terça-feira, 30 de abril de 2019

Crítica: Bird Box | Um Filme de Susanne Bier (2018)


Diante de um suicídio em massa ocasionado por uma entidade de origem desconhecida, os poucos sobreviventes desse fenômeno lutam para se manterem vivos. Depois de cinco anos sobrevivendo em meio a uma sociedade que foi incitada a cometer suicídio sem razões aparentes, Malorie (Sandra Bullock) e duas crianças põem em prática um plano desesperado de encontrar um lugar seguro. Porém essa perigosa jornada torna-se ainda mais longa e difícil por terem que fazer as cegas, pois expor o sentido da visão diante da misteriosa criatura que vaga as redondezas pode ser fatal. “Bird Box” (Bird Box, 2018) é uma produção estadunidense de suspense e terror escrita por Eric Heisserer e dirigida pela cineasta dinamarquesa Susanne Bier (responsável por filmes como “Depois do Casamento”, “Em um Mundo Melhor”, “Serena”, entre outros mais). Inspirada no livro de mesmo nome de Josh Malerman, publicado em 2014, o filme é estrelado por Sandra Bullock, John Malkovich, Trevante Rhodes, Sarah Paulson, Rosa Salazar, entre outros. Um dos maiores hype lançados pela Netflix nos últimos tempos, seu enredo é contado através de duas narrativas distanciadas por uma linha de tempo de cinco anos.  Onde uma demonstra os eventos que levam as pessoas a cometerem o suicídio, e outra que acompanha Malorie e as duas crianças, descendo completamente vendados um rio por uma floresta em direção a um suposto lugar seguro.

Os aspectos peculiares impressos no enredo e na narrativa de “Bird Box” são determinantes para amá-lo ou odiá-lo. Isso vai variar muito de espectador para espectador. Entre muitos dos comentários que li sobre essa produção em portais de cinema como o IMDB, muitas de suas qualidades eram apontadas por uma boa parcela de espectadores como defeito. O enredo que lança uma premissa curiosa na tela que é explorada como uma espécie de combinação elaborada de outros filmes em um único enredo. O desenvolvimento tenso proporcionado pelo ritmo da narrativa que alterna numa inteligente edição entre as duas linhas de tempo é de uma elaboração bastante funcional para prender a atenção do espectador. O filme que é dotado de pouca transparência quanto às circunstâncias as quais os personagens são submetidos ao longo do desenvolvimento do enredo, agrega muitas sutilezas aos detalhes, tornando esse filme tão obscuro quanto fascinante. Recheado apenas com pistas, alguns questionamentos nunca foram esclarecidos. A decisão de nunca mostrar um corpo físico para a ameaça presente que sempre se sugeria estar nas proximidades, tornou-se uma decisão da direção tão delicada quanto inteligente. O medo do desconhecido acaba ultrapassando os limites da tela e os receios dos personagens são absolvidos pelo espectador, que também desconhece a face do mal que aflige os suicidas. O sentimento de imersão se eleva no lado de cá da tela e as regras propostas aos personagens passam a ser obrigatoriamente do público também. O elenco que é encabeçado pela talentosa Sandra Bullock, ganha um elenco de apoio à altura e bastante funcional.

Bird Box” oferece uma boa dose de mistérios sem respostas claras, mas um desenvolvimento consciente sobre esse aspecto. Os derradeiros questionamentos presentes no filme ganharam a internet, onde teorias acerca da ameaça da qual toma a humanidade é associada como uma espécie de metáfora como sendo a doença da depressão. O final esperançoso é um brinde concedido pela direção de Susanne Bier, habituada a se envolver em projetos melodramáticos. Em resumo, o filme tem um potencial que naturalmente poderia ser mais bem explorado, mas ainda assim se mantem interessante com o material que apresenta. “Bird Box” é um daqueles filmes que após a sessão fazem o espectador pensar, o que ao meu ver merece algum respeito.

Nota:  7,5/10

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Crítica: O Paradoxo Cloverfield | Um Filme de Julius Onah (2018)


Em 2028, o planeta Terra sofre de uma crise energética global e está diante de uma eminente guerra mundial. Para solucionar os problemas de energia do planeta, as agências espaciais do mundo põe em órbita a Estação Espacial Cloverfield para testar o acelerador de partículas Shepard, o que proporcionaria toda a energia necessária para abastecer o planeta caso os tripulantes consigam fazer a maquina funcionar. Porém há especialistas que afirmam estes testes podem desencadear efeitos colaterais, como portais para dimensões paralelas e perigosas rupturas no espaço tempo. Após vários testes malsucedidos, finalmente a tripulação consegue aparentemente sucesso ao conseguir um feixe de energia supostamente estável, ele também gera uma sobrecarga inesperada na estação. O que ninguém esperava era que essa sobrecarga acidental também fez com que todos os temores teorizados na Terra se tornaram uma realidade fazendo com que os tripulantes devam fazer de tudo para reverter as consequências de suas ações no espaço. “O Paradoxo Cloverfield” (The Cloverfield Paradox, 2018) é uma produção estadunidense de terror e ficção científica escrita por Oren Uziel e Doug Jung e dirigida por Julius Onah. Esse é o terceiro episódio de uma franquia iniciada com o filme “Cloverfield”, de 2008, todo filmado no estilo found footage, seguido pelo excelente suspense “Rua Cloverfield, 10”, de 2016. Em “O Paradoxo Cloverfield” a franquia dá uma pequena escorregada e manda a boa reputação da franquia (desculpem o trocadilho) para o espaço.

É fato que a premissa de “O Paradoxo Cloverfield” seja tão boa quanto se podia esperar. Numa imensidão de questões sem resposta que os dois filmes anteriores cultivavam estrategicamente, essa produção tinha o propósito de esclarecer apenas uma dúvida que por sinal foi respondida com louvor (a origem de todo caos). Porém há uma infinidade falhas, escolhas equivocadas e soluções narrativas dotadas de incoerências com o restante da franquia que foram adicionadas ao roteiro que mais prejudicam a funcionalidade do filme do que ajudam a alça-lo ao sucesso dos filmes anteriores. Essa crise energética que assola o planeta é um fato novo dentro da franquia, numa antes esboçada o que causa uma sensação de estranheza ao observar o conjunto da obra. A sub-trama focada na vida pessoal de Ava Hamilton, uma oficial de comunicações a bordo da estação interpretada por Gugu Mbatha-Raw é uma adição duvidosa. Seu desempenho é um destaque formidável do elenco, inquestionavelmente o melhor, superando figuras grandiosas como Daniel Brühl, Zhang Ziyi e David Oyelowo. No entanto sua conexão com a Terra através do seu marido que se ocupa na salvação de uma menina perdida também gera uma sensação de excesso, embora nota-se que se trata de um pequeno artifício para conectar o espectador com as circunstâncias alarmantes que ocorrem na Terra no momento. Sem falar de passagens de uma mão decapitada com total autonomia do corpo, diálogos maçantes e situações pouco climáticas que remetem a um filme de assombração, fazem do desenvolvimento da trama um desfile de coisas ruins.

Em meio a essas escolhas ruins, Julius Onah falha consequentemente na criação da atmosfera certa para o seu produto, já que o suspense e a tensão quase nunca atingem os níveis adequados para uma produção dessas, a ficção científica não fascina e os dramas e obstáculos propostos ao elenco apenas geram o material necessário para preencher o tempo. Sem dúvida, “O Paradoxo Cloverfield” era de conhecimento de seus realizadores como sendo o filme mais fraco da franquia. Depois que seu lançamento teve vários adiamentos, a Paramount cedendo os direitos da franquia para a Netflix, onde o filme não seria lançado em salas de cinema, os fãs da franquia já podiam esperar o pior. Embora seja apenas uma ligeira escorregada, e as poucas boas ideias presentes nessa produção sejam válidas e demonstrem alguma iniciativa por não se prender a uma narrativa padronizada para a franquia, seu quarto episódio não irá desencadear tantas expectativas como foi em outrora.

Nota:  6/10

sábado, 27 de abril de 2019

Crítica: Eu te Matarei Querida | Um Filme de Roger Michell (2017)


Inglaterra, no ano de 1830. Phillip (Sam Claflin) é um órfão de família aristocrata que foi levado e adotado por seu primo, Ambrose (Deano Bugatti), ainda quando era apenas uma criança. Porém o tempo passou e Ambrose depois de muitos anos se casou, mas não viveu muito para aproveitar esse momento, pois morreu pouco tempo depois do seu casamento. Responsabilizando a desconhecida viúva, Rachel (Rachel Weisz), pela sua fatídica perda de seu pai adotivo e também primo, Phillip traça um plano de vingança contra a misteriosa mulher que até então somente sabia da existência dela por cartas enviadas por Ambrose. No entanto os planos não correm de acordo como o planejado quando ele passa a viver sob o mesmo teto que ela, onde se apaixona profundamente pela envolvente prima. “Eu te Matarei, Querida” (My Cousin Rachel, 2017) é um drama de romance e mistério escrito e dirigido por Roger Michell, cineasta que ficou famoso após o sucesso da comédia romântica chamada “Um Lugar Chamado Nothing Hill”, de 1999, que havia sido estrelado por Julia Roberts e Hugh Grant. Adaptado de um romance da escritora britânica Daphne du Maurier publicado em 1951 (autora de obras que inspiraram filmes como “Rebecca” e “Pássaros”, ambos realizações cinematográficas de Alfred Hitchcock), esse longa-metragem é uma refilmagem de um filme de 1952, estrelado por Richard Burton e Olivia de Havilland e dirigido por Henry Koster. Entre erros e acertos, essa produção divide facilmente o público ainda que se mostre competente em sua proposta.

Eu te Matarei, Querida” é uma sutil crítica a uma sociedade machista que não aceita a possibilidade de que uma mulher tenha liberdade, independência e opinião própria. Ponto para essa produção. Com a trama se passando numa Inglaterra vitoriana brilhantemente caracterizada por um conjunto técnico impecável e sem exageros visuais, uma narrativa que envereda por uma atmosfera de suspense funcional e ainda tendo em sua linha de frente uma dupla de protagonistas de respeito como Sam Claflin e Rachel Weisz no elenco principal, que provavelmente são as duas melhores coisas desse longa-metragem, fica difícil acreditar que o filme nunca realmente deslancha na tela. Ainda que as atuações sejam boas, o enredo demostre engenhosidade e o apuro crítico passe sua mensagem com descrição e clareza, é curioso ver a pouca força que essa produção exerce sobre o público e como ela rendeu críticas negativas ao longo do tempo. Embora eu já conhecesse sua reputação de longa data, algumas críticas odiosas a seu respeito não conferem com a excelência que Roger Michell imprimiu em seu trabalho. O filme tem uma iniciativa positiva em sua essência, boas ideias em seu desenvolvimento e uma construção de atmosfera dada por atuações que merecem toda a consideração do público, mas deve por um desfecho mais cinematográfico. Se Roger Michell acerta na construção de expectativas sobre as reais e nunca claras intenções da aproximação de Rachel com a figura de Phillip, erra feio ao entregar um desfecho que funcionaria melhor nas paginas de um romance qualquer.

A difícil tarefa dos personagens de ganhar a empatia do espectador, que em alguns casos se mostrou fracassada, limitam o alcance e a força desse longa-metragem. Erro que levou essa produção a angariar inúmeras críticas negativas. Por isso, “Eu te Matarei, Querida” é um filme capaz de fazer o espectador amá-lo ou odiá-lo. Mas independente do seu veredicto, não anula as suas qualidades mesmo que elas não sobressaiam seus defeitos.

Nota:  6,5/10

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Crítica: Com Amor, Van Gogh | Um Filme de Dorota Kobiela e Hugh Welchman (2017)


O ano é 1891. Um ano após a morte de Vincent Van Gogh, o jovem Armand Roulin, filho do carteiro Joseph Roulin, fica incumbido de levar uma carta de Van Gogh ao irmão, Theo Van Gogh antes de morrer. Essa carta nunca conseguia chegar ao destinatário e permaneceu esquecida até que Joseph tomou a iniciativa de entregar a carta por outros meios. Porém ao chegar a cidade, Armand descobre que Theo também havia morrido algum tempo depois de Vincent, onde o paradeiro da viúva se mantinha desconhecido. No entanto, há rumores que Doutor Gachet, o antigo médico de Vincent pode saber o seu paradeiro, embora Armand irá precisar esperar alguns dias antes de poder falar com ele. Nessa espera, Armand passa a conhecer as pessoas que conviveram com o artista alguns meses antes de sua morte, e traça um panorama de sua interessante figura e as hipóteses em volta de seu inexplicável suicídio. “Com Amor, Van Gogh” (Loving Vincent, 2017) é uma produção de animação biográfica britânica e polonesa escrita por Jacek Dehnel e pelo casal de diretores. Ganhando vários prêmios internacionais em diferentes festivais pelo mundo, incluindo uma merecida indicação ao Oscar de Melhor Animação na Cerimônia do Oscar 2018, esse filme entra para a história por uma série de peculiaridades impressas em sua forma e essência.

Com Amor, Van Gogh” é uma belíssima animação que se tornou o primeiro longa-metragem feito inteiramente com pinturas a óleo. Com a colaboração de mais 100 artistas que produziram 853 pinturas a óleo elaboradas com o estilo de pintura de Van Gogh (o filme tem exatamente 853 tomadas diferentes) e que geraram necessariamente cerca de 65 mil movie frames (quadros), o casal Dorota Kobiela e Hugh Welchman criam uma animação que conta com muita originalidade um pouco da história da vida do famoso artista Vincent Van Gogh. O filme gravado em live-action e recoberto com o trabalho de arte dos artistas faz dessa animação algo tão ousado quanto belo. Foram cerca de 6 anos para concretizar essa animação. Um desafio proporcionado pelos moldes de sua proposta e superado pelo comprometimento dos envolvidos. A animação além de ser belíssima, também agrega uma forte ligação do artista com outros elementos de sua vida. Isso não é expresso somente no visual adotado pela animação, mas em vários elementos apresentados no enredo. O forte vínculo do artista com o seu irmão e a importância de seu costumeiro hábito de escrever cartas são questões chaves da vida do artista que foi agregado ao enredo com a devida competência. Outro aspecto importante da trama é a forma como sua vida é descrita nessa animação, onde os fatos sobre a vida de Van Gogh, alguns de conhecimento comum e outros não, são amarrados a uma espécie de investigação policial particular conduzida pelo personagem de Armand Roulin. Esse aspecto, além de não lhe conferir um tedioso desenvolvimento documental e didático para o filme, esse artifício lhe confere uma atmosfera tão original e inesperada quanto a sua diferenciada aparência.

Vincent Van Gogh (1853-1890) foi um importante pintor holandês que se tornou um dos maiores representantes da pintura pós-impressionista. Embora essa animação toque em vários momentos importantes de sua vida (como na época em que cortou sua orelha e entregou em mãos de uma amante de um cabaré da cidade) como a retratação da metódica busca do artista para atingir a excelência, o enredo proporciona um destaque primoroso ao pequeno período em que residiu na região de Auvers. Um período dos mais curiosos dessa produção, pois detalham de forma pessoal a personalidade do artista bipolar que foi Van Gogh. Se os primeiros minutos de “Com Amor, Van Gogh” possam parecer um pouco desgastantes, onde o espectador precisa se acostumar com o visual nervoso da animação que enche os olhos a cada segundo, pouco tempo depois é possível estar acostumado com a estética e notar as enormes qualidades que estão impressas nessa animação.  Com Amor, Van Gogh” proporciona um ligeiro relato lírico que traça um perfil original do artista, além de ser uma delicada homenagem a um homem que estava obstinado em provar para mundo que ele era e podia fazer muito mais do que olhos das pessoas podiam ver.

Nota:  8/10

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Crítica: Bravura Indômita | Um Filme de Joel e Ethan Coen (2010)


Depois que um bandido chamado Tom Chaney (Josh Brolin) assassinou o pai da jovem Matie Ross (Hailee Steinfeld), uma menina de apenas 14 anos que sempre está de mal-humor. Além de assassinar seu pai, Chaney também havia roubado os cavalos e alguns pertences de sua família. Assim ela contrata Rooster Cogburn (Jeff Bridges) um caçador de recompensas que na maior parte de seu tempo está sempre bêbado, mas que aceita o trabalho de levar justiça ao ladrão e assassino. Porém esse serviço somente seria realizado, caso Matie participasse da busca. Mas essa inusitada dupla não está sozinha nessa caçada. Um Texas Ranger, chamado LaBoeuf (Matt Damon) se junta a essa inusitada dupla de justiceiros e partem em direção a um território hostil do Velho Oeste para capturar e levar Tom Chaney a justiça para responder por seus crimes. “Bravura Indômita” (True Grit, 2010) é uma refilmagem de um longa-metragem de faroeste escrito e dirigido por Joel e Ethan Coen. Baseado em um western de 1969 estrelado por John Wayne, esse remake pouco lembra sua inspiração cinematográfica. Adaptado do romance de Charles Portis, os irmãos Coen fazem de um filme originalmente interessante, algo impecável e surpreendente que ao contrário do original consegue saciar o apetite voraz de seus espectadores por atuações fascinantes e emoções inéditas.

Recheado de inúmeras indicações a prêmios em renomados festivais de cinema (o filme teve 10 indicações na Cerimônia do Oscar 2011), “Bravura Indômita” alcança um alto nível de excelência em sua realização e uma consequente aceitação de público e crítica. Quando há alguns anos antes os irmãos Coen lançaram “Onde os Fracos Não Tem Vez”, em 2007, uma espécie de faroeste moderno dado por sua manipulada atmosfera, os cineastas apresentaram um breve ensaio do gênero. Em “Bravura Indômita” os cineastas entregam um trabalho imensamente completo, igualmente dramático e bastante seguro de seu propósito. O roteiro explora bem as nuances de cada personagem, onde todos conseguem entregar desempenhos bastante convincentes e atuações que prendem a atenção. O destaque fica para a jovem Hailee Steinfeld, que ganha o espectador desde a sua primeira “negociação”. Sobretudo, Josh Brolin e Jeff Bridges que são atores que parecem que nasceram para interpretar filmes de faroeste, dispensam comentários que justifiquem suas presenças, tamanha a credibilidade que conferem a seus personagens. Ambos são pontos altos nessa produção, como a direção dos irmãos Coen, que distribuem genialmente doses de humor negro ao longo de sua duração e momentos notáveis presentes nos poucos tiroteios. Porém trata-se de um filme verbalizado, brilhante nas linhas do roteiro e nos excelentes diálogos. 

Bravura Indômita” dispensa comparações com a obra de 1969, pois tem o seu brilho próprio. Embora a comum declaração do lançamento de refilmagens seja normalmente seguida de preocupações e descontentamentos que nem sempre são plausíveis, os irmãos Coen conseguem criar um faroeste tão bom quanto o original, justamente por seguir uma linha bastante original. Uma tentativa bem sucedida de cativar novas audiências para um gênero onde cada vez menos são lançados bons filmes.

Nota:  8/10

terça-feira, 23 de abril de 2019

Eu, Eu Mesmo e Ang Lee

domingo, 14 de abril de 2019

John Wick 3: Parabellum (2019)

Pôster Oficial (Estreia: 17 de maio de 2019)

quinta-feira, 11 de abril de 2019

Crítica: Robin Hood: A Origem | Um Filme de Otto Bathurst (2018)


Robin de Loxley (Taron Egerton) é um nobre que foi recrutado para lutar nas cruzadas pelo xerife de Nottingham (Ben Mendelsohn).  Retornando da terceira cruzada contra os sarracenos, o jovem lorde vê o seu povo e a sua terra a beira do completo caos. O povo está passando fome, terras foram confiscadas arbitrariamente e a cobrança de impostos estava ultrapassando os limites do que era suportado pela população. Assim Robin, aliando-se ao mouro Little John (Jamie Foxx), os dois traçam um perigoso plano para reaver dos ricos e poderosos o dinheiro que roubaram do povo para financiar um plano de conspiração contra a coroa. “Robin Hood: A Origem” (Robin Hood, 2018) é uma produção de ação e aventura escrita por Ben Chandler e David James Kelly e dirigida pelo diretor britânico Otto Bathurst (conhecido por seu envolvimento nas séries “Black Mirror” e “Peaky Blinders). Baseado no famoso conto do ladrão que rouba dos ricos para dar aos pobres, essa produção tinha a ambição de fazer uma releitura arrojada do material original. No entanto, ao apresentar uma história limitada, injetar artifícios narrativos modernos e cenas de ação elaboradas em seu enredo com um propósito unicamente comercial, Otto Bathurst apenas entrega um filme pretensioso que se mostra apenas completa perda de tempo para o espectador.


Robin Hood: A Origem” faz de “Robin Hood: O Príncipe dos Ladrões”, um filme de 1991 dirigido por Kevin Reynolds e estrelado por Kevin Costner, Morgan Freeman e Mary Elizabeth Mastrantonio parecer fenomenal. Ambos têm em comum uma proposta comercial em sua essência, porém “Robin Hood: A Origem” adiciona uma série de ideias inovadoras e soluções equivocadas que destoam da base literária de seu material. Eu diria que os excessos que fazem dessa produção o fiasco que é, são os mesmos que fizeram de outro conto bastante conhecido mundialmente, o “Rei Arthur: A Lenda da Espada”, longa-metragem dirigido por Guy Ritchie e estrelado por Charlie Hunnam e Jude Law um desastre de crítica: a pretensão. Seus enredos não se mesclam aos estilos narrativos propostos pela produção com naturalidade, e embora proporcionem momentos de emoção visual apurado, esses mesmos carecem de uma ambientação e atmosfera de acordo com o conhecimento público. Nem sempre velhas histórias conseguem ser melhoradas apenas dando novos contornos. Sendo assim, Otto Bathurst entrega um filme pobre de ideias, de ação explosiva e exagerada onde desperdiça a reputação de atores como Jamie Foxx e não aproveita muito o carisma de seu jovem protagonista, o ator Robin de Loxley, como deveria. Além do mais, mediocriza seu elenco de apoio.

Em sua introdução, uma narração em off avisa o espectador de “Robin Hood: A Origem”: ”Esqueça a História. Esqueça tudo que ouviu até agora”. Considerando o negativo resultado desse longa-metragem, esse pedido dado no inicio da projeção vale para esse filme também. Outra coisa: se havia a pretensão de se iniciar uma espécie de franquia através desse filme, depois um enorme fracasso de bilheteria e uma enxurrada de críticas fazendo menções odiosas a sua qualidade, certamente que essa iniciativa parou por aqui mesmo.

Nota:  4/10

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Crítica: O Homem que Mudou o Jogo | Um Filme de Bennet Miller (2011)


Billy Beane (Brad Pitt) é gerente de um time de beisebol da segunda divisão que está distante de ser o melhor dos melhores. Mas quando passou a adotar regras fundadas em diversos conhecimentos estatísticos criados por Peter Brand (Johah Hill) para o esporte, sobretudo no time que gerenciava que era o Oakland Athletics, Billy revolucionou a forma de como se contrata jogadores.  Sujeito a um baixo valor de caixa para contratar jogadores de destaque do campeonato, passou a seguir analises estatísticas e começou a comprar o passe de jogadores desacreditados, mas promissores que aliavam custo/benefício e possibilitava a criação de um time vencedor. Mesmo com toda a pressão da mídia, os obstáculos pessoais dos atletas, o jogo de intrigas dos bastidores do esporte, Billy conseguisse escrever o seu nome na história do esporte revolucionando a maneira como se contrata atletas. “O Homem que Mudou o Jogo” (Moneyball, 2011) é uma produção dramática escrita por Steven Zaillian e Aaron Sorkin, inspirado na história real retratada no livro Moneyball: The Art of Winning an Unfair Game de Michael Lewis. Dirigida por Bennet Miller, o filme estreou no Festival de Cinema Internacional de Toronto e foi bem recebido pela crítica especializada e pelo público.

Em “O Homem que Mudou o Jogo”, acompanhamos a ciência por trás do desafio de se vencer um campeonato com pouco dinheiro. Porém, uma ciência em sua fase experimental, de natureza duvidosa e inédita dentro desse nicho esportivo que é o beisebol. Sua proposta era que regras de seleção e contratação de jogadores fossem restabelecidas, possibilitando com que clubes desprovidos de grandes verbas financeiras fizessem contratações mais competitivas. Mesmo que essa reformulação proposta por Billy Beane não tenha levado o Oakland Athletics ao título, posteriormente sua fórmula de sucesso consagrou outros clubes que a adotaram. Embora o filme tenha sua trama dentro do universo esportivo do beisebol, “O Homem que Mudou o Jogo” tem a sua narrativa mais focada nos personagens do que propriamente no jogo em si. Principalmente no desafio de Billy Beane de colocar em prática suas teorias e superar as dificuldades de sucessivos fracassos; a de Peter Brand, um nerd que elaborava os dados que levava Billy a fazer as possíveis contratações; e o sempre opositor as ideias de Billy, o teimoso técnico Art Howe, interpretado por Philip Seymour Hoffman. O filme dá um destaque maior aos variados desempenhos e menor ao jogo, onde se prende mais a resultados e pequenas passagens que denotam o tom do enredo. Repleto de interpretações competentes, com um honrado destaque para Johah Hill, o filme acerta na atmosfera do produto, na construção do enredo e na atmosfera do meio de modo impressionantemente crível e ao mesmo tempo em que atende as necessidades da narrativa.

O Homem que Mudou o Jogo” é uma fascinante jornada ao mundo do beisebol norte-americano, que entrega um turbilhão de emoções que rondam os bastidores do esporte, a cabeça dos atletas e assolam a mente dos envolvidos com sentimentos mais do que tempestuosos. O diretor Bennet Miller acerta em cheio ao retratar de modo tradicional essa história, adicionando somente a carga dramática necessária à trama e o humor na medida certa para que o jogo que essa produção propõe flua através da tela. Por fim, o campo de batalha dos bastidores se mostrou tão fascinante quanto os confrontos sobre o gramado.

Nota:  7,5/10

terça-feira, 9 de abril de 2019

Hellboy (2019)

Pôster oficial do filme estrelado por David Harbour, Milla Jovovich, Ian McShane, Sasha Lane. Dirigido por Neil Marshall (2019)

Crítica: A Guerra dos Sexos | Um Filme de Valerie Faris e Jonathan Dayton (2017)


A Guerra dos Sexos” (Battle of the Sexes, 2017) é um drama baseado em fatos reais escrito por Simon Beautoy e dirigido por Valerie Faris e Jonathan Dayton (a dupla responsável pelo sucesso indie de “Pequena Miss Sunshine”, de 2006). Estrelado por Emma Stone, Steve Carrel, Bill Pullman e Elisabeth Shue, esse drama teve sua estreia no Festival Internacional de Cinema de Toronto em setembro de 2017. O filme é uma retratação histórica de uma amistosa partida de tênis entre atletas de diferentes sexos que ocorreu no Astrodome de Houston, nos Estados Unidos, em 20 de setembro de 1973. Assistido por mais de 30 mil pessoas, estima-se que quase 90 milhões de pessoas viram esse duelo na TV em todo o mundo. Em sua trama acompanhamos a iniciativa da tenista, Billie Jean King (Emma Stone), a número 1 do tênis feminino lutando pelos direitos das mulheres de terem o mesmo valor de premiação dos tenistas. Até então, as tenistas recebiam um valor oito vezes menor do que a premiação masculina. A razão dada pelos organizadores dos torneios era de que as mulheres eram inferiores aos homens, e por isso deveriam receber menos. Defensora dos direitos femininos por igualdade, Billie Jean King é levada a um confronto na quadra com Bobby Riggss (Steve Carrel), um famoso tenista profissional aposentado e declaradamente machista. O confronto foi uma revanche que aconteceu após Margaret Court (Jessica McNamee) ter uma derrota vexaminosa para Riggs. Confiante de estar prestes a ter mais uma vitória avassaladora sobre as mulheres, Billie Jean King mostrou do que as mulheres são feitas e porque merecem ter os mesmos direitos que os homens.

A Guerra dos Sexos” tem um enredo tão necessário quanto agradável. Embora os eventos retratados nesse filme tenham ocorrido no passado, a busca por direitos de igualdade ainda é um tema imprescindível a ser discutido por ser de uma luta ainda muito contemporânea. Todavia o filme não se refere ao resultado do jogo como uma vitória ou derrota, mas uma conquista pelo direito de igualdade no esporte. O filme trata a jornada Billie Jean King como uma luta pela libertação de valores sociais ultrapassados. Brilhantemente protagonizado por Emma Stone e Steve Carrel, ambos conquistam o espectador a sua maneira. Enquanto Emma Stone nos sensibiliza com sua luta contra as decisões arbitrárias de uma elite machista, Steve Carrel nos diverte com seu desempenho de showman e ações patéticas de alguém que busca a qualquer custo ser famoso novamente (suas absurdas declarações lembram muito as trocas de ofensas proferidas por lutadores de MMA antes de uma luta). Por isso, você não precisa gostar ou muito menos entender o esporte para ter um bom proveito desse drama, pois o filme tem apenas o esporte como o alicerce, já que o desenvolvimento é voltado para os personagens e seus dramas pessoais. Enquanto Billie Jean King é consumida por dúvidas sobre a solidez de seu relacionamento conjugal, Bobby Riggss vive numa gangorra em função de seu vício por apostas que inevitavelmente pode leva-lo ao chão. Um filme tecnicamente impressionante, onde a reconstituição de época é formidável e as caracterizações dos protagonistas são impecáveis.

A Guerra dos Sexos” é uma retratação espantosa que precede um icônico evento esportivo. Para a satisfação de muitos, também é um programa que levanta um debate responsável e descontraído sobre direitos de igualdade. A única tristeza é que, ele também proporciona uma ligeira sensação de que algumas decisões em relação à presença das mulheres no esporte, a igualdade de remuneração e direitos não avançaram muito desde 1973.

Nota:  7,5/10

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Crítica: Vidro | Um Filme de M. Night Shyamalan (2019)


Kevin Crumb (James McAvoy), o homem de várias personalidades diferentes passa a ser procurado pelas as autoridades após ter sequestrado e matado várias jovens. David Dunn (Bruce Willis), ciente de seus dons passa a ser um justiceiro também visado pelas autoridades por suas ações excessivas de justiça. Em um jogo de gato e rato entre o homem inquebrável e a Fera que aflora em Kevin, ambos foram colocados frente a frente de Elijah Price (Samuel L. Jackson), um homem de ossos frágeis e de grande inteligência que há 19 anos foi responsável por grandes tragédias. Eles estão sendo mantidos em uma instituição para criminosos insanos sob o cuidado da Doutora Ellie Staple (Sarah Paulson), uma psiquiatra especialista em delírios de grandeza que trata pacientes que acreditam ter superpoderes. Em meio a um processo de terapia conduzido pela doutora, esses três pacientes terão o vislumbre de novas descobertas, onde segredos serão revelados e grandes verdades ganharão o mundo. “Vidro” (Glass, 2019) é uma produção dramática de suspense escrita e dirigida por M. Night Shyamalan. Sendo o desfecho de uma trilogia iniciada em “O Corpo Fechado”, de 2000, tendo seu segundo episódio em “Fragmentado”, de 2017, “Vidro” é um esperado final que leva o espectador a uma conturbada conclusão.

Vidro” é uma obra que une diferentes trajetórias em uma única cruzada, levanta impensados questionamentos e apresenta uma conclusão de eficiência inesperada e controversa. Seu maior problema é que tanto os seus defeitos quanto suas qualidades são imensamente perceptíveis aos olhos do espectador. Enquanto as boas ideias impressas no roteiro de M. Night Shyamalan em relação aos questionamentos em volta da trajetória dos personagens, a escolha acertada do tom da obra e o aprofundamento dos temas que o roteiro emula são uma adição perspicaz e original, os defeitos da realização são incômodos. Se já não bastasse o fato de haver um conjunto de boas ideias presentes em “Vidro” mal arquitetadas, a apresentação delas se mostra limitada em vários momentos. Há uma ausência de ênfase e força no seu desenvolvimento de certas passagens. Embora o personagem de Samuel L. Jackson, onde Elijah Price tenha um suposto destaque sobre a obra, dado mais por suas ações do que por sua presença, o filme é inegavelmente de James McAvoy. É dele os melhores momentos, as melhores passagens de atuação e os melhores diálogos. A passividade encenada de Jackson diante dos acontecimentos só não é mais perturbadora e frustrante do que a de Bruce Willis, reduzido a uma vítima das circunstâncias e passageiro de um plano maior. Como a personagem de Sarah Paulson, o ponto de junção dos protagonistas se mostra limitado em alguns aspectos, pois sua tarefa de convencer seus pacientes de que não são heróis e vilões fracassa no lado oposto da tela. O resgate de personagens do passado que é agregado a trama, mas são mal aprofundados é um aspecto importante de ser mencionado.

Entre erros e acertos de M. Night Shyamalan, “Vidro” tem uma saborosa proposta para o gênero, mas uma frustrante realização. O embate de seu clímax realizado no estacionamento da instituição psiquiátrica é de uma falta de energia inexplicável, embora denote consciência e transpareça propósito nesse aspecto. Além do mais, a esperada reviravolta de seu desfecho é sem dúvida a mais fraca de sua filmografia autoral pelo modo passivo que é executada. Ainda que eu tenha comprado às audaciosas ideias para com o seu filme de “Origens”, não consigo me dar por satisfeito com o resultado. As poucas ideias volumosas de “Vidro” se acotovelam com as espaçosas falhas e deixam uma sensação de que poderia ter ficado excepcional, mas ficou apenas uma obra polêmica que não atendeu a expectativa de um público que esperava algo épico. Entretanto, ao contrario do hype de “Fragmentado”, tem tudo para virar uma obra cult como “Corpo Fechado”.

Nota:  6,5/10

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Coringa (2019)

Crítica: Estrada Sem Lei | Um Filme de John Lee Hancock (2019)


Texas, 1934. Depois de 2 anos fugindo das autoridades, os famosos criminosos Bonnie e Clyde resgatam alguns comparsas da prisão de Eastham Prision Farm. Em resposta a mais essa ação criminosa, a governadora Fergunson (Kathy Bates) contrata a contragosto dois Texas Rangers aposentados. Frank Hamer (Kevin Costner) e Maney Gault (Woody Harrelson) tem a difícil tarefa de rastrear e capturar os notórios criminosos e impedir que eles continuem deixando um rastro de crimes e mortes por onde passam. “Estrada Sem Lei” (The Highwaymen, 2019) é uma produção americana original Netflix de drama e crime escrita por John Fusco e dirigida por John Lee Hancock (responsável pelo excelente “Fome de Poder”, de 2016). Inicialmente idealizado pela Universal Pictures para ser protagonizado por Paul Newman e Robert Redford, mas o projeto nunca foi realmente realizado. Porém a Netflix comprou os direitos da obra e com as filmagens iniciadas em fevereiro de 2018, o filme foi lançado em um número limitado de salas de cinema em 15 de março de 2019 e digitalmente em 29 de março de 2019. O filme reconta a história da difícil caçada policial ao casal de ladrões e assassinos Bonnie e Clyde. O casal viajou pela Central United States com sua gangue durante a Grande Depressão Americana, roubando bancos e pequenas lojas, onde mataram várias pessoas entre civis e policiais.

Estrada Sem Lei” tem ao contrário da versão romantizada de Arthur Penn, (Bonnie and Clyde, 1967), estrelado por Warren Beatty e Faye Dunaway, uma visão mais fiel e pungente do casal de criminosos. A narrativa que conta a história pela perspectiva dos dois policiais encarregados de frear a onda de crimes protagonizada pelo casal, apenas realça fatos em volta da perseguição, detalha a investigação e o processo de superação das infinitas dificuldades que no final das contas os levaram a ter sucesso nessa caçada. “Estrada Sem Lei” é um daqueles filmes que desperta a atenção do espectador pela dupla de protagonistas, mas mantem a sua atenção pela excelência do conjunto. Brilhante reconstituição de época, excelentes desempenhos por parte de todo o elenco e uma direção focada em contar uma história sem floreios e exageros. A escolha de Kevin Costner e Woody Harrelson não poderia ser melhor para essa produção, já que Costner desempenha com facilidade o papel de homem focado na caçada em busca de justiça (a passagem em que relata a maneira como foi se tornar um homem da lei é de arrepiar) enquanto Harrelson adiciona um toque cômico a seu personagem que proporciona alguma leveza bem-vinda a um enredo pesado retratado de modo às vezes bastante áspero. O roteiro é enxuto e objetivo em esclarecer ao espectador quem é bandido e mocinho nessa história, e traça um paralelo crítico interessante ao demonstrar o status de celebridade e heróis como os criminosos eram tratados por uma grande parte da população na época. Numa certa passagem onde Harrelson lê uma matéria elogiosa numa revista sobre o casal, seu personagem exemplifica de modo simples toda a sua indignação com a qual uma boa parcela da população não divide a mesma opinião.

Estrada Sem Lei” é um drama que segue uma cartilha simples de se contar um enredo dramático realista e autentico dos eventos que se passaram na época. O foco desse drama é esclarecer a posição que deveria ser óbvio do papel de quem era bandido e mocinho nos eventos passados, desmistificando o glamour quem foi conferido a Bonnie e Clyde pela mídia sensacionalista daquele tempo. É importante que seja dito que John Lee Hancock tem crescido como um grande realizador a cada novo trabalho. O cineasta aproveita bem o talento e a credibilidade dos dois protagonistas dessa caçada e entrega mais um filme de enredo ligeiramente familiar aos olhos do público em geral (o anterior era sobre a ascensão meteórica do gigante McDonald’s), mas de contornos fascinantes por seu envolvimento no projeto.

Nota:  7,5/10

quinta-feira, 4 de abril de 2019

Critica: Shazam! | Um Filme de David F. Sandberg (2019)


Billy Batson (Asher Angel) é um garoto órfão de 14 anos que vive saltando de um lar adotivo para outro na Filadélfia. Quando ele é adotado por um casal que se habituou a conceder moradia a muitos filhos adotivos na cidade de Fawcett, certo dia Billy entra em vagão do metrô e é transportado para um reino mágico onde um bruxo lhe dá o poder de se transformar em um super-herói adulto chamado Shazam (Zachary Levi). De posse de poderes nunca antes imaginado por ele, Billy e seu irmão adotivo, Fredy Freeman (Jack Dylan Grazer) precisam entender como funcionam esses poderes antes que o Dr. Thaddeus Sivana (Mark Strong) um perigoso vilão conclua seus planos diabólicos. “Shazam!” (Shazam!, 2019) é uma produção estadunidense de super-herói escrita por Henry Gayden e Darren Lemke, baseado no personagem dos quadrinhos da DC Comics. Dirigida por David F. Sandberg (realizador de filmes como “Annabelle 2: A Criação do Mal” e “Quando as Luzes se Apagam), essa produção é o sétimo filme do Universo Estendido da DC. Leve, divertido e de uma funcionalidade tão inesperada quanto os sucessos mais recentes que foram concretizados pelo selo da DC ultimamente, “Shazam!” não somente cumpre o prometia em trailers e cartazes descontraídos, mas eleva o potencial das ideias que procurava vender.

Shazam!” é tão divertido quanto aparenta ser. Mas tão importante para os fãs de filmes inspirados em super-heróis quanto esse aspecto, é o fato das mudanças que andam rolando dentro do celeiro de ideias que foi responsável pelo resultado de toda essa diversão. A DC tem demonstrado aos poucos que encontrou a sua direção. Se já não bastassem as melhorias encontradas em “Mulher-Maravilha” e “Aquaman”, “Shazam!” funciona de modo redondo e bem ajustado a sua proposta em vários níveis. Sem as amarras para que o filme se conecte em atmosfera aos demais filmes da DC, “Shazam!” é um produto autônomo com identidade própria e que não foi prejudicado pela pouca popularidade. O filme tem uma pegada de aventura que remete a filmes dos anos 80, como “Goonies” e “Quero Ser Grande”, além de ter um roteiro que mexe com temas bem explorados como família e responsabilidades. Esse material é desenvolvido com equilíbrio, onde o bom-humor materializado com boas piadas e as passagens sérias são existentes em diferentes proporções, mas com a mesma precisão. Tanto Asher Angel quanto Zachary Levi estão à vontade em seus papéis, usando de seu carisma natural e abusando das boas passagens do roteiro para ganhar o público. A presença de Jack Dylan Grazer é também insuperável e não poderia ser melhor, além do filme ter um elenco de apoio bem conectado com a proposta do trabalho de direção de David F. Sandberg. Entretanto o ator Mark Strong, condenado a ser um eterno vilão nos cinemas considerando a frequência com que desempenha esse papel deixa um pouco a desejar por sua obviedade.

Shazam!” tem umas cenas de ação bacanas, mas em volume menor do que se poderia esperar de um filme de super-herói. Mas isso não diminui a diversão, já que o trabalho de David F. Sandberg é mais focado no desenvolvimento do personagem, de seus dramas e questionamentos do que na criação de momentos épicos repetitivos. Através desse mais recente trabalho da DC, pode-se esperar um futuro mais promissor do que se via antes para os personagens da produtora. Se “Shazam!” é um produto leve e divertido indicado para toda a família, o lançamento de “Coringa” em outubro certamente será um viés que demonstra a autoconfiança reconquistada da DC que percebeu que a fórmula de sucesso dos outros não é a mesma deles. Só para constar: como já virou regra no gênero, há duas cenas pós-créditos.

Nota:  8/10

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Coloque um Sorriso nessa Cara

Pôster Oficial

terça-feira, 2 de abril de 2019

Crítica: Blade Runner 2049 | Um Filme de Denis Villeneuve (2017)


Em 2049, os replicantes (seres humanos artificiais fabricados em laboratório) foram integrados a sociedade para realizar trabalhos de risco e inadequados para a raça humana. Mas o legado dos modelos mais antigos é visto como um empecilho para o progresso da bioengenharia, e K (Ryan Gosling), um replicante de modelo mais novo criado para obedecer ordens que trabalha como um Blade Runner para o Departamento de Polícia de Los Angeles, onde  caçae mata antigos modelos que ainda estão em circulação clandestinamente. Após eliminar um replicante escondido em uma fazenda de proteína, K descobre um segredo que está enterrado há muito tempo e que o leva buscar o paradeiro de um conhecido Blade Runner, Rick Deckard (Harrinson Ford), desaparecido há 30 anos e que pode ter as respostas para um milagre nunca antes imaginado pela ciência. “Blade Runner 2049” (Blade Runner 2049, 2017) é uma produção estadunidense escrita por Hampton Fancher e Michael Green, com base nos personagens de romance Do Androids Dream of Eletric Sheep?, de Phillip K. Dick. Dirigido por Denis Villeneuve, essa produção é uma sequência do longa-metragem original de Ridley Scott, de 1982. O filme concorreu em cinco categorias do Oscar 2018, embora foi premiado apenas na categoria de Melhor Fotografia e de Melhor Efeitos Visuais.

Há uma supervalorização do sucesso de “Blade Runner 2049” que é difícil explicar. Por quê? Considerando que o seu enredo nada mais é do que uma trama de mistério policial ambientada em futuro distópico e apresentada com uma estética apurada proporcionada por requintes técnicos de uma engenhosa produção, não há nada de impressionante no desenvolvimento do material. Talvez uma ou duas reviravoltas, mas de pouca força. O desejo do roteiro em criar e destruir expectativas no espectador através de passagens inspiradas não funciona em sua plenitude, e isso, muito pelo fato de que não apresenta uma solução a altura das expectativas. Embora o trabalho de Denis Villeneuve tenha uma atmosfera diferenciada, que se apresenta ao espectador como uma obra densa e cerebral ao tocar em temas profundos em tom de crítica (a deturbada relação humana com a tecnologia, o poder do corporativismo no modo de vida e o preconceito que leva ao ódio pelo diferente), esses aspectos presentes no contexto do filme também já tiveram abordagens melhores e sem tanta elaboração em outros filmes. O cineasta confere um ar metafórico para ideias simples de serem exploradas, um ritmo lento e contemplativo que acaba resultando em um produto mais inteligente do que realmente é. O filme carece de cenas mais ágeis e alguma ação, já que a sequencia de ação de seu clímax não impressiona.

Antes do lançamento do longa-metragem nos cinemas, houve o lançamento de três curtas-metragens realizados com a finalidade de explorar alguns eventos que ocorrem no período de 30 anos entre o primeiro “Blade Runner” e “Blade Runner 2049” (“Blade Runner Black Out 2022”, uma animação de Shinichirõ Watanabe; “2036: Nexus Dawn” e “2048: Nowhere to Run”, dois filmes em live-action dirigidos por Luke Scott). Independente dos interesses da produtora em volta desses curtas, apenas o terceiro serve com um bônus track realmente interessante para o conjunto da obra, já que o filme parece que não consegue aproveitar o elenco corretamente. A figura de Jared Leto é a mais intrigante, ao ter poucas aparições e um destino incompreensível dentro da trama. O que deixa a entender que “Blade Runner 2049” não é apenas uma sequência, mas apenas um episódio que leva a um plano maior.

Blade Runner 2049” é a soma de um dos mais talentosos cineastas que surgiram nos últimos anos, de um astro usufruindo dos louros de sua completa ascensão em Hollywood e a realização de uma das mais esperadas sequências da ficção cientifica dos últimos anos. Embora não ache que seja essa obra de genialidade toda como é vendida em alguns círculos, é inegável que se trata um filme bastante fascinante por seu visual, uma atuação legítima de Ryan Gosling e uma produção de estilo próprio e autônoma de sua inspiração. Porém, o caso de seu sucesso também pode ser uma coisa simples de se explicar: pois após anos onde os fãs se mantem famintos por uma sequência que nunca se concretizava, qualquer bolinho carne parece um banquete.

Nota:  7/10

segunda-feira, 1 de abril de 2019