o plano de criar um apocalipse na terra utilizando a natureza sombria de Hellboy como ferramenta. Um filme feito à moda antiga, com maquetes e muita maquiagem (Ron Perlman está irreconhecível sob toda a maquiagem) aliando recursos digitais modernos em pequenas doses, dão o tom sinistro necessário ao enredo e fazendo da narrativa adotada por Del Toro perfeita e harmoniosa como só ele poderia fazer. "Hellboy" prova que adaptações de quadrinhos alternativos, podem muito bem serem fiéis as suas origens, comercialmente lucrativas e bacanas ao mesmo tempo.


Nota: 7,5/10

terça-feira, 19 de junho de 2012

Crítica: Colombiana | Um Filme de Olivier Megaton (2011)


Para apreciadores de obras emocionantes como “Salt” e “Hanna” – protagonizado por personagens femininas audaciosas - esse filme chamado "Colombiana" (Colombiana, 2011) é um prato cheio, mostrando a capacidade de Luc Besson de produzir e “escrever” filmes visualmente apurados, como na época de o “Beijo do Dragão”, “Cão de Briga” e “Carga Explosiva”. Mesmo que faça lembrar, talvez por coincidência, um filme como “O Profissional” – estrelado por Jean Reno e Natalie Portmann – pela criação de uma personagem feminina a prova de balas desde a infância, o resultado técnico foi melhorado, quase chegando à perfeição e sua trama, apesar de simples, ganha pontos pelo conjunto bem realizado. Com uma história clássica de vingança, Zoe Saldana interpreta o papel de uma jovem que depois de testemunhar o assassinato dos pais, chega à maturidade com o intuito de matar os responsáveis. E durante anos exercita sua vocação para a vingança, tornando-se uma assassina profissional a serviço de um tio, tendo em mente apenas um único objetivo: matar o mafioso responsável pela morte de seus pais.


A qualidade técnica do filme é excelente, desde a direção de arte e fotografia ao elenco e direção bem sintonizados com a sinopse simples, porém bem realizada e promissora. Os tiroteios exemplificam as melhores qualidades do filme, que foram bem orquestrados sem deixar outros elementos – diálogos necessários na trama – menos vistosos do que as explosões e as execuções da assassina. A atriz Saldana quase consegue emocionar pela sua via-crúcis de sofrimento que já passou – cena na biblioteca com o tio – onde as feridas emocionais adquiridas durante o processo de vingança para chegar ao final de seu objetivo começam a dar sinais visíveis de cansaço. Seu desejo de viver uma vida normal é conflitante com seu desejo de vingança, criando uma tortura emocional visível aos olhos de um apaixonado pretendente ao qual ela também nutre um carinho especial.Porém, mesmo que a história tenha qualidade, apesar de simplória ao mesmo tempo, a direção de Olivier Megaton é bem focada na ação, quase incessante, deixando claro porque veio. Como no filme da Angelina Jolie, em “Salt”, o ponto alto do longa é o conjunto dos elementos narrativos que dão o tom da obra: o drama; a ação policial, o desempenho da protagonista e os tiroteios – não necessariamente nessa ordem é claro.

Nota: 6,5/10


quinta-feira, 14 de junho de 2012

Crítica: Dublê do Diabo | Um Filme de Lee Tomahori (2011)



Quando eu era ainda adolescente o Iraque havia invadido o Kuwait no início da década de 90 com a intenção de tomar o território e a posse do petróleo kuaitiano, e quando a nação americana intrometeu-se no conflito entre as nações árabes como força repositora da paz, de forma duvidosa devo dizer, eu sempre ouvia nos noticiários de que Saddam Hussein havia sido possivelmente alvejado em um bombardeio aéreo, porém a informação era complementada pela CIA com a possibilidade de ser apenas mais um de seus inúmeros sósias que desempenhavam seu papel de presidente com a função de resguardar sua segurança e confundir seus inimigos. Divulgava-se a notícia de que ele tinha dezenas de homens idênticos a ele, que ficavam expostos em lugares públicos em seu lugar caso houvesse um atentado que pusesse sua persona em perigo. Por isso quando me deparei com esse filme chamado "Dublê do Diabo" (The Devil`s Double, 2011), de cartaz de divulgação incomum e baseado em fatos reais, sabia que estava prestes a ver uma história inédita de interesse nostálgico, e ainda que distribuído pela Califórnia Filmes – que lança filmes que geralmente tem um acerto em cinco tentativas – poderia trazer uma surpresa. 



A trama é baseada na trajetória verídica de vida de Latif Yahia (Dominic Cooper), um soldado iraquiano que devido suas semelhanças físicas com Uday Hussein, filho do ditador Saddam Hussein, foi obrigado a se tornar sósia dele, onde testemunhou contra sua vontade as perversidades de um lunático homicida. Fez algumas cirurgias plásticas que apenas intensificaram suas semelhanças, tornando uma espécie de irmão gêmeo de aparência, contudo de caráter plenamente diferenciado. E como a goiaba não cai muito longe do pé, Uday faz jus ao título do filme, pois se comporta como sendo o próprio anticristo, pelas atrocidades que cometia impunemente durante o regime político do pai. Dominic Cooper faz o papel duplo, tanto de bravo sobrevivente e inevitável herói quanto o de vilão real, convincente em ambos os papéis, salva esse filme de ser uma bomba como corria o risco de ser. Sua interpretação é louvável mesmo não sendo uma estrela do primeiro time. Obviamente não se trata de nenhuma obra prima, nem nada disso, mas é um filme interessante pelo seu conturbado aspecto histórico, que em várias passagens é lembrado através de cenas reais de noticiários da época; pelo ambiente modificado lentamente pela tensão da população iraquiana; pelo avanço das tropas inimigas Xiitas sobre o solo do Iraque e pela eminente derrota da guerra. A direção encomendada fica a cargo de Lee Tomahori, que foca a trama pela perspectiva de Latif, frustrado com o destino que sua vida tomou depois que sua existência lhe foi negada em prol da sobrevivência de um pervertido sádico.  A narrativa adotada pela direção não da margem para erros grosseiros por sua experiência na direção de produções muito mais complexas como o da série "007", a qual já foi responsável no passado. Apesar do final simplório e preguiçoso, preso aos fatos como rédeas para um bom desenvolvimento de uma história cativante, basta assistir alguns minutos para ver que não se trata de nenhuma bomba lançada direto em DVD como estamos acostumados a ver nas prateleiras da locadora. "Dublê do Diabo" é apenas um filme sem o apelo de estrelas, erguido sobre um argumento interessante e sem espetáculos. 

Nota: 7/10